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Não sou daqueles que acham que a imprensa tem que "contribuir" para o bom ambiente da seleção, "ajudar" a equipe e pataquadas do gênero. Mas muitas vezes, por conta de um suposto interesse público que justificaria métodos, no mínimo, ortodoxos - como a famigerada câmera escondida - coloca-se em risco alguns direitos básicos de qualquer cidadão.
Falo isso por conta da polêmica leitura labial que tanto irritou Parreira. Pra quem não sabe, o programa Fantástico, da Rede Globo, utilizou deficientes auditivos para observarem vídeos da seleção e descobrir o que atletas e o treinador diziam durante o jogo.
Daí, descobriu-se que Parreira teria declarado ter "gostado muito" do desempenho de Gilberto Silva contra o Japão, tendo falado em seguida: "Pena, se nós tirarmos o Emerson, vai ser f...". O técnico em relação ao rendimento de Ronaldo, autor de dois gols na última partida da seleção. "Agora vamos ver. Filhos da p...", disse, completando em seguida: "Ainda pedem para o Ronaldo ir embora." Ontem à noite, no Jornal Nacional, Fátima Bernardes afirmou que direção do programa enviou uma carta pedindo desculpas a Parreira.
Já se fala na possibilidade de "racha" na seleção por conta do episódio, já que os mais velhos como Roberto Carlos, Cafu e Emerson acham que têm que jogar por conta da sua experiência, enquanto os outros também clamam por uma chance.
A questão é que, quando faz isso, a Globo de fato quebra a privacidade das pessoas. Se o jornalista obtém a mesma informação que eles divulgaram por meio de fontes de dentro da equipe, está praticando jornalismo de verdade e não haveria problemas. Mas quando recorre a um expediente desses, põe em risco o trabalho alheio, podendo fazer isso também com um engenheiro, um advogado ou qualquer outro profissional que teça comentários que não são para serem feitos em público ou para uma ampla gama de pessoas.
Violar o direito de um profissional de dizer algo a um auxiliar ou companheiro de equipe sem ser ouvido é grotesco. E não adianta invocar um tal de "interesse público" até porque Parreira é empregado da CBF, entidade privada. Talvez, para a emissora carioca, seu jornalismo deva ser regido pale mesma lógica de espetáculo que rege o seu deprimente Big Brother. Mais responsabilidade faria bem a quem já conta com tantos e tão competentes profissionais de imprensa.