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segunda-feira, junho 26, 2006

Memória da Copa (8ª edição)

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A batalha de Berna

Amanhã faz 52 anos que o Brasil disputou uma de suas partidas mais famosas em Copas do Mundo. O confronto de 27 de junho de 1954 contra a Hungria, sensação daquele mundial, ficaria conhecido para sempre como "a batalha de Berna". Nem tanto pelo jogo em si, válido pelas quartas-de-final. O que entrou para a história foi a pancadaria.

A seleção brasileira chegou pessimista à Suíça. O trauma da derrota no Maracanã ainda não tinha sido superado. Criticado por não ter convocado Zizinho, o técnico Zezé Moreira tinha em mãos outros remanescentes de 1950, como Nilton Santos e o capitão Bauer (na foto, pouco antes do início da partida contra a Hungria).

Porém, mais do que o abatimento pela derrota em casa, o grande problema era, mais uma vez, a desoganização. Na segunda partida do mundial, por exemplo, os dirigentes brasileiros não sabiam que um empate com os iugoslavos garantia a vaga para as quartas-de-final. Com 1 a 1 no placar, desgastaram-se inutilmente em busca da vitória.

O sorteio colocou o time contra a Hungria. Os brasileiros temiam enfrentar os campeões olímpicos de 1952, time de lendas como Puskas, Czibor e Hidegkuti. Zezé Moreira tentou amenizar: "Não me interesso pelo time dos outros". Kocsis, que terminaria o mundial como artilheiro, com 11 gols, rebateu com convicção: "Venceremos o Brasil e seremos os novos campeões do mundo".

Mas o Brasil já sairia derrotado do vestiário, depois que o chefe da delegação, João Lyra Filho, comparou os jogadores aos pracinhas brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial e exigiu a vitória. Todos entraram apavorados e nervosos com o peso da responsabilidade. Com 7 minutos de jogo, já perdiam por 2 a 0.

Reagiram, mas a Hungria venceu por 4 a 2, em jogo tenso e violento. Quando os jogadores dos dois países iam saindo de campo, Czibor estendeu a mão para Maurinho, que aceitou o cumprimento. Só que o húngaro retirou a mão e o brasileiro deu-lhe um soco na barriga. Zezé Moreira afastou seu jogador do bolo, mas os húngaros pronunciaram seu nome - "Moreira!" - e cuspiram no chão.

Zezé estava com uma chuteira de Didi na mão e atirou-a contra os inimigos, acertando o rosto do técnico da Hungria, Gusztav Sebes, que era simplesmente o vice-ministro de Esportes de seu país. A trava de madeira fez um talho no rosto e o sangue esguichou. Em represália, Puskas deu uma garrafada na testa do zagueiro Pinheiro. No meio do rolo, o jornalista brasileiro Paulo Planet Buarque ainda derrubou um policial suiço com uma rasteira.

O juiz inglês Arthur Ellis foi o bode expiatório para os brasileiros explicarem a derrota, por causa das expulsões de Nilton Santos e Humberto. Assim, não bastasse o vexame do quebra-pau, o árbitro brasileiro Mário Vianna, que tinha apitado um dos jogos da Copa, foi ao microfone de uma rádio brasileira e acusou Ellis de fazer parte de um complô comunista para classificar a Hungria.

Resultado: o infeliz cartola João Lyra Filho enviou protesto por escrito à Fifa, acusando a arbitragem de "estar a soldo do Kremlin". Vexame completo.

Brasil 2 x 4 Hungria
27 de junho de 1954

Brasil: Castilho; Djalma Santos, Pinheiro, Nílton Santos; Brandãozinho, Bauer; Julinho, Didi, Índio, Humberto, Maurinho. Técnico: Zezé Moreira
Hungria: Grosics; Buzansky, Lorant, Lantos; Boszik, Zakarias; M. Toth, Kocsis, Hidegkuti, Czibor, J. Toth. Técnico: Gusztav Sebes.

Local: Berna (Suiça)
Árbitro: Arthur Ellis (Inglaterra)
Expulsões: Nílton Santos, Boszik e Humberto
Gols: Hidegkuti (3), Kocsis (7), Djalma Santos (17), Lantos (61), Julinho (75) e Kocsis (88)

2 comentários:

Glauco disse...

Essa patriotada feita nos vestiários era porque, por conta da derrota de 1950, alguns luminares dirigentes tupiniquins acharam que faltou raça e patriotismo àquele seleção, o que teria sobrado apra o Uruguai. A partida com a Hungria mostrou que a realidade nãoe ra bem essa.

Anônimo disse...

O que não foi dito é que os húngaros jogaram de forma violenta, desleal o tempo todo. Vivi na Espanha e na Itália e vi excertos desse jogo e é só comprovar. Não bastasse o discurso fora dos eixos de João Lyra Filho, os fantasmas de 50 a serem violentamente enxotados e o contexto internacional complicado. O Brasil tinha uma seleção muito forte e poderia, sim, ter ganho aquela partida. Zezé Moreyra tinha bronca do Flamengo e por isso não levou o Zizinho. Levou o Indio para dissimuladamente tentar provar justamente o contrário.