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Certa vez, numa entrevista, Chico Buarque disse que o melhor livro que a gente lê é sempre o último (o mais recente). Pensei nisso depois de Itália 2 x 0 Alemanha. Tenho dificuldade em convencer meus amigos amantes do futebol (entre os quais dois assinam neste blog) sobre por que gosto do futebol da seleção italiana. Essa dificuldade se deve a alguns paradigmas falsos. O principal é aquele segundo o qual a Itália joga um futebol feio. Para mim é belo.
Muito primitivamente falando, um time tem que ter o quê? Defesa, meio de campo e ataque. A defesa italiana é impressionante, tanto no quesito eficiência quanto na categoria. Mas a defesa da Azzurra é fantástica não apenas porque defende bem, o que faz com eficiência qualquer time medíocre, como o Paraguai de 1998 ou a Grécia que conquistou a Eurocopa em 2004. Ou como faz Portugal de Felipão. Não. A defesa da Itália é formada por craques. Sim: defensores, mas craques. Que não dão chutão, mas saem jogando. Por isso eu achava que a Itália seria finalista, mesmo jogando contra a blitzkrieg alemã. Isso eu disse em mesas de bar, por e-mail e telefone a vários amigos na semana passada, ainda durante as quartas-de-final.
Com um futebol exuberante que equilibrou todos os setores do campo, nessa semi-final memorável, antológica, fatal para os favoritos alemães, a Itália é finalista da Copa da Alemanha. Enquanto se defendia magistralmente com Buffon, Cannavaro, Materazzi, Zambrotta, Gattuso e mesmo Pirlo e Grosso, a Itália de Marcelo Lippi se arriscou terminando o jogo com quatro jogadores de frente (atacantes e meias ofensivos): Del Piero, Totti, Iaquinta e Gilardino.
Esse estilo “feio” e “conservador” matou os anfitriões com um futebol refinado. Isso tem que ser dito: com um futebol refinado. Minha impressão é de que a Itália nesta Copa do Mundo foi o que a Argentina queria ter sido e não foi.
Pesou a tradição da Azzurra, em mais um “jogo do século”. E os alemães – com seu jogo horrivelmente mecânico, com aquela fé na força (a fé na força), o preparo físico, jogando em casa, entusiasmados e alucinados – felizmente perderam. Para o bem do futebol.