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quinta-feira, dezembro 14, 2006

As lágrimas de Helena

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Após oito anos de mandato a senadora Heloísa Helena fez ontem seu discurso de despedida no Senado. Durante três horas e 35 apartes elogiosos depois (a maioria de senadores que fizeram ou fazem oposição a Lula), e chorando a maior parte do tempo, HH só coneguiu realizar um depoimento formal no fim do seu tempo. Ali, usou sua surrada retórica para denunciar "os mercenários bárbaros, contra quem lutei durante quase toda minha vida política, enfrentando o ódio e até ameaças de morte".

Muitos outros devem ter chorado por ela. Não exatamente pelo mesmo motivo. Militantes do PSOl, por exemplo. Muitos dos que saíram do PT e ajudaram a fundar o novo partido de fato estavam esperançosos de construir uma alternativa mais à esquerda, o que ainda pode vir a ocorrer. Mas, na prática, a candidatura presidencial de Heloísa Helena prejudicou demais esse processo.

O tom moralista imposto pela senadora não lembrava em nada a esquerda histórica brasileira ou mesmo a "neoesquerda" que alguns dizem representar. Lembrava, de fato, a velha tradição udenista, os discursos inflamados de Carlos Lacerda que ora mostram um ódio desmedido e, em outro momento, mostra-se vítima das atrocidades dos adversários políticos. Desempenhava o papel de "guerreira" ou de "mártir". A lembrança contínua de Deus e de sua "missão" também lhe dava uma aura que em algumas ocasiões se assemelhava à cantilena de Anthony Garotinho.

Uma postura coerente. Desde que foi eleita senadora pelo PT, sua atuação parlamentar se destacava mais pelos discursos transmitidos pela TV Senado do que por ações práticas no Parlamento. Por conta disso, conseguiu ser enquadrada em um debate por Alckmin em em uma questão relacionada - vejam só- à Segurança Pública, seu calcanhar de aquiles. Confrontada pelo ex-governador sobre o que tinha feito na área, ela ficou na defensiva e não atacou o tucano, permitindo que ele cantasse de galo.

Desta forma, ela servia mais aos propósitos da direita, mas não de forma leviana, e sim estratégica. Para muitos próceres de seu partido, seria mais fácil o PSOl crescer durante um governo mais à direita como o de Alckmin, situação em que tentariam ocupar o espaço antes reservado ao PT. Em um governo Lula, sem mandato, resta a HH observar seus novos parceiros, pefelistas e tucanos, tomarem a frente da oposição.

Agora, o futuro da senadora é uma incógnita. Diz que voltará a dar aulas. Mas, quanto a seu espaço no PSOl, pode ser que venha a mandar menos do que gostaria. Além da sua votação anêmica - abaixo de Enéas na campanha de 1994 - boa parte de seu partido desaprovou sua posição no segundo turno, proibindo a manifestação pública de voto dos filiados. Apontada por alguns como candidata com potencial para 2010, pode ser condenada a condição de nanica histriônica. Se seu partido deixar.

7 comentários:

Marcão disse...

Morte anunciada: depois de ser usada exaustivamente pela mídia e principalmente pela coligação PSDB/PFL para bater em Lula, está sendo devolvida ao anonimato. Mas com "honras", pompa, solenidade e o choro de carpideiras de ocasião. Que descanse em paz, junto com o Babá e a Luciana Genro. Amém.

Nicolau disse...

Foi uma tristeza ver a campanha de HH. Conheço uma boa galera que tem ideais de esqeurda e realmente buscava uma opção mais radical do que o PT e menos tosca que PSTU e PCO, o que é uma aspiração válida. Espero sinceramente que essa opção apareça em breve, forçando o debate para a esquerda de forma inteligente. A sociedade precisa desse contraponto. Se for o PSOL, maravilha, mas HH deixou a missão mais difícil.
PS.: Marcão, se não me engano a Luciana Genro se elegeu, não está entre os falecidos do PSOL.

Edu Maretti disse...

Pra falar a verdade, as lágrimas de crocodilo dessa "pessoa nefasta" me deram nojo. A propósito, os versos de Gilberto Gil cabem perfeitamente na nobre senadora: "Tu, pessoa nefasta/
Gasta um dia da vida/Tratando a ferida do teu coração".

Anônimo disse...

Vai com Deus, carniça.

Edu Maretti disse...

Por que 'com Deus'???

Marcão disse...

O que você tem contra Deus, Olavo?

Anônimo disse...

Só. Têm razão, amigos. Falei besteira. Desculpaí, barba!