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quinta-feira, agosto 21, 2008

Que prata mais sem graça

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Seleção dos EUA no Mundial: a vingança veio a cavalo

Lembra daquele cara da sua rua que jogava bola mais do que os outros? Quando caía em um time e queria resolver tudo sozinho, às vezes funcionava, mas quando não resolvia... Os companheiros viravam a cara e você mesmo não tocava a bola pra ele. Via o cidadão parado no meio de três, quatro adversários e sorria quando ele perdia o lance. Pensava ou falava: “resolve aí. Você não é o bom?”.

Vendo a partida da seleção brasileira hoje lembrei desses momentos de infante boleiro. Marta e Cristiane às vezes ficavam sem ninguém próximo entre diversas norte-americanas. Às vezes passavam, em outras, ficavam no meio do caminho. O fato é que, quando alguém tenta fazer um gol olímpico no segundo tempo de uma prorrogação, ou não confia nas companheiras de equipe ou então se acha mesmo o último copo de cachaça do bar.

Abusando do individualismo das duas galáticas, o Brasil sucumbiu diante de uma seleção norte-americana que era tecnicamente inferior, mas que jogava coletivamente, compactada. Mesmo dominada quase o tempo todo (o tal “domínio estéril”, já que as brasileiras pouco ameaçaram), as estadunidenses mantiveram a calma e o esquema de jogo. Na prática, esperando o adversário errar. E o Brasil errou.

No fim das contas, a seleção jogou uma partida bem, contra a Alemanha, que foi uma vitória épica. Antes, não empolgou; depois, decepcionou. Com um retrospecto de três vices seguidos (Atenas -04, Mundial e agora), não dá pra dizer que ficamos felizes com a prata. Evoluímos, somos melhores, e não ganhamos.

Acho que o caso não é de complexo de vira-latas, mas sim de rotweiller...

13 comentários:

Thalita disse...

Decepcionante. Mais uma vez melhores, mas mais uma vez perdedoras.

Mas não sei se concordo muito com a avaliação do Glauco sobre as galáticas. Em muitíssimos lances elas iam pra cima de várias marcadoras porque ninguém se apresentava na linha de passe.

Esse time ainda tem muito o que evoluir coletivamente. Mas... não tiveram quatro anos para isso? É, tiveram. Quantos campeonatos brasileiros de futebol feminino houve desde então? Ah, só um... organizado 'daquele' jeito.

É, difícil. Só se aprende a jogar jogando. De preferência em alto nível. Coisa que as americanas fazem...

Marcão disse...

Assim como fizeram com a Daiane dos Santos em 2004, sobrou toda a pressão da mídia e da torcida brasileira por um ourozinho nas costas das meninas do futebol. Já tava aquele discurso: "Vamos nos vingar, lavar a alma, mostrar quem é que manda etc.". E sempre dá no que deu...

Glauco disse...

Pois é Thalita, mas oq ue especulo, e fiquei com essa impressão, é que as outras não queriam mesmo jogar próximas delas. Isso porque criou-se uma certa soberba, pelo menos é o que achei em vista dos outros jogos em que o Brasil jogou mal. A Daniela Alves é boleira e nem por isso foi tão individualista.

Agora, a conversa da estrutura que não existe e numseiquelá numseiquelá numseiquelá é bom pra falar antes da competição. O Brasil não perdeu por causa disso. Perdeu porque jogou mal.

Marcão disse...

Sem querer ser chato (e já sendo), vale reproduzir o fim do post de ontem, do Frédi, sobre a derrota da seleção mascuina para os argentinos:

"O ouro para o futebol vem com nossas meninas".

O bom do Futepoca é o acerto das previsões!

Anônimo disse...

Discordarei de vc, Gringo!
A Marta foi genial. Se nao chama o jogo, seria taxada de pipoqueira, q some em decisao. E ela tentou de tudo. So a filha da mae da goleira conseguiu para-la... ela brigou por bolas ate na defesa...passou por 3, 4, 5...Pq nao tentar um gol olimpico?
Ela eh genial, Cristiane eh craque, Simone e Formiga jogam muito. Mas nao eh um time. E nem teria como ser. Senso coletivo se ganha participando de competicoes, jogos importantes... As americanas fazem isso desde pequenas... As brasileiras (e eu sei bem o q eh isso), vao pra rua pedir pra jogar com os meninos.
talvez por isso tenha te dado essa sensacao de jogo de rua..rs
Americano nasce e aprende a competir. Brasileiro aprende (ou nasce sabendo) jogar. Marta jogou. O time dos Estados Unidos venceu. it's sad but true :(
bjss

Thalita disse...

Completando o que a Bia falou, é bom lembrar que uma das instruções mais comuns do Barcelos para o time é "mandar a bola pra Marta". Se até o técnico acha que só ela tem que decidir, fica difícil ela não fazer isso em campo. Se tem intriguinha, é porque não tem comando.

E falta de jogo competitivo faz toda a diferença. Foi só por esse motivo que elas perderam. Sabe o que o Zé Roberto Guimarães disse sobre a preparação da seleção de vôlei? Que o objetivo dele era fazer 150 jogos internacionais em quatro anos. Foram feitos 132. É isso que faz um time equivalente aos outros em talento ser campeão. Se elas estivessem acostumadas a decidir, seria diferente.

Mas eu não tenho nenhuma, nenhuma mesmo, esperança de que isso mude. O futebol feminino do Brasil não será desenvolvido.

Nicolau disse...

Fico mais com as avaliações da Thalita e da Bia que com a do Glauco. Mas o fato em que todos concordam é que faltou jogo coletivo, especialmente articulação no meio campo. Se a seleção masculina jogasse com 3 zagueiros e os 2 alas não apoiassem muito todo mundo ia detonar o técnico. Enfim, espero que a Thalita esteja errada e, de alguma forma, o futebol feminino consiga se desenvolver de verdade no Brasil...

Olavo Soares disse...

OK, todo mundo concorda que o futebol feminino é pouco desenvolvido e tal. Mas será que, pelo bem das jogadoras, não é o caso de julgá-las como atletas, e não como coitadinhas, uma vezinha só? A cada derrota brasileira (em todas as modalidades) nessa olimpíada tudo o que se ouviu foi "falta de investimentos", "falta de apoio", e nenhum comentário técnico, nenhuma avaliação do desempenho real dos (as) sujeitos (as). Isso faz mal. Principalmente pra quem tá em campo (quadra, piscina, etc.).

Thalita disse...

não é verdade, Olavo. Primeiro que ninguém chamou de coitadinha. Depois que quem tinha a estrutura adequada e perdeu, como o caso dos atletas da ginástica, principalmente o Diego, e o futebol masculino, foram bastante criticados.

Continuo achando que a derrota foi culpa da falta de experiência em jogos que decidem alguma coisa. Elas jogam um campeonato por ano, pô! Vc acha que algum time é vencedor assim?

Glauco disse...

Acho que a questão da "falta de investimentos" é bem relativa. Tem jogadoras na seleção que jogam fora, como as galáticas, e que não aprticiparam da série de amistosos da seleção brasileiro pré-Pequim porque não foram liberadas. Entre o Munidal do ano passado e esse o Brasil enfrentou, por exemplo, três vezes os EUA. Em nenhuma das ocasiões com Marta, Cristiane ou Daniela Alves. Foram disputados outros inúmeros amistosos com seleções e combinados, ou seja, jogo é que não faltou. Faltou jogadora, como acontece aliás com a seleção masculina e ocorreu na Olimpíada e nem isso fez algúme ter dó do Dunga, que não contou com Robinho e Kaká. Aliás, quantos amistosos foram feitos visando as Olimpíadas pelas seleções feminina e masculina?

A falta de estrutura afeta seriamente mais algumas modalidades do que outras. A Itália tem campeonatos regulares desde a década de 60 e tem uma seleção fraca. Tirando as estrangeiras, das que jogam no Brasil a base é do Santos, que tem um time feminino desde 1997, e do Botacatu. Os dois não pagam mal.

Engraçado que o futebol brasileiro chega a semifinais desde 1996 e tem estado entre as quatro melhores nas principais competições desde então. Diego Hipolito foi violentamente cobrado em um esporte onde é ele, e só ele, uma modalidade com tradição zero no Brasil. É um fenômeno, mas é tratado como cachorro vira-lata. E nem pode jogar a culpa nos companheiros, como fez Marta na entrevista ao final do jogo de hoje dizendo "Algumas meninas estavam estressadas, faziam as coisas sozinhas".

Acho justo cobrar a seleção e a comissão técnica, só isso.

Olavo Soares disse...

Thalita, sim, eu concordo com você!

Mas acontece que há questões esportivas também para serem avaliadas, e não só estruturais.

(não vou dizer quais são porque não vi o jogo, e qualquer análise seria leviana)

E estas estão sendo desprezadas, como se todos os motivos pelas derrotas se restringissem ao extra-campo.

Thalita disse...

mas as questões esportivas estão no post, Olavo...

Anselmo disse...

Os eua ganhar foi zebra. o brasil era mais time. O futebol é legal porque quem tem o melhor time nem sempre ganha. Quando quem está nessa situação é o seu time, não é legal. Com isso, tô apresentando com um ar de normalidade o "puta merda" que todo mundo tá mantendo nas entrelinhas. Ou seja, nada de novo.

o pessoal falou umas coisas que eu concordo.

mas acho que a defesa do comportamento fominha da Marta não leva em conta uma coisa: o craque do time que não faz o time ganhar sempre será cobrado. se não chamar o jogo para si, mais ainda. se chamar e não optar por passes, ou pedir pra alguém aparecer (quem tem boca vai a roma), muda pouco.

se tivesse um campeonato feminino no brasil, a marta jogaria na suíça e não há garantias de que o ouro viria. Como não veio no masculino.

agora, é óbvio que falta estrutura. mas vamos evitar discurso de perdedor que já é mto repetido em época de olimpiada.