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terça-feira, junho 09, 2009

Jornalões tremem com blogue da Petrobras

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Os blogues de Idelber Avelar, Luís Nassif e Luiz Carlos Azenha já trataram adequadamente do assunto. Mas como o Futepoca já entrou no assunto, vale persistir, por ser bastante interessante discutir isso na mesa do boteco, já que só com bastante "combusível" será possível analisar a postura dos jornalões, principalmente a Folha de S.Paulo e O Globo.

Os dois, principalmente, mas não só eles, adotaram a tática de publicar "matérias" para esquentar a CPI da Petrobrás. Os textos vão da inviabilidade da mamona na produção de biodiesel a supostas irregularidades em contratos etc. Com a tática de sempre: alguém vaza, o jornal publica sem provas, depois o mesmo jornal é usado como prova por quem vazou, normalmente algum parlamentar da oposição...

Ok. O script é conhecido. A novidade é que a Petrobrás desta vez resolveu responder a todas as acusações num blogue, clique aqui para ver. Inclusive todas as perguntas que são feitas pelos jornalistas e as respostas encaminhadas a eles.

Para quem não conhece como funciona a grande imprensa, cabe uma pequena explicação. Quando existe uma denúncia, qualquer que seja, os jornalistas fazem de conta que ouvem o outro lado. Na realidade, quase sempre já estão com a matéria pronta e enviam perguntas burocráticas, não importando o que o outro lado responda, publica-se a matéria e uma parte das respostas que não contradiga aquilo que já estava escrito.

Daí vem o desespero.

Quando a Petrobrás resolve publicar na íntegra o que foi perguntado e respondido prejudica, e muito, o funcionamento do esquema de lançar a denúncia e depois não dar direito de resposta, alegando liberdade de imprensa.

Não foi à toa que a Associação Nacional de Jornais (ANJ) – dos donos dos meios de comunicação – publicou nota oficial chamando a iniciativa da petroleira de antiética. “É uma falta de ética total porque você está fazendo com que todos os demais concorrentes da imprensa tomem antecipadamente conhecimento de uma determinada reportagem de um determinado órgão de imprensa”, diz o presidente da ANJ, Júlio César Mesquita.

Para quem reparou, o presidente da ANJ apela contra a publicação antecipada que avisaria os concorrentes dos “furos”. Ou seja, o problema é avisar os outros jornais. Sem comentários.

Na mesma linha, a Folha de S.Paulo,, segundo o G1, site das organizações Globo, informou que não considera adequado que questionamentos jornalísticos endereçados à Petrobrás sejam publicados pelo blogue antes que as respostas possam ser avaliadas e utilizadas pelos veículos que enviaram as interpelações.

Para O Globo, as perguntas encaminhadas por escrito são de propriedade do jornalista e do veículo. E, por esse motivo, a iniciativa da Petrobrás desrespeita profissionais e atenta contra a liberdade de imprensa, ao violar o direito da sociedade de ser informada, sem limitações.

Como o post já está longo demais, deixo os comentários para quem quiser fazer.

14 comentários:

Unknown disse...

Eu me orgulho de trabalhar aqui na Petro. Essa empresa é foda! Os profissionais daqui (não me incluo. sou peixe pequeno) estão sempre a frente do resto do mundo. Impressionante.

Abraços!
Bruno Silva
http://www.ladobdocassete.com.br

Olavo Soares disse...

Sinceramente, ainda não formei opinião sobre o fato. Entendo a preocupação (extremamente legítima) da Petrobras de se prevenir contra as "interpretações equivocadas" da imprensa; mas, como jornalista, acharia bem estranho ver minhas perguntas sendo explicitadas a todos que queiram ver.

Anselmo disse...

o futepoca furou essa turma toda na história, mas é fato que eles foram mais longe (e com mto mais qualidade) na análise.

Ontem, no rodaviva, o gabrielli foi interpelado a respeito, defendeu o direito da estatal dar sua versão, deu o debate por encerrado na conta do equívoco da banca de entrevistadores.

tem várias questões relacionadas aí.

a ideia continua boa. vai cooptar todo o segmento preguiçoso dos jornalistas. coopta a blogosfera de esquerda pró-lula, pq municia com informações essa turma sedenta para produzir argumentos. Vale lembrar o que os blogueiros fizeram na crise do mensalão, ao responder e dar argumentos para petistas e governistas acuados. perceba-se q não estou falando de apuração de fatos nem conteúdo jornalísticos, mas de construção de argumentos.

o blogue tbem serve pra "função josé serra" de combate a denúncias. o q o serra usa é aquele papo de "ah, mas isso é requentado". "ah, mas não tem novidade". "ah, mas a diretoria responsável já apurou e viu que não era nada disso". "ah, mas o responsável já foi demitido e crucificado, mas não ressuscitou ao terceiro dia" e variantes. no caso do blogue, é a aceleração de algumas das "funções josé serra" citadas.

aí acho que o blogue da petrobras (q não atendeu a minhas solicitações de informação sobre política de comentários, critérios editoriais etc.) funciona para os interesses da empresa.

a mídia grande se perdeu ao criar a "pergunta em off", o "sigilo de fonte invertido", o "direito autoral sobre a resposta da fonte" e outras coisas estranhas.

só que ser institucional pode conferir qualquer atributo à plataforma, menos independência e compromisso com a verdade factual. O blogue da petrobras tem compromisso com a versão da estatal para esses fatos. Se, em muitos casos, isso evidencia a falta de consistência das denúncias apuradas pela mídia, é mais pela fragilidade da investigação e da acusação do que qqr coisa.

o debate é mesmo bom.

fredi disse...

Olavo, óbvio que não é confortável para o jornalista, principalmente quando faz apenas de conta que ouve o outro lado.

Mas o que é mais importante para a sociedade, para a busca da verdade. Ela (a verdade) não está nem nos jornais nem no site da Petrobrás, mas pelo menos passamos a ter contraditório.

E os jornalistas vão ter de trabalhar mais, apurar mais, não ficarem apenas repassando dossiês que recebem prontos como se fosse jornalismo investigativo para não serem desmascarados, o que também é bom...

Dá mais trabalho, mas é bom...

Maurício Ayer disse...

Muito bom post, Frédi.

E muito interessante ver agora os jornalões tendo que sambar nos argumentos pra proteger o seu privilégio sobre a circulação das informações.

Que me corrijam juristas, mas, até onde eu sei, um diálogo entre duas pessoas pertence às duas. É isso que garante que o jornalista possa publicar uma entrevista. Se ele gravou a conversa, tem todo o direito de publicá-la. Mas é mais que evidente que o direito é recíproco. Por que o jornalista teria alguma ascedência sobre seu entrevistado? No caso de um diálogo por escrito isso resta menos dúvida ainda.

Mas parece que, na cabeça deles, essa estranha "Liberdade de Imprensa" pela qual esse pessoal advoga é um direito que está acima de todos os princípios constitucionais, do Código Civil etc. etc.

No fundo, sabem que é bobagem, por isso latem pela "ética" (?), já que pelo direito não há o que dizer.

fredi disse...

Obrigado Maurício.

Mas já que é hora de autoelogios, agradeço ao manguaça que editou o "post", pois melhorou e acrescentou informações. Inclusive de o blogue da Petrobrás ter saído primeiro no Futepoca, o que escapou de minha avariada memória.

André Augusto disse...

Eu acho extremamente válido. E os veículos, que tanto batem na tecla de liberdade de imprensa, choram em sua própria hipocrisia, pois fica mais difícil "plantar" notícia nos jornais de amanhã. Parabéns pelo post elucidativo.

Glauco disse...

Alguns pontos:

- Não existe sigilo de perguntas. Isso é fato. E o entrevistado tem o direito de se defender ou explicitar os argumentos caso uma matéria se equivoque em relação àquilo que ele falou. Infelizmente, jornalistas pisam na bola e queimam o filme dos demais, não são poucas as fontes que se recusam a falar com a imprensa por causa de alguma experiência traumática com matérias mal feitas ou mal intencionadas.

- Claro que existe uma "função josé serra", normal em qualquer blogue institucional e por isso tenho ressalvas em relação eles. Mas o blog da Petrobras dá muitos dados e argumentos em relação a debates públicos e não só em casos de supostas irregularidades. Ou seja, vai muito além do governador paulista, cuja assessoria de comunicação é a própria grande imprensa. Esses dados do blogue desmontam muitas matérias e mostram a fraqueza do "outro lado" da grande mídia, como observou o Frédi.

- A Petrobras parece ter criado uma tendência. É só esperar.

Unknown disse...

http://tuliovianna.wordpress.com/2009/06/09/o-globo-se-supera-e-diz-que-perguntas-sao-propriedade-do-jornalista/

Maurício Ayer disse...

Concordando com os camaradas, é evidente que o blog está aí para defender a visão da empresa.
A empresa não tem nenhuma obrigação de fazer jornalismo.
O que o blogue pode conseguir – se for bem feito – é exigir um pouco mais de seriedade da imprensa, que também se vê um pouco mais exposta, sem toda a proteção que sempre teve.
Ou seja, aumentam as chances de que faça jornalismo, em vez de assessoria de imprensa camuflada.

Acho que foi isso que o Frédi apontou no post.

fredi disse...

Ridículo o editorial de O Globo, quem tiver estômago que leia.

http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/06/08/editorial-ataque-imprensa-756256898.asp

A FSP também soltou matérias e duas colunas de dois puxa-sacos hj.

Eles se consideram a vestal ultrajada, confundem liberdade de imprensa com seus interesses inconfessáveis, como sempre...

Victor De Martino disse...

Ainda não refleti o suficiente sobre o tema, mas a princípio, me parece justa a iniciativa da Petrobras. Se vcs entrarem no site do Exército, por exemplo, vão ver que eles sempre publicam respostas às matérias que os criticam. Só tenho um problema com essa história.
Os jornalistas e os veículos de imprensa vivem dos furos de reportagem. Se a Petrobras divulga a tal conversa antes da respectiva matéria ser publicada, ou seja, se faz a defesa prévia sem saber o que será de fato publicado, está na verdade jogando baixo para tentar inviabilizar uma matéria que poderia ser negativa. Golpe baixo e tosco. Se a Petrobras publica a resposta em seu blog depois da matéria, tudo bem. É um direito de defesa e de comunicação. Eu, pessoalmente, não acharia errado ver um questionamento meu à Petrobras ser exposto, embora ficaria constrangido com isso, claro. Aí pode haver uma tentativa de constranger o jornalista mesmo. Mas me parece parte do jogo.

Victor De Martino disse...

Ah, só mais um ponto. Esse negócio de que a grande imprensa só pergunta para fingir que ouviu o outro lado me parece preconceito de quem tem um instantâneo repúdio à grande imprensa. Desculpe a sinceridade. O que geralmente ocorre é que a "acusada" não consegue refutar nenhuma das acusações que lhe são apresentadas. Se fosse, a matéria cairia. Como não é, o ouvir o outro lado se transforma em pura burocracia jornalistica. Mesmo assim, a gente insiste na burocracia pq eventualmente pode surgir alguma resposta plausível. Fora a questão legal, claro.

fredi disse...

Victor, sobre publicar as respostas depois que as matérias saírem, acho que a solução de só postar à meia noite no dia da matéria é boa, como parece será feito.

Sobre o que você disse, que é preconceito o que falei que a grande imprensa só pergunta para fingir que ouviu o outro lado, vamos lá:

Não tenho instantâneo repúdio nem preconceito. Já estive dos dois lados do balcão, na grande imprensa e na assessoria a entidades/governo e vi muito bem como a coisa funciona.

Quando vem uma denúncia, que pode ser um furo, o jornalista quer dar de qualquer jeito porque faz parte do DNA da nossa raça. O que está certo.

Agora, muitas vezes, depois da apuração, vê-se que as coisas não eram bem daquele jeito, mas mesmo assim dá-se um jeito de publicar.

E o que sempre vi acontecer é que se prepara toda a matéria e quando falta pouco tempo para a publicação liga-se para tentar falar com o outro lado, dando pouquíssimo tempo para que responda.

O que mais jornalista gosta é de publicar: procurado, o outro lado não quis se manifestar. Até porque dá menos trabalho com a matéria já pronta.

Outra coisa, vc já tentou pedir alguma correção de informação incorreta que sai numa matéria para a grande imprensa.

Eu já, tanto com Folha, Estado etc. Para começar eles acham que jornalista que trabalha em assessoria não é jornalista, está sempre defendendo interesses inconfessáveis. Isso sim, puro preconceito.

Quando você pega um erro e pede direito de resposta a redação (ou o repórter, o editor, sei lá) fica mais "puta" ainda. A vontade é de matar quem mostra que eles erraram.

Podem até corrigir (raros casos), mas sempre complementam com uma resposta maleducada para intimidar quem tem a audácia de confrontá-los ou muitas vezes nem plublicam (ignoram) e você que vá se queixar ao papa.

Agora, o maior problema é o que você mesmo escreve. "O que geralmente ocorre é que a "acusada" não consegue refutar nenhuma das acusações que lhe são apresentadas. Se fosse, a matéria cairia.

Que a matéria cai, creio que em 90% dos casos é mentira.

Mas o pior é vc escrever que a acusada não consegue refutar nenhuma das acusações...

Desde quando jornalista é investigador e juiz ao mesmo tempo?

O máximo que podemos é relatar as versões do que vimos e apuramos, tentando ser o mais honestos possível.

E lembrando que não possuímos a "verdade", no máximo vamos relatar o que vimos, mas sabendo que isso é parcial.

É essa humildade que normalmente falta.

Sem contar que se confunde o tempo todo liberdade de imprensa com liberdade da empresa de comunicação.

A liberdade de imprensa é um valor absoluto.

MAs quando o veículo confunde a liberdade de imprensa com a liberdade de empresa está fazendo exatamente como o ditador que confunde o interesse público, do Estado, com os interesses particulares.