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quinta-feira, junho 23, 2011

Santos 2 X 1 Peñarol - o tri dos novos reis da América

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Poderia ter ido ao Pacaembu, ver junto de amigos queridos e de outros tantos desconhecidos que se tornam amigos num momento mágico como o de noite de ontem a final da Libertadores. Mas, por questões logísticas, teria que abrir mão de assistir à decisão com a pessoa que despertou meu interesse pela história do glorioso Alvinegro Praiano, assim como não poderia contar com outros familiares que sofreram e se alegraram comigo durante anos em estádios, diante da TV ou mesmo do lado de um rádio, em tempos idos.

Gostem ou não, ele é fora de série
Não é todo dia que se tem a oportunidade de saber, de antemão, que em determinado dia e horário a história será escrita. E, por conta disso, a minha opção não poderia ser outra. Estava ali, a menos de quatro quilômetros do Paulo Machado de Carvalho, sofrendo a ansiedade que já vinha de dias anteriores, que me fez acordar antes das quatro da manhã de ontem, que dominava o pensamento em cada minuto da quarta-feira.

 E a ansiedade se somava ao nervosismo após ao apito inicial. O dito renascido futebol uruguaio mostrava toda sua ênfase na defesa, com um time que não conseguia sequer finalizar ao gol rival. O lance solitário (que não levou perigo) do Peñarol na primeira etapa surgiu de sua estrela, Martinuccio. O meia, aliás, foi dominado pela marcação de um jogador limitado tecnicamente, mas que parecia ter sido preparado para um jogo de paciência de 180 minutos, onde não lhe era dado o direito de se desconcentrar por um segundo sequer. Mas, além da concentração absoluta, Adriano partilhava com seus companheiros aquele algo mais, a obstinação que passa confiança ao torcedor, o toque de raça que é típico de campeões.

Danilo, quatro gols na Libertadores: o menino cresceu
As chances alvinegras apareciam. Com Durval, de cabeça; nos pés de Elano, em duas bolas rebatidas por Sosa; e com Léo, que com o pé direito mandou pra fora a melhor oportunidade peixeira na etapa inicial. Mas o gol só viria no segundo tempo, em lance lapidar. Ganso deu o toque de letra para Arouca, quase que indicando para o volante, o melhor do Brasil, “vai por ali”. Ele escapou de uma falta, escapou de duas,e deu o passe para Neymar. O atacante não dominou para driblar, finalizou de primeira, e a bola fez talvez a única trajetória possível para morrer nas redes: passou rente ao pé do defensor uruguaio, entre a trave o goleiro. Chute forte, com efeito, rasteiro. De goleador, de um fora de série.

Curioso que muitos “desculpem” Mano Menezes pela seleção não poder contar com Ganso, mas não tem a mesma parcimônia com Muricy Ramalho. Com o Dez de volta, e mais Léo, o treinador pôde armar um esquema que tinha uma saída de bola com mais qualidade, com uma fluência melhor na transição da defesa para o ataque, permitindo que o talento de quem tem talento pudesse aparecer. E apareceu.

Coube a Neymar iniciar de novo a jogada do segundo tento. Ele recebeu pela esquerda, soube segurar a bola e inverter o jogo, fazendo a redonda chegar a Elano, que acionou a Danilo. O lateral limpou e finalizou com a perna que “não é a boa”, a canhota. E marcou seu quarto gol na Libertadores. Outros gols poderiam ter surgido, mas Zé Love, o inacreditável, perdeu oportunidades mais que douradas.
O craque e o líder
No fim, um gol uruguaio quase obra do acaso, um tento contra de Durval, um dos pontos de apoio do time no torneio. Mas o Peñarol, que abdicou de jogar futebol durante quase toda a partida (por vocação e opção), não tinha forças para ser o Once Caldas de 2004 redivivo. E, diga-se, o sofrimento para o torcedor veio por ser uma decisão, não por qualquer “opção defensivista do comandante. Aqui tem trabalho, mas ontem o que teve mesmo foi futebol, meu filho!

- Esperei 48 anos por isso, você esperou menos – disse meu pai, depois dos 90 minutos.

É verdade, não esperei tanto. Mas esperei 18 anos pra ver meu time campeão em 2002 e, desde então, poucos times daqui chegaram a tantos títulos: quatro Paulistas, dois Brasileiros, uma Copa do Brasil e uma Libertadores. O improvável grande que nasceu do município de 500 mil habitantes consolida o seu retorno ao topo, agora como rei da América. O que me fez lembrar o poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

No futebol, no dia de ontem e sempre, o Tejo foi e será o rio que corre pela minha aldeia. 


10 comentários:

Moriti disse...

Como disse ontem à nossa eminência parda, não torci para o Santos, mas também não sequei.

Parabéns ao Santos, ao Muricy - que saudade! - e a você, Glauco, pela sensibilidade do texto.

Camila disse...

Como boa pseudo-são paulina que sou, confesso que me emocionei com o título do Santos.

Nicolau disse...

O belo texto do Glauco me deixa mais tranquilo de dizer que torci (moderadamente, bem entendido) para o Santos ontem, muito por causa da Débora, minha namorada, e pelos amigos peixeiros, mas também pelo bom jogo do time. Parabéns a todos.

fredi disse...

Parabéns aos amigos santistas, um dos motivos pelos quais torci pelo Santos ontem.

Outro foi torcer sempre pelo futebol.

Ganso e Neymar (mais todo o time, é óbvio) mereceram.

Aliás, claro que Neymar foi o principal jogador da conquista, mas sempre que vejo o Ganso jogar me encanto.

Faz parecer que o futebol é simples, fácil. Cada bola que sai de seus pés parece que não fez nada além de ir para o lugar certo.

Isso, para mim, é a simplicidade da grande arte.

Marcão disse...

Eu também torci pro Santos, um dos campeões mais justos da Libertadores nas últimas décadas. A vitória santista é ótima para incentivar outras equipes a investir na base e lançar os garotos no time de cima, como o meu São Paulo já começa a fazer. Expectativa de jogaço entre Santos e Barcelona no fim do ano. Luís Álvaro continua garantindo que Ganso e Neymar permanecem - e ele não faltou com a palavra até hoje.

Mas quero, aqui, registrar meus parabéns ao Muricy Ramalho. Ele merecu muito esse título, bateu na trave algumas vezes e acabou saindo do São Paulo quando perdeu pela quarta vez seguinda na competição. Deu a volta por cima. E provou que não fez mal negócio em descartar a seleção: em menos de um ano, de lá pra cá, conquistou um Brasileirão, um Paulista e uma Libertadores. Merece aplausos.

Aliás, lembro que, em 5 de maio, um dia após Fluminense, Internacional, Grêmio e Cruzeiro serem desclassificados da Libertadors, justamente os quatro times que eliminaram o São Paulo nos tempos de Muricy, fiz um post dizendo exatamente que isso era um sinal claro dos deuses do futebol de que a vez do técnico, enfim, chegara. E eu já tinha dito antes, em outro post, que, se esse timaço do Santos passasse da primeira fase, seria campeão. Cheguei até a apostar nisso. Cadê a meia dúzia de Heineken, Edu Maretti?

Parabéns aos santistas. Abraços!

Anselmo disse...

não torci para o santos. nem assisti ao jogo, de modo q tampouco sequei. qdo torço pra um time q não é o meu, normalmente, ele perde. como, por outro lado, não sou lá um secador de grande talento... os santistas podem me agradecer.

piadas à parte, o santos e os santistas tão de parabéns. Muricy calou os críticos, incluindo este ébrio palmeirenses.

Neymar já não precisa provar pra mais ninguém que é craque, o principal nome do santos. O Ganso continua sendo craque, o que deixa o santos forte demais.

Eduardo Maretti disse...

Glauco, adorei isso: "Não é todo dia que se tem a oportunidade de saber, de antemão, que em determinado dia e horário a história será escrita".

É uma frase estranha, difícil de traduzir, mas expressa o que os santistas todos sentimos nas últimas 48 horas.

Linda a foto de Neymar que você postou. Dei na capa do jornal que eu edito, no fechamento de hoje.

Saravá, Santos! Nós somos tri, Santos!!!

magrão disse...

Torci para o Santos até que a TV mostrou que ao lado de Pelé estava cheio de "picolé de chuchu" então comecei a torcer desesperadamente para o Penharol, mas... milagres não acontecem todos os dias e...

Leandro disse...

Não pude ver nenhum dos dois jogos também por questões logísticas, mas a verdade é que este título estava tão na cara quanto o 100º gol (com asterisco) de Rogério Ceni contra o Timão.
O título é merecido, e faço votos de que o exemplo dado pelo presidente santista inspire seus colegas corinthianos, que há menos de dois anos fizeram tudo diferente no que se refere à manutenção de um time competitivo e, exatamente por isso, não colheram os frutos que Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro vem colhendo ao longo dos últimos meses.

Lucho disse...

Foram 18 anos sem ganhar nenhum campeonato. Mas depois...

Quatro campeonatos paulistas, dois campeonatos brasileiros, uma copa do Brasil e uma Libertadores.

Quem é que vive de passado?