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terça-feira, fevereiro 26, 2013

Buracos na defesa são novos sintomas da Empatite

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Pato marcou o primeiro, Guerrero o segundo (Luis Moura/Gazeta)

Neste domingo, contra o Bragantino, o Corinthians conseguiu seu quinto empate consecutivo entre Paulistão e Libertadores. Foi também o terceiro 2 a 2 consecutivo na competição estadual, o que é ainda mais curioso. Muita gente tem lamentado a volta da “Empatite” que vitimou a equipe em tempos idos. Mas, se bem me lembro, a doença trazia uma penca de zeros nos placares, o que não tem sido a tônica. O mal pode ser o mesmo, mas o vírus causador sofreu uma mutação que trouxe novos sintomas.

O ataque tem funcionado razoavelmente, com seis gols em três jogos (e 1 nos trocentos mil metros da Bolívia, que dificulta avaliações) e mais um punhado de chances criadas (na altura, Sheik perdeu dois que mostraram porque ele me parece em marcha acelerada rumo ao banco). Mas a defesa começa a preocupar. Pode ser a combinação de falta de ritmo e má condição física de Paulo André e Fábio Santos, os dois mais velhos (sem contar Alessandro, que não jogou ontem), com o desentrosamento de Gil e Edenilson. Ou talvez seja só a ruindade de alguns destes personagens, que vinha sendo escondida pelos méritos coletivos de uma equipe bem armada e determinada. Duas outras possibilidades. Uma, que Gil e Paulo André têm características parecidas, mais para os antigos quarto-zagueiros. Funcionarão melhor com Chicão, que leva mais jeito para camisa 3. Estes três problemas podem ir na conta da diretoria, pela montagem do elenco – e pela perda do promissor Marquinhos – que ficou com poucas opções no miolo.

Outra possibilidade, mais tática, parte do reconhecimento de uma tentativa de Tite que mudou um pouco o posicionamento do meio-campo. Ralph tem aparecido mais no ataque, o que parece ser encorajado pelo chefe. Contra o Braga, a transmissão televisiva diz que Tite cobrou os meias para ajudarem mais na marcação na meia cancha, ajudando a cobrir o volante. Os frequentes erros na zaga podem ser resultado dessa mudança na organização coletiva – ou pode ser tudo um pacotão de problemas.

Essa mudança, se não se tratar de um delírio provocado pela súbita diminuição de álcool em meu sistema após o carnaval, pode indicar experiências para encaixar no time titular as contratações para o meio e ataque – onde a diretoria trabalhou muito e bem. Imaginei um time num tipo de 4-4-2 inglês, com Renato Augusto e Danilo marcando pelos lados sem a bola e armando e trocando de lugar na transição ofensiva (vimos os dois juntos por alguns minutos em Oruro, mas a altitude destruiu Danilo antes que conclusões fossem possíveis). Nessa formação, os dois volantes teriam mais companhia na marcação e mais espaço para avanços – que eu imaginei utilizado só por Paulinho, mas pode ser que Tite queira tentar incluir Ralph no revesamento ofensivo. Com isso, caberiam Guerrero como referência e Pato como segundo atacante, se movimentando pelo ataque, voltando para buscar a bola e achar espaços para partir em velocidade, o que faz muito bem. No papel, parece bom.

No entanto, minha fértil imaginação foi desmentida por Tite no final do jogo de ontem. Quando vi que Guerrero entraria no lugar de Douglas (que foi bem, mas cansou), imaginei o time exatamente desse jeito, mas o que se viu foi Renato Augusto ocupando a faixa central do 4-2-3-1 e Guerrero e Pato revesando de forma muito descordenada entre a centroavância e o lado do campo. Não rolou bem e o gol de empate só saiu pelo vacilo de um zagueiro do Braga que achou por bem botar a mão a bola na área.

Um destaque para a eficiência do Bragantino em bater: a certa altura, eram 20 faltas contra 5 do Corinthians, número realmente pitoresco.

Tragédia de Oruro

Andei totalmente sem vontade de escrever sobre futebol desde a imbecilidade que ocorreu na Bolívia e vitimou um garoto de 14 anos. Resumo de minha opinião sobre o fato, sempre com o foco de encontrar a melhor maneira de impedir que esses tipo de coisa aconteça novamente:

- Há uma dimensão coletiva e uma individual que devem ser abordadas. A tragédia só acontece porque existe conivência com a violência por parte da Conmebol e dos times. Logo, as punições coletivas são importantes para abordar este aspecto. Mas acho fundamental dar destaque ao aspecto individual da coisa: um ou um grupo de cretinos levou bombas para uma multidão, com ou sem o intento de dispará-las contra outras pessoas. Eles devem pagar de acordo com a lei, ou haverá impunidade. Se realmente foi o rapaz que se entregou à Justiça em Guarulhos, ele tomou uma atitude corajosa. Mas merece as penas cabíveis.

- Que todos os envolvidos paguem e que isso se torne padrão em todas as competições da Conmebol. Isso inclui o Corinthians, pela torcida, mas também o San José, como mandante e responsável pela segurança. Nenhuma punição será questionada por mim se tornar-se regra a ser obedecida por todos. E, como dito acima, o imbecil (ou imbecis) que se tornou assassino também deve estar na conta.

- O aspecto punitivo é importante, mas também é fundamental que se modifiquem as condições de segurança. Em nenhuma aglomeração humana deve ser permitida a entrada com materiais potencialmente mortais. Precisamos parar de tratar o futebol como uma dimensão a parte e exigir medidas de segurança.

- Qualquer ataque ou insinuação ao Corinthians ou corintianos como "assassinos", como um torcedor do Bragantino chamou o Tite, é injusta e altamente escrota. O mesmo vale para o San José.

(Modificado às 10h40 do dia 26/2)

4 comentários:

Leandro disse...

O método utilizado por Tite, de ficar à frente no placar e proporcionar oportunidades ao adversário que resultem no empate ou virada em vez e matar o jogo não é novidade para ninguém, mas além deste fator, também atribuo a volta da Empatite crônica à circunstância de dois jogadores com histórico recente de atuações muito boas terem caído vertiginosamente de produção (Cássio e Emerson), e também atribuo à longa ausência de Chicão e à falta do ótimo Marquinhos, já que Gil e Paulo André não conseguiram falar a mesma língua até o momento.
Quanto à violência e o revezamento de faltas contra jogadores mais habilidosos, já comentei a este respeito em postagens anteriores: Os caras batem feito gente grande, sobretudo nos jogadores mais qualificados, e se veem no direito sacrossanto de fazer isso.
Aí, quando levam um elástico, um chapéu, um drible da vaca ou uma lambreta de um Neymar, Lucas ou Pato, fazem beicinho e dão entrevista dizendo que deveriam quebrar estes caras em quem tanto bateram por estarem fazendo "gracinha".
Por fim, quanto à tragédia de Oruro, até então eu só conhecia o precedente da tragédia do Heysel, onde o clube da torcida protagonista e os outros clubes do país foram exemplarmente punidos.
Me parece o caminho, mesmo sabendo que não resolveu o problema imediatamente. Quatro anos depois tivemos outra tragédia de proporção ainda maior em gramados ingleses.
Mas se é para se fazer algo (e não há dúvida de que algo deve ser feito), que se faça da maneira mais ampla e gravosa possível, inclusive para o time da torcida ou torcedor que protagonizou o desastre, ainda que não fosse o mandante.
O precedente também europeu da tragédia do Sarriá em 92 (não confundir com a Copa de 82), onde só se obrigou o clube mandante a indenizar a família do torcedor morto e seu pai, gravemente ferido, eu não conhecia, e tenho visto os que criticam a punição à totalidade da torcida do Corinthians utilizarem este caso como exemplo do que deveria ser feito agora.
Mas sigo pensando que só uma punição ampla e exemplar pode fazer deste caso um marco histórico e regulatório da questão, e por isso, prefiro acreditar que tem que sobrar de modo pesado para todo mundo: SCCP, torcida (organizada ou não), San José, Conmebol, polícia boliviana, etc.
Sempre haverá quem reclame, mas não tem mesmo como agradar todo mundo.


Nicolau disse...

Leandro, acho que o ponto principal é esse: o caso tem que ser um marco. Mas o será se todos os envolvidos pagarem e se tais punições se tornarem regra em todos os jogos. Não adianta punir o Corinthians e não o San José. E não adianta punir os dois e não punir outros times nos casos em que materiais proibidos sejam pegos dentro do estádio - ou vão esperar acontecer outra morte?

Fernando Romano Menezes disse...

Nicolau, aonde assino?

Leandro disse...

Nicolau, onde assino? (2)