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quarta-feira, março 17, 2010

O líquido preto do capitalismo

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Nosso amigo fotógrafo Jesus Carlos, da Imagemlatina, costuma dizer que tem três coisas que se recusa terminantemente a consumir: comida de fast food, novela e Coca-Cola, que ele chama carinhosamente de "líquido preto do capitalismo". Porém, vemos nas fotos deste post que os camaradas cubanos Ernesto "Che" Guevara e Fidel Castro não tinham muita restrição a esse produto estadunidense. Pergunta maldosa: será que refresca greve de fome?

quarta-feira, dezembro 03, 2008

O encontro do time do Madureira com Che Guevara

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Aproveitando uma dica do leitor Rafael Fortes, em comentário no magistral post do companheiro Glauco sobre o encontro de Che Guevara e Chico Mendes, fui dar uma olhada na tal Recorde: Revista de História do Esporte. E lá está, como vocês podem ver acima, a foto de Che Guevara, na época Ministro da Indústria de Cuba, com o time carioca Madureira, em 18 de maio de 1963, data em que os brasileiros derrotaram uma seleção de Havana, na capital, pela segunda vez durante excursão pela terra de Fidel Castro. Os editores da revista comentam que a escolha dessa imagem para capa da nova edição ocorreu depois que "o colega Álvaro do Cabo nos trouxe essa foto, um postal que comprara em Cuba, e imediatamente passamos a buscar informações sobre esse belo instantâneo".

A resposta veio em uma matéria do jornal O Globo de 25 de setembro de 2005, assinada por Fábio Juppa e João Máximo. Diz o texto: "A passagem do Madureira de Farah, Peixe-Galo e Batata pela ilha fez parte de uma excursão pelas Américas, dois anos depois de o clube ter-se tornado o primeiro do Brasil a dar uma volta ao mundo, e Che Guevara ter sido condecorado em Brasília pelo então presidente Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul.(...) Os amistosos, negociados por José da Gama Correia da Silva, o Zé da Gama, português que presidiu o Madureira no biênio 1959/60 e atuava como empresário de futebol, começaram na Colômbia, seguiram-se na Costa Rica, passando por El Salvador e México".

Em maio de 1963, o Madureira fez cinco jogos em Cuba, goleando em quase todos: 5 a 2 contra o Industriales (campeão local), 6 a 1 no Municipalidad de Morrón (da Província de Camagüey), 11 a 1 num combinado universitário e 1 a 0 e 3 a 2 em duas partidas contra uma seleção de Havana. Ao segundo desses últimos dois jogos, Che compareceu. "-Ele vestia aquele uniforme verde-oliva do Exército. Depois da partida, entrou em campo e saudou um por um", recordou Farah, apoiador do Madureira em 1963, ao jornal O Globo. "-O contato com Che Guevara foi extremamente amigável. Ele foi carinhoso. Visitou-nos no hotel e, no jogo a que assistiu, distribuiu flâmulas. Parecia um homem íntegro", observou o ex-jogador. Che gostava de futebol e o Brasil havia acabado de conquistar o bicampeonato mundial no Chile, em 1962. "-Eles queriam tudo o que tínhamos. Teve jogador vendendo roupa e deixando o país com mais dinheiro do que levou", recordou Farah.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Chico Mendes encontrou Che Guevara no bar

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Não, caro leitor, o título acima não é fruto de nenhum delírio ou ressaca mal curada. Pesquisando e realizando entrevistas para um material que será publicado na revista Fórum, em razão dos vinte anos da morte de Chico Mendes, surge uma revelação fantástica: o líder seringueiro encontrou um dos ícones da esquerda mundial em um estabelecimento etílico.

Após ter tido participação decisiva na Revolução Cubana, Che Guevara queria "exportar" o modelo para outros países. Teria mirado a Bolívia como um dos seus alvos mas, com a CIA no seu encalço, escolheu caminhos tortuosos para chegar ao país, daí sua estada no Acre. Não são poucos os acreanos que afirmam terem cruzado com Guevara, que teria abordado algumas pessoas para chegar até a fronteira com o país vizinho. E o encontro com Chico, narrado pelo próprio ao professor Pedro Vicente em história confirmada pelo jornalista Élson Martins, se deu desta forma:



"Naquele momento se falava no Guevara, mas eu não conhecia. Nunca havia visto seu retrato nos jornais, até porque não tinha nem revistas ou jornais no seringal. Tinha ouvido seu nome através da Rádio Central de Moscou, não me recordo bem o ano, creio ter sido nos meados de 65 ou 66, eu estava caminhando do seringal para a cidade. As pessoas costumavam fazer longas caminhadas pela BR-317, na estrada velha, em direção a Brasiléia ou a Xapuri. Passava muita gente. Eu estava cansado e parei no bar, no entroncamento, a 12 quilômetros de Xapuri. Naquele instante chegou um cidadão vindo das bandas de Rio Branco.

Demonstrava ser uma pessoa muito educada, encostou-se no bar e puxou conversa comigo e com outros que estavam próximos. Falou que tinha interesse em conhecer a selva amazônica, principalmente os seringais e a selva boliviana. Indagou se eu era seringueiro, respondi que sim e já há muitos anos. Perguntou se não gostaria de acompanhá-lo até os seringais da Bolívia, pois não tinha costume de caminhar na selva. Precisava de uma pessoa que conhecesse os varadouros e o levasse na direção da fronteira. Dava para identificar que não era brasileiro, misturava um pouco de português com o espanhol.

Ele conduzia uma mochila, falou que tinha jóias e aproveitava a viagem pra vender e sobreviver durante o percurso. Não dispunha de muito dinheiro, mas perguntou quanto eu queria por dia para ir com ele até onde pudesse. Não aceitei o convite. Alguém me disse que era perigoso, podia ser um bandido. Não acreditei, mas não podia ir. Alguns meses depois, em Xapuri, passei diante da delegacia de polícia e um retrato me chamou a atenção. Havia um cartaz, nele anunciava-se um prêmio de 50 milhões de pesos a quem entregasse o terrorista Che Guevara, vivo ou morto. Dizia que Che se encontrava em território boliviano para organizar o terror na região. Fiquei abalado. Lembrei-me que havia visto e conversado com aquela pessoa no entroncamento. Nunca pude imaginar, pensei comigo mesmo, que aquela pessoa fosse um terrorista. Olhei várias vezes a fotografia. Não tive a curiosidade de pegar uma propaganda, um cartaz e guardar comigo.

Tempos depois, ao ler o livro sobre a guerrilha do Che na Bolívia, reafirmei a convicção de que cruzei com ele. Posso afirmar com certeza, era o Che.

Che entrou na Bolívia como Ramón Benítez, comerciante uruguaio

Já no quarto do Hotel Copacabana, em La Paz, fez esse auto-retrato

9/10/67: Félix Rodríguez, da CIA, posa com Che em sua última foto vivo

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Uma coincidência e o jogo do Timão

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Leio no blog do Juca Kfouri que serão lançadas camisetas "retrô" relembrando a passagem do doutor Sócrates no Corinthians. Paulo Velasco, publicitário que trabalha com Raí e pai da idéia, teria se impressionado ao ver, de passagem em Londres e Berlim, em "bairros jovens, descolados, camisetas de Che Guevara ao lado de camisetas com o rosto de Sócrates", e se associou à Topper para produzir as camisetas por aqui. Se coincidências querem dizer alguma coisa, ontem fui ao jogo com Andrew e Rebecca, um casal de artistas ingleses em temporada no Brasil, e Andrew fez exatamente a mesma associação entre o Sócrates e Guevara. E ele falou com aquele tom de cumplicidade de quem está dizendo uma coisa óbvia, tendo a confirmação definitiva em saber que o Doutor era assim chamado por ser médico, como o revolucionário argentino.

Sobre o jogo, o pouco que eu li por aí foi que o Timão e o Bragantino mereceram o 1x1. Não acho. Não vou falar de uma grande qualidade técnica, mas o Corinthians de fato dominou todo o primeiro tempo e boa parte do segundo, criou muio mais oportunidades e perdeu alguns gols fáceis. Se quem perde gols fáceis não merece ganhar, então vá lá, mas o Bragantino pouco fez além daquele golzinho que pegou o Corinthians meio disperso na volta do intervalo.

Pra quem tinha uma expectativa baixíssima, o time me convenceu de que será possível não fazer feio neste ano. E se o Lulinha se firmar como o bom jogador que merece ser, junto com o Dentinho, já terá sido um bom ano de reestruturação.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Che Guevara: um goleiro que pegava pênalti

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Há uma faceta pouco conhecida de Ernesto Guevara de La Serna, o Che, político/guerrilheiro morto na Bolívia há 40 anos. Como todo argentino, ele também gostava de futebol. Torcia para o Rosario Central, time da cidade onde nasceu, e idolatrava Alfredo Di Stéfano - o maior jogador argentino até o aparecimento de Maradona. Também disputava umas peladas. Uma delas foi relatada por Che em seu livro "Notas de viaje", que conta suas aventuras ao lado do amigo Alberto Granado, em 1952, quando foram de Buenos Aires a Caracas de moto, caronas e embarcações. O brasileiro Walter Salles Junior transformou a história em filme, "Diários de motocicleta".

Sabendo da fama que os argentinos tinham na América do Sul de grandes jogadores, naquela época (pré-Pelé), os dois amigos se apresentaram aos moradores da cidade de Leticia, na região amazônica da Colômbia, como técnicos de futebol. O golpe deu certo e, como precisavam de dinheiro, aceitaram comandar o time local, o Independiente Sporting Club, num torneio. Para completar, Che (24 anos na época) assumiu o gol e Granado (30 anos) tornou-se centroavante, ganhando o apelido de "Pedernerita" - referência a Adolfo Pedernera, grande astro do River Plate que, naquele ano de 1952, estava justamente na Colômbia, junto com Di Stéfano, defendendo o Millonarios (esse mesmo que venceu o São Paulo).

Na decisão do tal torneio, Granado fez o gol da vitória e Che defendeu um pênalti, garantindo o título. Foram carregados em triunfo e conseguiram, com isso, o dinheiro e os suprimentos necessários para seguir viagem. Quando chegaram a Bogotá, tiveram um encontro com o ídolo Di Stéfano, no restaurante La Saeta Rubia. O famoso jogador descolou dois ingressos para os viajantes assistirem o Millonarios num amistoso internacional contra o Real Madrid. Che não sabia, mas o Real estava contratando Di Stéfano. Que, por sua vez, também não sabia que ali em sua frente estava o futuro "maior político argentino do século 20", segundo recente pesquisa no país de Juan Perón.

Depois que Che triunfou com Fidel Castro na revolução de 1959, Granado foi viver com a esposa em Cuba. Ele conta que, em 1963, mais de dez anos após a aventura futebolística na Colômbia, Che, a essa altura ministro da Economia, aceitou participar de uma pelada. Diz Granado: "Quando Ernesto estava no gol, era um legítimo goleiro. Enfrentamos uma equipe de futebol da universidade de Santiago de Cuba, que era treinada por Arias, um espanhol. Arias recebeu a bola e avançou, mas Che saiu do gol e se jogou em cima dele. Ninguém imaginava que o ministro ia se atirar aos pés de alguém por uma bola. Mas ele era assim...". A foto que ilustra o post é desse dia e mostra Che, Granado (de bigode) e outros que disputaram a pelada.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Che Guevara mostrou o que a Abril quer da Veja

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Quando, na edição 2028, datada de 3 de outubro chegou às bancas, 82% dos esquerdinhas estufaram o peito para achincalhar a revista Veja (só para assinantes), as gerações passadas da família Civita – donos da editora Abril, fundada por Victor, pai de Roberto, atual diretor-presidente do lojinha. O desejo do pessoal, parece, era fazer com a revista o que eles fizeram com Che: aloprar. Depois, encontraram nos arquivos da publicação, uma edição de dez anos atrás, em que Dorrit Harazim, ex-mulher de Elio Gaspari, "reforçava" o mito alvo da semanal, o exato oposto da edição deste ano.

A questão mais interessante é que boa parte das queixas da turma de vermelho era direcionada ao grupo Abril, pedindo a CPI TVA-Telefônica – ecoando os pedidos ilibados e desinteressados de Renan Calheiros.

Eis que nas bancas está a revista Aventuras na História, da mesma casa de edições estampa toda pimpona: "Os últimos Dias de Che", com o subtítulo "o passo-a-passo da caçada ao revolucionário e seu assassinato na selva boliviana".

Dentro da revista, ainda mais orgulho subversivo: "A última luta de Che", avança o título. "Há 40 anos, Guevara tentou levar o espírito revolucionário à Bolívia. Acabou assassinado", diz o olho.

O "assassino cruel e maníaco" do texto assinado por Diogo Schelps, editor de internacional de Veja, e Duda Teixeira, na semanal, virou revolucionário para Celso Miranda e Giovana Sanchez na mensal de história. As divergências variam.

Compare:

Aventudas na História:
"Depois de ter levado a Revolução Cubana à vitória em 1959, ao lado de Fidel e Raúl Castro, Che se dedicara a espalhar ideais revolucionários pelo mundo."

Veja:
"Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro. Na versão mitológica, Che era dono de um talento militar excepcional. Seus ex-companheiros, no entanto, lembram-se dele como um comandante imprudente, irascível, rápido em ordenar execuções e mais rápido ainda em liderar seus camaradas para a morte, em guerras sem futuro no Congo e na Bolívia."

Citação ao mexicano conservador (com todo respeito, mas sem ter lido) Jorge Castañeda, ambas as citações são do mesmo Che Guevara - A Vida em Vermelho.

Aventudas na História:
"Na época, a América Latina parecia um grande tabuleiro da Guerra Fria, onde ondas de inspiração comunista esbarravam em ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos."

Veja, do mesmo autor do mesmo livro:
Era um personagem perfeito para ser símbolo da juventude de então, que se definia pela "determinação exacerbada e narcisista de conseguir tudo aqui e agora"

Aventudas na História, invencível:
"Mais de 2 mil militares estavam no encalço de Che. (...) 'Os soldados em serviço militar, mal treinados e mal armados, quando não foram simplesmente afugentados, sofreram fragorosas derrotas para a guerrilha que parecia, nos dois primeiros meses de conflito, invencível', afirma o jornalista americano Jon Lee Anderson em Che Guevara - Uma Biografia."

Veja, mendigo:
Do cubano Felix Rodríguez, exilado nos Estados Unidos "Eu o encontrei com os pés e as mãos amarrados, ao lado dos corpos de dois cubanos. Sangrava de uma ferida na perna. Era um homem totalmente arrasado. Parecia um mendigo."

Ué? Mas a Abril não odiava o Che Guevara?

De amores pelo amigo de Fidel Castro é que não se morre no edifício Birmann 21.

Numa busca pela página da Abril, há uma centena de referências a Che, com as mais diversas formas de vê-lo. Segundo a página de publicidade da Abril, Veja tem hoje 1,2 milhão de exemplares de tiragem, com circulação de 1,1 milhão, tudo auditado pelo Instituvo Verificador de Circulação (IVC). Já a Aventuras na HIstória, tem 93 mil cópias mensais.

O que se quer dizer com tudo isso é aquilo que o conselheiro Acácio vinha alertando há tempos. Veja joga para a torcida, prega para os já convertidos, advoga para convencer o cliente e permite outras metáforas ainda menos elaboradas. É a publicação segmentada de maior tiragem da história republicana deste país. Segmentada à direita, bem à direita, que conste.

E assim, a exemplo do que avisou Frei Betto, Guevara ajuda até a vender mais Veja.