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Quando, na edição 2028, datada de 3 de outubro chegou às bancas, 82% dos esquerdinhas estufaram o peito para achincalhar a revista Veja (só para assinantes), as gerações passadas da família Civita – donos da editora Abril, fundada por Victor, pai de Roberto, atual diretor-presidente do lojinha. O desejo do pessoal, parece, era fazer com a revista o que eles fizeram com Che: aloprar. Depois, encontraram nos arquivos da publicação, uma edição de dez anos atrás, em que Dorrit Harazim, ex-mulher de Elio Gaspari, "reforçava" o mito alvo da semanal, o exato oposto da edição deste ano.
A questão mais interessante é que boa parte das queixas da turma de vermelho era direcionada ao grupo Abril, pedindo a CPI TVA-Telefônica – ecoando os pedidos ilibados e desinteressados de Renan Calheiros.
Eis que nas bancas está a revista Aventuras na História, da mesma casa de edições estampa toda pimpona: "Os últimos Dias de Che", com o subtítulo "o passo-a-passo da caçada ao revolucionário e seu assassinato na selva boliviana".
Dentro da revista, ainda mais orgulho subversivo: "A última luta de Che", avança o título. "Há 40 anos, Guevara tentou levar o espírito revolucionário à Bolívia. Acabou assassinado", diz o olho.
O "assassino cruel e maníaco" do texto assinado por Diogo Schelps, editor de internacional de Veja, e Duda Teixeira, na semanal, virou revolucionário para Celso Miranda e Giovana Sanchez na mensal de história. As divergências variam.
Compare:
Aventudas na História:
"Depois de ter levado a Revolução Cubana à vitória em 1959, ao lado de Fidel e Raúl Castro, Che se dedicara a espalhar ideais revolucionários pelo mundo."
Veja:
"Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro. Na versão mitológica, Che era dono de um talento militar excepcional. Seus ex-companheiros, no entanto, lembram-se dele como um comandante imprudente, irascível, rápido em ordenar execuções e mais rápido ainda em liderar seus camaradas para a morte, em guerras sem futuro no Congo e na Bolívia."
Citação ao mexicano conservador (com todo respeito, mas sem ter lido) Jorge Castañeda, ambas as citações são do mesmo Che Guevara - A Vida em Vermelho.
Aventudas na História:
"Na época, a América Latina parecia um grande tabuleiro da Guerra Fria, onde ondas de inspiração comunista esbarravam em ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos."
Veja, do mesmo autor do mesmo livro:
Era um personagem perfeito para ser símbolo da juventude de então, que se definia pela "determinação exacerbada e narcisista de conseguir tudo aqui e agora"
Aventudas na História, invencível:
"Mais de 2 mil militares estavam no encalço de Che. (...) 'Os soldados em serviço militar, mal treinados e mal armados, quando não foram simplesmente afugentados, sofreram fragorosas derrotas para a guerrilha que parecia, nos dois primeiros meses de conflito, invencível', afirma o jornalista americano Jon Lee Anderson em Che Guevara - Uma Biografia."
Veja, mendigo:
Do cubano Felix Rodríguez, exilado nos Estados Unidos "Eu o encontrei com os pés e as mãos amarrados, ao lado dos corpos de dois cubanos. Sangrava de uma ferida na perna. Era um homem totalmente arrasado. Parecia um mendigo."
Ué? Mas a Abril não odiava o Che Guevara?
De amores pelo amigo de Fidel Castro é que não se morre no edifício Birmann 21.
Numa busca pela página da Abril, há uma centena de referências a Che, com as mais diversas formas de vê-lo. Segundo a página de publicidade da Abril, Veja tem hoje 1,2 milhão de exemplares de tiragem, com circulação de 1,1 milhão, tudo auditado pelo Instituvo Verificador de Circulação (IVC). Já a Aventuras na HIstória, tem 93 mil cópias mensais.
O que se quer dizer com tudo isso é aquilo que o conselheiro Acácio vinha alertando há tempos. Veja joga para a torcida, prega para os já convertidos, advoga para convencer o cliente e permite outras metáforas ainda menos elaboradas. É a publicação segmentada de maior tiragem da história republicana deste país. Segmentada à direita, bem à direita, que conste.
E assim, a exemplo do que avisou Frei Betto, Guevara ajuda até a vender mais Veja.
4 comentários:
Já tive os dois livros citados. Sucessivos períodos desempregado me obrigaram a "passar nos cobres" pra tirar o leitinho da criança nos sebos da vida (toda vez que passo em frente ao Red Star, na Teodoro Sampaio, vejo meu exemplar de "Uma biografia" e fico com vontade de recomprar, mas no tengo la plata...). "A vida em vermelho" é um livro mais analítico, político. Tem um sem número de transcrições literais de arquivos da CIA, KGB e quetais. Por isso, é uma leitura espinhosa - mas instrutiva. Já o do Lee Anderson é uma biografia no sentido literal da palavra, vai a fundo no personagem Ernesto Guevara. Tem mais de 900 páginas, mas o texto, a pesquisa e a abordagem (não condena nem idolatra) são elogiáveis. Pra quem gosta de política, dois pratos cheios.
Apesar do Castañeda ter de fato dado uma guinada pro centro (nossa, que incomum...), a biografia dele é mt boa. Até porque, à época, ele ainda era esquerdinha. Equilibrada, muitos dados e boas discussões.
Companheiro alviverde esquerdinha Anselmo, belíssimo post. Congratulações.
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