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quinta-feira, junho 29, 2006

Memória da Copa (9ª edição)

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A primeira estrela

Em 29 de junho de 1958, Amaro dos Santos ligou seu rádio valvulado e apoiou o cotovelo em cima da mesa para ouvir a final da Copa do Mundo entre Brasil e Suécia. A certa altura, o ponta-direita brasileiro levou uma entrada mais dura de um adversário e Amaro, já turbinado por meio litro de cachaça, tirou o canivete da cintura e extirpou o rádio sem dó. Por conta disso, não conseguiu ouvir o fim do jogo e só teve certeza de que o Brasil era campeão quando ouviu o foguetório espocar por toda a cidadezinha de Pau Grande. Paciência: a seu modo, vingara as pancadas recebidas por seu filho Mané Garrincha na distante cidade de Estocolmo.

Naquele dia, há exatos 48 anos, o Brasil deixava de ser vira-latas no esporte coletivo mais popular do planeta. E o filho de Amaro foi decisivo no momento mais crítico da partida. Depois de levar um gol de Liedholm logo aos 4 minutos de jogo, o Brasil parecia atordoado num estádio obviamente lotado pela torcida da casa. Didi pegou a bola no fundo das redes e voltou caminhando lentamente para o meio do campo, comentando entre dentes com os companheiros: "-Vamos encher esses gringos". Garrincha ouviu e, em menos de 30 minutos, driblou duas vezes meio time da Suécia até a linha de fundo e, em ambas as oportunidades, cruzou com perfeição para dois gols de Vavá.

No segundo tempo, Pelé (duas vezes) e Zagallo ampliaram e a goleada fechou em 5 a 2. Festa brasileira em Estocolmo, explosão em todos os cantos do Brasil. Muitos já disseram que a popularidade da gestão Juscelino Kubitschek na presidência da República e a sensação de extremo orgulho que o país experimentou naquele final de anos 50 começaram naquele dia de junho de 58, com aquela vitória na Suécia. É claro que Amaro dos Santos, com nove ou dez caninhas acima da humanidade, nem suspeitava disso. Nem seu filho, que naquele momento era cumprimentado no gramado do estádio Raasunda pelo rei sueco, Gustav Adolf, em pessoa. E respondia como se estivesse num boteco de Pau Grande: "-Olá, meu chapa! Tudo bem?".

E o brasileiro, dessa vez no drible, mostrou o futebol como é que é.

Brasil 5 x 2 Suécia
29 de junho de 1958

Brasil: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo.Técnico: Vicente Feola.
Suécia: Svensson; Bergmark, Axbom, Börjesson e Gustavsson; Parling e Gren; Hamrin, Liedholm, Simonsson e Skoglund. Técnico: George Raynor.

Árbitro: Maurice Frederic Guigue (França)
Local: Estádio Raasunda (Estocolmo-Suécia)
Público: 49.737
Gols: Liedholm (4), Vavá (8), Vavá (32), Pelé (56), Zagallo (68), Simonsson (80) e Pelé (89)