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segunda-feira, janeiro 15, 2007

E se fosse obra da Marta?

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Sou santista e, como tal, convivi e convivo com muitos torcedores que possuem aquilo que eu chamo de "Síndrome do Gato Escaldado". Trata-se de uma paranóia peculiar impulsionada por fatos passados que influenciam no pensamento presente. Explico. Por conta de episódios em que a arbitragem foi decisiva contra o time da Baixada, desde jogos importantes da década de 1920, que fizeram estivadores irem assistir à final de 1935 munidos de galões de gasolina, até a célebre partida contra o Botafogo em 1995, o torcedor santista vê, em cada erro de arbitragem, uma falha deliberada ou uma conspiração destinada a barrar o sucesso da equipe.

Recentemente, alguns petistas começaram a padecer do mesmo mal. Em função da crise política de 2005/06, muitos militantes começaram a ver uma grande manobra das "forças do mal" contra seu partido e o governo Lula, sem parar e fazer a auto-crítica necessária para avaliar os erros do PT. Preferiram culpar a mídia pela sua desgraça. Esse comportamento hiperbólico acabava por mascarar a própria venalidade dos veículos de imprensa que sempre trataram o partido de forma muito mais agressiva do que as outras agremiações. Por conta do exagero dos portadores da "Síndrome", a cobertura da grande imprensa parecia até "equilibrada".

Mas a verdade é que nunca foi. Exemplo disso foi a gestão de Marta Suplicy (2001-04) à frente da prefeitura de São Paulo. Um episódio em especial se tornou notório: o túnel Rebouças. Quando o mesmo sofreu um alagamento, a imprensa tratou como se fosse a obra mais mal feita da engenharia nacional. E a culpa, óbvio, era da prefeita. Enquanto hoje tentam culpar as empreiteiras, a chuva, o solo, Deus e quem mais aparecer (menos o Poder Público) pelo buraco do metrô em Pinheiros, o tal "Buraco da Marta" era uma desgraça produzida exclusivamente pela prefeita.

O tal túnel ficou tão célebre que consta até na biografia da ex-prefeita no Wikipedia. O ongueiro e jornalista de plumagem azul-amarela Gilberto Dimenstein vociferava em sua coluna: "Sei que ela nunca vai tomar essa atitude, mas o certo é que a prefeita se dirigisse à população e pedisse desculpas pelas falhas técnicas das obras que apresentou às pressas. É mais uma lição do que acontece quando a busca de votos se sobrepõe à gestão planejada."

O ex-secretário de Negócios Jurídicos da prefeitura na curta gestão Serra e agora secretário de Justiça do estado de São Paulo, Luiz Antônio Marrey, em entrevista ao site Consultor Jurídico, na sede da revista, revelava em junho de 2005 que a administração estudava responsabilizar a ex-prefeita por obras como o túnel da avenida Rebouças. “Nós temos a posição de não fazer nada açodadamente e nem fazer afirmativas sem o devido estudo. Então esta questão do túnel está sendo estudada do ponto de vista do gasto público e da sua adequação”, dizia o jurista.

E agora? Dimenstein pedirá a Serra ou ao ex-governador e "patrono" da obra Geraldo Alckmin que peça desculpas à população? Isso bastaria para os familiares das vítimas fatais de algo que está longe de ser uma obra da natureza? E o secretário de Justiça Marrey, estudará responsabilizar Geraldo Alckmin pela obra mal-feita? Um mínimo de eqüidade não faz mal a ninguém.

4 comentários:

Nicolau disse...

No dia seguinte ao desabamento, a única chamada da capa do Estadão que fazia alusão aos tucano-pefelistas dizia, o texto deve ser outro: "Governo diz que obras do Metrô não sofrerão atrasos". Se fosse a dona Marta ia ter gente pedindo a pena de morte pra ela.

Marcão disse...

A Folha montou mais um de seus mirabolantes infográficos para "explicar" ao leitor como o solo e a chuva provocaram a desgraça (dessa vez, além de poupar o governo, estão poupando também as empreiteiras contratadas por ele). Quando caiu o avião da Gol, o infográfico "explicava" com toda a certeza que a cagada tinha sido dos controladores de vôo, ou seja, do tal "poder público". Se alguém acredita em alguma coisa que a "Folha explica", então, reitero, "folha-se".

Anônimo disse...

cartão amarelo pelo trocadalho.

sou a favor da culpabilização dos governos e governantes sempre. com a devida divisão com entes privados, quando possível. e que todos paguem por isso, de preferência em cerveja.

Anônimo disse...

Very intereresting reading. thx

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