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terça-feira, abril 10, 2007

O fim do elemento neutro no Paulistão

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Ensina-se na matemática que o "elemento neutro" é aquele que, quando faz parte de uma operação, não exerce nenhuma influência em seu resultado final. Os dois exemplos clássicos são o número zero, na adição, e o um, na multiplicação.

No futebol, elemento neutro seria aquele time que consegue parecer incólume na maioria dos campeonatos que disputa. Não briga por títulos, mas também não perambula na zona do rebaixamento; não despeja goleadas históricas mas também raramente é humilhado; não tem uma torcida fanática, mas também não é caracterizado por públicos vergonhosos.

Pois bem, poucos times viviam uma situação tão "elemento neutro" no futebol nacional quanto o Rio Branco de Americana no Campeonato Paulista.

O Tigre disputava a elite do Paulistão initerruptamente desde 1993 (oficialmente, está na primeira divisão desde 1989, mas aí é naqueles módulos estranhos dos quais a torcida do São Paulo sente saudade). E em todos esses anos - com a única exceção de 1993, quando ficou entre os semifinalistas - não fez nada de notável no campeonato. Nem pro bem, nem pro mal.

Talvez os feitos que deram maior visibilidade ao Rio Branco foram a revelação de dois atletas em especial, o volante Marcos Assunção, que brilhou no Santos, e o meio-campista Souza, aquele, ex-Corinthians e São Paulo e que no ano passado foi o comandante do América-RN na campanha da volta à primeira divisão do Brasil.

Mas tudo isso acabou no domingo. O Rio Branco foi derrotado pelo seu quase xará Rio Claro e, com uma rodada de antecipação, está matematicamente rebaixado à Série A-2 do Paulista.

É curioso. Se por um lado o time se acostumou com a elite - e pode encontrar nisso uma motivação maior para conseguir a promoção no ano que vem -, por outro não tem a "pegada" da Série A-2 que outros rivais mais habituados a subidas e descidas, como Ituano, Santo André, Botafogo de Ribeirão e Juventus possuem.

E a própria segunda divisão é bem diferente. O Rio Branco encontrará o segundo nível do paulista em um formato bem diferente do que disputava nas décadas anteriores - aliás, será a primeira vez que o clube disputará a Série A-2, com esse nome, que já existe há um bom tempo.

Quanto aos torcedores, nós também estranharemos a saída desse simpático clube da primeira divisão. Era uma garantia de "estabilidade" no campeonato.

14 comentários:

Marcão disse...

Uma correção: o Rio Branco foi vice da 2ª Divisão (na época, Intermediária, hoje A-2) em 1990, e disputou pela primeira vez na elite em 1991. O artilheiro da equipe, na campanha do acesso, foi o glorioso Macedo, que depois deu muitas alegrias às torcidas do São Paulo e do Santos, entre outras. Eu trabalhei em Americana entre 96 e 97 e, na época, Pena (que depois foi pro Palmeiras) e Marcelinho Paraíba eram os destaques do time. Na época, o astro das divisões de base - do Rio Branco e da seleção brasileira - era um tal de Sandrinho, que dois anos depois, já rebatizado como Sandro Hiroshi, seria o protagonista de um escândalo como "gato" no futebol nacional. Outra grande revelação do Rio Branco foi o volante Mineiro, hoje no Herta Berlim.

Quanto ao tal "regulamento que a torcida do São Paulo sente saudade", já expliquei em outro posta que, no campeonato paulista de 90, o São Paulo terminou, no máximo, em 16º lugar - entre 24 participantes. Logo, não caiu para a segundona e tinha lugar assegurado na elite em 91. Porém, mesmo antes de o campeonato de 90 começar, estava previsto que, no ano seguinte, seriam formados dois grupos de 12: um com os melhores classificados do ano anterior e outro com os que não chegaram à fase final (caso do São Paulo), mais os quatro que subiram da A-2 (entre eles, o Rio Branco). Por esdrúxulo que seja, os melhores classificados em cada grupo fizeram as semifinais da 1ª divisão em 91. O São Paulo foi o campeão, mas a culpa não é dele. É da FPF e de TODOS os clubes que - antes do campeonato de 90, repito - concordaram com essa palhaçada.

Eu torço para o São Paulo e não sinto nem 1 por cento de saudade de (mais um) regulamento absurdo como esse.

Anselmo disse...

será que o mercado vai reagir bem à queda do Rio Branco? o dólar vai parar de subir...

ironias à parte, muito bem lembrado... o rio branco era o adversário que prometia pouca resistência, mas nem por isso era vitória na certa.

Edu Maretti disse...

O mais importante disso tudo é a frase histórica do post: “O Rio Branco foi derrotado pelo seu quase xará Rio Claro”. Porque registra a mais importante participação da Cidade Azul (Rio Claro) – de onde vem a companheira Carmem, “quase colaboradora” do Futepoca, na feliz definição do Frédi – na história do futebol nacional e, quiçá, mundial!

Marcão disse...

Momento Vavá: "Ficou Claro que não era dia de Branco".

Edu Maretti disse...

Marcão, isso é cartão amarelo com muita benevolência

Marcão disse...

Valeu pela benevolência, Edu. Mas acho que, com o trocadalho no comentário do post sobre o Vaccarezza, não escaparei da expulsão.

Glauco disse...

O grande Anaílson também foi revelado pelo Rio BRanco.

Anônimo disse...

Marcão, foi só uma sacanaedinha de leve, pra descontrair. Foi mal aí.

Mas sobre o Rio Branco, é isso mesmo: o time tá desde 1993 na primeira divisão "de verdade", onde enfrenta o grande, sem contar módulos distintos.

Até porque se formos analisar por modos "legslistas", o Rio Branco seguirá na primeira divisão em 2008: a FPF considera as Séries A1, A2 e A3 como chaves distintas da primeira divisão.

Marcão disse...

Buenas, Olavo. Mas lembre-se, toda vez que mencionar “módulos estranhos”, que o Campeonato Paulista mais bizarro, confuso e sem sentido da história foi o de 1978, vencido pelo teu Santos. Foi disputado em três turnos: os dois primeiros com quatro grupos, cada grupo com cinco times. E o terceiro reuniu dois times classificados no 1º, mais dois no 2º e outros quatro por melhor pontuação. Isso fez com que o torneio se arrastasse de agosto de 78 a junho de 79 (!).

O fato é que, no 1º turno, decidido em novembro de 78, Corinthians e Santos foram os finalistas (o time da capital foi o campeão) e classificaram-se automaticamente para o 3º turno.

Já o 2º turno, que durou de novembro de 78 a abril de 79, foi decidido entre Ponte Preta (campeã) e Guarani, que também garantiram vaga no turno final. Nessa confusão sem fim, São Paulo, Palmeiras, Botafogo e Juventus também se classificaram para o tal 3º turno.

Na reta final, entre abril e junho de 79, Guarani e São Paulo terminaram em primeiro no Grupo A, com 13 pontos, e Palmeiras (14 pontos) e Santos (10) se classificaram no Grupo B. Na semifinal, disputada em um jogo só (sei lá por que), o Santos venceu o Guarani e o São Paulo despachou o Palmeiras.

Daí, pra fechar o surreal torneio com chave de ouro, Santos e São Paulo disputaram três partidas decisivas (também não sei por que): o Peixe venceu a primeira, houve empate na segunda e o São Paulo venceu a terceira. Novo empate, na prorrogação, deu o título ao Santos por “melhor campanha”. Entendeu? Nem eu.

Glauco disse...

Ué, por "melhor campanha" entendo o número de pontos somados ao longo dos turnos, critério usado e re-usado mesmo pra campeonatos com times em grupos diferentes. Quanto a dizer que esse foi o campeonato mais esdrúxulo, decerto concorre, mas sempre disse que a FPF é mestra em fazer isso. Não esqueçamos que seu São Paulo desclassificou o Palmeiras em uma semifinal pelo absurdo critério de ter menor número de cartões amarelos, uma excrescência aplicada a juvenis e quetais. Fora isso, houve campeonato em que os times jogaram entre si pra ver qual seria rebaixado, em 2003, mesmo ano em que um regulamento estapafúrdio permitiu ao seu São Paulo entregar o jogo pro Santo André pra não pegar o Santos e sim o time do ABC na fase final. Dá pra escrever um tratado sobre regulamentos bizarros do Paulistão, mas páro por aqui.

Marcão disse...

Só uma correção: a classificação do São Paulo por critério de cartões amarelos, contra o Palmeiras, ocorreu na semifinal do Torneio Rio-São Paulo de 2002. E eu não disse que o Campeonato Paulista de 78 foi o único esdrúxulo - mas pior que ele, com toda certeza, só o Brasileirão de 79.

Glauco disse...

Sim, e a FPF organizou o torneio.

Marcão disse...

Sim, tem razão. É que eu disse que o campeonato PAULISTA mais confuso foi o de 78. Não considerei outras competições. Quanto à FPF, sem comentários. Basta ver a confusão com a escolha dos mandos de campo nessa reta final do Paulistão 2007, tema de meu post mais recente.

Anônimo disse...

Esqueceu de dizer que no Campeonato Paulista de 1978 quando Ponte e Guarani decidiram o 2.o turno o campeonato já tinha acabado.