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segunda-feira, maio 07, 2007

Um domingo perfeito

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Reproduzo embaixo um texto do Blog da Bia. Pra quem é santista, sabe que é assim mesmo...

O programa para o domingo já estava combinado: o boteco do Português para comemorar o título do Azulão. E a concentração para a grande conquista começou cedo, antes mesmo do meio-dia:

- Seu Manoel, hoje é dia de comer peixe! – gritou o corinthiano Paulo, vestindo uma camisa azul do Chelsea (Abramovich, Kia, “é nóis!”), antes de ser informado que a primeira rodada de cerveja e bolinhos de bacalhau era por conta da casa. Afinal, a Lusa tinha acabado de ser campeã da série B do Paulistão. Agora vai!

Maurício, o são-paulino, era o mais ansioso. Vestia azul do tênis importado aos óculos de grife:

- O céu está dessa cor em homenagem ao São Caetano! – dizia de 5 em 5 minutos.

Bruno, o amigo palmeirense, era o mais contido. Os anos de ditadura Mustafá finalmente acabaram, mas o ânimo dos palestrinos continua na Série B. Nos últimos domingos, só conseguiu ver seu ídolo Edmundo em ação como jurado, no quadro “Dança dos Famosos”, do Domingão do Faustão. Mesmo assim, vestiu um “azul bebê”, para entrar na farra dos outros dois amigos secadores.

- Onde é que está o Renato?

- Ah, seu Manoel! O sardinha foi pro estádio! Ele ainda acredita! – disse Maurício, para a gargalhada de todos da mesa.

- Um brinde ao Azulão e à saída do Roger do Timão! – propôs Paulo.

- Ué! O Galisteu não é mais o queridinho da Fiel?

- O ciclo do Roger acabou. Ele agora está com a Débora Secco e a Fiel está com o Lulinha!

- Ah, a narração é do Cléber Machado! Ele é sardinha! Bota no Sportv que o Milton Leite é da Fiel!

Maurício, que passou a semana inteira saboreando a vitória do São Caetano por 2x0, fazia questão de que todos no bar ouvissem sua opinião sobre a equipe santista:

- Finalmente a máscara caiu! Esse time é horrível! Hugo e Lenílson jogam muito mais do que o Zé Roberto! Eles não têm um Leandro Guerreiro, não têm raça. Voltaram da Venezuela na quinta-feira, estão cansados e, pra melhorar, em crise! O Luxemburgo cai amanhã e o Santos já era!

- O estádio está cheio, até que os sardinhas estão confiantes... – disse Bruno, que aproveitou para relembrar os bons (e velhos) tempos do Palmeiras, como a defesa de Marcos no pênalti de Marcelinho Carioca, em 1999.
- Se o Santos não marcar até os 15 minutos a torcida vai jogar contra! – secava fervorosamente Maurício, com unhas só (e ainda) nos pés.

Aos 24 minutos e após muitas chances desperdiçadas, Pedrinho cobrou o escanteio e Adaílton marcou com uma cabeçada certeira: Santos 1 a 0.

No intervalo, Renato pensou em ligar para os amigos. Desistiu. Assim como os outros 60 mil santistas no estádio, ele tinha jogado com o time durante os primeiros 45 minutos. Estava exausto. E ainda tinha o segundo tempo pela frente!

- Como joga bola esse tal de Rodrigo Souto...

- Muito melhor do que o Magrão! – disse Bruno, aproveitando a deixa do amigo corintiano para explicitar a mágoa que tem do ex-jogador do Palmeiras.

- O Josué é infinitamente melhor do que os dois! – retrucou Maurício, se retirando da mesa pela décima vez para usar o banheiro.

Após jogada na área entre Maldonado e Triguinho, os meninos pedem um pênalti, não dado pelo juíz:

- Apito amigo santista! – gritam, esperando a opinião do ex-árbitro, comentarista, sobre o lance: “Não houve rigorosamente nada! Acertou o juíz!”

A alegria só voltou com a anulação do gol de Cléber Santana, que estava impedido. No estádio, o jogo caminhava para seu momento mais crítico: os últimos 10 minutos. Renato e os outros torcedores viram que era hora de aumentar o volume da voz e o barulho das palmas.

Kléber deve ter entendido o recado e, mesmo após dois cruzamentos errados, não se deixou abater: na terceira tentativa, encontrou a cabeça de Moraes, um outro Menino da Vila, que deixou os 60 mil santistas no estádio e outros tantos pelo mundo, girando a camisa no alto em um só coro: “Ooooo Vamos ser Bi Santoooooooooooooos, vamos ser Bi Santoooooooooooooooos, vamos ser Bi Santoooooooooooooooooooooooooooos...”

Paulo observava a festa santista em silêncio. Maurício, assim como Vanderlei Luxemburgo, resolveu ir embora antes do apito final. Já Bruno, tentava esconder as lágrimas que surgiram após ver Pedrinho chorando, na beira do gramado. Seu Manoel tratou de providenciar um caldo verde para o palmeirense.

- Que festa linda! – dizia, sem conseguir deixar de pensar em sua Lusa, a outra campeã do domingo. Dessa vez, sem ter que fugir do vestiário ou dividir o título com outro clube. Do estádio, Renato teve vontade de ligar para os amigos que passaram a semana inteira o “azulcrinando”, e de xingar todos os jornalistas que aparecessem no caminho. Mais uma vez, desistiu. Comemorar outro título era bem mais interessante.

6 comentários:

Nicolau disse...

Genial esse texto! Sequei mesmo e continuarei secando, com muito orgulho e dedicação. E concordo com o corintiano: que Roger vá pela sombra.

Glauco disse...

Tá certo, Nivaldo. Se fosse o Corinthians, secaria também. Melhor que vir dar uma de politicamente correto e fingir que tá parabenizando.

Anônimo disse...

Olha sou corinthiana, mas fui até comemorar com vcs.. não torci contra não, na verdade no começo do jogo sim, mas o são caetano tava tão ruin, só segurando o jogo e comecei a torcer pro santos

Glauco kd a foto do Dr. do empanadas?
Bianca

Marcão disse...

O Glauco não perde oportunidade de cutucar - e o famigerado "politicamente correto" é seu argumento predileto. Não parabenizei ele (e todos os santistas) por isso, mas sim porque merecem. E isso não tem nada a ver com o fato de eu ter secado ou não. Secar é um direito tão sagrado quanto torcer para o próprio time e é uma prática muito popular desde que o futebol é futebol. Ou vice-versa.

Glauco disse...

Põ, Marcão, e cutucar também não é um direito sagrado?

Marcão disse...

Pode ser, mas depende do que, de quando, de como e, principalmente, aonde.