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domingo, agosto 05, 2007

Cachaça pode salvar o planeta

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Há consenso de que a substituição do uso de combustíveis fósseis pelo de álcool da cana-de-açúcar pode exercer um papel importante na redução do saldo de gás carbônico (CO2) na atmosfera. É que o CO2 emitido quando da queima do álcool corresponde exatamente àquele que a cana-de-açúcar absorveu durante o seu crescimento. Isso, aliás, é bastante evidente. A biosfera é uma grande sistema em equilíbrio, o carbono encontrado em uma planta tem que ter saído de algum lugar, e na deterioração deste vegetal terá que ser absorvido no ambiente de alguma maneira.
O problema dos combustíveis fósseis está no fato de que reservas muito densas de carbono são retiradas de camadas subterrâneas profundas, sem que isso faça parte do atual equilíbrio de todos os seres vivos da Terra. E isso é lançado na atmosfera. O CO2, junto com outros gases, provoca o efeito estufa, que por sua vez leva ao aquecimento global, cujas conseqüências não se sabe ao certo. Há previsões catastróficas, outras nem tanto, mas o certo é de que há e haverá mudanças notáveis.
Diante deste quadro, alguns cientistas já devem estar pensando na teoria que acabei desenvolvendo enquanto consumia doses alternadas de Januária, Armazém Vieira (presenteada por membros do Futepoca) e Claudionor. Não sei em que lugar do mundo, mas sem dúvida isso já deve estar sendo pesquisado. Pois é demasiado óbvio para que não se veja.
Ora, acompanhem o meu raciocínio. Retomo do início: a cana-de-açúcar absorve uma quantidade enorme de CO2 da atmosfera. Um hectare de cana absorve de cinco a dez vezes mais carbono do que a mesma extensão de pasto, por exemplo. Se queimado na forma de álcool, esse CO2 retorna à atmosfera e a conta empata. Mas e se essa mesma cana não for queimada e for consumida na forma de cachaça??? Não haveria emissão para a atmosfera, e retiraríamos quantidades relevantes de CO2 da atmosfera.
Consultei um grande especialista, o engenheiro agrônomo Oscar Antonio Braunbeck, diretor de pesquisas sobre o tema na Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp (Feagri). Após refletir um momento, me disse que até concordaria com minha tese, desde que abandonássemos a discussão teórica e partíssemos para a implementação do projeto. Servidas as doses de Januária, ele avaliou que parte do carbono ingerido na forma de cachaça seria exalada e retornaria à atmosfera de todas as maneiras, outra parte seria retida na protuberância frontal do manguaça na forma de gordura. E concordou, para a minha glória, que parte do carbono seria eliminada em formas não gasosas.
Acompanhava a discussão a pesquisadora em Química Maiara Oliveira Salles. Ela alertou para o fato de que parte desse carbono voltaria à atmosfera na forma de gás metano, que é muito mais nocivo em matéria de efeito estufa do que o CO2. Discutiu-se a possibilidade de que cada manguaça portasse um isqueiro para queima de gás metano, em caso de necessidade.
Os efeitos secundários seriam também bastante benéficos. Não se pode tomar cachaça e dirigir ao mesmo tempo. Em geral, os manguaças preferem as posições paradas para consumir o seu néctar. Mais cachaça significaria uma provável redução no número de viagens realizadas pelos manguaças. Devem ser contabilizados aí aqueles que dormem no boteco, que desistem de fazer outras coisas etc.
Assim, está sendo elaborado projeto, a ser encaminhado à ONU, de uma campanha "Cachaça para a vida". Que cada cidadão mundial consuma uma quantidade diária de cachaça, com o intuito de reverter os efeitos do aquecimento global.
Há dúvidas de qual seria a quota diária adequada. Os mais conservadores falam em uma a duas doses diárias; os mais radicais acreditam que se deva consumir em cachaça a quantidade correspondente ao consumo diário em álcool do meio de transporte que utiliza. Ou seja, se você tem um carro a álcool que consome em média dois litros por dia, sua obrigação seria a de consumir os mesmos dois litros em cachaça.
O projeto incluiria a construção de novos botecos e a qualificação de botecos existentes, para que todo manguaça planetário tenha a opção de consumir cachaça de qualidade sem precisar atravessar a rua, para não gastar com transporte e emitir CO2, e também por razões de segurança.
A viabilidade econômica seria conquistada com a formação de um novo mercado, em que se negociariam créditos de cachaça. O cidadão que se abstivesse de cumprir com seu dever cívico e não consumisse sua dose diária poderia adquirir créditos de cachaça de um ativista manguaça, cuja atuação resulte em excedentes de captura de carbono.
Quem duvidava de que o Brasil é o país do futuro já pode voltar a sonhar. Nossa vocação parece ser mesmo a de salvar o planeta.

8 comentários:

Gerson Sicca disse...

Idéia revolucionária. A cachaça poderia chegar aos lares brasileiros por meio de tubulação, assim como o gás nos condomínios. HAveria até relógio para medir o consumo.
Só não sei se o SUS iria gostar do projeto. O consumo de glicose nos setores de pronto atendimento aumentaria vertiginosamente.
esse negócio até daria uma tese de doutorado. Por sorte, não pra mim, que não me dedico a ramo do conhecimento que tenha alguma linha com esse interesse. Assim, ficaria só com a parte boa(a cachaça), de preferência com um butiá.

Anônimo disse...

Companheiros, univos contra o aquecimento global!

maurício disse...

caro gerson,
muito interessante a sua contribuição, pois ainda não tínhamos pensado em como seria feito o controle do consumo de cachaça de cada cidadão. Relógios de medição permitiriam calcular o consumo residencial per capita, cobrar mais daqueles que não cumprem a quota mínima e menos dos que a ultrapassam.
Agora, sobre a glicose, se não me engano, ela também pode ser produzida a partir da cana, o que só potencializaria o processo!
São muitos benefícios num só projeto!

Marcão disse...

Muito cuidado com "protuberâncias frontais"...

Anselmo disse...

o cara ganha as cachaças, mas na hora de elaborar teoria de como salvar o mundo (e consumir a cachaça) não chama os manguaça do Futepoca.

É assim que a gente conhece os ébrios.

só faltou incluir uma metodologia de agricultura familiar em pequenos lotes de reforma agrária para a produção de variedades de cana diferentes em uma mesma área para evitar o esgotamento do solo.

Glauco disse...

Pdoeríamos testar se realmente as agências de fomento à pesquisa no Brasil funcionam pedindo financiamento ao grande projeto. Ademais, concordo com o companheiro acima, nem pra partilhar, hein?

Gerson Sicca disse...

Realmente, Maurício, o projeto só tem pontos a favor. Seria o mote para uma nova era desenvolvimentista. "Brasil, quinhentos anos em cinco", ou, então, pra valorizar os bebedores, "Cachaça, beba-a ou passe ela pra cá".

Anônimo disse...

Com um projeto estratégico destes dá pra fazer um convênio Fapesp/Petrobras, por exemplo.
Há ainda um outro ponto importante. Alguns pesquisadores têm discutido o perigo de um investimento maciço em álcool, pois a entrada de outra tecnologia ao mercado, como as tão faladas células de hidrogênio, poderia criar o chamado Efeito Cinderela. Quer dizer, na hora H., a grande fonte de tesouro cai em desuso e o prejuízo é incomensurável.
Encontrar um destino para tanta cana produzida é um dever cívico de todo cachaceiro.