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quinta-feira, dezembro 06, 2007

"O meio é o loco da indecisão"

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Mesmo sem concordar com a maior parte dos argumentos e/ou pontos de vista, tenho lido muita coisa interessante em "Tropicalismo, decadância bonita do samba", de Pedro Alexandre Sanches. Produzido inicialmente como trabalho de conclusão do curso de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1998, foi reescrito e publicado pela Boitempo no ano seguinte. Trata-se de uma análise do fenômeno estético/político/musical tropicalismo e de suas conseqüências na dita "pasmaceira" que teria se instaurado a partir de 1968 no cenário artístico brasileiro, tendo Gilberto Gil e - principalmente - Caetano Veloso como gurus e "orientadores".
Como bom "crítico" cultural da (execrável) Folha de S.Paulo, Sanches desfere sarrafos para todos os lados. Mas, entre mortos e feridos, é possível captar algumas observações pertinentes sobre pós-modernismo, retropicalismo, fragmentação, neutralidade e presente-perpétuo. Caetano, o "guru-mor", é dissecado disco a disco, música a música, entre 1967 e 1999.
Vejam, por exemplo, o que Sanches diz sobre "Vamo comer", faixa de Caetano, de 1987 (mais especificamente sobre o trecho "E quem vai equacionar as pressões/ Do PT, da UDR/ E fazer dessa vergonha uma nação?"): "Esta última (a faixa "Vamo comer") é a morada por excelência das preocupações burguesas. (...) Expressa ideologia centrista - por que jamais Caetano denunciou as pressões do PFL de Antônio Carlos Magalhães como partícipes da nação-vergonha? - que agora avança sobre radicalismos de ponta. O caminho do meio o atrai, e ele ataca as pontas para lançar fumaça sobre que o meio é o loco da indecisão."
De fato, em 2001, Caetano meio que apontaria o "recomendável" para "equacionar as pressões do PT, da UDR", ao dizer o seguinte sobre Fernando Henrique Cardoso: "Acho-o um presidente respeitabilíssimo sob muitos aspectos. A chegada dele à Presidência é algo importante na nossa história". Ou seja, "o caminho do meio o atrai", mesmo.

2 comentários:

Anselmo disse...

Mas Marcão, o fato de o Caetano ter votado no Lula em 2002, indica que o Lula foi pro meio? E o fato de que o músico, no começo da campanha, achava absurdo votar em lula de novo em 2006, significa que o Lula voltou para a esquerda?

Marcão disse...

Uma frase de Caetano em entrevista a O Globo em janeiro deste ano:

"Eu disse que defenderia a imprensa brasileira até o fim porque acho que a acusação que a esquerda faz contra ela é perigosíssima. É um absurdo dizer que a imprensa tentou destruir o governo Lula de maneira golpista."

Mais um trecho, da mesma entrevista:

"Eu quase votei em Lula no segundo turno justamente por causa do Mangabeira. Acabei votando no Alckmin. A aproximação de Mangabeira com Lula me deu esperanças e ainda me dá. Votei em Lula em 2002, mas sempre fui contra a reeleição. Por exemplo: não votei em Fernando Henrique Cardoso quando ele disputou o segundo mandato."

Tire suas conclusões.