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segunda-feira, setembro 08, 2008

F-Mais Umas - Brasil x Grã-Bretanha: quinto round

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CHICO SILVA*

Como era de se esperar, a melhor pista do calendário proporcionou a mais emocionante – e imprevisível – corrida da temporada da F-1 até aqui. As curvas e retas da lendária Spa-Francorchamps (à esquerda), imortalizadas em "Grand Prix", filme de 1966 dirigido pelo estadunidense John Frankenheimer, garantiram um espetáculo que não terminou como de costume, na bandeirada final. Três horas após a eletrizante vitória de Lewis Hamilton, conquistada no braço após ranhida luta contra o ice-vodka Kimi Raikkonen, o inglês foi comunicado que ganhou, mas não levou. A direção da prova lhe aplicou uma punição de 25 segundos por considerar ilegal sua conduta na disputa com Raikkonen na saída da chicane Bus Stop, que ganhou esse nome por ser uma antiga parada para os ônibus que serviam as cidades belgas margeadas pelo circuito. Parte do traçado de Spa é feito de estradas que cortam a bela região das Ardennes, palco de uma das mais sangrentas e históricas batalhas da Segunda Guerra Mundial.

Azar de Hamilton, sorte de Felipe Massa (à direita), que viu uma vitória pela qual pouco fez cair literalmente no colo. O são-paulino da Ferrari guiou como um "bundão", como ele mesmo afirmou no final da prova. Mas a prudência o manteve em uma pista escorregadia e traiçoeira, ao contrário de Raikkonen, que encontrou um muro no meio do caminho. A pancada deixou o finlandês em situação delicada no campeonato. É quase certo que nas próximas corridas a Ferrari fará de Massa seu piloto número 1 na competição contra a forte McLaren – de um Hamilton sedento pela glória que lhe escapou pelas luvas no ano passado.

Esta será a quinta vez que brasileiros e britânicos duelarão diretamente por um título mundial da F-1. E até aqui a vantagem é toda nossa: 3 a 1. A primeira foi em 1972. Naquele ano, a bordo da legendária Lótus negra, Emerson Fittipaldi deixou para trás o escocês Jackie Stewart (à esquerda), da Tyrrel. Na temporada seguinte o britânico deu o troco e conquistou o último dos seus três títulos mundiais na F-1. Emerson foi vice. Quatorze anos depois, uma nova guerra. "Companheiros" de equipe na Williams, Nelson Piquet e Nigel Mansell protagonizaram um das mais ferozes disputas que se têm notícia. Em uma luta marcada por blefes, truques e pequenas sacanagens (como esconder o papel higiênico de Mansell depois de o inglês exagerar nas tortilhas mexicanas), Piquet se tornou o primeiro brasileiro tricampeão de F-1. Registre-se: contra a vontade da equipe, que trabalhou abertamente por Mansell.

Em 1991, o último duelo. Depois de vencer as quatro primeiras provas da temporada, Ayrton Senna sofreu para segurar Mansell e sua ascendente Williams-Renault. Porém, mais uma das típicas barbeiragens do inglês permitiu que Senna pudesse, enfim, comemorar seu terceiro – e último – título na categoria. Resta saber se vamos abrir vantagem ou ver os súditos da rainha encostar no nosso aerofólio. Para que isso não aconteça, Massa tem que deixar de ser "bundão" e botar pressão no pedal direito.

Eu quero meu ovo gema mole de volta!
Dias desses fui ao Boteco dos Pescadores, tradicional reduto etílico/cachaceiro da Zona Norte de São Paulo. Meu objetivo era traçar um contra-filé mal passado à cavalo. Como de costume, pedi ao garçom que tanto o bife como o ovo viessem mal passados. Qual não foi minha surpresa quando o cidadão mandou, assim, na lata: "Amigo, a casa não serve mais ovo mal passado. Você não assistiu o Fantástico?". Não. Eu não havia assistido ao Fantástico. Não tinha tomado conhecimento que a revista eletrônica semanal da Globo havia tornado o tradicional ovo com gema mole o inimigo público número 1 da saúde.

A Globo tem poder para eleger e derrubar presidentes. Mas nunca pensei que ela seria responsável pela extinção do ovo mal passado dos cardápios dos botecos brasileiros. Faço parte de uma legião de admiradores do popular "zóiudo". E sempre o consumimos assim, mal passado. Nunca vi ninguém cair duro depois de mandar uma gema mole com sal. Isso está me cheirando mais uma daquelas campanhas difamatórias e alarmistas. Portanto, aproveito o espaço para clamar pelo meu ovo com gema mole de volta! Espero manifestações. Levantem-se! Vamos lutar contra mais essa injustiça contra um dos patrimônios da gastronomia popular nacional!



*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

8 comentários:

Anselmo disse...

Como você quer apoio pela legítima causa popular da gema mal-passada se coloca uma foto de um ovo ladeado por aspargos frescos? acho que o dia em que os botecos servirem a combinação, eles não serão mais botecos. Sem falar no livro de título "tartufo" lá atrás que parece não ser a comédia de Molière, mas uma obra dobre o cogumelo mediterrâneo.

E eu continuo pensando no elo quiçá semi-ótico entre o ovo gema mole (ou estrelado e mal passado, que pode soar melhor) e o bunda-molismo de felipe massa.

Nicolau disse...

Não sabia dessa perseguição aos ovo de gema mole e desconheço seus fundamentos. Por princípio, sou contra a repressão e a favor da tradicional iguaria.

Marcão disse...

Já fui vítima da mesma situação num buteco aqui do centro de SP. Mas o garçom não me esclareceu (ou não sabia) que o estopim tinha sido o Fantástico. Aliás, falando nas matérias alarmistas desse (dispensável) programa televisivo, me lembro de uma vez, eu devia ter uns 13 ou 14 anos, e passou uma matéria quilométrica sobre o perigo das panelas de alumínio (que soltavam um pó invisível, davam câncer etc etc). Logo na seqüência, em pleno horário nobre do domingão à noite, a emissora não teve pudor em engatar um comercial das panelas de aço Rochedo - no que, pela primeira vez na vida, comecei a desconfiar do motivo de certos assuntos estapafúrdidos virarem pauta no (dispensável) Fantástico...

Ps.: Anselmo, o responsável pela foto do ovo com os aspargos fui eu. Peguei a que apareceu, nem analisei. Mas acho até que ficou um contraste bacana (rsrsrs). A campanha do Chico é bem louvável. Temos que proteger nossos frutos do bar. Volta, gema mole!

Marcão disse...

Ps.: As imagens de Spa-Francorchamps do filme Grand Prix, do Youtube, que botei como link, são fantásticas. Dá pra ver o nível da absoluta falta de segurança dos pilotos na época. Bizarro o cara passando a mão na máscara pra tirar a água da chuva.

Glauco disse...

Sobre a punição: dá até pra entender porque a direção de prova entendeu que Hamilton se aproveitou intencionalmente da chicane. A interpretação não favoreceu Hamilton. Na seqüência, não devolveu a posição em condições ideais para Haikkonen (algo visto inúmeras vezes na F-1). De novo a interpretação foi contra Hamilton. Sinceramente, difícil de engolir...

Quanto ao ovo, devagar, gente. Não assisto o Fantástico, mas o programa não inventou nada. Alimentos a base de ovo ou o próprio liderando ranking de contaminação estão num levantamento do Ministério da Saúde e aposto que a assessoria de imprensa do órgão fez uma baita força pra pauta entrar na Globo (e deve ter ficado muito feliz com o resultado). E o companheiro De Marcelo (ou Maurício) deste blogue tem história pra contar de ovo contaminado.

O inusitado é o atendente de um boteco se preocupando com a saúde do cliente. Fato raro.

Anselmo disse...

tenho um palpite diferente sobre os motivos do garção.

acho que o ovo já tava ali desde de de manhã pronto, sendo requentado e requentado. aí, o cliente pede bife a cavalo e o cara pensa: "é agora de se livrar do ovo estrelado das 10h". qdo o cidadão pede a gema mole, ele pensa rápido e arruma uma desculpa, inspirado talvez na queixa do cunhado que não pôde mais pedir ovo mal passado pq a patroa viu no fantástico (ou alguma coisa parecida)...

Sobre o Hamilton, apito amigo pro massa!

Thalita disse...

Tava na hora do Massa ter alguma sorte.

Sobre o ovo frito, adoro gema mole e nunca tive problemas, o que não significa que eles não existem. Mas vou continuar comendo do mesmo jeito. Me deu até vontade agora...

Glauco disse...

Não sei se "sorte" é o termo correto, mas nem a imprensa italianaengoliu a patacoada.