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quinta-feira, maio 28, 2009

F-mais umas: Kimi, se dirigir, beba

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Chico Silva*

Fotos: Divulgação/Brawn


Uma cena emblemática foi vista no pódio do GP de Mônaco. Enquanto o super Jenson Button e Rubinho segundinho promoviam o tradicional banho de champagne, o nosso bom e velho Kimi Raikkonen sorvia cada gota da bebida como se fosse o último gole de sua vida. A cena passou despercebida de muita gente, mas não deste atento e, naquela manhã sóbrio, colunista. E pode explicar muita coisa.

No início do ano amigos do finlandês garantiram que o Iceman com Vodka havia abandonado os copos e as noitadas. Diziam que a manguaça estava atrapalhando o seu desempenho nas pistas. Mas a cana cobra caro de quem a abandona. A ressaca pode ter sumido. Mas os resultados também. Até Mônaco, Kimi tinha conseguido apenas um sexto lugar nas areias do Bahrein. Nas outras provas ou quebrou ou então ficou fora da zona de pontuação, caso dos GPS da Austrália, onde terminou num vexatório 16 lugar, ou na Malásia, quando cruzou a linha em um nada honroso 14 posto. O ano tem sido um dos piores desde a sua estréia na categoria, no GP da Austrália de 2001.

A falta de resultados atiçou a imprensa espanhola, que sonha ver o compatriota Fernando Alonso no cockpit hoje ocupado por Raikkonen. E rendeu também críticas de seu chefe na Ferrari, Stefano Domenicali. Incomodado com as atuações do seu funcionário, o capo ferrarista disse “que ele vivia em outro mundo”.

O fogo amigo parece ter mexido com Kimi. Em Mônaco fez um boa corrida. Só falhou na largada, quando perdeu o segundo lugar para Rubinho. A coluna torce para que ele volte aos bons tempos. E espera em breve fazer um brinde pela sua primeira vitória no ano. Ele merece.

Fotos: Divulgação/Kimi Raikkonen
Ao contrário da maioria dos colegas, Kimi veio de família pobre. Tudo bem que ser pobre na gélida Finlândia não é como ser pobre no Brasil. Não sei se sabem, mas a casa onde a família dele morava não tinha nem banheiro interno. Quando juntou dinheiro para construir um, seu pai mudou de idéia e resolveu dar um kart de presente para o filho, que já era louco por carros e corridas. É essa bela história que a abstinência ameaça. Por isso beba, Kimi, beba. Só evite quando for pilotar.

Papai não passou açúcar em mim
Quem ainda não foi ver não sabe o que está perdendo. O bom documentário Simonal, vocês não sabem o duro que eu dei, de Cláudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer, traz à tona uma verdade incontestável. Quando o assunto é qualidade musical, o velho Simona está a léguas de distância das crias da Trama Max de Castro e Wilson Simoninha. Parece que os dois não aprenderam nada com o pai. E para não dizer que não falei de espinhos, o filme visita o nebuloso episódio em que o cantor conta com a ajuda de agentes do Dops para espancar o contador que supostamente o tinha roubado. Tenho opinião sobre o assunto. Mas prefiro que os leitores tirem suas próprias ao ver o filme. Mas como não resisto, acho que ele foi menos cagueta do regime e mais um pilantra que se achava acima do bem e do mal. O típico malandro que acabou mané.

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

sexta-feira, maio 01, 2009

F-Mais Umas - A homenagem que Senna não fez

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CHICO SILVA*

Quem me conhece sabe que nunca fui admirador do corintiano Ayrton Senna (foto). Acho isso uma coisa curiosa. Pois quem me conhece sabe também que sou um renhido defensor das coisas e tipos da Zona Norte, região onde nasci e vivo até hoje. Dizem, aliás, que os moradores da ZN são os paulistanos que mais defendem seu pedaço. Não sei se isso é regra. Mas seguramente não sou a exceção. Todo esse prólogo é para falar que Senna, assim como eu, era um sujeito da ZN. Passou a infância na Vila Maria e parte da adolescência na Serra da Cantareira, onde seu pai comprou uma casa grande e confortável. Em algumas ocasiões o vi circulando por aqui a bordo de uma Audi Station Wagon azul.

Uma delas ficou na memória. Em uma tarde chuvosa de verão, ele parou seu carrão para que eu atravessasse a Alfredo Pujol, uma das avenidas mais conhecidas do bairro Santana. Mas a ironia, o deboche e o jeito escrachado, além do imenso talento, me aproximaram de Nelson Piquet. A cruzada da Globo e especialmente do Galvão Bueno para torná-lo um santo na Terra e o seu pouco caso com jornalistas que não fossem do plim-plim me desagradavam. Era novo para estar na ativa, mas ouvi várias histórias de colegas que foram tratados com descaso pelo piloto. E até hoje não engulo aquela conversa de que ele viu Deus na saída do túnel de Mônaco. Mas, fazer o quê?

Pois nesse momento em que se completam 15 anos de sua morte descubro uma história que me tocou. Não a conhecia. E imagino que muitos de vocês também não. Por isso acho legal contá-la. Não quero com isso limpar minha barra com ele. Pelo contrário, não mudo uma vírgula do que penso a seu respeito. Mas aí vai: como todos sabem, Senna morreu no GP de San Marino, disputado no 1º de maio de 1994. Na véspera, o piloto austríaco Roland Ratzenberger (acima, à direita) teve o mesmo destino. Foi a primeira morte em oito anos na categoria. O acidente mexeu com Senna, que foi para a corrida do dia seguinte claramente abalado. Contrariando seu instinto midiático, resolveu prestar uma emotiva e silenciosa homenagem ao colega morto.

Durante a autópsia do brasileiro no Instituto Médico Legal de Bolonha, uma jovem legista encontrou uma bandeira da Áustria dobrada no bolso de seu macacão. Senna desfraldaria a flâmula na volta da vitória. Seria a primeira vez que exibiria uma bandeira que não fosse à brasileira. A curva Tamburello não deixou. O episódio está no blog do Flávio Gomes. Na época do acidente, Flávio cobria o GP pela Folha de S.Paulo e assinou um sensacional texto sobre os acontecimentos daquele trágico final de semana. O título do post é "Ímola, 1994" e pode ser lido no mesmo endereço. Vale a visita.


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

quarta-feira, abril 22, 2009

F-Mais Umas - A carroça vermelha

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CHICO SILVA*

Imagine uma equipe que venceu seis dos nove últimos títulos mundiais de pilotos. Imagine um time que, na temporada passada, lutou pelo campeonato até a última curva da derradeira prova do ano. Imagine uma escuderia que dispõe do maior orçamento da categoria. Imagine uma marca que é quase um sinônimo da F-1. Agora imagine essa mesma equipe passando pelo vexame de não conseguir marcar um mísero pontinho sequer nas três primeiras disputas do ano. Pois essa é a vexatória situação da Ferrari em 2009. De favorita absoluta, disputa agora o título de "carroça do ano" com as cadeiras elétricas da Force Índia. A pane no carro de Felipe Massa no GP da China foi o último ato dessa ópera buffa protagonizada por Massa, Kimi Raikkonen e Stefano Domenicali, o diretor esportivo da escuderia do cavalinho (acima), que está mais para cansado do que rampante.

A última vez que tal fato havia ocorrido foi em 1981. Naquele ano, o canadense Gilles Villeneuve e o francês Didier Pironi (à esquerda) passaram em branco nos GPs da Argentina, Brasil e EUA. Os primeiros pontos só vieram na quarta corrida do ano, o GP de San Marino, com a quinta colocação de Pironi. Ali tinha início uma das disputas internas mais ferozes da história da categoria. Na luta para ficar à frente do inimigo de equipe, os limites do frágil carro da escuderia foram ultrapassados. Resultado: no ano seguinte, Villeneuave perderia a vida num bárbaro acidente nos treinos para o GP da Bélgica, em Zolder. Meses depois, Pironi fraturou as duas pernas durante os treinamentos para o GP da Alemanha. No Youtubeum vídeo que mostra Nelson Piquet prestando socorro ao colega acidentado. Só para informação, Piquet seria o campeão de 1981. Foi a primeira de suas três conquistas.

Voltando à atual temporada, é certo que o regulamento provocou uma revolução nos carros. Por ter disputado o título do ano passado até os últimos metros, a Ferrari acabou atrasando o desenvolvimento do novo protótipo. Mas não há desculpas que justifiquem tamanho fiasco. A equipe está lembrando os piores momentos da era pré-Schumacher, quando tinha ao volante barbeiros como Ivan Capelli, Jean Alesi e Nicola Larini (à direita), entre outros "braços". O time italiano promete reação. Na Espanha, estreará a sua versão do difusor, a peça chave da categoria em 2009. Resta saber se haverá tempo para uma reação. Tudo indica que não. Mas, pelo menos, uma boa notícia. Com Massa andando lá atrás nossos ouvidos serão poupados dos berros estrionicos do Galvão Bueno. Como se vê, nem tudo está perdido.

Qualquer semelhança será mera coincidência?
O ano é 2002. Na última rodada o Santos garante vaga entre os oito times que disputarão a fase final do Brasileiro. A classificação veio no saldo de gols, graças a uma goleada do Gama no Coritiba, que lutava pela vaga com o alvinegro. O futuro não era animador. Um bando de moleques iria enfrentar o São Paulo, time de melhor campanha da primeira fase. Com atuações inesquecíveis da dupla Diego e Robinho, então com 17 e 18 anos, respectivamente, despachou o time do Morumbi e rumou para um título que há 18 anos não via. Estamos em 2009. Dessa vez, o campeonato é o Paulista. Como há sete anos, o Santos se classificou no limite, aos 42 minutos do segundo tempo de um jogo contra a Ponte Preta. Como em 2002, iria encarar o melhor da fase anterior, nesse caso o Palmeiras. Em vez de Diego e Robinho, Paulo Henrique e Neymar, 19 e 17 anos, que comandam o show e acabam com o sonho do bi verde. Para completar, o adversário da final será o mesmo Corinthians de 2002. Daqui a dois domingos, saberemos se a história se repetirá...

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

sexta-feira, novembro 14, 2008

F-Mais Umas - Ecos de uma temporada

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CHICO SILVA*

O mais equilibrado e acirrado campeonato de F-1 das últimas duas décadas terminou. O choque de adrenalina das três voltas finais do GP do Brasil ainda é sentido pelos fãs da categoria. Timo Glock, o alemão que tomou a ultrapassagem que decidiu a temporada em favor de Lewis Hamilton, teria ou não facilitado as coisas para o primeiro campeão negro da história? Essa e outras discussões aos poucos vão se dissipando, assim como as nuvens negras que cobriram Interlagos naquele primeiro domingo de novembro. Mas uma coisa é certa: a Fórmula-1 fechou o ano maior do que começou. E tudo indica que 2009 será ainda melhor. Mas, antes da próxima corrida, o GP da Austrália, marcado para 29 de março de 2009, a coluna F-Mais Umas encerra 2008 com uma avaliação e as notas dos pilotos que participaram daquele que já pode ser considerado um dos mais emocionantes campeonatos da história da F-1. Semana que vem vou falar das equipes.

Lewis Hamilton (9,0) - O Barack Obama das pistas só não leva 10 porque cometeu alguns deslizes incompatíveis com a sua condição de campeão do mundo. O maior deles foi a batida besta na traseira de Kimi Raikkonen na saída de um pit-stop no GP do Canadá. Por pouco, também, não perde o Mundial ao abrir demasiadamente a porta para a ultrapassagem de Sebastian Vettel, a três voltas do final do ensandecido GP do Brasil. Mas, na soma final dos resultados, Hamilton, com méritos, se tornou o primeiro negro a conquistar um título mundial de Fórmula-1.

Felipe Massa (8.0) - Analisando friamente, a Ferrari tirou o título de Felipe Massa. A quebra de motor no GP da Hungria, quando liderava com folga a três voltas do final, e a incrível lambança com o "pirulito/ árvore de natal" no GP de Cingapura tiraram duas vitórias certas do piloto. Mas isso não exime Massa dos erros nas primeiras provas da temporada e da falta de combatividade em momentos chaves do campeonato, como nos GPs da Bélgica e da China. Mas, de toda a forma, o são-paulino fez uma temporada que o credencia como um dos favoritos ao título de 2009.

Robert Kubica (9,0) - Eis aqui o melhor piloto do ano. O conterrâneo do Papa João Paulo II fez milagres ao volante de um BMW notadamente inferior às rivais McLaren e Ferrari. Kubica só não foi mais adiante porque, no meio da temporada, sua equipe abriu mão do desenvolvimento do carro atual para começar a trabalhar no modelo 2009. Mesmo com a perda da motivação, Kubica se manteve vivo na disputa até o GP da China, o penúltimo da temporada. Em 2009, ele vem mais forte e louco para se tornar o primeiro polaco a conquistar um título mundial.

Kimi Raikkönen (6,5) - A nota baixa é pelo fraco desempenho na pista. Mas, fora dela, Raikkönen será sempre o piloto nota 10 desta coluna. Pelo jeito, o finlandês andou acelerando em outras pistas que não as de corrida. Teve até um bom início de temporada, o que levou à falsa impressão de que poderia chegar ao bicampeonato. Mas, do meio do ano em diante, foi disperso e, em algumas corridas, irreconhecível. Parece que sofria os efeitos da ressaca do título de 2007. Mas não se enganem. O iceman com vodca ainda tem muito biocombustível para queimar. Quem beber, viverá!

Fernando Alonso (7,0) - A sorte dos rivais é que a Renault só se acertou no final da temporada. Caso contrário, o destino do campeonato poderia ter sido outro. Quando teve um carro à altura, o espanhol marrento e mal humorado provou porque é o melhor piloto em atividade na categoria. Com duas vitórias, um 2º e um 4º lugares, foi o que mais pontuou nas quatro últimas corridas do ano. Como já acertou sua permanência na Renault, do amigo Flavio Briatore, Alonso vai ser osso duro em 2009. Não estranhem se faturar seu terceiro título mundial, feito que o poria ao lado de lendas como Ayrton Senna, Nick Lauda e o gênio Nelson Piquet.

Nick Heidfeld (6,5) - Todo início de temporada se ouve alguém dizer: "- Esse ano o Nick Heidfeld vai!". O problema é que nem ele sabe para onde. Heidfeld é até bom piloto. Não é qualquer um que marca 60 pontos em uma temporada de F-1. Em outras épocas, teve campeão do mundo com pontuação menor. Mas Heidfeld é aquele tipo que toda a sogra adora. É bonzinho e não faz mal para ninguém. Para complicar, ainda teve o azar de dividir a equipe com o ótimo e inspirado Robert Kubica. Heidfeld é mais um daqueles pilotos que vai se aposentar sem que ninguém se dê conta.

Heikki Kovalainen (5,5) - Com um companheiro de equipe desses, Hamilton não precisava de inimigos. O finlandês da McLaren não serviu nem para ajudar o campeão do mundo na sua batalha contra Massa e Kubica. Ao que tudo indica, Flávio Briatore tinha razão ao dispensá-lo da Renault no ano passado. E não me venham com a conversa de que a McLaren trabalhou inteiramente para Hamilton. Kovalainen é o "picolé de chuchu" da Fórmula-1. Será que o PSDB vai convidá-lo para dividir com Alckmin uma chapa nas eleições de deputado estadual/ federal em 2010? Mais insosso, impossível!

Sebastian Vettel (8,5) - Olho nesse cara! De toda essa geração alemã que veio no vácuo do fenômeno Schumacher, Sebastian Vettel é, disparado, o melhor. O alemãozinho com cara de moleque barbarizou ao volante da débil Toro Rosso. Aos 21 anos, entrou para a história como o mais jovem vencedor de uma corrida de Fórmula-1, o Grande Prêmio da Itália. Suas atuações lhe garantiram uma vaga na equipe principal da casa, a Red Bull, e determinaram a aposentadoria do principal piloto da RBR, o playboy escocês David Coulthard. Para completar o ano, por pouco não vira herói nacional ao tirar de Lewis Hamilton o quinto lugar em Interlagos e, com isso, dar a Massa o título mundial. Mas aí o compatriota Timo Glock estragou a brincadeira.

Jarno Trulli (6,5) - O italiano fez uma temporada mediana, compatível com o que a instável Toyota poderia lhe oferecer. Alternou bons resultados, como o pódio no GP da França, com abandonos e chegadas distantes da zona dos pontos. Apontado como potencial campeão do mundo quando chegou à Renault, na metade da década passada, Trulli vê o fim da linha se aproximar sem ter realizado grandes feitos na categoria. Tem lugar garantido para o ano que vem. Mas não deve chegar no primeiro ano da próxima década.

Timo Glock (5,0) - Esse alemão vinha realizando uma temporada apagada, tímida, quando a três voltas do final do GP do Brasil o destino lhe deu o papel de protagonista na decisão do título entre Felipe Massa e Lewis Hamilton. Ao ser ultrapassado pelo inglês a três curvas do final da prova frustrou a expectativa de 80 mil torcedores no autódromo e de milhões de brasileiros que acompanhavam a corrida pela tevê. A partir de então, mesmo sem querer e sem poder fazer nada, entrou para a galeria dos anti-heróis brasileiros da Fórmula-1. Era o cara errado, na hora errada e, sobretudo, no país errado.

Mark Webber (5,0) - Se pilotasse o que fala e reclama, esse australiano já teria sido campeão do mundo há tempos. O problema é que, de Fernando Alonso, ele só tem a marra. O talento está quase à mesma distância do país de onde veio. Tudo bem que o carro também não ajudou muito. Mas Webber fez muito pouco para melhorá-lo. Fez uma temporada apropriada ao seu melhor resultado no ano, o 5º lugar no GP da Austrália. Foi tudo que conseguiu.

Nelson Ângelo Piquet (5,5) - Antes de mais nada, por favor, parem de chamá-lo de Nelson Piquet. Isso é quase uma heresia com o maior piloto brasileiro de todos os tempos - além de botar uma pressão brutal na cabeça do moleque. Galvão, faça o favor de chamá-lo de Nelson Ângelo, Piquet Jr, Piquezinho ou qualquer coisa do tipo. Dito isso, Nelson, como é chamado por seu engenheiro de pista, fez uma temporada típica de estreante. Alternou erros primários, como a rodada na Bélgica e a barbeiragem em Cingapura, com um inesperado pódio na Alemanha e um consistente 4º lugar na China. Tem tudo para evoluir em 2009. Mas sabe que, se não mostrar serviço, vai rodar.

Nico Rosberg (5,5) - Vamos dar um desconto, pois o filho do campeão Keke Rosberg teve nas mãos uma das piores Williams de todos os tempos. Algo incompatível com o passado de uma das equipes mais vitoriosas e tradicionais da história da categoria. Nico até se esforçou. Conquistou dois pódios, um 3º lugar na Austrália e um 2º em Cingapura, mas colecionou uma infinidade de quebras e abandonos. A Williams jogou água na gasolina da Petrobras, que, em 2008, comemora uma década de fornecimento de combustível para a equipe que deu a Piquet seu terceiro título mundial.

Rubens Barrichello (5,0) - Rubens Barrichello certamente será assunto desta coluna daqui a algum tempo. Ao que tudo indica, e por mais que relute, seu ciclo acabou. Final melancólico para um piloto que, durante alguns anos, carregou no cockpit a esperança de milhões de brasileiros ávidos por mais títulos mundiais. E esse peso parece ter vergado sua carreira. Para piorar de vez sua situação, a Honda lhe entregou uma verdadeira cadeira elétrica. De bom, mesmo, só o 3º lugar no GP da Inglaterra, quando o mundo despencou em Silverstone. Temporada para ser esquecida. Ao contrário do piloto, que, para o bem e para o mal, tem o seu nome gravado na história do automobilismo brasileiro.

Kazuki Nakajima (5,0) - Este é um sobrenome que está na memória dos fãs brasileiros mais velhos da F-1. Filho do lendário bração Satoru Nakajima, Kazuki, pelo menos, tem se mostrado menos trapalhão que o pai. Em sua segunda temporada na F-1, o Nakajima son não se envolveu em grandes acidentes e barbeiragens. Assim como Nico Rosberg, foi vítima da debilidade da Williams. Fechou o ano com 9 pontos na carteira. Parece pouco. Mas o carro também não permitiu muito mais do que isso.

David Coulthard (8,0) - Você pode estar estranhando a alta nota para esse playboy escocês que, na maioria das vezes, brincou de ser piloto de Fórmula-1. Mas é justamente por isso que ele a recebeu. Coulthard parece ter sido o último piloto à moda antiga da categoria. Era do tipo "perco a corrida, mas não a farra" - e o que viesse junto com ela. Mulherengo, biriteiro, bon vivant e querido por todos, o escocês vai fazer falta ao circo. Com ele se vai o que restava de romantismo, picardia e leveza em um negócio cada vez mais profissional e politicamente correto. E, conseqüentemente, cada vez mais chato.

Sebastien Bourdais (4,0) - Há quem diga que esse francês nascido numa cidade referência do automobilismo mundial, Le Mans, palco das míticas 24 horas, não é tão ruim quanto os seus resultados na temporada sugerem. Mas uma coisa é inegável: ele foi atropelado e engolido pelo companheiro de equipe, seu xará Sebastian Vettel. A superiodade do alemão foi tamanha que não há argumentos para defendê-lo. Fechou o ano com míseros quatro pontos, contra 35 de Vettel. Não é preciso dizer mais nada.

Jenson Button (1,0) - Ok, a Honda era uma desgraça. Tudo bem, ninguém contesta. Mas Jenson Button fez jus ao carro que guiou. Poucas vezes se viu um piloto tão desinteressado e apático quanto ele. E pensar que a imprensa inglesa um dia imaginou vê-lo campeão do mundo. Sorte deles que surgiu Lewis Hamilton para devolver a coroa da F-1 aos súditos da rainha. Pois, se fossem depender de Button, estariam mais perdidos do que o goleiro inglês Seaman naquele chute do Ronaldinho Gaúcho no Brasil e Inglaterra da Copa de 2002. Prova de sua fraqueza foi a superioridade imposta por Rubens Barrichello sobre ele, tanto em treinos como nas corridas. Um legítimo fracasso.

Giancarlo Fisichella (3,0) - O que dizer de um piloto que participou das 18 provas do campeonato e não marcou um mísero pontinho sequer? Pois esse foi o desempenho do italiano Giancarlo Fisichella na temporada 2008. Está certo que ele prestou serviço à pior equipe da temporada, a Force India, do milionário indiano Vijay Mallia, que, por não ter onde gastar seus bilhões de dólares (por que não manda um pouco pro Futepoca?!??!?), resolveu tirar onda na F-1, sob pretexto de divulgar sua imensa e miserável nação. Ao menos, quando teve chance, Fisichella mostrou que continua sendo o bom e velho piloto ruim de ultrapassar. Quando, por alguma razão, Massa, Hamilton, Kubica e Raikkonen disputavam posições com ele, a diversão era garantida.

Adrian Sutil (2,0) - Acho que nunca um nome foi tão adequado a perfomace de um piloto. Com o perdão do infame trocadilho, Adrian foi tão Sutil que poucos perceberam sua passagem pela temporada. Pudera. Das 18 provas do ano, este alemão conseguiu a proeza de abandonar, nada mais nada menos, do que 11. Das que conseguiu terminar, seu melhor resultado foi um 13º lugar no GP da Bélgica. E foi mais por abandonos dos adversários no dilúvio de SPA-Francorchamps do que propriamente por habilidade e méritos próprios. Só não fica com o título de marcha lenta da temporada porque Button conseguiu ser pior com um carro um pouquinho melhor.

Takuma Sato/ Anthony Davidson (sem notas) - Pois é. Alguém pode estar se perguntando: "- Quem são esses caras e o que estão fazendo aí?". Acredite: a dupla participou da temporada 2008. O inglês e o japonês disputaram as quatro primeiras provas do ano pela Super Aguri, equipe do nipônico e braço duro Aguri Suzuki, que, de 1988 a 1995, atemorizou seus adversários na F-1 - entre eles Nelson Piquet, Ayrton Senna, Alain Prost e até mesmo o destrambelhado Nigel Mansell. Mas problemas de patrocínio e a saída de um parceiro tiraram a equipe das pistas. Sua última corrida foi o GP da Espanha, disputado em abril, em Barcelona. Mas, das quatro corridas que participaram, nenhuma merece registro. O melhor resultado foi o 13º lugar de Sato no GP da Espanha, o que marcou o fim do sonho japonês da F-1.

Os troféus da temporada
Nelson Piquet (melhor piloto) – Robert Kubica
Ayrton Senna (revelação) – Sebastian Vettel
Satoru Nakajima (bração) – Jenson Button
Michael Schumacher (campeão) – Lewis Hamilton

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

segunda-feira, novembro 03, 2008

F-Mais Umas - Santo Deus!

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CHICO SILVA*

Timo Glock (foto) é um piloto alemão nascido em 18/03/1982, na pequena cidade de Lindenfels, no estado de Hesse, no Oeste do país de Goethe e Rainer Werner Fassbinder. Segundo dados do último censo, de dezembro de 2006, o município abriga 5.220 habitantes. Algumas avenidas de São Paulo certamente têm população maior do que a dessa tranqüila cidade alemã. Como todo companheiro de profissão, Glock se apaixonou cedo por carros e corridas. Mas, ao contrário de Lewis Hamilton e Felipe Massa, começou tarde na profissão. Inspirado pelas conquistas do compatriota Michael Schumacher, fez sua primeira temporada de kart apenas aos 15 anos, em 1998. Dois anos depois, veio seu primeiro título, na ADAC Fórmula BMW Júnior. Nos seguintes faturou mais uma temporada na ADAC, dessa vez na categoria principal, foi terceiro na F-3 alemã e quinto na F-3 Euroséries. Em 2004 teve o seu primeiro contato com um F-1. Foi contratado para ser piloto de testes da extinta equipe Jordan. Ainda teve a oportunidade de disputar algumas corridas pela escuderia do irlandês Eddie Jordan, substituindo o italiano Giorgio Pantano, então titular do time.

Em 2005, Glock foi se aventurar na América profunda, onde disputou um campeonato na finada Champ Car, categoria genérica da F-Indy. Conseguiu a proeza de terminar a temporada em oitavo. Mesmo assim, lhe deram o título de "estreante do ano". De volta à Europa, tentou a sorte na GP2, categoria que se transformou na divisão de acesso para a Fórmula-1. Se deu bem e conquistou o título de 2007. O título foi seu passaporte de regresso para a principal categoria do automobilismo mundial. Foi escolhido para ser um dos pilotos da Toyota. Nem quando está sem luvas e capacete Glock consegue se desligar das pistas. Nas folgas, gosta de tirar "rachas" de kart com os amigos. Solteiro, o alemão tem a Austrália como destino preferido de férias. No quesito preferências pessoais, ele gosta de massas, é fã dos Red Hot Chilli Peppers e Guns'n'Roses e tem como vício jogar poker. Seu grande ídolo é o pai. Em linhas gerais, esse é o perfil do homem que, involuntariamente, definiu o título da temporada 2008 da F-1.

Ao ceder o quinto lugar para Lewis Hamilton a 500 metros da linha de chegada do enlouquecido GP de Interlagos, Glock se transformou no mais novo vilão dos brasileiros. Tudo porque insistiu em se manter na pista com pneus para pista seca quando um dilúvio desabava na pista nas voltas finais da corrida. É óbvio que Glock não teve nenhuma responsabilidade pelo motor estourado de Massa na Hungria, na estratégia equivocada da Ferrari no encharcado GP da Inglaterra, nos erros de Massa nas primeiras provas da temporada e na incrível trapalhada ferrarista no pit-stop do brasileiro no GP de Cingapura (acima, à esquerda). Falhas que tiraram pontos vitais na batalha de Massa contra Hamilton. Mas, de toda a forma, Glock acabou pagando a conta. Ainda nos molhados pit-lanes de Interlagos, torcedores insinuavam que ele e a Toyota haviam levado um troco para entregar o campeonato para Hamilton e a McLaren. E só para botar um pouco mais de pimenta nesse vatapá, Glock e Hamilton são grandes amigos desde os tempos da GP2.

O novo e também mais novo campeão mundial tentou encaixar o amigo na vaga aberta por Fernando Alonso quando este saiu brigado da McLaren no fim do ano passado. Mas Ron Dennis, o chefe da equipe, preferiu trazer o chocho finlandês Heikki Kovalainen. É claro que uma coisa pode não ter a ver com a outra. Mas fica a informação.

Interlagos, 02/11/2008 - Acompanho a Fórmula-1 desde 1980. E nesses anos todos posso afirmar com segurança que nunca vi uma decisão como essa de Interlagos. Houve grandes finais como Adelaide 1986, quando Alain Prost (foto à direita), Nigel Mansell e Nelson Piquet chegaram à última prova brigando pelo título da temporada. Prost acabou levando a melhor, depois de uma batalha que teve Mansell estourando pneu a 290 quilômetros por hora e Piquet rodando quando era líder e rumava para o tricampeonato. Ou então nessa mesma Adelaide em 1994, ocasião em que Schumacher e Damon Hill protagonizaram um duelo suicida pelas retas e curvas do circuito de rua australiano. E quem não se lembra de Jerez 1997, em que num ato desesperado esse mesmo Schumacher jogou sua Ferrari contra a Williams do rival Jaques Villeneuve?

Mas, para usar uma frase que caiu na boca do povo, nunca antes na história deste esporte se viu um piloto cruzando a linha de chegada como campeão do mundo para 38,9 segundos depois ver o título escorrer como água da chuva pelo S do Senna. Foi realmente eletrizante! Quem esteve em Interlagos pode, daqui a anos ou décadas, contar para filhos e netos que assistiu a um dos maiores capítulos da história da F-1. Voltando um pouco no tempo, algumas colunas atrás eu disse que não enxergava em Massa um campeão mundial. E uma das razões era justamente a falta de sorte do brasileiro. E ela apareceu de novo. Na hora errada, no lugar errado e na circunstância errada. Claro que a perda do título não pode ser apenas creditada na conta do piloto. O erro da Ferrari em Cingapura, quando tirou uma vitória certa de Felipe ao autorizá-lo a sair do boxe antes do final do abastecimento, foi crucial para a perda do campeonato.

Mas a sorte é um ingrediente fundamental na receita de um campeão do mundo. Lewis Hamilton não me deixa mentir. A Fórmula-1 viu, pela primeira vez em sua história, um negro conquistar um título mundial. Tomara que ele inspire os eleitores americanos a eleger o primeiro presidente negro de sua história. O mundo agradecerá.


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

segunda-feira, outubro 27, 2008

F-Mais Umas - O "GP Brasil" perdido. Mesmo!

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CHICO SILVA*

Entramos na decisiva semana do GP Brasil. Como sempre nessas ocasiões, TV Globo, sites e jornais começam a inventar de tudo para prender a atenção da audiência. E nesse ano há um fato novo para esquentar o noticiário e deixar as amígdalas do Galvão Bueno quase tão irritadas quanto eu com o seu forçado patriotismo: a improvável possibilidade de Felipe Massa conquistar seu primeiro título mundial. Se esse milagre acontecer, pela primeira vez um piloto brasileiro comemorará um mundial do lado da sua torcida. Mas peço a permissão dos meus leitores para tratar deste GP na próxima coluna, com o campeão definido. Volto 34 anos no tempo para relembrar uma história que alguns fãs mais novos de F-1 talvez desconheçam. Estou falando do infame GP Presidente Médici, como infortunadamente foi chamada a "prova" que inaugurou o Autódromo Internacional de Brasília (acima, à direita), em 1974.

No auge do chamado "milagre econômico" e também da crise do petróleo, Médici e seus asseclas pressionaram os organizadores do legítimo GP do Brasil para levar o circo à Brasília após a disputa da prova em Interlagos. A milicada queria inaugurar mais um de seus brinquedinhos, só que em grande estilo. E para isso não se contentava com um provinha de F-2 ou Fórmula Super V qualquer. Desejavam a maior categoria do automobilismo mundial. E conseguiram - ao menos em parte. A prova foi disputada em 3 de fevereiro de 1974, uma semana após a corrida em Interlagos. Foi considerada extra-campeonato, pois não contou pontos para o Mundial. O então campeão mundial Emerson Fittipaldi (foto à esquerda), em seu primeiro ano de McLaren, foi peça chave na realização do evento. Ele trabalhou nos bastidores para convencer seus colegas e donos de escuderia a ficar mais uma semana no País e participar do espetáculo armado pelos chefes da temida equipe verde-oliva.

Mas nem todos cederam aos seus argumentos. Apenas oito equipes e 12 pilotos foram à capital federal. Ferrari e Lotus, duas das maiores equipes da história da F-1, recusaram o convite da farsa vencida por Emerson em 1 hora, 15 minutos e 22 segundos. Na seqüência, chegaram Jody Scheckter, da Tyrrel (foto à esquerda), e Arturo Merzário, da Iso-Williams. No Youtube, há um vídeo assinado pela TV Cultura que mostra a volta da vitória e os três primeiros subindo ao palanque no qual receberam os troféus das mãos ensangüentadas de Médici e de seus colaboradores. Mas nem tudo se perdeu nesse GP. Foi ali que o tri-campeão mundial Nelson Piquet teve o seu contato inicial com a categoria. Além de ter pulado o muro e se escondido nos boxes, Piquet conseguiu fazer um bico na corrida.

Ele ficou segurando o guarda-sol que protegia o argentino Carlos Reutmann, então na equipe Brabham. Quem poderia imaginar que, sete anos depois, Piquet, ao volante dessa mesma Brabham, conquistaria seu primeiro título mundial? E justamente contra Reutmann? Aquela foi a última vez que tricampeão precisou pular o muro do circuito. Hoje, o autódromo leva o seu nome. Coisa que só um Piquet é capaz de fazer.



*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

segunda-feira, outubro 20, 2008

F-Mais Umas - A dura vida de Marta e Massa

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CHICO SILVA*

Por dever do ofício, tive a infelicidade de perder meu sono para assistir a uma das mais enfadonhas corridas que vi nos meus 28 anos de F-1. Tenho um dispositivo que me tira do ar quando assisto a algo que não me agrada. Isso vale para filmes, peças de teatro, espetáculos cênicos e coisas que o valham. E não deu outra. Lá pela 30ª volta do GP da China, mais ou menos seis da manhã no novo horário de verão, apaguei. E quando voltei à vida tudo estava exatamente como eu havia deixado. Lewis Hamilton (foto acima) a léguas de distância na frente, Kimi Raikkonen longe, apenas escoltando o líder e Felipe Massa perdido e sem ter muito que fazer. A única mudança nessa seqüência foi a previsível ordem da Ferrari para Raikkonen inverter a posição com Massa. Nem vale a pena perder linhas questionando isso. Até porque essa mesma Ferrari já fez coisa pior, como tirar de Rubens Barrichello a vitória no GP da Áustria em 2002 e entregá-la para Michael Schumacher.

Agora a decisão da temporada vai para Interlagos. Pela primeira vez na história um piloto brasileiro terá a chance de decidir um título em casa e ao lado de sua torcida. Infelizmente, o candidato em questão não é nenhum Emerson, Piquet ou Senna. Se para eles já seria difícil descontar a diferença de sete pontos que separa o líder do vice, imagine então para Massa, que apesar de bom piloto está longe desse trio de gênios. Comparo a missão de Massa com a de Marta Suplicy (foto à direita) na disputa com Gilberto Kassab pela Prefeitura de São Paulo. Muito atrás de seus adversários, ambos contam com um fato novo para mudar seus destinos. E Marta e Massa ainda têm outra coisa em comum além do vermelho, cor do PT e da Ferrari. Os dois cometeram deslizes no embate contra seus adversários. Ou a atitude de Massa de jogar seu carro deliberadamente contra a McLaren de Hamilton no GP do Japão não remete ao infeliz questionamento de Marta a respeito da vida íntima de seu rival?

De toda a forma, que Massa e Marta mantenham a serenidade e tentem virar o jogo com ética, contundência cirúrgica e equilíbrio. E se perderem, que tenham a sabedoria para cair de pé. É preciso ser grande até nas derrotas.

Parabéns, Nelsão!
Enquanto aguarda a definição sobre o futuro do filho, o tricampeão mundial Nelson Piquet teve nessa semana um bom motivo para comemorar. No último dia 15 completaram-se 25 anos de seu bicampeonato mundial. Apesar de moleque, eu me lembro muito bem. Ao volante da Brabham azul motor BMW turbo e calçada com pneus Michelin (foto à esquerda), Piquet teve uma árdua disputa contra os franceses Alan Prost, da Renault, e Renê Arnoux, da Ferrari. Passou a maior parte do campeonato atrás de Prost, que tinha um equipamento mais confiável. A Renault foi pioneira na implantação da tecnologia turbo na F-1. Começou a desenvolver esses motores em 1977. A Brabham de Piquet havia estreado esse motor apenas no ano anterior.

A quatro provas do final, Piquet estava a 14 pontos de Prost. Mas duas vitórias, uma em Monza e outra no aposentando circuito inglês de Brands Hatch, o colocaram de novo no jogo. O bi veio na última corrida da temporada, realizada no autódromo de Kyalami, na então África do Sul do apartheid. O quente circuito africano vitimou Prost e Arnoux, que abandonaram a prova com problemas mecânicos. Após as desistências, Piquet, que liderava a corrida, tirou o pé do acelerador e fechou a prova na terceira colocação, levando para Brasília seu segundo caneco. O brasileiro foi o primeiro piloto campeão do mundo com um carro equipado com motor turbo. E também o primeiro a vencer com pneus da francesa Michelin. Felipe Massa seguirá seu caminho? Difícil...


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

segunda-feira, outubro 13, 2008

F-Mais Umas - Massa, o aluno acidental

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CHICO SILVA*

Não sei se alguém notou, mas fiquei ausente na semana que passou. Culpa de uma agenda inconciliável. Volto a ocupar o espaço para tentar analisar o que se passou no GP do Japão, o antepenúltimo de uma temporada que vem se revelando a mais equilibrada dos últimos tempos da Fórmula-1. Felipa Massa pode negar, desconversar, jurar que não fez. Mas a imagem está lá, incontestável e inquestionável. Ao notar que perderia a posição e, muito provavelmente, o campeonato para o inglês Lewis Hamilton, o ferrarista não pensou meia vez. Para usar uma expressão comum dos pilotos, ele deu no meio da McLaren prateada do inglês. Certamente imaginou que este seria o único e último recurso que lhe restava para se manter vivo na briga pelo título. Massa poderia ser honesto e admitir sua real intenção naquela curva aos pés do sagrado Monte Fuji (foto acima). Mas sinceridade não é um bem de consumo desta Fórmula-1 moderna.

Massa não precisa se envergonhar do que fez. Ao tentar tirar do caminho um adversário direto na luta pelo título, ele entrou para um restrito clube do qual fazem parte lendas como Ayrton Senna e Michael Schumacher. Neste mesmo Japão, só que no autódromo de Suzuka, Ayrton Senna conquistou seu segundo mundial em 1990 ao jogar para fora da pista seu inimigo, Alan Prost (na foto acima, à esquerda, o brasileiro e o francês juntos). Na curva que precede o final da reta dos boxes, Senna forçou propositadamente a barra para provocar o acidente que lhe garantiu a conquista. Se alguém duvida, é só ir no Youtube e ver para crer. Como aqui no Brasil Senna é imaculado, quase ninguém se atreve a falar das pouco limpas manobras do tricampeão mundial.

Anos depois foi a vez de Schumacher mandar a ética para a caixa de brita. No GP da Austrália de 1994, o alemão deliberadamente atirou sua Benetton contra a Willians de Damon Hill, então seu único rival naquela temporada. Schumacher havia arrebentado a suspensão do seu carro ao chocar-se contra um dos muros do circuito. Hill vinha logo atrás e ao tentar ultrapassá-lo foi surpreendido com a manobra desonesta que garantiu a Schumacher o primeiro dos seus sete títulos mundiais. Três anos depois, o alemão tentou repetir a sacanagem. Só que dessa vez se deu mal. No GP da Europa, disputado no circuito espanhol de Jerez de la Fronteira, um desesperado Schumacher tentou tirar da competição seu oponente na batalha pela temporada 1997, o canadense Jaques Villeneuve (acima, à direita).

Porém, Schumacher é que foi parar fora da pista. Assim, o filho do lendário Gilles conquistou seu primeiro - e único - título mundial. Feito que o pai, morto em um brutal acidente em Zolder, na Bélgica, em 1982, nunca atingiu. Não queria falar nada, mas palmas para Nelson Piquet (à esquerda), que conquistou seus três títulos mundiais de forma limpa e honesta. Ou seja, sem precisar tirar ninguém do seu caminho. Pelo menos, não desse jeito...




*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

domingo, setembro 28, 2008

F-Mais Umas - Apagão vermelho

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CHICO SILVA*

Os poucos - mas fiéis - leitores que tenho já devem ter percebido que não sou dos admiradores mais fervorosos de Felipe Massa. Acompanho a F-1 desde 1980, ano em que o australiano rechonchudo Alan Jones (à esquerda) conquistou seu único título mundial, pela Williams, batendo Nelson Piquet e sua Brabham azul e branca na última prova da temporada, o GP do Canadá. Essa vivência me deu alguma rodagem para identificar num piloto traços que o diferenciem da manada. E quando olho para Massa, parece que falta alguma coisa.

Talento ele até tem. Mas acho que talvez lhe faltem a malandragem de um Piquet, a frieza de um Prost, a obstinação de um Senna, o arrojo temerário de um Mansell (à direita, os quatro juntos) ou a impressionante regularidade de um Schumacher. E, além dessas qualidades, todos que citei sempre tiveram a sorte como passageira no cockpit. E ela mais uma vez deixou Massa a pé.

Tudo bem que a culpa não foi dele. A perda da vitória no primeiro GP noturno da história da categoria, a prova número 800 da F-1, deve ser creditada exclusivamente à Ferrari. A Rossa teve um apagão na noite de Cingapura. A troca do velho e bom pirulito pelo complexo e ineficiente sistema de luzes que orienta o piloto na saída dos pit-stops apagou as chances de vitória do brasileiro. Apesar de estarmos falando de F-1, essa é a prova de que nem sempre inovação rima com êxito. Um erro inaceitável para uma equipe de ponta como a Ferrari é. Azar de Massa (acima, à esquerda), que viveu um verdadeiro pesadelo na noite asiática.

Não poderia terminar essa coluna sem falar de Fernando Alonso (à direita). Ele não é simpático, não se esforça para agradar ninguém e teve uma conduta questionável em seu duelo com Lewis Hamilton na McLaren em 2007. Mas o que ninguém pode negar é sua absurda capacidade de pilotar um carro de F-1. E essa capacidade ficou mais uma vez evidenciada no travado e ondulado circuito de Marina Bay. Pela primeira vez na temporada, o espanhol teve um carro com chances de vitória. Foi o que bastou para que ele brilhasse mais do que os não sei quantos lux que iluminaram a noite de Cingapura. Alonso mostrou a Lewis Hamilton, Felipe Massa, Robert Kubica e Sebastian Vettel o que separa os homens de meninos.

Sorte dessa turma que a Renault não foi o carro que o espanhol precisava. Se fosse, talvez o campeonato tivesse outros rumos. A três provas do final, Massa tem sete pontos para tirar de Hamilton. Se o fizer, calará a boca deste colunista. Mas, para isso, precisa buscar esse algo a mais que lhe falta e torcer para que o azar tenha se dissipado com os primeiros raios de sol da manhã em Cingapura.

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

domingo, setembro 21, 2008

F-Mais Umas - Raikkonen turbinado

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CHICO SILVA*

A Fórmula-1 está às portas de um acontecimento histórico. No próximo final de semana, será disputada a primeira prova noturna da história da categoria. O palco da competição será Cingapura, ilha-estado espremida entre as gigantes Malásia e Indonésia, no Sudeste Asiático. Corridas disputadas à noite não chegam a ser novidade. Pilotos da MotoGP, Nascar e F-Indy já experimentaram a sensação de acelerar sob os efeitos da iluminação artificial. Mas, de toda a forma, será interessante ver Felipe Massa, Lewis Hamilton & Cia rasgando a noite asiática a 300 quilômetros por hora.

E eu estarei de olhos bem abertos em Kimi Raikkonen (foto acima). Nessa hora, o finlandês da Ferrari, que por seus gostos e hábitos é o piloto preferido desta coluna, costuma acelerar em outras pistas, digo, balcões. Fico imaginando a contrariedade do manguaça quando informado do horário da disputa, cuja largada está prevista para as 20hs locais. No Brasil, infelizmente, a prova começa, como sempre, às 9hs da manhã do domingo. Mas, como todo cachaceiro que se preze, creio que Raikkonen já esteja tramando algo para compensar as quase duas horas de bebedeira perdida.

Desconfio que a garrafinha de água que os pilotos levam no cockipit será abastecida com outros aditivos. Em decorrência do calor do lugar, que a noite costuma passar fácil dos 30 graus, a coluna sugere, além da vodca, o destilado favorito do cara, drinques que combinem com a temperatura da região, como caipirinha, dry martini e mojito. Só cuidado com o bafômetro...

Troque seu óleo composto por um "azeite de combate"
Em uma conversa com meu grande amigo e companheiro de copo, o também jornalista Eduardo Marini, estávamos lamentando a dificuldade de encontrar um azeite qualquer nos pés-sujos em que almoçávamos. Confesso que sou louco por esse divino suco de azeitona prensada. E, para a minha desilusão, os botecos são territórios dominados pelo chamado óleo-composto, aquele que vem com um 1% de azeite e 99% de óleo de soja. É o reinado do Maria (à direita), o mais famoso deles. Nada contra o simpático produto, que por anos irrigou as saladas lá de casa. Mas, de uns tempos para cá, os chamados "azeites de combate" - e nem estou falando de um badalado extra virgem da Toscana ou do Peloponneso - se tornaram mais acessíveis.

Os grandes atacadistas já dispõem de uma boa oferta de azeites de segundo escalão portugueses, argentinos e espanhóis. A diferença de preço diminuiu sensivelmente. Ao trocar o óleo composto por um azeite modesto, o dono do buteco, além de agradar a freguesia cotidiana, ainda poderia conquistar novos clientes, pois teria um algo a mais a oferecer em relação à concorrência. Deixo aqui meu apelo para os meus queridos Zés, Antônios e Raimundos. Façam as contas e entrem nessa campanha. Seus fregueses ficariam imensamente agradecidos.


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

segunda-feira, setembro 15, 2008

F-Mais Umas - Aceleração precoce

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CHICO SILVA*

Grande Prêmio da Itália, lendário circuito de Monza. Desde que o mundo é mundo, uma multidão invade a pista para saudar o vencedor da mais tradicional das provas do calendário da Fórmula 1. No degrau mais alto do pódio, um emocionado alemão "rege" a orquestra que executa os hinos nacionais do seu país e da Itália, pátria sede de sua escuderia. Cena familiar, não? Porém, o protagonista não é o heptacampeão mundial Michael Schumacher, que, ao volante da italiana Ferrari, conquistou o recorde de cinco vitórias em um dos templos do automobilismo mundial. Ou será que é? Aos 21 anos, dois meses e 11 dias, Sebastien Vettel (foto acima), que sofre de aceleração precoce, tornou-se o piloto mais jovem da história a vencer uma prova da F-1. No sábado, já havia sido o mais novo da categoria a marcar o melhor tempo em um treino classificatório. Para completar a lista de recordes imberbes, Vettel é também o mais jovem a pontuar, feito obtido logo na sua estréia na categoria, no GP dos Estados Unidos do ano passado.

E o mais impressionante é que o alemão doma uma Toro Rosso, equipe que carrega a herança genética da Minardi, uma das maiores cadeiras elétricas da história da F-1. Para quem não se lembra, a Minardi foi uma equipe italiana que competiu por 20 anos e teve como maior feito liderar uma volta do GP de Portugal de 1989, pelos braços do barbeiro Pierluigi Martini (à direita). Ao encerrar suas atividades, em 2005, o time vendeu sua estrutura para a Toro Rosso de Vettel.

É claro que é cedo para saber qual será o futuro do pós-adolescente germânico. Mas em sua terra natal ele sempre foi tratado como o herdeiro natural de Schumacher. Tanto que por lá o chamam de Baby Schumi, referência ao apelido do ex-piloto. E, se comparados, os primeiros resultados de ambos mostram pequena vantagem para Vettel. Ele marcou pontos logo em sua estréia. Schumacher precisou de duas corridas para conseguir isso. O heptacampeão mundial esperou 41 provas para largar na pole position - se bem que, depois disso, fez tantas que quebrou o recorde de 65 poles que pertencia a Ayrton Senna (à esquerda). O Baby Schumi saiu em primeiro já em sua 24ª largada.

O jovem Schumacher (à direita), no entanto, levou vantagem no número de GPs disputados até para a primeira vitória. Ele conquistou triunfo inicial com 17 corridas, na Bélgica, em 1992. Vettel precisou de 24 GPs para subir ao lugar mais alto do pódio. Provando que está na trilha de Schumi, na semana que antecedeu ao GP da Bélgica, Vettel foi treinar de kart na pista onde o maior campeão da história da F-1 deu suas primeiras aceleradas, em Kerpen, cidade natal do clã Schumacher. Durante a prática caiu um temporal na pista. Para surpresa dos mecânicos, Vettel pediu para continuar andando com pneus para pista seca.

Já imaginava as condições climáticas das duas corridas seguintes, os GPs da Bélgica e da Itália. Deu no que deu. O campeonato deste ano está nas mãos de Felipe Massa (à esquerda), que fez outra corridinha meia-boca, e de Lewis Hamilton. Mas os próximos terão um outro candidato. E ele é loiro, fala alemão e tem pé pesado. Ao que parece, qualquer semelhança não será mera coincidência. Abaixo segue uma lista com os cinco pilotos mais jovens a vencer na F-1. E o que eles fizeram depois disso. Até a próxima!

Os cinco mais precoces
1- Sebastian Vettel (ALE), GP da Itália de 2008, com 21 anos, 2 meses e 11 dias - Segunda temporada na F-1. Personagem deste artigo;
2- Fernando Alonso (ESP), GP da Hungria de 2003, com 22 anos e 26 dias - Bicampeão mundial, atual piloto da Renault;
3– Troy Huttman (EUA), GP de Indianápolis de 1952, com 22 anos, 2 meses e 19 dias - Piloto da Fórmula Indy. Só entra nessa estatística porque, entre 1950 e 1960, o tradicional circuito fazia parte do calendário oficial da Fórmula-1;
4 – Bruce McLaren (Nova Zelândia, foto à direita), GP dos EUA de 1959, com 22 anos, 3 meses e 12 dias – Seu principal legado foi a fundação da equipe que leva seu sobrenome. Teve como melhor resultado um vice-campeonato na temporada de 1960, quando pilotava para a extinta Cooper;
5 – Lewis Hamilton (ING), GP do Canadá de 2007, com 22 anos, 5 meses e 3 dias – Piloto da McLaren e líder da temporada 2008 até aqui.


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.