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CHICO SILVA*
Antes de iniciar minha participação na temporada 2009, faço questão de pedir desculpas aos meus poucos, porém fiéis, leitores. Por pura vadiagem, passei os últimos meses ausente deste espaço. E não foi por falta de assunto, não. Pelo contrário. Há muitos anos a Fórmula-1 não produzia tanta notícia e interesse. Regulamento novo, o lançamento do sistema de reaproveitamento de energia, o tal do KERS (foto à direita) e carros absolutamente repaginados deixaram a categoria de rodas para o ar. Se bem que, com essas imensas asas dianteiras e minúsculos aerofólios traseiros, os novos modelos lembram alguns bólidos da "corrida maluca". Todo esse esforço é para diminuir o arrasto aerodinâmico e com isso facilitar as ultrapassagens, produto raro nas prateleiras da categoria.
O casting de pilotos foi o que menos mudou. Teve apenas a entrada do suíço Sébastien Buemi na Toro Rosso, assumindo o lugar do "Schumaquinho" Sebastian Vettel, que migrou para a Red Bull para ocupar a vaga do bon vivant aposentado David Coulthard. Mas a grande novidade deste início de 2009 é o incrível ressurgimento de Rubens Barrichello (à esquerda). O piloto brasileiro mais sacaneado de todos os tempos se tornou um combo de Jason, o serial killer que se recusa a morrer na série Sexta-Feira 13 e Highlander, o imortal guerreiro vivido no cinema pelo canastraço Christopher Lambert. Quando todos imaginavam que a interminável carreira de Rubinho havia chegado ao fim, eis que surge Ross Brawn para salvá-lo da aposentadoria na Fórmula Indy ou então na Stock Car e seus incríveis capôs voadores.
E a saga de Barrichello se confunde com a da sua própria escuderia. Assim como o piloto, ninguém apostaria um dólar pós-crise que os desabrigados da Honda seriam capazes de disputar a temporada 2009. Porém, um fenômeno de difícil explicação transformou o espólio fumegante da equipe japonesa no carro a ser batido. Mérito de Brawn (foto à direita), o engenheiro que foi decisivo no processo de transformação de Michael Schumacher em mito. O técnico concebeu um carro equilibrado, limpo, bem acertado e potente. Tanto sucesso incomoda a concorrência, que faz de tudo para transformar a carruagem de Rubinho em abóbora. Cabe a agora ao Tribunal de Apelações da FIA decidir se o difusor da discórdia é legal ou não.
Mas, mesmo se a peça for considerada irregular, ao que tudo indica o carro da Brawn continuará sendo competitivo. Para desespero dos Cassetas, Pânicos e similares, que correm o risco de perder uma de suas maiores fontes de piadas. Ou quem terá coragem de tirar onda com um campeão do mundo? Mesmo que este atenda pelo nome de Rubens Jason Barrichello.
Filme repetido
Assim como o Botafogo, há coisas que só acontecem com Rubens Barrichello. E nada parece salvá-lo desta sina. Apesar da bela corrida de recuperação em Albert Park, Rubinho mais uma vez viu um companheiro ter a primazia de conquistar a primeira vitória da equipe pela qual compete. Foi assim na Stewart, quando o inexpressivo britânico Johnny Herbert foi o responsável pelo único triunfo da história do time, no GP da Europa 1999, disputado no circuito de Nürburgring - assim mesmo, com trema, pois a regra não matou o sinal em nomes estrangeiros. O fato iria se repetir na finada Honda e com o mesmo Jenson Button (à esquerda) que o bateu na Austrália. O inglês venceu o GP da Hungria de 2006, a única conquista da Honda em sua fase moderna, já que a escuderia havia vencido duas provas nos anos 1960. E o curioso caso de Button se repetiu no domingo. Mas esse remake o Rubinho não gostaria de ter visto...
*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.