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Um belo dia eu estava passando de ônibus pela Praça Princesa Isabel, aqui em São Paulo, e fiquei com a impressão de que havia um colete salva-vidas na gigantesca estátua do Duque de Caxias. Meio zonzo, atribuí o "delírio" à ressaca do momento - ou melhor, à bebedeira da madrugada imediatamente anterior. O ônibus acelerou e deixou a praça para trás, sem que eu conseguisse ver a estátua novamente. Mas notei que uma menina, ao meu lado, tinha feito uma foto com o celular. E mostrava para uma amiga a imagem da estátua com o tal colete (foto acima). Pensei: "-Meu Deus, isso é sério! Mas como é que conseguiram fazer esse negócio? E a Prefeitura? Permitiu na boa?". Dúvidas que aumentaram ainda mais minha sensação de tontura proporcionada pelo álcool em fuga e o sacolejo do coletivo.
Pois bem, depois de ver outra estátua com colete, a do Anhangüera, na Avenida Paulista (à esquerda), resolvi pesquisar na internet. E descobri que isso é mais uma idéia do artista plástico paulistano Eduardo Srur, o mesmo que, no início do ano, colocou 20 garrafas PET gigantes nas margens do Rio Tietê. Dessa vez, com a nova intervenção urbana, intitulada "Sobrevivência", o artista resolveu colocar 25 bóias em 16 monumentos. "Quero fazer as pessoas pensarem em resgatar o patrimônio público", resumiu Srur. "Mas não só isso. Ao mesmo tempo, é preciso salvar a memória e os próprios sentidos de quem passa, anestesiado, pelas ruas", acrescentou. De fato, se o colete não estivesse lá no Duque de Caxias, eu teria passado completamente "anestesiado" pela Praça Princesa Isabel...
O projeto, bancado pelo Centro Cultural Banco do Brasil, poderá ser visto até o dia 14 de dezembro. O maior colete, com 6 metros de altura, é o que está na estátua do Borba Gato (à direita), obra que representa o que há de melhor em "bom gosto" na capital paulista - e que quase se tornou uma das maravilhas do mundo. Todos os coletes são feitos de espuma, alumínio e náilon. Mas a intervenção de Srur teve uma prévia em maio de 2007, durante a Virada Cultural, quando conseguiu instalar os tais coletes no Monumento a Carlos Gomes, conjunto de obras de Luiz Brizzollara, na Praça Ramos de Azevedo. "Para conseguir a autorização de todos os órgãos, precisei mostrar tanto o conceito do projeto quanto a minha pesquisa de arte no espaço público", contou o artista plástico.
Depois do aval do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), o artista convenceu os herdeiros dos direitos das obras. "Felizmente, não tive nenhum problema", comemorou. O curioso é que um mês depois, em junho de 2007, o Museu de História Natural de Denver, nos Estados Unidos, usou a mesma idéia para promover sua exposição sobre o navio naufragado Titanic (fotos acima). Será que alguém plagiou alguém ou foi mera coincidência? Sei lá, sem cerveja, volto a ficar meio zonzo...
Bom, mas o fato é que, no momento, as estátuas "protegidas" são as seguintes:
Anhangüera, na frente do Parque Trianon, na Avenida Paulista
Armando de Salles Oliveira, Praça Reinaldo Porchat
Borba Gato, Praça Augusto Tortorello de Araujo
Camões, Praça Dom José Gaspar
Cristóforo Colombo, Praça Pan-americana
Ibrahim Nobre - O Tributo, Parque do Ibirapuera
José Bonifácio de Andrada e Silva, Praça do Patriarca
Luiz Pereira Barreto, Praça Marechal Deodoro
Monumento a Carlos Gomes, Praça Ramos de Azevedo
Monumento à Independência, Parque da Independência
Monumento a Ramos de Azevedo, Praça Ramos
Monumento ao Duque de Caxias, Praça Princesa Isabel
Rui Barbosa, Praça Ramos de Azevedo
San Martin, Praça General San Martin
Semeador, Praça Apecatu, no Alto de Pinheiros
Vitória, na Avenida Santos Dumont
E como eu já quebrei duas costelas, por favor, arranjem um colete desses pra mim também! Que tá na hora de eu voltar pro buteco.
Monumento a Carlos Gomes, na Praça Ramos, em maio de 2007
12 comentários:
o borba gato é uma maravilha mesmo.
resgatar o patrimônio público e coletes salva-vida seriam um trocadalho visual? Seria um trocadalho visual-arte?
Olhe... o colete poderia vir no "kit manguaça" bafômetro no celular, coletes infláveis, guia com endereço e telefones.
É uma boa idéia, sem dúvida, resgatar o valor dos patrimônios históricos nos transeuntes. Mas eu, como interiorano da gema, só me lembrei da fama internacional das enchentes na paulicéia desvairada. Há alguns anos muitos veriam nos coletes salva-vidas uma forma de protesto contra as enchentes. Não? Não mesmo? Ooolha...tem certeza?
Vi esse troço aqui na USP e pensei que fosse algum protesto do movimento estudantil contra a ALCA, o FMI, o neo-liberalismo ou coisa parecida.
Sinceramente, quem quer salvar o Borba Gato? Sou a favor de retirarem todas estátuas de assassinos da cidade.
O CanaMMé - Centro de Análises Mais ou Menos Estatísticas sobre Futebol Política e Cachaça registra uma tendência da opinião manguaça de que os salva-vidas sejam usados para salvar vidas manguaças e não salvar estátuas (que podem ser de mau ou bom gosto, mas nunca serão vivas, salvo exceções devidamente denominadas de estátuas vivas).
Ouvir dizer que, no Rio de Janeiro, também estão colocando coletes nos monumentos. À prova de balas, é bem verdade. Inclusive, já mandaram preparar um tamanho GG pro Cristo.
Marketing de guerrilha socioambiental rules!
"marketing de guerrilha socioambiental" é fino.
Excelente post... tirou todas as minhas dúvidas sobre essa doideira (risos).
Peço licença para reproduzir um trecho no meu blog.
Abraços
Lucas, a primeira impressão que tive também foi a de protesto contra as enchentes que assolam São Paulo a cada chuva mais forte. Penso que deve ter um fundo de protesto, sim, mas o tal de Srur não poderia admitir isso, senão os órgãos responsáveis não aprovariam.
Medida ótimo para enchentes. Mas os animais poderão de afogar. Escrevi sobre o assunto em meu blog APOSTOLOS DE PEDRO. Experimentem...
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