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quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Paulo Maluf eterno

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Com meses de atraso, cumpro aqui o dever de repassar algo de interessante do livro "Ele - Maluf, trajetória da audácia", de Tão Gomes de Pinto (Ediouro, 2008). É claro que, de política, tem 400 causos interessantes, mas, pela falta de espaço, pincei um ou outro. Procurei atentar para fatos relacionados ao futebol e à cachaça, que também regristro aqui. Numa análise geral, gostei do livro, apesar de não ter o menor apreço pelo empresário e político Maluf, que chegou a ser preso em 2005.

Mas não se pode negar que é uma figuraça. Capaz de frases lapidares como essa: "Domingo na minha casa os meus filhos e netos comem quibes feitos pela nossa cozinheira. A minha sogra tem quarenta bisnetos que comem quibes e esfirras". Ou então de um incrível bom humor e auto-sarcasmo: "No município de Peruíbe, encontrei um muro com uma pichação gigante e uma seta apontando para o mar: 'Oceano Atlântico, obra de Maluf'". E de gestos de politicagem matreira como, numa cidade do interior de São Paulo, passar três horas decorando o obituário do jornalzinho local para saber, na ponta da língua, quais famílias (de eleitores, lógico) estavam passando pela dor do luto - e que mereceram suas condolências. Mas vamos a alguns trechos do livro:

Futebol
Maluf se orgulha de ter demolido a antiga concha acústica (foto à direita) do estádio Pacaembu em 1969, quando assumiu o cargo de prefeito nomeado (ou "biônico") em São Paulo, para construir o setor de arquibancadas que atualmente é conhecido como Tobogã. A obra causa polêmica ainda hoje, pois muita gente diz que a capacidade do estádio diminuiu, em vez de crescer. O governador José Serra (PSDB) chegou até a cogitar a hipótese de reconstruir a concha acústica. Já Maluf defende o Tobogã: "É incrível, mas é uma obra minha. Fui lá duas vezes durante a construção e inaugurei numa partida do Corinthians x Cruzeiro, de Belo Horizonte, em companhia do Carlos Caldeira Filho, dono da Folha. Ampliei a capacidade do Pacaembu de 35 mil para 44 mil torcedores". Há controvérsias...

Política
Como disse, o livro tem história a dar com pau, como, por exemplo, os bastidores da eleição indireta que derrotou Maluf e elegeu Tancredo Neves presidente, em 1985. Mas uma que me chamou a atenção, pela cara de pau, foi essa: "Durante o governo Geisel, em 1976, houve o desastre na Via Dutra e o Juscelino [Kubitschek] faleceu. Quatro anos depois, eu era governador de São Paulo e recebi um pedido de audiência de d. Sara Kubitschek. Imediatamente concedi-lhe a audiência e ela veio com o dr. Renato Azeredo, que é pai do atual senador Eduardo Azeredo e foi governador de Minas. (...) E d. Sara me pediu um auxílio para a construção do Memorial JK, em Brasília. (...) E disse: 'D. sara, quanto a senhora precisa para terminar esse memorial?'. Ela disse: 'Governador, preciso de 50 milhões de cruzeiros'. Na época devia ser uns 3 milhões de dólares. Como o dólar desvalorizou muito, seria hoje equivalente a uns 30 milhões de dólares. (...) Mandei uma mensagem para a Assembléia Legislativa de São Paulo, mas usei um truque. Porque São Paulo só poderia investir fora do seu território se fosse autorizado por lei. (...) O meu truque foi o seguinte: na minha exposição de motivos, eu pedia esse crédito suplementar sob a alegação de que Juscelino tinha sido o melhor governador que São Paulo havia tido. Se quiser ver, está lá nos anais. (...) Mas a verdade é que foi a colocação da indústria automobilística em São Paulo (...) que deu grande impulso ao Estado". Taí: foi assim que "doamos" mais de 60 milhões de reais para o Memorial JK (foto acima).

Cachaça
Uma passagem que Maluf fala de bebida mistura também bastidores políticos. Quando Paulo Egydio (foto à direita) era governador de São Paulo, na década de 1970, tentou abortar a carreira política de Maluf. "Do 'turco' eu me livrei!", chegou a afirmar ao senador Antonio Balbino, da Bahia. A estratégia era encostar Maluf num cargo em uma empresa fomentadora de exportação que praticamente nem existia. Mas o "turco" ainda tentou negociar a situação na manguaça: "Era uma noite muito fria. Fomos tomar um uísque e, naturalmente, decidir qual seria meu futuro no governo. Para minha sorte, ele não cumpriu nada do que prometera". Maluf declinou do convite para o cargo obscuro e voltou para a direção da empresa Eucatex. Depois, retomou a politicagem na Associação Comercial de São Paulo e, em seguida, conseguiu suceder o próprio Paulo Egydio no governo do Estado. De fato, uma raposa velha...

Provocação
Não poderia encerrar o post sem reproduzir a provocação de Maluf ao atual governo tucano de São Paulo, em relação ao desabamento de um trecho da obra da nova linha do Metrô: "Aquilo foi um erro de concepção do projeto do goveno e da Companhia do Metrô. Eles deveriam ter escolhido um projeto de execução mais fácil, como nós fizemos na Linha 1. Se tivessem escolhido um projeto diferente na Linha 4, aquela travessia poderia custar dez vezes menos. Porque uma ponte é muito mais barata do que um túnel". Tudo bem que crítica do Maluf é sempre discutível, mas ele traz à tona uma pauta que a imprensinha insiste em ignorar, para poupar o tão precioso PSDB.

3 comentários:

Anselmo disse...

boa (e longa) resenha do livro. deu vontade de lar. Mas JK como o melhor governador de São Paulo é ótemo. E o cara acha bonito.

agora, na obra do metrô uma coisa é o custo de um tunel em vez de ponto, outra é o desabamento. uma vez q você fez a opção, não pode cair, matar gente. Isso não foi colocado devidamente na conta do governo do estado.

Maurício Ayer disse...

mas nao foi o proprio maluf que quis fazer o tunel sebastiao camargo para carros...
e de fato, parafraseando maluf, quer fazer metrô, faz tune,l mas nao mata.

Anselmo disse...

"parafraseando maluf: 'quer fazer metrô, faz tunel, mas nao mata'".

impressionante.