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terça-feira, setembro 03, 2013

Maluf, insuperável

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O site Terra faz hoje uma imperdível recuperação das melhores frases ditas pelo - insuperável - Paulo Maluf, ampliando coletânea publicada em 2012 pelo jornalista Xico Sá, no site da Folha de S.Paulo. Reproduzo, aqui, dez das mais históricas (e impagáveis):

1) "Professora não é mal paga, é mal casada." - Em discurso proferido em 1981, quando era governador de São Paulo, nomeado pelo governo militar.

2) "No Brasil, o político é veado, corno ou ladrão. A mim, escolheram como ladrão." - Durante a escolha do Colégio Eleitoral.

3) "O que fazer com um camarada que estuprou e matou? Tá bom, está com vontade sexual, estupra, mas não mata." - Durante palestra para médicos e estudantes de medicina, na campanha para presidente da República, em 1989.

4) "Não se pode comprar deputados, porque eles saem por aí contando e você se desmoraliza com o eleitorado." - Em 1996, no seu último ano como prefeito de São Paulo.

5) "Vote no Pitta e, se ele não for um bom prefeito, nunca mais vote em mim." - Em 1996, durante programa eleitoral do candidato à prefeitura de São Paulo Celso Pitta, seu afilhado político.

6) "Ela é obediente, vota no candidato que o marido manda." - Na campanha ao governo do Estado de São Paulo, em 1998, ao referir-se à esposa, Sylvia.

7) "Nossa polícia é boa, o que atrapalha é essa política de Direitos Humanos para bandidos." - Na mesma campanha eleitoral.

8) "Já disse mil vezes e vou repetir, democraticamente, mais uma: não tenho conta na Suíça." - Em 2004, ao rebater denúncias do Ministério Público sobre ter contas ilegais no exterior.

9) "A minha ficha é a mais limpa do Brasil." - Durante convenção do PP, em 2010.

10) "Eu, perto do Lula, sou comunista." - Durante eleição para prefeito de São Paulo, em 2012.

sábado, fevereiro 16, 2013

Maluf e o Minhocão

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Construção do Minhocão, em 1970 - e só neste ano
O ex-governador Paulo Maluf, o mito, publicou recente artigo na Folha de S. Paulo (aqui só para assinantes) indo contra as repetidas propostas de demolição do Minhocão, uma das mais emblemáticas e criticadas de suas obras na capital paulista. Segundo ele, o trambolho “é parte de um sistema viário que liga as regiões oeste e leste por cerca de 15 viadutos e passagens de nível” construídos em seu mandato como prefeito que tornam possível trafegar em São Paulo.

Discordo dos argumentos do ex-governador em favor de sua homenagem ao ditador Costa e Silva por princípio, já que prefiro uma cidade projetada mais pra pessoas e menos pra carros. E aquelas toneladas de concreto em cima de uma região rica em residências, comércios, bares e coisa e tal – ou seja, de vida – não ajuda em nada.

Mas o que chamou de verdade minha atenção foi um trecho em que Maluf se gaba da parte “mas faz” daquele que se tornou o lema não assumido de suas gestões. Segundo ele, o elevado foi construído em “prazo recorde”, com obras começando em outubro de 1969 e entregues em janeiro de 1971. “Que saudades do tempo em que obras dessa envergadura eram feitas em um ano e meio. Me dá tristeza ver, no Brasil, obras paralisadas há 10 anos”, lamenta, em referência que em meus ouvidos lembrou as obras intermináveis da Linha Amarela do Metrô e do Rodoanel. Discordo de quase tudo que o cara fala, mas tenho que reconhecer que ele é bom de retórica.

A comparação também me fez pensar nos estilos e visões de governo dos representantes da direita paulistana nas últimas décadas. A compulsão por concreto armado como instrumento de políticas urbanas parece um ponto em comum – deixando aqui de lado qualquer acusação de corrupção e ignorando propositalmente o papel de cada um no período ditatorial. Lembro da solução proposta por Serra para o trânsito, com a ampliação das pistas da Marginal Tietê. Gastou R$ 10 bilhões, impermeabilizou anda mais o solo da região e em menos de seis meses a lentidão do tráfego já tinha ultrapassado o nível pré-intervenção.

Uma obra que deixa as semelhanças ainda mais claras talvez sejam os monotrilhos em construção em várias partes da cidade. Como conta aqui a urbanista Raquel Rolnik, as populações de Mboi Mirim e Morumbi têm protestado contra a construção, usando como exemplo casos de degradação urbana ocorridos em decorrência de opções semelhantes em outras cidades do mundo.

Enfim, o tempo passa, o tempo voa, e certas ideias continuam não sendo muito boas. Abaixo, o ex-governador Paulo Maluf, ele mesmo, defende a construção do Elevado. Reparem como ele enche a boca para dizer que se trata da “maior obra em concreto armado da América Latina”:



PS.: Cabe destacar que mesmo reconhecendo os impactos negativos que teve na região, Rolnik não vê como demolir ou desativar o Minhocão sem uma alternativa viável de mobilidade urbana não baseada no carro. Além disso, vê nas proposta apresentadas na gestão Serra-Kassab o risco de expulsão de moradores tradicionais das regiões, que seriam transformadas em “novas Berrinis”.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Na reta final, voto útil entra em cena em São Paulo

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Voto útil, tático ou estratégico. O nome pode mudar, mas o objetivo desse tipo de escolha é evitar que um candidato do qual o eleitor não gosta vença ou avance para o segundo turno. E essa figura que já determinou vitórias às vezes inesperadas já é, novamente, personagem central em alguns dos confrontos municipais, entre eles, o de São Paulo.

As últimas pesquisas do Ibope e Datafolha mostram Celso Russomanno em queda, mas ainda como um dos favoritos a ir para o segundo turno. Claro que o cenário pode mudar até sábado, mas, por enquanto, o voto útil vai ser assunto.

Haddad buscou, nos últimos dias reforçar a imagem de que seria o único capaz de derrotar um recém-demonizado Russomanno no segundo turno, dada a alta rejeição de José Serra nas pesquisas. O tucano não apelou diretamente para o argumento de tirar o PT do segundo turno para buscar votos, mas continuou com sua cantilena antipetista, posição quase histórica do tucano e reforçada agora.

Chalita pregou em seu último programa eleitoral justamente contra o voto útil. E bateu em Serra mais do que em Haddad e Russomanno, para evitar uma possível migração de votos na reta final, justamente quando sua candidatura ganhou musculatura ao retirar votos do líder das pesquisas. O peemedebista sabe que pode ser o fiel da balança na decisão e quer aumentar seu cacife. Russomanno, por sua vez, confiante de que estará no segundo turno, escolheu seu rival predileto: vem batendo em Haddad para evitar perder votos na periferia para o petista e tentar enfrentar Serra e sua rejeição, que varia entre 40% e 45% de acordo com o instituto de pesquisa, no turno final.

Clássicos do voto útil

Covas: voto útil lhe deu duas vitórias
As eleições definidas no primeiro turno tornavam os movimentos de eleitores na última hora muito mais frequentes. Em 1985, Fernando Henrique Cardoso, então no PMDB, apelou para a tese, tentando tirar votos do terceiro colocado, Eduardo Suplicy, para evitar a vitória de Jânio Quadros, hipótese que causava calafrios a uma já medrosa Regina Duarte. Não deu certo e a prefeitura acabou com o folclórico ex-presidente.

O campeão da rejeição que sempre sofreu com o expediente em São Paulo foi Paulo Maluf. Em 1988, parte dos votos que garantiram a vitória de Luiza Erundina certamente entram nessa conta, assim como sua derrotas no segundo turno em eleições para governador de São Paulo, em 1998, para Mario Covas.

A propósito, Covas foi beneficiado pelo voto útil não só nos segundos turnos de 1994 (conta Francisco Rossi) e em 1998, mas também no primeiro turno de 1998. Ali, dois dias antes da eleição, o Datafolha apontava Paulo Maluf com 31% das intenções de voto, Francisco Rossi com 18%, Covas com 17% e Marta Suplicy com 15%. Para evitar um segundo turno entre Maluf e Rossi, muitos eleitores de Marta votaram em Covas, que terminou menos de 0,5% à frente da petista. Ambos ficaram mais de 5% além da votação de Francisco Rossi, um cenário bem distinto daquele indicado pelas pesquisas.

sexta-feira, setembro 07, 2012

São Paulo malufou e ninguém percebeu

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Muitos que avaliam o cenário eleitoral de São Paulo fazem alusão à polarização PT-PSDB como praticamente uma “tradição” na cidade, talvez influenciados por um cenário que se repete nas disputas presidenciais desde 1994, com os dois partidos ocupando sempre as duas primeiras posições. No entanto, na capital paulista, isso não é verdade.


De 1988 a 2000, a grande polarização paulistana foi entre dois projetos: o do PT e o de Paulo Maluf; um que representava aspirações populares de centro-esquerda; outro, com um ideário mais conservador, já encarnado, de formas distintas, por políticos anteriores como Jânio Quadros e Adhemar de Barros. Nesse período, o PMBD e o PSDB ocuparam os governos estaduais mas sequer chegaram ao segundo turno na capital paulista. Em 1988 (quando ainda não havia dois turnos), o governador Orestes Quércia, no auge da sua popularidade, não emplacou João Leiva . Seu sucessor, Fleury, viu seu candidato, Aloysio Nunes, ficar de fora da disputa final em 1992. Em 1996, mesmo à frente dos governos federal e estadual, os tucanos e o ex-ministro José Serra viram da arquibancada Pitta e Erundina concorrerem no segundo turno. A força de Covas em seu segundo mandato no governo do estado também não foi suficiente para levar seu pupilo Geraldo Alckmin à volta final em 2000.

Em 2004, pela primeira vez, os tucanos foram ao segundo turno, com José Serra. Àquela altura, o ex-presidenciável era um político com perfil bem distinto daquele que ficou em quarto lugar na disputa de 1988. Foi o seu discurso de cunho conservador que roubou os corações partidos dos eleitores de Paulo Maluf, então um quase cadáver político adiado que ainda iria para a disputa em 2008, já sem condições de ser um candidato competitivo. O afilhado de Serra, Gilberto Kassab, venceria as eleições de 2008, deixando fora do segundo turno o candidato do PSDB (mas não de Serra), Geraldo Alckmin.

Aí está o xis que mostra o mapa das duas últimas eleições paulistanas. Foi a decadência do malufismo que permitiu a ascensão do grupo representado por Serra/Kassab (PSDB/DEM, depois PSD). A prisão pela Polícia Federal, a investigação da Interpol e a trágica gestão de Celso Pitta (não necessariamente nessa ordem de importância) acabaram com a carreira de Maluf, mas o ideário representado por ele não pereceu.

Trocaram-se os nomes, mas a postura, o discurso e as ações permaneceram praticamente as mesmas. Nesse sentido, poucas coisas são tão reveladoras como uma entrevista dada pelo então prefeito de São Paulo em 1995, ao Roda Viva, da TV Cultura.

Na ocasião, Maluf já era um prefeito bem avaliado e, caso existisse o instituto da reeleição, talvez fosse agraciado com um novo mandato. Mas boa parte de sua popularidade estava ancorada em um discurso moral, daquele que dita comportamentos e, acima de tudo, estabelece condutas e proibições. Havia obrigado os paulistanos a usar cinto de segurança, o que não foi uma decisão pacífica, a despeito de ser apoiada pela maioria da população.

Mas o assunto que dominou mais de um terço da entrevista, levando-se em conta a transcrição, foi a proibição do fumo dentro dos restaurantes, obrigando a que os estabelecimentos usassem “fumódromos”, nos quais era proibido servir comida. Maluf utiliza praticamente todos os argumentos que seriam usados por José Serra anos mais tarde, na ocasião em que radicalizou a restrição ao fumo quando governador, em 2009, e, ainda, transformá-la em grande bandeira eleitoral.

Abaixo, Maluf no Roda Viva e Serra, no Diário do Grande ABC:

E sobre o cigarro, não é problema do governo federal e nem do governo do estado, é um problema das prefeituras fazerem suas próprias legislações. Então, nós achamos que temos que defender primeiro o não fumante. Segundo pesquisa do seu jornal, do DataFolha (ele se dirige ao mediador Matinas Suzuki Junior), indica que 75% da população não deseja que se fume nos restaurantes, e 19% deseja. Isso quem diz é o seu jornal, o Data Folha. E mais, o seu jornal diz o seguinte: 67% dos fumantes desejam que não se fume nos restaurantes, então, não é contra fumante, é contra o fumo no restaurante.
Maluf, em 1995

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"O noticiário está meio enviesado, parece que a gente está querendo diminuir o fumo daqueles que já fumam. Claro que se o sujeito puder não ficar fumando, melhor, mas a lei é para proteger aqueles que não fumam e são mais prejudicados pela fumaça que sai dos cigarros"
Serra, em 2009

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Ambos também citam cidades do exterior como exemplo a seguido, entre outros argumentos coincidentes. Aqui, não é o caso de entrar no mérito de ambas as leis, se foram (ou são) benéficas ou não, mas sim atentar à forma semelhante com que ambos a fizeram: sem discussão ou participação, baseando-se em pesquisas de opinião como verdades incontestes, sem admitir que pudessem haver soluções intermediárias ou alternativas. E também é o caso de ressaltar a centralidade que esse tipo de proibição adquiriu como “realizações” de ambos.

Maluf, no Roda Viva, inclusive “antecipou” a existência da Lei Seca, necessária, mas não na sua versão draconiana, como lembra Túlio Vianna aqui. Esse trecho da entrevista do Roda Viva, é novamente revelador:

Nirlando Beirão: Às vezes, eu sinto que o senhor tem o prazer de proibir as coisas, sabia?
Paulo Salim Maluf: Por exemplo?
Nirlando Beirão: Proibir. Ditar normas de comportamento pessoal. Deixa a pessoa fumar.
Paulo Salim Maluf: Por exemplo, além do negócio de fumar, o que mais que foi proibido?
Nirlando Beirão: O negócio do cinto de segurança. Eu tenho que andar com aquilo me amarrando?
Paulo Salim Maluf: Eu acho que salva a tua vida.
Nirlando Beirão: Prefeito, mas eu posso decidir sobre isso? Não posso, prefeito?
Paulo Salim Maluf: Não, eu acho que você não deve decidir sobre isso. Vou dizer porque: porque se você quiser decidir sobre isso, você está pregando, não o Estado de direito, mas o Estado de anarquia. Existe uma estatística na cidade de São Paulo.
Matinas Suzuki: [Interrompendo] Prefeito, o álcool faz mal. O senhor vai proibir o álcool na cidade de São Paulo?
Paulo Salim Maluf: O álcool, nós não vamos proibir.
Matinas Suzuki: A motocicleta é perigosa. Motocicleta não anda mais em São Paulo?
Paulo Salim Maluf: Já se proibiu o álcool. Já se proibiu o álcool nas beiras das estradas.
Nirlando Beirão: Os carros matam....
Matinas Suzuki: [Interrompendo] Como já se proibiu o álcool, várias culturas já proibiram tabagismo, como café já foi proibido, essas coisas vão e voltam, prefeito, culturalmente, vão e voltam.
Paulo Salim Maluf: Matinas, eu estava em uma estrada na França...
Matinas Suzuki: [Interrompendo] O senhor faz um teste com um carro a trezentos quilômetros por hora, o senhor vai proibir isso?
[sobreposição de vozes]
Paulo Salim Maluf: Espera, então, espera um pouquinho aí. Eu fiz... Dá licença.
Matinas Suzuki: [Interrompendo] o senhor pega o seu carro por prazer, que é a mesma relação que tem com o cigarro, e a pessoa vai lá e pode fumar. Então, o senhor deveria proibir também....
Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não, senhor, perdão, você está tergiversando. Vamos falar, em primeiro lugar, sobre o álcool. O senhor me deixa responder sobre o álcool ou não?
Matinas Suzuki: Mas claro, pois não.
Paulo Salim Maluf: Muito bem, eu estava numa estrada na França à noite, tinha um comando, o comando me parou e eu tirei os documentos e ele me disse: "não", e me deu um bafômetro. Os documentos não interessavam a ele, ele queria saber se eu tinha bebido e se estava guiando na estrada. De maneira que eu acho, se as autoridades brasileiras fossem, quem sabe, um pouco mais severas para fiscalizar os motoristas nas estradas para saber se bebem ou não, provavelmente alguns acidentes não teriam acontecido. Ninguém sabe se esse acidente de ontem no Rio de Janeiro que matou quinze pessoas, se o motorista não tinha bebido antes. Inclusive, há um decreto aqui no estado de São Paulo que proíbe os bares à beira de estradas de vender álcool, e eu acho que está perfeito.


É interessante observar que os entrevistadores pressionam Maluf no que diz respeito a seu ímpeto proibicionista, algo presente em todo programa.

No entanto, tratamento similar não foi dispensado a José Serra anos mais tarde pela imprensa em geral. É claro que a simpatia dos grandes veículos pelo tucano entra na conta, mas será que, culturalmente, muita coisa não mudou também, principalmente em São Paulo? Passamos a aceitar todo tipo de proibicionismo, alguns até com sentido, outros desprovidos de qualquer senso de justiça ou respeito como a rampa anti-mendigo, sem questionar? Em suma, a maioria ou muitos de nós pensa hoje como Maluf pensava em 1995 em relação ao proibicionismo?

O grande feito de Gilberto Kassab na capital paulista foi a Lei Cidade Limpa, uma série de restrições à publicidade de rua, atingindo também praticamente todos os estabelecimentos comerciais em São Paulo. Também empreendeu sua sanha de proibições contra camelôs, artistas de rua, venda de cachorros quentes, distribuição de sopão, bares (esta ele deve a José Serra, que aumentou a repressão aos botecos), incluindo uma tal Lei Seca na Virada Cultural etc etc etc. Seguiu a linha do seu antecessor, representando também o antigo Jânio e, sobretudo, Maluf, que redescobriu o poder eleitoral do ato de "cercar" os cidadãos e impor. Está tudo lá, na entrevista do Roda Viva (vale ler) de 1995. 

Foi Maluf que fez?
Paulo Maluf encarnou o espírito conservador que repousa em parte da sociedade de São Paulo. Bebeu da fonte de Jânio, o reinventou, e foi vanguardista nas ações proibicionistas que conquistariam as mentes de Serra e Kassab. Hoje, dado como morto politicamente, vê um pupilo seu, Celso Russomanno, fazer uma campanha de cunho semelhante às suas, vertendo reacionarismo, liderando as pesquisas. Vê Serra desfilar obras (que o tucano começou, que pegou no meio, que concluiu, que são de Alckmin, de Kassab, mas que, na propaganda são suas, todas...) e vestir o manto antipetista e conservador com todo gosto, como o próprio Maluf fazia nos seus melhores momentos. Ainda tripudiou do petismo, seu inimigo de sempre na cidade, ao exigir a foto mais polêmica da política dos últimos tempos. Não concorre a cargo nenhum, mas seu ideário está mais presente do que nunca.

Alguém tem dúvida de que Maluf é um vencedor?

segunda-feira, junho 18, 2012

O que é que vão dizer lá em casa?

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Lula, Haddad e Maluf. A coerência não coube no enquadramento.(Epitácio Pessoa/AE)

quarta-feira, setembro 01, 2010

Música, política e cachaça

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Em certo trecho do livro "Elisete Cardoso - Uma vida" (Lazuli Editora, 2010), o autor Sérgio Cabral recupera um episódio de 1970:

A presença de Elisete Cardoso em São Paulo levou o produtor Abelardo Figueiredo a convidá-la a cantar na mansão - também conhecida como Palácio de Mármore - do empresário Jorgito Chammas, acompanhada de grande orquestra, numa festa que o prefeito Paulo Maluf oferecia a numeroso grupo de empresários árabes. Lá pelas tantas, o prefeito, empolgado com o uísque que bebera, saiu da plateia e sentou-se ao piano para acompanhar a cantora. Acompanhou, de fato, uma música. Quando ensaiava acompanhar a segunda, Elisete fez-lhe o pedido que, com toda certeza, era o de todo o público presente:
- Prefeito, prefiro o senhor sentadinho na plateia.

quarta-feira, março 31, 2010

Promotores contra Maluf

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O deputado federal e ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, não hesitou ao responder por que seu nome e sua foto foram parar na lista de procurados pela Interpol. É tudo retaliação ou até vingança por parte de procuradores de Justiça, preocupados com seu projeto de lei 265/2007. O texto prevê que um promotor que apresente denúncia temerária ao Judiciário seja responsabilizado criminalmente.

Foto: Reprodução

A apresentação da propositura é, por seu lado, uma resposta de Maluf aos processos judiciais movidos contra ele. Tudo artimanha de quem quer se promover, segundo sua peculiar visão de mundo.

Esse contexto envolvendo ainda a "Lei da Mordaça" ao Ministério Público, que é natural e essencialmente polêmica, deveria transformar o título do post no inverso. Algo como "Maluf contra promotores". Ou, no mínimo, levar um "vice-versa". Mas as coisas são curiosas.

O protesto e o release
Os procuradores são contrários ao projeto. Por isso, prometem um ato em 6 de abril em São Paulo na Procuradoria Regional da República da 3ª Região (PRR-3). Até aí, tudo normal, desde 2009, entidades de promotores promovem campanhas nesse sentido.

Só que foi muito, mas muito curiosa a sequência de releases do evento que atingiram minha caixa de entrada. Ambos enviados pelo departamento de imprensa da PRR-3, um era correção do outro.

(Parênteses para quem, por graça divina ou bom senso mesmo, não é jornalista e não é bombardeado por avisos de pauta e divulgação para a mídia. Release é a redução de "press release", eventualmente traduzido pra lá de livremente como "comunicados de imprensa". É a forma mais comum de as assessorias de imprensa de empresas, governos, órgãos públicos, ONGs etc. avisarem os jornalistas sobre o que acreditam que os profissionais de comunicação precisam saber. Mais comum do que jornalista errar ao redigir uma reportagem é um release ter uma informação incorreta, o que demanda um novo envio da mensagem, com títulos que avisam "correção" em que se pede para "desconsiderar o anterior".)

O curioso é notar as diferenças. A começar pelo assunto:

Original:
PRR-3 sedia ato em SP contra “Lei da Mordaça” de Paulo Maluf

Corrigido:
Vale este - "PRR-3 sedia ato em SP contra 'Lei da Mordaça'"

A correção pega um pouco mais leve com o pai da matéria e não escancara o alvo da movimentação. Mais adiante, o juridiquês que parecia dar razão à "Lei do Maluf" cedeu vez.

Original:
Iniciativa do deputado federal Paulo Maluf, o projeto de lei prevê sanções aos autores de ações civis públicas, populares e de improbidade promovidas contra agentes públicos quando ajuizamento tiver sido temerário, de má-fé, para promoção pessoal ou por perseguição política. O projeto de lei atinge não apenas o Ministério Público, mas o cidadão ou associações que tiverem promovido, nas mesmas circunstâncias imprecisas e indeterminadas, ações populares e ações civis públicas. A mobilização visa mostrar à sociedade que o projeto de lei restringe independência do Ministério Público e o intimida a não cumprir, com autonomia, deveres previstos na Constituição.

Correção:
Iniciativa do deputado federal Paulo Maluf, o projeto de lei prevê a responsabilização pessoal dos autores de ações judiciais contra agentes políticos consideradas “temerárias”, de “má fé”, com a “finalidade de promoção pessoal” ou de “perseguição política”.

Na sequência, uma nova tentativa de ampliar o horizonte e tirar do "procurado" doutor Paulo o centro de tudo. Assim, consta da versão final:
O ato não é voltado apenas contra o ex-prefeito de São Paulo, réu em inúmeros processos movidos pelo MP de São Paulo e pelo MPF por sua gestão à frente do município e autor do projeto de lei, mas à Câmara Federal, que aprovou em sessão do dia 16 de março a urgência na apreciação do Projeto de Lei pelo plenário.
A "aliviada" com Maluf só fez explicitar o quanto o evento aproveita as polêmicas declarações de Maluf para se posicionar na discussão pública.

Foto: Reprodução

O debate é bom
Depois de toda essa digressão, vale registrar que o debate é bom. Na lista de quem acusa promotores federais ou estaduais de oportunismo está gente de todo tipo. O primeiro exemplo que me ocorre é o de Eduardo Jorge, ex-assessor especial do presidente Fernando Henrique Cardoso, réu em denúncia apresentada por Luiz Francisco Fernandes de Souza. Ele foi inocentado e processou Folha de S.Paulo, O Globo, Veja, Ciro Gomes e mais metade do mundo.

Luiz Francisco foi alvo de queixas de outras pessoas, incluindo o Opportunity de Daniel Dantas. Ele foi acusado de apresentar denúncia que teria sido redigida em um computador de Roberto Demarco, ex-sócio e atual desafeto do banqueiro, além de contar com ajuda de advogados da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.

Em sua defesa, o procurador alega que gostou da tipologia (fonte) do documento recebido dos advogados de Demarco. Abriu o arquivo, foi em Editar, Selecionar tudo e pressionou o delete, começando a redigir com a simpática fonte – isso ele me declarou em entrevista por telefone em 2008. Nenhuma pendência consta na corregedoria do Ministério Público Federal, mas Luiz Francisco mantém uma atuação bem discreta, se comparada ao estrelato alçado durante a década de 1990.

Neste ano, o tesoureiro do PT e ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários, João Vaccari Neto, critica José Carlos Blat, do Ministério Público Estadual de São Paulo. Blat corre atrás do inquérito sobre a cooperativa desde 2005 e, até hoje, não formalizou a denúncia à Justiça. Mas sempre que o tema volta, é entrevistado em reportagens em diversos veículos sobre o caso, declarando que a Bancoop é uma organização criminosa. Se é ou não, um juiz poderia avaliar, caso uma denúncia fosse concluída e apresentada.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Gente como Silvio Pereira (ex-PT, sem partido), José Serra (PSDB-SP), Yeda Crusius (PSDB-RS)  a Rede Record, além de Paulo Maluf e de metade dos advogados de defesa de pessoas acionadas por promotores, também já recorreram a disparar contra os acusadores. As queixas são de busca por projeção em cima de acusados "famosos" ou de irresponsabilidade.

Há casos como o de Fernando Capez, membro do MPE-SP que ganhou notoriedade ao mover ações contra torcidas organizadas em 1995, quando conseguiu decisão judicial que extinguia essas torcidas. Foi eleito deputado estadual pelo PSDB de São Paulo em 2006.

Em janeiro, Fernando Grella, procurador-geral de Justiça de São Paulo, em entrevista ao Estadão, em janeiro, declarou que "o ministério público está isolado", porque antes, o organismo "tinha apoio de alguns partidos políticos", mas hoje, nem tanto. Grella admite erros pontuais de promotores, e atribui a falhas no sistema processual "em termos de provas".

No caso de agrupamentos políticos, a denúncia do ministério público é como um gol: só é ruim quando é contra o patrimônio. Isso não quer dizer que eventualmente não haja erros e abusos.

Em artigo ao Jornal do Brasil, o jurista Dalmo Dallari tocou a questão, ao defender a independência do ministério público para cumprir seu papel constitucional. "No seu conjunto o desempenho do Ministério Público pode ser considerado altamente satisfatório", escreveu. "Têm ocorrido situações em que uma iniciativa do Ministério Público sugere a influência de fatores políticos, como se tem verificado em regiões nas quais os conflitos sociais são mais agudos, mas qualquer iniciativa de um órgão do Ministério Público está sujeita a um estrito controle de legalidade, podendo ser anuladas pelo Poder Judiciário aquelas que não tiverem embasamento em fatos concretos e não se enquadrem em alguma hipótese legal". Sua conclusão é de "veemente repúdio" à "lei Maluf".

Outras modalidades de mordaça impostas por lei, herdadas do período autoritário no Brasil (cujo colpe ocorreu há exatos 46 anos, em 31 de março de 1964) contra outros servidores vêm sendo extintas. Foi o caso das peças no estado e município de São Paulo. Nesse contexto, soa trágica a ideia de restrições por lei aos procuradores. O que não torna importante o debate sobre o papel da instituição.

segunda-feira, março 29, 2010

Maluf é são-paulino

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Já ouvi insinuações de que ele seria corintiano, mas o deputado federal mais votado do Brasil tratou de dirimir dúvidas: "Eu me chamo Paulo, nasci na Maternidade São Paulo, torço para o São Paulo Futebol Clube, fui prefeito e governador de São Paulo." E aproveita para comparar-se a outro ilustre tricolor: "Gilberto Kassab fez Escola Politécnica como eu, é bom gestor e não tem culpa da chuva que caiu este ano. Mas ninguém investiu mais em São Paulo do que eu." Deu no Estadão deste domingo, no caderno "Aliás".

Em tempo, Maluf figura agora na lista de procurados da Interpol, o que significa que, se sair do Brasil, pode ser engaiolado. A acusação? "(...) teria movimentado, por meio de um doleiro, US$ 11,68 milhões de uma agência do Safra National Bank na Quinta Avenida para contas secretas no paraíso fiscal da Ilha de Jersey. (...) A quantia teria sido desviada das obras da Av. Águas Espraiadas, atual Av. Roberto Marinho, entre janeiro e agosto de 1998." O deputado diz que vai processar o promotor nova-iorquino que o acusa.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Há 25 anos, Tancredo era eleito presidente

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Eu tinha acabado de completar 11 anos e meu pai era malufista. Estava possesso, pois, na tela da TV naquele 15 de janeiro de 1985, a votação indireta para a presidência da República via Colégio Eleitoral, em Brasília, caminhava a passos largos para a derrota de Paulo Maluf. Não deu outra: às 11h35, o deputado João Cunha (PMDB-SP) deu a Tancredo Neves o voto número 344, suficiente para garantir sua eleição. No total, o mineiro obteve 480 votos (69% do Colégio) contra 180 (26%) de Maluf. Nove delegados não apareceram - cinco do PT, dois do PMDB, o senador Amaral Peixoto (PDS) e Jiúlio Caruso (PDT). E 17 se abstiveram, entre eles o líder do PDS na Câmara, Nélson Marchezan, vaiado e acusado de traidor pelos malufistas. Meu pai também o xingava bastante. Eu mal entendia o que acontecia.

Em contraste com a festa da "democracia" e do "fim" da ditadura militar, uma tragédia: naquela data, 93 pessoas haviam morrido de madrugada na favela do Tabuazeiro, em Vitória (ES), em um deslizamento de terra provocado pelas fortes chuvas (como se vê, desastres desse tipo são recorrentes nos verões brasileiros). Tancredo (na foto acima, ao centro), em seu discurso, garantiu: "Esta foi a última eleição indireta do País". De fato, foi. Mas ele não viveria para ver. Paulo Maluf, por sua vez, se proclamou "vitorioso", por entender que sua candidatura "garantiu o processo político".

Depois de tudo isso, veio a posse do vice-presidente José Sarney em março, no lugar de um agonizante Tancredo, vítima de diverticulite (pergunta que não quer calar: se o presidente não tomou posse, seu vice existe legalmente?). E depois de longo calvário, transformado em novela mexicana, morreu. Coincidentemente, no feriado de 21 de abril. Mas essa já é outra história...

quinta-feira, novembro 26, 2009

Esqueletos no armário

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O Ministério Público Federal ofereceu hoje denúncia contra o deputado federal Paulo Maluf, do PP (abaixo), e o senador Romeu Tuma, do PTB (ao lado), por ocultação de cadáveres durante a ditadura militar. Além dos dois, foram denunciados o ex-prefeito de São Paulo Miguel Colasuonno, o médico legista e ex-chefe do necrotério do Instituto Médico Legal (IML) local Harry Shibata, e o ex-diretor do Serviço Funerário Municipal Fábio Pereira Bueno. O MPF afirma que desaparecidos políticos foram sepultados nos cemitérios de Perus e Vila Formosa, na capital, de forma "ilegal" e "clandestina", com a participação do IML e da Prefeitura. Segundo a procuradora Eugênia Fávero, Maluf e Tuma contribuíram para que as ossadas permanecessem sem identificação em valas comuns e atestaram falsos motivos de morte a vítimas de tortura. O MPF requer perda de funções públicas e do direito à aposentadoria, além de reparar danos morais coletivos, com indenização de, no mínimo, 10% do patrimônio pessoal de cada um. Por se tratar de ações civis públicas, a iniciativa não ameaça os mandatos dos dois parlamentares, protegidos pela Constituição. A procuradora propôs, então, que as indenizações sejam revertidas em medidas que preservem a memória das vítimas da ditadura (de que forma, não ficou claro). O que acham? Mais um caso pra acabar em pizza?

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Paulo Maluf eterno

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Com meses de atraso, cumpro aqui o dever de repassar algo de interessante do livro "Ele - Maluf, trajetória da audácia", de Tão Gomes de Pinto (Ediouro, 2008). É claro que, de política, tem 400 causos interessantes, mas, pela falta de espaço, pincei um ou outro. Procurei atentar para fatos relacionados ao futebol e à cachaça, que também regristro aqui. Numa análise geral, gostei do livro, apesar de não ter o menor apreço pelo empresário e político Maluf, que chegou a ser preso em 2005.

Mas não se pode negar que é uma figuraça. Capaz de frases lapidares como essa: "Domingo na minha casa os meus filhos e netos comem quibes feitos pela nossa cozinheira. A minha sogra tem quarenta bisnetos que comem quibes e esfirras". Ou então de um incrível bom humor e auto-sarcasmo: "No município de Peruíbe, encontrei um muro com uma pichação gigante e uma seta apontando para o mar: 'Oceano Atlântico, obra de Maluf'". E de gestos de politicagem matreira como, numa cidade do interior de São Paulo, passar três horas decorando o obituário do jornalzinho local para saber, na ponta da língua, quais famílias (de eleitores, lógico) estavam passando pela dor do luto - e que mereceram suas condolências. Mas vamos a alguns trechos do livro:

Futebol
Maluf se orgulha de ter demolido a antiga concha acústica (foto à direita) do estádio Pacaembu em 1969, quando assumiu o cargo de prefeito nomeado (ou "biônico") em São Paulo, para construir o setor de arquibancadas que atualmente é conhecido como Tobogã. A obra causa polêmica ainda hoje, pois muita gente diz que a capacidade do estádio diminuiu, em vez de crescer. O governador José Serra (PSDB) chegou até a cogitar a hipótese de reconstruir a concha acústica. Já Maluf defende o Tobogã: "É incrível, mas é uma obra minha. Fui lá duas vezes durante a construção e inaugurei numa partida do Corinthians x Cruzeiro, de Belo Horizonte, em companhia do Carlos Caldeira Filho, dono da Folha. Ampliei a capacidade do Pacaembu de 35 mil para 44 mil torcedores". Há controvérsias...

Política
Como disse, o livro tem história a dar com pau, como, por exemplo, os bastidores da eleição indireta que derrotou Maluf e elegeu Tancredo Neves presidente, em 1985. Mas uma que me chamou a atenção, pela cara de pau, foi essa: "Durante o governo Geisel, em 1976, houve o desastre na Via Dutra e o Juscelino [Kubitschek] faleceu. Quatro anos depois, eu era governador de São Paulo e recebi um pedido de audiência de d. Sara Kubitschek. Imediatamente concedi-lhe a audiência e ela veio com o dr. Renato Azeredo, que é pai do atual senador Eduardo Azeredo e foi governador de Minas. (...) E d. Sara me pediu um auxílio para a construção do Memorial JK, em Brasília. (...) E disse: 'D. sara, quanto a senhora precisa para terminar esse memorial?'. Ela disse: 'Governador, preciso de 50 milhões de cruzeiros'. Na época devia ser uns 3 milhões de dólares. Como o dólar desvalorizou muito, seria hoje equivalente a uns 30 milhões de dólares. (...) Mandei uma mensagem para a Assembléia Legislativa de São Paulo, mas usei um truque. Porque São Paulo só poderia investir fora do seu território se fosse autorizado por lei. (...) O meu truque foi o seguinte: na minha exposição de motivos, eu pedia esse crédito suplementar sob a alegação de que Juscelino tinha sido o melhor governador que São Paulo havia tido. Se quiser ver, está lá nos anais. (...) Mas a verdade é que foi a colocação da indústria automobilística em São Paulo (...) que deu grande impulso ao Estado". Taí: foi assim que "doamos" mais de 60 milhões de reais para o Memorial JK (foto acima).

Cachaça
Uma passagem que Maluf fala de bebida mistura também bastidores políticos. Quando Paulo Egydio (foto à direita) era governador de São Paulo, na década de 1970, tentou abortar a carreira política de Maluf. "Do 'turco' eu me livrei!", chegou a afirmar ao senador Antonio Balbino, da Bahia. A estratégia era encostar Maluf num cargo em uma empresa fomentadora de exportação que praticamente nem existia. Mas o "turco" ainda tentou negociar a situação na manguaça: "Era uma noite muito fria. Fomos tomar um uísque e, naturalmente, decidir qual seria meu futuro no governo. Para minha sorte, ele não cumpriu nada do que prometera". Maluf declinou do convite para o cargo obscuro e voltou para a direção da empresa Eucatex. Depois, retomou a politicagem na Associação Comercial de São Paulo e, em seguida, conseguiu suceder o próprio Paulo Egydio no governo do Estado. De fato, uma raposa velha...

Provocação
Não poderia encerrar o post sem reproduzir a provocação de Maluf ao atual governo tucano de São Paulo, em relação ao desabamento de um trecho da obra da nova linha do Metrô: "Aquilo foi um erro de concepção do projeto do goveno e da Companhia do Metrô. Eles deveriam ter escolhido um projeto de execução mais fácil, como nós fizemos na Linha 1. Se tivessem escolhido um projeto diferente na Linha 4, aquela travessia poderia custar dez vezes menos. Porque uma ponte é muito mais barata do que um túnel". Tudo bem que crítica do Maluf é sempre discutível, mas ele traz à tona uma pauta que a imprensinha insiste em ignorar, para poupar o tão precioso PSDB.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Baú de Campanha: as eleições paulistanas de 1988

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As eleições municipais de 1988 em São Paulo são tidas como uma das grandes zebras do período pós-redemocratização. O candidato do então PDS Paulo Maluf liderou durante a maior parte do tempo as pesquisas, enquanto o PMDB, fortalecido pela conquista do governo do estado em 1986, tentava vencer a eleição na capital após a derrota em 1985 . Por fora, estava o PT, que apresentava uma ex-integrante das Ligas Camponesas da Paraíba como candidata à prefeitura.

Luiza Erundina emigrou para a capital paulista em 1971, por conta da repressão ao movimento no campo pela ditadura militar. Tornou-se presidente da Associação Profissional das Assistentes Sociais de São Paulo e foi chamada por Lula, junto com outras lideranças sindicais, para fundar o Partido dos Trabalhadores em 1979. Dentro do partido, começou sua trajetória de conquistas na política. Em 1982, foi eleita vereadora na capital paulista e, quatro anos mais tarde, deputada estadual.

Para ser candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Erundina teve que disputar uma prévia onde enfrentou o então deputado federal Plínio de Arruda Sampaio, candidato da corrente Articulação e apoiado pelos caciques do partido, inclusive pelo próprio Lula. Mesmo assim, teve 5.544 votos enquanto Plínio ficou com 3.982 votos. Curioso que, à época, o adversário de Erundina era considerado mais à direita, defendendo inclusive a necessidade de alianças, o que contrariava o curto histórico do partido. Mais tarde, sairia do PT e migraria para o PSol, após ser derrotado no PED de 2006.

A vida de Erundina e de seu partido não era fácil, como se pode notar nesta entrevista ao programa Roda Viva, logo depois de sua candidatura ser oficializada. O jornalista Boris Casoy é dos mais virulentos contra a petista, repetindo uma pergunta que, para ele, é “clássica”, sobre a crença da parlamentar em Deus. Uma de suas dóceis questões é “Deputada, a senhora fala em espaços democráticos e democracia, prevê obediência à lei. A senhora tem apoiado, quando não promovido, invasões de terrenos urbanos em São Paulo ao arrepio da lei. Como a senhora pretende tratar esta questão das invasões, se é que a senhora vai parar de invadir, na prefeitura de São Paulo, se a senhora for eleita?”.

Ao final do programa, telespectadores telefonaram reclamando do tratamento dispensado a Erundina. A mídia, já anti-esquerda por natureza, se deparava com uma candidata mulher e nordestina. A eleição seria complicada...

A campanha

O hoje deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB) participou da empreitada de Erundina. Foi a primeira vez que os comunistas se aliaram ao PT em São Paulo, junto com o PCB. Antes, haviam se coligado com o PMDB (apoiando FHC em 1985). No livro No Olho do Furacão, Rebelo conta como estava o clima da campanha em 14 de setembro. À época, o pleito era disputado em turno único e a votação seria no dia 15 de novembro.

Maluf dispara nas pesquisas e chega perto de 40%, enquanto o índice de Erundina sofre uma pequena queda. Mas é o bastante para que a campanha, ainda em busca de afirmação, entre em zona de turbulência. Argumentamos que o crescimento de Maluf e o nosso ligeiro declínio não têm maior significado. Maluf cresce no vácuo das forças conservadoras que, entre ele, Leiva e a alternativa PSDB, depositam mais confiança no ex-governador de São Paulo.”

O candidato tucano era José Serra e o partido recém-criado utilizava da bandeira da ética para se diferenciar da agremiação-mãe, o PMDB. O jingle serrista trazia versos com trocadilhos feitos com o nome do candidato (Serra, serra, serra essa mamata...) e seu principal adversário era justamente o peemedebista João Leiva. A estratégia era chegar ao segundo lugar nas pesquisas e desbancar o ex-secretário do governador Quércia, canalizando os votos anti-malufistas. Mas, com a ajuda da máquina, Leiva já era o segundo colocado em outubro.

Com um Leiva estagnado e um Serra sem discurso, Erundina começa a subir nas pesquisas. A cinco dias da eleição, ela tem 19% e está empatada com o peemedebista; Maluf tem 28%. Um dia antes, uma tragédia. Trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que ocupam a empresa são reprimidos pelo exército e pela PM. Em meio ao que se convencionou chamar de massacre, três operários mortos e uma centena de feridos.

A vontade de mudança tomava corpo e Erundina crescia na reta final. Aldo Rebelo conta uma história exemplar do engajamento que vinha naturalmente para a petista às vésperas da eleição. “Alexandrina, Irene e Conceição são pernambucanas, moram no fundão da Zona Leste e ganham a vida fazendo faxina e costurando para famílias de classe média. Ontem, elas receberam uma oferta para ganhar cinco mil cruzados cada uma para fazer boca-de-urna para o candidato do PDS, Paulo Maluf. São quase 15 horas e só agora elas estão tomando a primeira refeição do dia: um sanduíche de queijo que recebem na porta do colégio. Mas estão satisfeitas. Rejeitaram a oferta de cinco mil cruzados e fazem boca-de-urna, de graça, para Luiza Erundina e para o candidato a vereador do PCdoB”.

Sem urna eletrônica, a apuração é lenta. Os primeiros votos a chegar são das regiões mais nobres e centrais. A apuração na periferia começa a dar a vitória para a primeira prefeita de São Paulo, como conta Rebelo. Em Guaianases, ela tem 41% dos primeiros votos apurados, João Leiva fica em segundo com pouco menos de 20%, e Paulo Maluf fica em quarto, depois dos votos em branco.

Erundina vence com 29,84% dos votos, seguida por Maluf que fica com 24,45%. Leiva vem a seguir com 14,17% e o tucano Serra tem 5,59%, quase empatado com o candidato do PL João Mellão, que alcança 5,39%.