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Outro dia, eu e minha namorada Patricia entramos numa das livrarias de uma galeria comercial na Avenida Paulista, aqui em São Paulo, e ela começou a folhear um livrinho infantil aparentemente inocente, com fotos de gatos e frase sobre eles, para presentear nossa menina Liz, de 8 anos. Tratava-se de "Amigos gatos", da série "Pegadas de filhotes" (Editora Eko/ Grupo Edicart, 2009), com texto original da italiana Emannuela Signorini. Com a mania que tenho de observar os "eugenizantes" (ver eugenia) comerciais impressos ou televisivos no Brasil, passei a notar que, no tal livrinho, não aparecia um gato preto sequer - como se "bonitinhos", "fofinhos" e "desejáveis" fossem só os gatos brancos. "Ah, que viagem a sua", reclamou Patricia. Para desdenhar minha "teoria da perseguição", logo encontrou a foto de um gato preto no livro. Mas a frase que acompanhava a imagem só justificou minha desconfiança - e nos deixou de queixo caído:
"Um gato preto não faz sombra porque ele é uma sombra: uma sombra vivente de um radiante gato branco."
Não adianta tentarem me convencer do contrário: é agressivo - e é RACISMO. A ideia simbólica de que o negro é "sombra" (no sentido pejorativo) e o branco é "radiante" está ali, como propaganda, como "ensinamento". É assim que nossas crianças são "educadas", mesmo nas publicações mais tolas e supostamente "inofensivas": o negro não tem valor algum. O poder dessas mensagens subliminares é subestimado. Se aceitamos pequenas agressões gratuitas como essa, não conseguimos controlar, posteriormente, atitudes mais violentas como a não aceitação do sistema de cotas no ensino público universitário, por exemplo. Porque os que não aceitam foram acostumados, desde crianças, com essa ideia de que os negros são "sombras", e que, apesar de terem servido como escravos por quatro séculos na construção de nosso país, não merecem qualquer atenção ou política pública específica em nossa sociedade. Que são pessoas de segunda ou terceira classe.
É por isso que faço esse apelo para que, nesse final de semana, não só os negros celebrem sua consciência, mas que nós, como disse, os "não negros", também tenhamos consciência do que fazemos com e para eles. A maior riqueza do Brasil, o que já nos destaca e que irá nos tornar muito maiores no futuro, é exatamente a nossa diversidade. É a nossa mistura única de povos, raças, costumes, culturas. Insistir nas diferenças, nas divisões e nos preconceitos que há muito já deveriam ter sido abolidos de nossa sociedade, é insuflar o ódio, é regredir à barbárie - tal e qual um certo candidato à presidente da República nas últimas eleições. Nós não precisamos disso. Salve a raça negra! E a consciência de todos.
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4 comentários:
Ps.: Só mais um exemplo de racismo publicado em livro, dessa vez para o público adulto. No "1822", sobre o período da independência brasileira, obra de Laurentino Gomes (que a orelha do livro informa, sintomaticamente, que "trabalhou como repórter e editora para o jornal O Estado de S.Paulo e para a revista Veja e foi diretor da Editora Abril"), há um capítulo intitulado "O país improvável". No segundo parágrafo, há o seguinte - e surpreendente - argumento:
"Quem observasse o Brasil nessa época teria razões de sobra para duvidar de sua viabilidade como país. Às vésperas do Grito do Ipiranga, o Brasil tinha tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços."
Sem comentário.
Assustadora a história do gatinho, rapaz!
Pois esse País está dando certo, nobre senhor Laurentino, justamente por conta de td nossa carga genética de escravos, negros forros, mulatos, índios e mestiços! Essa é nossa melhor qualidade!
"Serviço de preto foi o que Hitler fez tentando acabar com os judeus".
Quem já não ouviu essa sandice e deu risada?
Essa parte nossa, "maioria" contra o negro que dentro de todos os brasileiros (se você falar que desde o seu trisavô só se casam com ____ coloque aí a nacionalidade dele, você só é brasileiro por nascer aqui, não é miscigenado. E é aos miscigenados que chamo de brasileiros) habita, foi hábito adquirido dos europeus que aqui vieram se locupletar. Simples assim. Nunca nos respeitaram como nação. Nem seu povo faz muita questão disto.
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Gabo-me de ser metade espanhol. Só metade. A outra é uma farra e a que me completa!
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