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sexta-feira, novembro 09, 2012

Eleições 2012: Luta por respeito a diversidade ganha espaço em SP

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Faz mais de dez dias que São Paulo elegeu Fernando Haddad (PT) prefeito e, para muitos, antecipou a aposentadoria política de José Serra, nome maior do PSDB. Fatos nada corriqueiros, que merecem visita mais demorada – ainda que atrasada – destes ébrios escribas. Este manguaça em particular teve uma pequena mas muito cansativa participação na campanha de Haddad, que ainda precisa de uma melhor elaboração. Assim, após algumas noites de sono, soltarei alguns textos sobre o processo eleitoral aqui e no país.


Russomanno e Serra no segundo turno

O primeiro turno permitiu a este esquerdinha que recém transferiu seu título para São Paulo vislumbrar a possibilidade de ter de escolher entre Russo e Serra: um embate entre Globo e Record, Edir Macedo e Silas Malafaia, o higienismo do Kassab e a proposta de triplicar o efetivo da GCM do candidato do PRB. De minha parte, a opção talvez fosse fugir para as colinas. Pequena tragédia, evitada nas urnas na última semana, com o derretimento de Russomanno.

Não foi o primeiro derretimento da campanha, que viu Serra sair de 30% para 18% nas pesquisas, enquanto Russo crescia e se consolidava na liderança, atingindo 35% e lá ficando mesmo com as sucessivas e cada vez mais violentas porradas vindas de todo lado. Enquanto isso, Haddad patinou primeiro em 3%, depois em 8%, até estacionar em 15%, onde ficou até a última pesquisa Ibope, que trouxe a surreal situação de um triplo empate na liderança, todos com 22%.

A queda de Russomanno na reta final se deve principalmente a dois fatores. No campo partidário, o PT aproveitou-se da clara inconsistência do projeto do adversário e foi pra cima da proposta elitista da tarifa de ônibus proporcional ao percurso percorrido, que escancarou o conceito de “justiça” do candidato, similar ao de Serra, figura absolutamente detestada na periferia paulistana.

O outro ponto é mais interessante, e passa pela luta religiosa que desde 2010 tem aparecido nos processos eleitorais. Dessa vez, no entanto, o obscurantismo encontrou uma reação nova na sociedade, que pode apontar dias melhores para quem prefere uma sociedade que respeite sua diversidade.

Obscurantismo

Russomanno e Serra protagonizaram durante toda a campanha uma disputa pelo apoio de igrejas evangélicas variadas. Valdemiro Santiago, bispa Sônia e outras lideranças religiosas foram tão ou mais disputados do que os partidos. Já de fábrica, Russomanno trazia o apoio da Universal de Edir Macedo, carnalmente ligada ao seu PRB - o candidato passou toda a campanha a minimizar tal ligação com a IURD, religião professada que reúne apenas 6% do partido, segundo ele, deixando de lado que estes controlam 80% dos cargos diretivos. Serra trouxe de 2010 a simpatia da parcela mais conservadora da Igreja Católica - ainda que dividida com o carola Gabriel Chalita.

O ataque froontal veio dos católicos. O cardeal-arcebispo dom Odilo Scherer divulgou texto acusando o coordenador da campanha do PRB e bispo da Universal, MarcosPereira, de "fomentar a discórdia" e ofender os católicos por conta de uma postagem no blog do político de 2011 em que ele afirma que os católicos tiveram ligação com o projeto Escola Sem Homofobia, mais especificamente com um conjunto de materiais que seria distribuído a professores e que passou a ser tratado pejorativamente como “kit-gay” pelos opositores. Desenvolvido pelo MEC na gestão Haddad, o kit que visava combater o bullying homofóbico nas escolas foi engavetado por Dilma após pressões da bancada evangélica – episódio que frustrou o movimento LGBT e levou parte de seus militantes para a oposição.

O tema esteve presente em toda a campanha como fonte de ataques contra Haddad nos bastidores, especialmente nas redes sociais. Mas este foi o primeiro momento em que alcançou o centro da discussão. O obscuratismo mostrava sua força.

O ataque foi sentido por Russomanno que teve mais um lance religioso envolvido em sua derrocado. Seu padrinho não assumido, Edir Macedo, resolveu explicitar sua posição com dois textos de apoio a Russomanno com críticas homofóbicas a Haddad. O apoio pode ter saído pela culatra, aumentando a rejeição candidato entre católicos e evangélicos de utras denominações. Mas a reação mais interessante veio do outro lado dessa disputa e ajudou a arejar o ambiente.


Grupos de ativistas virtuais e de luta pelos direitos humanos, dentre os quais destaca-se o coletivo Fora do Eixo, viram em Russomanno a imagem do preconceito, da homofobia, do machismo, da tomada do Estado por grupos religiosos. Foram vários dias de tuitaços #AmorSIMRussomannoNÃO, que culminaram com um festival de mesmo nome que reuniu milhares de pessoas na Praça Rossevelt, recém-reformada por Kassab.

Se a ofensiva do PT buscou principalmente os votos tradicionais do partido nas periferias, que estavam com Russomanno, a mobilização do “amor” elevou a rejeição ao candidato no centro expandido. Foi uma mobilização importante por afirmar o desejo de uma parcela expressiva da classe média por uma cidade mais humana, mais inclusiva, com mais respeito à diversidade.

Amor e Malafaia não combinam

No segundo turno, o mesmo grupo articulou um novo festival chamado “Exite Amor em SP”, com apresentações militantes e gratuitas de Criolo, Gaby Amaranthos, Karina Buhr e outros. Este não assumiu uma posição partidária – contra ou a favor – mas reafirmou a mobilização por uma cidade que vai contra as práticas higienistas das gestões Serra e Kassab – autores de algumas “pérolas do design fascista”, na bela definição de um amigo.

O alvo ficou mais claro quando Serra, como em 2010, buscou apoio no conservadorismo religioso. O símbolo desta vez foi a vinda a São Paulo do pastor carioca Silas Malafaia, um dos nomes mais destacados da homofobia nacional. A presença do tele-evangelista da Assembleia de Deus trouxe para o centro do debate o tal do "kit-gay".

A hipocrisia de Serra foi desmascarada por matéria de Mônica Bergamo, que revelou a existência de um programa semelhante aplicado pelo governo de São Paulo na gestão Serra, inclusive elaborado pela mesma ONG. Curiosidade: também foi Bergamo que deu destaque à ex-aluna de Monica Serra que denunciara o suposto aborto feito pela sempre-futura-primeira-dama no Chile. O reacionarismo e a hipocrisia custara a Serra o recorde de 52% de rejeição registrado pelo Datafolha, só superado por Paulo Maluf e Fernando Collor em toda a história registrada pelo instituto.

Não existe vácuo em política

Frente a tudo isso, Haddad manteve uma postura correta. Defendeu sempre o Estado laico, que respeite todas as religiões, e a valorização da diversidade de São Paulo, seu ativo mais importante. Em seu discurso na avenida Paulista, na festa da vitória, fez questão de citar negros, mulheres e população LGBT e defender novamente a igualdade e a diversidade. Também foi a uma missa ou outra ao lado de Gabriel Chalita, mas não recuou publicamente como fez Dilma em 2010 na questão do aborto. Naquela ocasião, a avaliação feita por estes manguaças (obviamente no fórum adequado) foi que, não importando quem levasse a eleição, a pauta da descriminalização do aborto retrocederia.

Em 2012, a esquerda não teve que fazer uma mesura tão grande aos reacionários, que tropeçaram nas próprias pernas. O abraço do decadente Serra ao caricato Malafaia resultou num tombo feio, ajudado pelo empurrão do “movimento do Amor”. Dessa vez, a eleição pode ter ajudado a abrir espaço para temas ligados a diversidade em São Paulo. Cabe aos movimentos ocupá-lo e pressionar por avanços. Porque se não o fizerem, alguém o fará.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Na reta final, voto útil entra em cena em São Paulo

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Voto útil, tático ou estratégico. O nome pode mudar, mas o objetivo desse tipo de escolha é evitar que um candidato do qual o eleitor não gosta vença ou avance para o segundo turno. E essa figura que já determinou vitórias às vezes inesperadas já é, novamente, personagem central em alguns dos confrontos municipais, entre eles, o de São Paulo.

As últimas pesquisas do Ibope e Datafolha mostram Celso Russomanno em queda, mas ainda como um dos favoritos a ir para o segundo turno. Claro que o cenário pode mudar até sábado, mas, por enquanto, o voto útil vai ser assunto.

Haddad buscou, nos últimos dias reforçar a imagem de que seria o único capaz de derrotar um recém-demonizado Russomanno no segundo turno, dada a alta rejeição de José Serra nas pesquisas. O tucano não apelou diretamente para o argumento de tirar o PT do segundo turno para buscar votos, mas continuou com sua cantilena antipetista, posição quase histórica do tucano e reforçada agora.

Chalita pregou em seu último programa eleitoral justamente contra o voto útil. E bateu em Serra mais do que em Haddad e Russomanno, para evitar uma possível migração de votos na reta final, justamente quando sua candidatura ganhou musculatura ao retirar votos do líder das pesquisas. O peemedebista sabe que pode ser o fiel da balança na decisão e quer aumentar seu cacife. Russomanno, por sua vez, confiante de que estará no segundo turno, escolheu seu rival predileto: vem batendo em Haddad para evitar perder votos na periferia para o petista e tentar enfrentar Serra e sua rejeição, que varia entre 40% e 45% de acordo com o instituto de pesquisa, no turno final.

Clássicos do voto útil

Covas: voto útil lhe deu duas vitórias
As eleições definidas no primeiro turno tornavam os movimentos de eleitores na última hora muito mais frequentes. Em 1985, Fernando Henrique Cardoso, então no PMDB, apelou para a tese, tentando tirar votos do terceiro colocado, Eduardo Suplicy, para evitar a vitória de Jânio Quadros, hipótese que causava calafrios a uma já medrosa Regina Duarte. Não deu certo e a prefeitura acabou com o folclórico ex-presidente.

O campeão da rejeição que sempre sofreu com o expediente em São Paulo foi Paulo Maluf. Em 1988, parte dos votos que garantiram a vitória de Luiza Erundina certamente entram nessa conta, assim como sua derrotas no segundo turno em eleições para governador de São Paulo, em 1998, para Mario Covas.

A propósito, Covas foi beneficiado pelo voto útil não só nos segundos turnos de 1994 (conta Francisco Rossi) e em 1998, mas também no primeiro turno de 1998. Ali, dois dias antes da eleição, o Datafolha apontava Paulo Maluf com 31% das intenções de voto, Francisco Rossi com 18%, Covas com 17% e Marta Suplicy com 15%. Para evitar um segundo turno entre Maluf e Rossi, muitos eleitores de Marta votaram em Covas, que terminou menos de 0,5% à frente da petista. Ambos ficaram mais de 5% além da votação de Francisco Rossi, um cenário bem distinto daquele indicado pelas pesquisas.

sexta-feira, setembro 07, 2012

São Paulo malufou e ninguém percebeu

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Muitos que avaliam o cenário eleitoral de São Paulo fazem alusão à polarização PT-PSDB como praticamente uma “tradição” na cidade, talvez influenciados por um cenário que se repete nas disputas presidenciais desde 1994, com os dois partidos ocupando sempre as duas primeiras posições. No entanto, na capital paulista, isso não é verdade.


De 1988 a 2000, a grande polarização paulistana foi entre dois projetos: o do PT e o de Paulo Maluf; um que representava aspirações populares de centro-esquerda; outro, com um ideário mais conservador, já encarnado, de formas distintas, por políticos anteriores como Jânio Quadros e Adhemar de Barros. Nesse período, o PMBD e o PSDB ocuparam os governos estaduais mas sequer chegaram ao segundo turno na capital paulista. Em 1988 (quando ainda não havia dois turnos), o governador Orestes Quércia, no auge da sua popularidade, não emplacou João Leiva . Seu sucessor, Fleury, viu seu candidato, Aloysio Nunes, ficar de fora da disputa final em 1992. Em 1996, mesmo à frente dos governos federal e estadual, os tucanos e o ex-ministro José Serra viram da arquibancada Pitta e Erundina concorrerem no segundo turno. A força de Covas em seu segundo mandato no governo do estado também não foi suficiente para levar seu pupilo Geraldo Alckmin à volta final em 2000.

Em 2004, pela primeira vez, os tucanos foram ao segundo turno, com José Serra. Àquela altura, o ex-presidenciável era um político com perfil bem distinto daquele que ficou em quarto lugar na disputa de 1988. Foi o seu discurso de cunho conservador que roubou os corações partidos dos eleitores de Paulo Maluf, então um quase cadáver político adiado que ainda iria para a disputa em 2008, já sem condições de ser um candidato competitivo. O afilhado de Serra, Gilberto Kassab, venceria as eleições de 2008, deixando fora do segundo turno o candidato do PSDB (mas não de Serra), Geraldo Alckmin.

Aí está o xis que mostra o mapa das duas últimas eleições paulistanas. Foi a decadência do malufismo que permitiu a ascensão do grupo representado por Serra/Kassab (PSDB/DEM, depois PSD). A prisão pela Polícia Federal, a investigação da Interpol e a trágica gestão de Celso Pitta (não necessariamente nessa ordem de importância) acabaram com a carreira de Maluf, mas o ideário representado por ele não pereceu.

Trocaram-se os nomes, mas a postura, o discurso e as ações permaneceram praticamente as mesmas. Nesse sentido, poucas coisas são tão reveladoras como uma entrevista dada pelo então prefeito de São Paulo em 1995, ao Roda Viva, da TV Cultura.

Na ocasião, Maluf já era um prefeito bem avaliado e, caso existisse o instituto da reeleição, talvez fosse agraciado com um novo mandato. Mas boa parte de sua popularidade estava ancorada em um discurso moral, daquele que dita comportamentos e, acima de tudo, estabelece condutas e proibições. Havia obrigado os paulistanos a usar cinto de segurança, o que não foi uma decisão pacífica, a despeito de ser apoiada pela maioria da população.

Mas o assunto que dominou mais de um terço da entrevista, levando-se em conta a transcrição, foi a proibição do fumo dentro dos restaurantes, obrigando a que os estabelecimentos usassem “fumódromos”, nos quais era proibido servir comida. Maluf utiliza praticamente todos os argumentos que seriam usados por José Serra anos mais tarde, na ocasião em que radicalizou a restrição ao fumo quando governador, em 2009, e, ainda, transformá-la em grande bandeira eleitoral.

Abaixo, Maluf no Roda Viva e Serra, no Diário do Grande ABC:

E sobre o cigarro, não é problema do governo federal e nem do governo do estado, é um problema das prefeituras fazerem suas próprias legislações. Então, nós achamos que temos que defender primeiro o não fumante. Segundo pesquisa do seu jornal, do DataFolha (ele se dirige ao mediador Matinas Suzuki Junior), indica que 75% da população não deseja que se fume nos restaurantes, e 19% deseja. Isso quem diz é o seu jornal, o Data Folha. E mais, o seu jornal diz o seguinte: 67% dos fumantes desejam que não se fume nos restaurantes, então, não é contra fumante, é contra o fumo no restaurante.
Maluf, em 1995

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"O noticiário está meio enviesado, parece que a gente está querendo diminuir o fumo daqueles que já fumam. Claro que se o sujeito puder não ficar fumando, melhor, mas a lei é para proteger aqueles que não fumam e são mais prejudicados pela fumaça que sai dos cigarros"
Serra, em 2009

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Ambos também citam cidades do exterior como exemplo a seguido, entre outros argumentos coincidentes. Aqui, não é o caso de entrar no mérito de ambas as leis, se foram (ou são) benéficas ou não, mas sim atentar à forma semelhante com que ambos a fizeram: sem discussão ou participação, baseando-se em pesquisas de opinião como verdades incontestes, sem admitir que pudessem haver soluções intermediárias ou alternativas. E também é o caso de ressaltar a centralidade que esse tipo de proibição adquiriu como “realizações” de ambos.

Maluf, no Roda Viva, inclusive “antecipou” a existência da Lei Seca, necessária, mas não na sua versão draconiana, como lembra Túlio Vianna aqui. Esse trecho da entrevista do Roda Viva, é novamente revelador:

Nirlando Beirão: Às vezes, eu sinto que o senhor tem o prazer de proibir as coisas, sabia?
Paulo Salim Maluf: Por exemplo?
Nirlando Beirão: Proibir. Ditar normas de comportamento pessoal. Deixa a pessoa fumar.
Paulo Salim Maluf: Por exemplo, além do negócio de fumar, o que mais que foi proibido?
Nirlando Beirão: O negócio do cinto de segurança. Eu tenho que andar com aquilo me amarrando?
Paulo Salim Maluf: Eu acho que salva a tua vida.
Nirlando Beirão: Prefeito, mas eu posso decidir sobre isso? Não posso, prefeito?
Paulo Salim Maluf: Não, eu acho que você não deve decidir sobre isso. Vou dizer porque: porque se você quiser decidir sobre isso, você está pregando, não o Estado de direito, mas o Estado de anarquia. Existe uma estatística na cidade de São Paulo.
Matinas Suzuki: [Interrompendo] Prefeito, o álcool faz mal. O senhor vai proibir o álcool na cidade de São Paulo?
Paulo Salim Maluf: O álcool, nós não vamos proibir.
Matinas Suzuki: A motocicleta é perigosa. Motocicleta não anda mais em São Paulo?
Paulo Salim Maluf: Já se proibiu o álcool. Já se proibiu o álcool nas beiras das estradas.
Nirlando Beirão: Os carros matam....
Matinas Suzuki: [Interrompendo] Como já se proibiu o álcool, várias culturas já proibiram tabagismo, como café já foi proibido, essas coisas vão e voltam, prefeito, culturalmente, vão e voltam.
Paulo Salim Maluf: Matinas, eu estava em uma estrada na França...
Matinas Suzuki: [Interrompendo] O senhor faz um teste com um carro a trezentos quilômetros por hora, o senhor vai proibir isso?
[sobreposição de vozes]
Paulo Salim Maluf: Espera, então, espera um pouquinho aí. Eu fiz... Dá licença.
Matinas Suzuki: [Interrompendo] o senhor pega o seu carro por prazer, que é a mesma relação que tem com o cigarro, e a pessoa vai lá e pode fumar. Então, o senhor deveria proibir também....
Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não, senhor, perdão, você está tergiversando. Vamos falar, em primeiro lugar, sobre o álcool. O senhor me deixa responder sobre o álcool ou não?
Matinas Suzuki: Mas claro, pois não.
Paulo Salim Maluf: Muito bem, eu estava numa estrada na França à noite, tinha um comando, o comando me parou e eu tirei os documentos e ele me disse: "não", e me deu um bafômetro. Os documentos não interessavam a ele, ele queria saber se eu tinha bebido e se estava guiando na estrada. De maneira que eu acho, se as autoridades brasileiras fossem, quem sabe, um pouco mais severas para fiscalizar os motoristas nas estradas para saber se bebem ou não, provavelmente alguns acidentes não teriam acontecido. Ninguém sabe se esse acidente de ontem no Rio de Janeiro que matou quinze pessoas, se o motorista não tinha bebido antes. Inclusive, há um decreto aqui no estado de São Paulo que proíbe os bares à beira de estradas de vender álcool, e eu acho que está perfeito.


É interessante observar que os entrevistadores pressionam Maluf no que diz respeito a seu ímpeto proibicionista, algo presente em todo programa.

No entanto, tratamento similar não foi dispensado a José Serra anos mais tarde pela imprensa em geral. É claro que a simpatia dos grandes veículos pelo tucano entra na conta, mas será que, culturalmente, muita coisa não mudou também, principalmente em São Paulo? Passamos a aceitar todo tipo de proibicionismo, alguns até com sentido, outros desprovidos de qualquer senso de justiça ou respeito como a rampa anti-mendigo, sem questionar? Em suma, a maioria ou muitos de nós pensa hoje como Maluf pensava em 1995 em relação ao proibicionismo?

O grande feito de Gilberto Kassab na capital paulista foi a Lei Cidade Limpa, uma série de restrições à publicidade de rua, atingindo também praticamente todos os estabelecimentos comerciais em São Paulo. Também empreendeu sua sanha de proibições contra camelôs, artistas de rua, venda de cachorros quentes, distribuição de sopão, bares (esta ele deve a José Serra, que aumentou a repressão aos botecos), incluindo uma tal Lei Seca na Virada Cultural etc etc etc. Seguiu a linha do seu antecessor, representando também o antigo Jânio e, sobretudo, Maluf, que redescobriu o poder eleitoral do ato de "cercar" os cidadãos e impor. Está tudo lá, na entrevista do Roda Viva (vale ler) de 1995. 

Foi Maluf que fez?
Paulo Maluf encarnou o espírito conservador que repousa em parte da sociedade de São Paulo. Bebeu da fonte de Jânio, o reinventou, e foi vanguardista nas ações proibicionistas que conquistariam as mentes de Serra e Kassab. Hoje, dado como morto politicamente, vê um pupilo seu, Celso Russomanno, fazer uma campanha de cunho semelhante às suas, vertendo reacionarismo, liderando as pesquisas. Vê Serra desfilar obras (que o tucano começou, que pegou no meio, que concluiu, que são de Alckmin, de Kassab, mas que, na propaganda são suas, todas...) e vestir o manto antipetista e conservador com todo gosto, como o próprio Maluf fazia nos seus melhores momentos. Ainda tripudiou do petismo, seu inimigo de sempre na cidade, ao exigir a foto mais polêmica da política dos últimos tempos. Não concorre a cargo nenhum, mas seu ideário está mais presente do que nunca.

Alguém tem dúvida de que Maluf é um vencedor?