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segunda-feira, abril 28, 2014

O motivo para João Paulo II ser canonizado

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Em 1984, o Papa polonês realizou seu maior feito: uniu, em Roma, os sãopaulinos - e desafetos - Marco Aurélio Cunha e Juvenal Juvêncio (à direita). MILAGRE!!!


terça-feira, dezembro 17, 2013

'No céu não tem jogo nem bebida'

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Na TV, Tarcísio Meira atuou como o Capitão
Hoje, 17 de dezembro, o escritor gaúcho Érico Veríssimo estaria completando 108 anos. Em outros posts (como aqui e também aqui), já destaquei trechos de seus livros, mas gostaria de homenageá-lo com uma das passagens mais brilhantes de sua literatura - uma aula sobre política, religião, hipocrisia e falso moralismo em forma de diálogos esparsos entre os personagens Capitão Rodrigo e Padre Lara, na saga "O Tempo e o Vento". Li isso quando tinha uns 14 anos e, pelos anos seguintes, reli muitas vezes. 'Buenas e me espalho', vamos direto ao que interessa:

"- Capitão...
Rodrigo voltou os olhos para o padre.
- Vosmecê é um soldado, não é?
- E vosmecê é um padre...
- Espere, estou falando sério. Como militar vosmecê sabe que num batalhão tem de haver disciplina, o soldado tem de obedecer ao seu superior.
- Naturalmente.
- Desde que o mundo é mundo sempre houve os que mandam e os que obedecem, um servo e um senhor. O mais moço obedece ao mais velho...
- Isso depende...
- Deixe-me terminar. O filho obedece ao pai, a mulher obedece ao marido. Se as coisas não fossem assim o mundo seria uma desordem...
- Mas quem foi que lhe disse que o mundo  não é uma desordem?
(...)
- Capitão, vosmecê não é religioso?
- Não. Religião nunca me fez falta.
- Há pessoas que só se lembram da Virgem quando troveja.
- Quando troveja me lembro do meu poncho.
(...)
- Vosmecê já pensou no que lhe pode acontecer depois da morte?
- Não.
- Não tem medo de ir para o inferno?
Rodrigo cruzou as pernas, atirou o busto para trás e recostou-se contra a porta da capela.
- Padre, ouvi dizer que no céu não tem jogo nem bebida nem carreiras nem baile nem mulher. Se é assim, prefiro ir pro inferno. Além disso, as tais pessoas que todo mundo diz que vão pro céu por serem direitas e sem pecado são a gente mais aborrecida que tenho encontrado em toda a minha vida. Tenho conhecido muito patife simpático, muito pecador bom companheiro. Se eles vão para o inferno, é para lá mesmo que eu quero ir.
(...)
- Mas vosmecê nunca pensa em Deus?
- Uma vez que outra.
- Não reconhece que Ele fez o mundo e todas as pessoas que há no mundo?
- Se Deus fez o mundo e as pessoas, Ele já nos largou, arrependido.
- Não diga tamanho absurdo! Se Ele tivesse largado, tudo andava de pernas para o ar.
- E não anda?
(...)
- Nunca aprendi nenhuma reza nem me habituei a ir à igreja.
- Mas ainda tem tempo. Nunca é tarde, meu filho.
- Qual! Há certas coisas que a gente ou aprende quando é menino ou nunca mais. Mas, pra lê ser franco, não tenho sentido falta de igreja nem de reza nem de santo.
- Nem na hora do perigo?
- Pois na hora do perigo mesmo é que não penso nessas coisas.
- Paciência. Pode ser que um dia vosmecê mude. Deus é grande.
- E o mato é maior, padre. É o que esses caboclos aprendem na luta dura desde pequeninos. Não podem confiar em Deus e ficar parados. Quem fizer isso acaba degolado ou furado de bala. Às vezes o melhor recurso é ganhar o mato. A gente não pode estranhar que essa gente pense assim. Foi a vida que ensinou...
- Deus escreve direito por linhas tortas.
Rodrigo abriu a boca num bocejo cantado e depois disse:
- Mas o diabo é que ninguém sabe ler o que Ele escreve.
(...)
Rodrigo apanhou um seixo, fez pontaria numa árvore e arremessou-o, errando o alvo.
- Se eu fosse dono do mundo, fazia algumas mudanças...
- Por exemplo... - pediu o padre.
- Acabava com essa história de trabalhar...
- Sim, e depois?
- Fazia os filhos virem ao mundo de outro jeito. Eu vi o que a Bibiana sofreu. É medonho.
O vigário sorria. Aquelas palavras, partidas dum egoísta, não deixavam de ter seu valor.
- E depois?
- Dividia essas grandes sesmarias de homens como o coronel Amaral.
- Dividia? Como? Pra quê?
- Dividia e dava um pedaço pra cada peão, pra cada índio, pra cada negro.
- Não vá me dizer que ia libertar os escravos...
- E por que não? Acabava com a escravatura imediatamente.
(...)
- Ah! Eu ia m'esquecendo. Pra principiar, fazia o mundo mais pequeno, pra gente poder atravessar todo ele a cavalo, sem levar muito tempo.
- E como é que vosmecê ia se arranjar, indo dum país pra outro sem conhecer outra língua senão a sua?
- Eu acabava com esse negócio de línguas diferentes... Rodrigo fez uma pausa e ficou pensativo.
- Que mais?
- Acabava também com a velhice.
- Acabava?
- Quero dizer, ninguém envelhecia mais...
- Nem morria?
- Morrer... morria. Mas se morria era de desastre, nos duelos, nas guerras.
(...)
Rodrigo desabotoou a camisa e puxou-a para fora das bombachas. Sentia calor. Não havia a menor viração na noite cálida.
- Conheci muitos padres por esse mundo velho que tenho corrido. Eles nunca estão contra o governo.
- A Igreja não é revolucionária - exclamou o vigário. - A Igreja não é lugar de conspirações. Ela representa o poder espiritual, que está acima, muito acima do temporal.
- Não me venha com essas palavras difíceis, padre, que eu não entendo. Fale claro. Temporal pra mim é mau tempo. Mas, falando sério, amigo Lara, cá pra nós, no maior segredo, vosmecês nunca se arriscam a ir contra o governo, não é mesmo?
O padre rosnou alguma coisa ininteligível. Depois sua voz se fez clara e ele murmurou:
- Não é a Igreja que está com o governo. É o governo que está com a Igreja.
- Aha! - e a gargalhada de Rodrigo encheu aquele pedaço da noite que parecia envolver a casa. - Quando nós brigamos com os castelhanos, nossas bandeiras e nossas espadas eram benzidas aqui pelos padres católicos. E os padres católicos lá da Banda Oriental faziam o mesmo com as bandeiras e as espadas dos castelhanos. Como é que se explica isso?
- Isso prova que a Igreja Católica é universal. Está acima das paixões e dos interesses dos homens, que são todos iguais perante Deus.
- Iguais? Até os negros?
O padre teve um levíssimo instante de hesitação - não porque considerasse os negros animais, mas porque lhe passou pela cabeça uma dúvida quanto à maneira como o outro podia usar sua resposta.
- Até os negros, claro.
- Então por que é que vosmecê nunca protestou contra a escravatura?
O padre mexeu-se, tomado de mal-estar. Nessas ocasiões ele sentia mais agudamente que nunca aquele fogo no peito.
- Os escravos nesta província são muito mais bem tratados que em qualquer outra parte do Brasil! Eu queria que vosmecê visse como os senhores de engenho tratam os negros lá no Norte.
- Eu sei, mas vosmecê não respondeu à minha pergunta... Será que Deus não fez os homens iguais?
- Mas tem de haver categorias para haver ordem e respeito. - Usou uma palavra grande para esmagar o outro. - Tem de haver hierarquia. No fim de contas esse foi o mundo que nós encontramos ao nascer, capitão. Não podemos mudar tudo de repente.
Ia acrescentar: 'Um dia essas mudanças hão de fazer-se'. Mas achou melhor calar-se. As paredes tinham ouvidos."

quarta-feira, julho 31, 2013

Não é futebol, não é política, não é cachaça...

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...e juro POR DEUS que não fui eu:


quinta-feira, junho 06, 2013

Celibato e o Estatuto do Nascituro. É (também) disso que se trata

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O Estatuto do Nascituro é uma aberração. Muitos textos por aí já provaram isso por A+B, então não vou discorrer sobre os detalhes do projeto em si É tão descabido que, se aprovado, deverá ter muitos e muitos artigos considerados inconstitucionais. Não que algo que eventualmente restar não seja prejudicial à sociedade, claro que será, mas não acredito que impedir o tratamento de uma mulher com câncer seja constitucional.

Alguns textos. São só alguns exemplos, certamente há outros excelentes por aí.

"Bolsa-estupro: o crime patrocinado", de Letícia F., do blog Cem Homens
"Estatuto do Nascituro: a mulher que se foda", de Clara Averbuck
"Estatuto do Nascituro: mulheres são apenas um vaso de planta", do Leonardo Sakamoto
"O Estatuto do Nascituro e o terror", da antropóloga Debora Diniz

O que quero nesse meu pitaco é tentar chegar à essência da ideia de obrigar uma mulher a carregar um filho que não deseja, seja porque ele morrerá ao nascer, seja porque ela foi estuprada, seja porque a continuação da gravidez irá matá-la (e, curiosamente, matar o bebê, já mais desenvolvido e capaz de sofrer, junto).
Essa essência certamente não é pro-vida. Não é a favor da vida da mãe, nem à vida dessa criança depois que ela nasce. É claro que não. Eles intitulam-se "pró-vida" mas não é esse o cerne de sua ideologia.

Na verdade, um dos pilares que sustentam o PL 478/2007 é a ideia de que Deus deve decidir quem vive e quem morre. Oras, para isso a resposta é fácil: deixe de usar antibióticos, não vá para o hospital em caso de AVC nem realize exames de check up. Assim Deus estará decidindo sobre a vida de todos.


Ah, não, aí não. Aí devemos usar todos os recursos disponíveis para manter uma vida. Aliás, na hora de permitir que uma pessoa morra com decência, eles não deixam. A pessoa é obrigada a ficar ligada a aparelhos mesmo se não quiser. Vamos tomar um lado aí, pessoal! Ou Deus quer ou não quer decidir livremente quem morre. Se não pode salvar a vida de uma mulher com um embrião na barriga, também não pode reanimar depois de um ataque cardíaco.

Mas vamos deixar essa contradição aí e avançar um pouco. Quer dizer, retroceder. No parágrafo acima, eu argumento em cima do discurso deles, de que Deus existe e não apenas planeja o Universo de maneira macro – as leis da física, os elementos que constituem a matérias, essas coisas – como tem capacidade para cuidar da vida e da morte de 7 bilhões de pessoas. Bom, eles acreditem no que quiserem, claro, mas é bom lembrar que eu não acredito, e muita gente não acredita, e que impor uma lei baseada nas crenças de um grupo, por majoritário que ele seja, é antidemocrático.

"Ah, mas somos maioria". Pode ser, mas como a democracia não é a ditadura da maioria, isso não importa. Estude só um pouquinho sobre o que constitui democracia, por favor. A propósito, há muitas pessoas que acreditam em Deus e que não partilham do tipo de crença ou “linha filosófica” adotada pelos “inspiradores” do Estatuto.

Bom, até agora assumi que o aborto seria realizado por absoluta necessidade, mesmo que o embrião tenha sido concebido dentro das leis de Deus (de novo, só pra ficar dentro do argumento deles). Mesmo essa gravidez honrada e pura pode ser punida. Mas fica pior.Também será punida a vítima de estupro que não quiser manter uma gravidez resultante da violência, obrigada a gerar um filho que não quer. Isso mesmo se a vítima for para todos os efeitos uma criança. Nesse caso, ela poderá ser punida com a morte também, já que seus corpos não estão preparados para uma gravidez. Guardemos esse fato também.

Agora, uma palavra sobre o aborto de maneira geral, aquele que é permitido em muitos países e possibilita que a mulher escolha não levar adiante uma gravidez indesejada. Essa discussão, que pareceu um dia que ia avançar, está no limbo. Acho até que quem leva à frente o Estatuto do Nascituro deve saber que ele não pode ser aplicado, que é inconstitucional, que haverá protestos. Não me parece descabida a ideia de que o PL é, na verdade, um subterfúgio para atrasar as discussões sobre a descriminalização do aborto. Por que, né?, basta um avancinho na área de direitos reprodutivos da mulher, mesmo que seja retórico apenas, pra esse pessoal "pró-vida" (todas as aspas aqui) reagir com virulência.

Mas então. Por que, pra esse pessoal, não pode ter aborto por vontade da mulher? Bom, porque quem faz sexo tem que arcar com as consequências de seus atos. O discurso é de que, se a pessoa não quer filhos, deve usar métodos contraceptivos. Só que, estatisticamente, os métodos falham. Pílulas falham, os números que encontrei variam de 1% a 6% de falha. Camisinha falha ainda mais, entre 10% a 20%. Vasectomia e laqueadura também falham! Tudo isso é dado conhecido. A mulher usa dois métodos contraceptivos e ainda assim há uma possibilidade de gravidez. Em termos populacionais, esses casos não podem deixar de ser considerados. Pessoas ficam grávidas sem querer. E esses números aparecem em sites "pró-vida" também, vejam só, ou seja, os parlamentares sabem disso.

Então não, não dá pra achar que as pessoas vão evitar gravidez com 100% de certeza. E daí? Daí que o PL não pune apenas a irresponsabilidade. Ele pune pura e simplesmente o sexo.

Todo sexo será castigado


Não sei em que mundo esse pessoal vive. Enquanto deveria haver dentro das igrejas uma discussão profunda sobre a sexualidade (os padres pedófilos e pastores estupradores não me deixam mentir), eles querem impor sua filosofia celibatária para toda a sociedade! Vou falar de novo: o celibato não funciona nem dentro das igrejas que o pregam, que são instituições para onde as pessoas vão por livre e espontânea vontade (estou falando dos sacerdotes aqui, não dos fiéis), sabendo que não poderão fazer sexo ou que só o farão para fins reprodutivos. Esses caras escolhem viver assim, e muitos não conseguem. Por que acham que a sociedade de uma maneira geral conseguiria fazer sexo apenas para reprodução?

Porque no fim é isso: trata-se da punição do sexo. Pior, a punição do sexo até quando ele não é consentido.  E, pelamor, é punição até quando o sexo eventualmente segue os preceitos que eles acham corretos, mas que resultem numa gravidez de feto anencéfalo. Ou ainda que a mulher descubra-se doente e não possa se tratar. Aí a criança pode morrer, mas só se a mãe for junto.

Bom, punição para a mulher, né? Para o homem não muda pica nenhuma. Então é o controle total sobre o corpo feminino, mas nada muda para o homem. Ou será que o pai deverá ser proibido de tratar uma doença durante a gravidez?

Não tenho palavras para descrever a crueldade disso. Falta vocabulário.

Por último, um comentário sobre o começo da vida. Meus queridos religiosos: podemos discutir isso até o fim dos tempos. Nunca haverá consenso. Jamais. Então ficamos assim. Vocês seguem o que acreditem. Se as mulheres religiosas não quiserem abortar, não abortem! Deixe que as discussões laicas decidam os direitos reprodutivos das mulheres que não pensam assim. Juro, não tem ninguém querendo passe livre para abortar aos 8 meses de gestação. O limite de 12 semanas é usado largamente em todo o mundo, há motivos para isso. Ah, o medo é de uma epidemia de aborto? Desconheço. Aliás, os dados do Uruguai mostram que o número de abortos diminuiu depois da descriminalização da prática.

Resumindo: esses parlamentares não se importam com a vida dessas mulheres, que em muitos casos estará completamente arruinada por conta da imposição de manter a gravidez. As crianças, então, que se danem. Logo depois de nascerem poderão passar fome à vontade. Ouvirão várias críticas às ajudas governamentais das quais estão usufruindo porque o próprio Estado as obrigou a vir ao mundo. Se eventualmente vierem a cometer crimes, essas crianças e jovens enfrentarão a ameaça da diminuição da maioridade penal.

Eu queria saber, mesmo, o que importa de verdade para esses parlamentares.


Agora, muitos adendos

1 - Está rolando uma petição contra o Estatuto do Nascituro. Sempre duvido da eficácia desse tipo de abaixo-assinado, mas acho que não custa assinar.

2 - Homens, aprendam uma coisa: gravidez é uma merda. Sério, uma merda. Não existe gravidez sem sintoma desagradável, o que existe é mãe que finge para si mesma que eles não existem. Juro que se (que o deus desse pessoal me livre) eu ficasse grávida por conta de um estupro e não pudesse abortar, eu tentaria em casa (ou, privilegiada classe média que sou, iria para o Uruguai ou para Portugal fazê-lo), porque os enjoos, dores e outros problemas só são suportáveis com muita vontade de ter um filho. E eu tenho um.

3 - DUVIDO que muitos pastores não mandem as filhas abortarem em segredo para manter as aparências.

4 - Há igrejas que não pregam o sexo apenas como meio de reprodução. Quando menciono "pastores" de maneira genérica, estou falando desses que acham que sexo é sujo.

5 - Tem o retrocesso científico também, sobre isso, ler aqui.

6 - O último argumento desse pessoal pró-vida é dizer: imagina se sua mãe tivesse te abortado! Juro que não consigo entender esse pensamento. Se minha mãe tivesse me abortado eu não existiria e pronto. Qual o problema? Antes de existir eu não existia e tava tudo bem com o mundo. Que vaidade é essa de achar que não nascer é uma tragédia?

quarta-feira, abril 10, 2013

Jesus Cristo na visão de Marco Feliciano

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(Via Thiago Balbi)

sexta-feira, novembro 09, 2012

Eleições 2012: Luta por respeito a diversidade ganha espaço em SP

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Faz mais de dez dias que São Paulo elegeu Fernando Haddad (PT) prefeito e, para muitos, antecipou a aposentadoria política de José Serra, nome maior do PSDB. Fatos nada corriqueiros, que merecem visita mais demorada – ainda que atrasada – destes ébrios escribas. Este manguaça em particular teve uma pequena mas muito cansativa participação na campanha de Haddad, que ainda precisa de uma melhor elaboração. Assim, após algumas noites de sono, soltarei alguns textos sobre o processo eleitoral aqui e no país.


Russomanno e Serra no segundo turno

O primeiro turno permitiu a este esquerdinha que recém transferiu seu título para São Paulo vislumbrar a possibilidade de ter de escolher entre Russo e Serra: um embate entre Globo e Record, Edir Macedo e Silas Malafaia, o higienismo do Kassab e a proposta de triplicar o efetivo da GCM do candidato do PRB. De minha parte, a opção talvez fosse fugir para as colinas. Pequena tragédia, evitada nas urnas na última semana, com o derretimento de Russomanno.

Não foi o primeiro derretimento da campanha, que viu Serra sair de 30% para 18% nas pesquisas, enquanto Russo crescia e se consolidava na liderança, atingindo 35% e lá ficando mesmo com as sucessivas e cada vez mais violentas porradas vindas de todo lado. Enquanto isso, Haddad patinou primeiro em 3%, depois em 8%, até estacionar em 15%, onde ficou até a última pesquisa Ibope, que trouxe a surreal situação de um triplo empate na liderança, todos com 22%.

A queda de Russomanno na reta final se deve principalmente a dois fatores. No campo partidário, o PT aproveitou-se da clara inconsistência do projeto do adversário e foi pra cima da proposta elitista da tarifa de ônibus proporcional ao percurso percorrido, que escancarou o conceito de “justiça” do candidato, similar ao de Serra, figura absolutamente detestada na periferia paulistana.

O outro ponto é mais interessante, e passa pela luta religiosa que desde 2010 tem aparecido nos processos eleitorais. Dessa vez, no entanto, o obscurantismo encontrou uma reação nova na sociedade, que pode apontar dias melhores para quem prefere uma sociedade que respeite sua diversidade.

Obscurantismo

Russomanno e Serra protagonizaram durante toda a campanha uma disputa pelo apoio de igrejas evangélicas variadas. Valdemiro Santiago, bispa Sônia e outras lideranças religiosas foram tão ou mais disputados do que os partidos. Já de fábrica, Russomanno trazia o apoio da Universal de Edir Macedo, carnalmente ligada ao seu PRB - o candidato passou toda a campanha a minimizar tal ligação com a IURD, religião professada que reúne apenas 6% do partido, segundo ele, deixando de lado que estes controlam 80% dos cargos diretivos. Serra trouxe de 2010 a simpatia da parcela mais conservadora da Igreja Católica - ainda que dividida com o carola Gabriel Chalita.

O ataque froontal veio dos católicos. O cardeal-arcebispo dom Odilo Scherer divulgou texto acusando o coordenador da campanha do PRB e bispo da Universal, MarcosPereira, de "fomentar a discórdia" e ofender os católicos por conta de uma postagem no blog do político de 2011 em que ele afirma que os católicos tiveram ligação com o projeto Escola Sem Homofobia, mais especificamente com um conjunto de materiais que seria distribuído a professores e que passou a ser tratado pejorativamente como “kit-gay” pelos opositores. Desenvolvido pelo MEC na gestão Haddad, o kit que visava combater o bullying homofóbico nas escolas foi engavetado por Dilma após pressões da bancada evangélica – episódio que frustrou o movimento LGBT e levou parte de seus militantes para a oposição.

O tema esteve presente em toda a campanha como fonte de ataques contra Haddad nos bastidores, especialmente nas redes sociais. Mas este foi o primeiro momento em que alcançou o centro da discussão. O obscuratismo mostrava sua força.

O ataque foi sentido por Russomanno que teve mais um lance religioso envolvido em sua derrocado. Seu padrinho não assumido, Edir Macedo, resolveu explicitar sua posição com dois textos de apoio a Russomanno com críticas homofóbicas a Haddad. O apoio pode ter saído pela culatra, aumentando a rejeição candidato entre católicos e evangélicos de utras denominações. Mas a reação mais interessante veio do outro lado dessa disputa e ajudou a arejar o ambiente.


Grupos de ativistas virtuais e de luta pelos direitos humanos, dentre os quais destaca-se o coletivo Fora do Eixo, viram em Russomanno a imagem do preconceito, da homofobia, do machismo, da tomada do Estado por grupos religiosos. Foram vários dias de tuitaços #AmorSIMRussomannoNÃO, que culminaram com um festival de mesmo nome que reuniu milhares de pessoas na Praça Rossevelt, recém-reformada por Kassab.

Se a ofensiva do PT buscou principalmente os votos tradicionais do partido nas periferias, que estavam com Russomanno, a mobilização do “amor” elevou a rejeição ao candidato no centro expandido. Foi uma mobilização importante por afirmar o desejo de uma parcela expressiva da classe média por uma cidade mais humana, mais inclusiva, com mais respeito à diversidade.

Amor e Malafaia não combinam

No segundo turno, o mesmo grupo articulou um novo festival chamado “Exite Amor em SP”, com apresentações militantes e gratuitas de Criolo, Gaby Amaranthos, Karina Buhr e outros. Este não assumiu uma posição partidária – contra ou a favor – mas reafirmou a mobilização por uma cidade que vai contra as práticas higienistas das gestões Serra e Kassab – autores de algumas “pérolas do design fascista”, na bela definição de um amigo.

O alvo ficou mais claro quando Serra, como em 2010, buscou apoio no conservadorismo religioso. O símbolo desta vez foi a vinda a São Paulo do pastor carioca Silas Malafaia, um dos nomes mais destacados da homofobia nacional. A presença do tele-evangelista da Assembleia de Deus trouxe para o centro do debate o tal do "kit-gay".

A hipocrisia de Serra foi desmascarada por matéria de Mônica Bergamo, que revelou a existência de um programa semelhante aplicado pelo governo de São Paulo na gestão Serra, inclusive elaborado pela mesma ONG. Curiosidade: também foi Bergamo que deu destaque à ex-aluna de Monica Serra que denunciara o suposto aborto feito pela sempre-futura-primeira-dama no Chile. O reacionarismo e a hipocrisia custara a Serra o recorde de 52% de rejeição registrado pelo Datafolha, só superado por Paulo Maluf e Fernando Collor em toda a história registrada pelo instituto.

Não existe vácuo em política

Frente a tudo isso, Haddad manteve uma postura correta. Defendeu sempre o Estado laico, que respeite todas as religiões, e a valorização da diversidade de São Paulo, seu ativo mais importante. Em seu discurso na avenida Paulista, na festa da vitória, fez questão de citar negros, mulheres e população LGBT e defender novamente a igualdade e a diversidade. Também foi a uma missa ou outra ao lado de Gabriel Chalita, mas não recuou publicamente como fez Dilma em 2010 na questão do aborto. Naquela ocasião, a avaliação feita por estes manguaças (obviamente no fórum adequado) foi que, não importando quem levasse a eleição, a pauta da descriminalização do aborto retrocederia.

Em 2012, a esquerda não teve que fazer uma mesura tão grande aos reacionários, que tropeçaram nas próprias pernas. O abraço do decadente Serra ao caricato Malafaia resultou num tombo feio, ajudado pelo empurrão do “movimento do Amor”. Dessa vez, a eleição pode ter ajudado a abrir espaço para temas ligados a diversidade em São Paulo. Cabe aos movimentos ocupá-lo e pressionar por avanços. Porque se não o fizerem, alguém o fará.

quarta-feira, outubro 03, 2012

A Bíblia e o incentivo à cultura, segundo José Serra

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"Os evangélicos têm um papel importante, no Brasil, na leitura porque todos os seus fiéis leem a Bíblia. É uma atividade editorial muito intensa, Isso fomenta a leitura, aumenta a cultura e o preparo da população. Esse é um aspecto em geral pouco citado, mas eu valorizo bastante"

(José Serra, via @ALuizCosta, extraído de artigo de Raymundo Costa para o Valor)

quinta-feira, junho 02, 2011

O futebol filosófico e bíblico

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Alemanha x Grécia:



Coríntios x Apocalipse:

quinta-feira, maio 19, 2011

Brasileirão do fim do mundo: futebol e arrebatamento

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É dia 21 de maio de 2011. Dois eventos da maior importância estão agendados e mudam muita coisa.

De um lado, começa o Campeonato Brasileiro de Futebol. Vencida no ano passado pelo Fluminense, a competição repete a fórmula em que 20 clubes na série A brigam pela taça. Papada pelo Coritiba, o implacável, a disputa dá um bis com outros 20 times na série B almejando a ascensão. Na primeirona, batalha-se por três ou quatro vagas na Libertadores, a depender de quem for bem na Copa Sul-Americana, e foge-se de quatro postos de queda. Na segundona, ambicionam-se quatro cadeiras no ascensor. É a competição mais longa da temporada para todos os times envolvidos. O ano não será o mesmo para os apreciadores do ludopédio.

Foto: ChristReturns2011/Wikipedia

O mesmo dia marca o Arrebatamento, também conhecido como Dia do Julgamento, Juízo Final, a volta do Messias, Fim do Mundo como Nós o Conhecemos, entre outros. Segundo uma organização cristã, que opera fora e independentemente de igrejas, o dia 21 de maio está apontado por cálculos baseados na Bíblia. Consideram-se 7 mil anos depois do dilúvio – aquele protagonizado por Noé e sua arca nos idos de 4.900 a.C., lembra? – para vaticinar que o mundo começa a acabar por agora. O mundo não será o mesmo para ninguém. A versão é de Harold Camping (foto), da Family Radio de Oakland, Califórnia – que alimenta a esperança de Deus apaziguar sua ira e perdoar mais gente do que o previsto, embora a "Bíblia Sagrada, lamentavelmente, nos revelar que somente uma pequena porcentagem atual de pessoas se arrependerá".

Tem gente que não vai pensar em outra coisa depois que começar a rolar a bola.

Outras pessoas nem tem ido mais trabalhar até ter certeza do que vai acontecer.

O Brasileirão será transmitido pela Rede Globo inclusive em 2012, embora o leilão dos direitos de transmissão realizado pelo Clube dos 13 tenha sido vencido pela Rede TV! em março. Para este ano, o contrato anterior já valia e continuou tudo dominado para o ano que vem. Não foi desta vez que a turbulência deu resultado para mudar alguma coisa no cenário de quem transmite os jogos.

Já o arrebatamento deve ocupar as telas de TV de todo o mundo. Ao que consta, não há direitos de transmissão negociados até o momento. Os eventos de 21 de maio coincidem com o fim da "grande tribulação", caracterizada pela ausência de Deus, Ele mesmo, nas igrejas pelo mundo (alguém vai dizer que percebeu a diferença no longínquo 1988?). Segundo alguns, o dia marca a decisão do Todo-Poderoso de fechar a porta de entrada no céu.

Foto: Divulgação Fluminense/Lancenet
A bola do Brasileirão

Mas há controvérsias. No último ano, depois de muito tempo, aumentaram as vozes manifestadamente contrárias à fórmula dos pontos corridos. Foi nessa onda que andou o que parecia ser uma rebelião contra a emissora de TV mais poderosa do país, que terminou por se mostrar pouco mais do que um biquinho.

O fato é que cara feia não vai resolver na fila de espera para tentar uma vaguinha no Céu. É difícil crer que a equipe da portaria paradisíaca vai ser tão eficiente a ponto de evitar longos períodos de aguardo. E essa possibilidade ganha força em uma versão divergente sobre o arrebatamento que consta em um panfleto que recebi há dois anos, enquanto caminhava (sóbrio) pelas ruas do centro de São Paulo, guardada com afinco desde então.

São 19 jogos no primeiro turno e 19 no segundo (tabela oficial aqui). Para valer mesmo, a coisa só começa a pegar lá por agosto, na segunda metade. E, na última rodada de cada turno, vai ter clássicos regionais em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Florianópolis e Porto Alegre, para evitar corpo mole para prejudicar rivais – a turma teria é que suar para prejudicar os rivais locais.

A coisa só pegaria, em termos de fim dos tempos, bem depois também, segundo registra a filipeta citada. O "fim do mundo" mesmo, o fim dos tempos-arte, o ponto final-moleque, viria apenas em cinco meses, em 21 de outubro. A tese é que este sábado marca o início daquilo que pode ser entendido como uma grande "triagem" (termos meus) para ver quem vai e quem fica para o paraíso e para o inferno. Um monte de mortos levantariam para encarar o processo seletivo, que tem tudo para ser demoradíssimo. Com isso, por mais onipotente que sejam as forças celestes (não confundir com a força da Celeste), tudo acabaria apenas depois – cinco meses de espera com altas chances de terminar no inferno é muito, mas muito pior do que fila de cerveja sem álcool em estádio de futebol.

É bem verdade que o primeiro semestre acabou precocemente para vários dos times considerados grandes. Corinthians, Fluminense, Cruzeiro, Internacional-RS e Grêmio foram desclassificados nas oitavas de final ou antes da Libertadores da América. Palmeiras e Flamengo caíram nas quartas da Copa do Brasil. Tudo bem, tudo bem, não foi nenhum fim do mundo. O pessoal se tocou que é preciso jogar bola para as camisas continuarem a ter peso, mas é só colocar a cabeça no lugar e analisar onde o planejamento da temporada estava errado.

Foto: Divulgação
Equívoco mesmo teriam cometido os maias, caso o fim do mundo venha este ano mesmo. Aquela história de que o calendário daquele povo pré-colombiano estaria calculado apenas até 2012, o que motivou até filme (foto) e muita superstição de que tudo se acabaria no ano que vem. E isso previsto por um tipo de "Nostradamus selvagem", puro e livre de contaminações sei lá de que ordem. Bom, vai ver que eles perceberam que a data era 2011, mas algum astrólogo ponderou junto a seu aprendiz (estagiário da época): "Vamos esticar mais uns meses, porque você deve ter errado nas contas".

Esperar por sete ou por cinco meses. Para conhecer o próximo clube a levantar o caneco do brasileiro, ou onde você vai passar a eternidade. Alguém pode dizer que tem muito jogo do campeonato nacional que é quase o inferno na terra. Mas esperemos. Quem viver, verá.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Propaganda de associação de ateus é barrada em Porto Alegre e Salvador

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Estava programada para se iniciar hoje, em Porto Alegre e Salvador, a divulgação de uma campanha em ônibus com mensagens sobre ateísmo. São quatro peças diferentes, retratadas acima, que não puderam circular nos 15 veículos contratados nas duas cidades já que a iniciativa, promovida pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), foi barrada.

Na capital baiana, a empresa responsável pela veiculação entrou em contato com a Associação informando que não iria tocar a campanha por temer a ação do Estado e dos empresários de ônibus. Já em Porto Alegre, a Agência de Transportes Públicos vetou a divulgação argumentando que a mesma infringe uma lei municipal que veta temas religiosos na publicidade de coletivos.

A Atea, em sua página eletrônica, explica o que pretende com as quatro mensagens. "Nossos objetivos são conseguir um espaço na sociedade que seja proporcional aos nossos números, diminuindo o enorme preconceito que existe contra ateus, e caminhar rumo à igualdade plena entre ateus e teístas, que só existe quando o Estado é verdadeiramente laico - o que está muito, muito longe de acontecer." Para os defensores e pseudo-defensores da liberadade de expressão, está aí uma boa pauta.

sexta-feira, julho 16, 2010

Votar no PT é pecado

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Houve um tempo em que políticos da direita acusavam padres de fazer propaganda em prol de candidatos petistas. O partido, nascido com muitos participantes das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), tinha simpatia do literal baixo clero e também de alguns bispos que conjugavam de ideais semelhantes aos da agremiação.

De lá pra cá, o PT mudou, mas a Igreja, sob a batuta do célebre João Paulo II, promoveu um processo de "direitização" na América Latina que sufocou, por exemplo, a Teologia da Libertação. Talvez reflexo dessa nova realidade, hoje o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, de Anápolis, se sente à vontade para publicar na internet uma página que tem o seguinte título: Posso votar no PT?

Por meio de um didático texto de perguntas e respostas feitas por ele mesmo, a "orientação" expressa e dita com todas as letras é: "Se o cristão vota no PT consciente de tudo quanto foi dito acima, comete pecado grave, porque coopera conscientemente com um pecado grave." O pecado grave em questão é o apoio à descriminalização do aborto.

Mas há políticos de outros partidos e também não filiados a quaisquer agremiações que são favoráveis ao aborto, correto? Sim, e na pergunta 7 o religioso trata do tema: "Mas eu conheço abortistas que pertencem a outros partidos, como o PSDB, o PMDB, o DEM...". E a resposta: "Os políticos que pertencem a esses partidos podem ser abortistas por opção própria, mas não por obrigação partidária. Ao contrário, todo político filiado ao PT está comprometido com o aborto". E emenda que "é dever do político pró-vida desfiliar-se do PT, após ter verificado o engano cometido."

O padre não está sozinho em sua cruzada moral. O site Aborto Não PT Não  lista uma série de notícias relacionadas ao agrupamento de Lula e o aborto. E ressalta, para deixar claro o quão maligno é o partido, que "a defesa do aborto não é o único mal do PT".

Entre o material de divulgação do site está um banner Aborto Não Dilma Não. É bom lembrar que no programa Roda Viva a petista não foi além da defesa da atual legislação sobre o tema, que permite o aborto em caso de risco de vida da mãe ou estupro, para desconforto de feministas que gostariam de um compromisso mais firme de Dilma em favor da descriminalização. “Temos uma legislação no Brasil sobre essa questão e sou a favor de mantê-la. O que acho é que mulheres enquadradas naquela situação têm direito de fazer na rede pública, e se tem de tornar isso acessível. Senão fica a seguinte situação: mulheres ricas têm acesso a clínicas, mulheres pobres usam a agulha de tricô”, disse ela na ocasião.

Ao que parece, o PT precisa ser um pouco mais incisivo no tema para fazer jus a toda satanização promovida pelos religiosos...

quarta-feira, maio 12, 2010

Beber, cair e... rezar?

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Do lateral-direito Cicinho, no Lance!, relembrando os tempos de sua transferência do Botafogo-SP para o Atlético-MG, em 2001:

- Eu morava em Ribeirão Preto, terra do Pinguim (choperia), mas não conseguia ir porque não ganhava nada, né, parceiro?! Quando vi que tinha Pinguim em Belo Horizonte, não tinha como não frequentar.

Mas as tentações da capital mineira levaram o jogador a passar dos limites:

- Vi que beber daquele jeito, até tarde, não fazia bem a mim. Jogava três quilos acima do peso, mal conseguia treinar. Então o Lúcio Flávio (meia do Botafogo-RJ) me levou para a igreja. Comecei a orar mais.

Ps.: Cicinho estreou pelo Atlético-MG num clássico contra o Cruzeiro, em março de 2001, jogando de meia e marcando o gol do empate por 1 a 1.

quarta-feira, dezembro 30, 2009

O lado bom das coisas ruins

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Comemorando o Natal no buteco, o amigo Alexandre "Cherno" Silva me saiu com essa:

- As três melhores coisas da religião católica são o pecado, o feriado e o vinho!

segunda-feira, novembro 09, 2009

Caso Uniban, CPI Gay, parlamentares guiam suas decisões através de suas religiões e a vida anda difícil...

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Ventos conservadores balançam o estandarte brasileiro. "Puta-Puta-Puta", ouviu a estudante Geisy Villa Nova Arruda. Pouco tempo depois, assistíamos a sua expulsão pela gloriosa cátedra Uniban, também carinhosamente apelidada de "UniTaleban", pelos blogueiros, internautas e tuiteros, que por sua vez estão infernizando a vida da instituição.

O resultado: na tarde desta segunda-feira, 9, a instituição recuou e revogou a expulsão de Geisy. O assunto é tão surreal que vale a pena ver as cenas do quase linchamento da estudante de turismo e ler a justificativa pitoresca da Uniban, para expulsar a aluna.

Sinceramente, neste caso, pouco me importa se a Uniban é uma fábrica de diploma ou se agora a estudante vai posar nua. O fato é que chegamos ao ponto da sociedade (uma parte, óbvio!) agredir e ser conivente com a barbárie pelo simples motivo do uso de uma minisaia!

É o retrato do cotidiano do país que exclui, criminaliza, marginaliza e agride a diversidade, seja ela qual for. Sem falar do machismo e da intolerância, cultivados com ardor... Enfim, um episódio que dá a dimensão do retrocesso de nossa realidade, e que dá nojo só de imaginar onde podemos chegar...

Mas voltando para o caso Uniban, outro ponto que me chocou é o histórico do “adevogado” da dita instituição, Décio Lencioni Machado, que atribuiu à postura da estudante Geisy Villa Nova Arruda a razão de sua expulsão da universidade. Ele que preside a Comissão de Legislação e Normas do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e é conselheiro da Câmara de Educação Superior.

Criado em 1963, o Conselho tem como objetivo traçar normas para organização do sistema de ensino de todo o estado, incluindo autorização para instalação de universidades públicas estaduais e municipais e são "escolhidos entre pessoas de notório saber e experiência em matéria de educação, observada a devida representação dos diversos graus de ensino e a participação de representantes do ensino público e privado". Para exercer o cargo, o conselheiro é remunerado: recebe gratificação por sessão plenária e de câmaras ou comissões permanentes.

Medo! Só rindo mesmo do ataque de fúria de Hitler sobre a comparação dos nazistas da Uniban e sua gente iluminada... Ou apostar na cobrança do MEC e da ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire.

E piora
E, como se não bastasse a demonstração de preconceito, fúria e machismo dos estudantes da Uniban (e a atitude da própria instituição), a psicóloga evangélica Rozangela Justino, conhecida por oferecer tratamento para curar os homossexuais – e receber censura pública do Conselho Federal de Psicologia (CFP) –, agora dedica seu blogue auxiliar seus irmãos a votarem “NÃO” na enquete que o Senado Federal criou sobre a aprovação do PLC 122/06, que criminaliza a homofobia no Brasil.

Rozangela alega no texto que “infelizmente, não podemos apoiar qualquer Projeto de Lei e nem lei pró-homossexualismo porque tais projetos de leis e leis têm finalidades políticas e econômicas, e na verdade não são para proteger e nem ajudar qualquer pessoa na condição homossexual, muito pelo contrário, é para impedir que sejam ajudadas, inclusive”. Ela ainda propõe criar a "CPI das Passeatas Gays”, “A CPI do Movimento Gay”. Segundo a "psicóloga", "assim, estaremos verificando o porquê do investimento do poder público neste movimento desconstrutor social e dos princípios cristãos, em detrimento de necessidades básicas do povo brasileiro".

E se engana quem acredita que uma manifestação como da "psicóloga" ou dos estudantes e membros da gloriosa academia unibanense não reflete ou são frutos da postura conservadora de nossa política. Na recente pesquisa "Como Parlamentares Pensam os Direitos das Mulheres?", realizada pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), que entrevistou 321 parlamentares, entre deputados e senadores foi constatado que a influência da crença religiosa nas decisões dos parlamentares está cada vez maior.

A maioria (60%) dos parlamentares considerar errado legislar a partir de pontos de vista de crenças pessoais, mas 38% dos legisladores admitem tomar decisões de acordo com os princípios de suas religiões. Mas, nossos parlamentares de tudo não são tão maus... A pesquisa também constatou que o Congresso está mais aberto a reivindicações femininas, especialmente em relação a direitos das mulheres no mercado de trabalho.

Obrigado por nos deixarem trabalhar, apesar do Brasil continuar sendo o país latinoamericano com menos mulheres no Parlamento - 8%.

Brincadeiras a parte, a pesquisa também trouxe um dado interessante sobre o aborto: 57% dos parlamentares defendem, por exemplo, que a legislação permaneça como está, permitindo a prática somente em caso de estupro ou de risco de vida para a mãe. Os demais se dividem em dois grupos: 18% defendem a descriminalização total e 15% são contra a interrupção da gravidez em qualquer caso. Apenas 8% não se posicionaram e 1% admite ampliar a legislação em alguns casos. Resumindo, o árduo trabalho de chamar para a discussão o tema para lá de polêmico não anda sendo em vão.

Mas a vida anda difícil...

terça-feira, outubro 27, 2009

Mês que vem, o jogo do ano

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A terra vai tremer no dia 5 de novembro. Pela primeira vez (salvo engano) na história, a fechada Coreia do Norte receberá uma equipe brasileira de futebol em seu território. Será a chance dos brasileiros encantarem os norte-coreanos com o futebol pentacampeão do mundo e, de quebra, ajudar a seleção local a se preparar para a Copa de 2010, para a qual está classificada.

O time em questão é o Atlético Sorocaba, da segunda divisão paulista, que enfrentará a seleção da Coreia do Norte. Isso mesmo, caros amigos: no mês que vem, teremos o duelo Coreia do Norte x Atlético Sorocaba.

A notícia foi dada hoje pela Trivela, que repercutiu informação da agência sul-coreana Yonhap. Segundo o texto, a novidade foi dada à agência na segunda-feira por um "homem de negócios que ajudou a organizar a partida". A fonte, informa a Yonhap, é presidente da companhia automobilística Pyeonghwa. Tanto Pyeonghwa quanto Atlético Sorocaba têm o mesmo proprietário - Sun Myung Moon (foto), mais conhecido como "Reverendo Moon", o criador-líder-máximo da Igreja da Unificação.

A única ressalva ainda em relação à existência do confronto vem do próprio Atlético Sorocaba. O site do clube não menciona a partida - diz que a equipe faz uma excursão para a Ásia e enfrentará FC Tokyo, em duelo a ser travado no mítico Ajinomoto Stadium (é sério), "uma equipe da China" e o Il Hwa Chunma, da Coreia (o texto não especifica qual das duas). Há uma menção a um quarto jogo "que será definido durante a viagem", mas não se cita a possível partida contra o selecionado norte-coreano.

A torcida do Futepoca e dos amantes do futebol nacional é que o choque entre Coreia do Norte e Atlético Sorocaba se faça real. Será um duelo único entre ocidente e oriente, transformador tal qual, na ficção, foram as disputas entre Ivan Drago e Rocky Balboa e Forrest Gump e os meso-tenistas chineses. E, caso queiramos encarar de outra maneira, podemos ver a peleja como um "jogo da paz", aos moldes que fizeram Irã e EUA na Copa de 1998.

Nas transmissões futebolísticas de competições internacionais, volta e meia os narradores despejam frases como "o Grêmio (por exemplo) é o Brasil na Libertadores!". A sentença é rejeitada por quase que a integridade dos brasileiros. Mas agora, acho que dá pra afirmar sem erro: o Atlético Sorocaba é o Brasil na Coreia do Norte! Vai, Atlético!

quarta-feira, junho 17, 2009

Koogle, o site de buscas do judeu ortodoxo

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Os judeus ortodoxos acharam uma alternativa para acessar a internet e não ferir seus princípios religiosos. Acaba de ser criado o Koogle, uma ferramenta de busca kosher ("pura") idealizada para permitir o acesso à internet, algo não visto com bons olhos por alguns rabinos.

O site tem uma série de restrições para atender aos critérios ortodoxos. Segundo o administrador Yossi Altman, a página eletrônica omite "conteúdo religiosamente questionável" como fotografias de mulheres tidas como indecentes. É bom lembrar que as moças dessa vertente do judaísmo vestem-se com saias e vestidos e nunca usam roupas tidas como masculinas, como calças ou ternos. As casadas cobrem os cabelos com um lenço ou uma peruca. Ou seja, a "indecência" é um conceito bastante abrangente neste caso.

Também são disponibilizados no Koogle links direcionando para sites de notícias israelenses e de compras. No entanto, aí também há restrição. Não é possível fazer compras online durante o sábado judaico, que tem ínicio no pôr-do-sol da sexta-feira e termina depois do pôr-do-sol do sábado. Itens que a maior parte dos israelenses ultra-ortodoxos não pode possuir em suas casas, como aparelhos de televisão, têm seu acesso bloqueado.

Pra quem estranha todas as proibições, saiba que há quem não aceite sequer a existência de computadores. Há dois anos, os "gerrer", seita hassídica (corrente religiosa judaica) lançou uma campanha para proibir o uso de computadores. A justificativa era de que os pobre PCs seriam “o mal disfarçado” e o autêntico “Satã”.

Em Jerusalém, no bairro de Mea Shearim, o ortodoxo Yoel Kreus contava em reportagem receber relatórios de uso ilícito de tecnologia pelos membros da sua comunidade, e confessava: “se nos descobrimos alguém tem um computador em casa, retiramos imediatamente as suas crianças da escola”.

Diante disso, pode-se considerar o Koogle um avanço... Será que o senador Eduardo Azeredo vai tomar a página como inspiração para modular seu AI-5 digital?

sábado, maio 02, 2009

Bebo enquanto espero

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Depois de uma infindável sequência de finais de semana trabalhando, inclusive o feriado do Dia do Trabalho, e perfeitamente convencido de que esse período em nada me dignificou, finalmente tirei um momento para almoçar com a família num restaurante alemão. Resolvi então praticar um pequeno luxo, tomar aquela cervejinha importada de uma vez na vida. Primeiro, uma Erdinger escura, sensacional. Depois, uma cerveja que já tinha visto em alguns lugares, mas que ainda não tinha provado: Weihenstephaner, produzida na cervejaria mais antiga do mundo. É de um daqueles mosteiros da Baviera, onde, por falta do que fazer e desejo de elevar-se a Deus, os frades e freiras medievais aprimoravam-se na arte de servir ao Senhor pela fermentação do cereal. No rótulo diz "Desde 1040" – quase mil anos de tradição cervejeira. O paladar comprova que freira velha é que faz cerveja boa.

Aproveito o mote pra pôr na roda um debate que outro dia tive com o Frédi a respeito das tais cervejas de trigo, identificadas por ele com as cervejas brancas. Eu não consegui checar isso com um alemão confiável, mas acho que há aí uma confusão de ordem linguística. Acontece que branco em alemão é Weiß (pronuncia-se [vais]), donde as cervejas brancas se chamam Weißbier ou Weissenbier (que me corrijam os germanistas); já trigo é Weizen (que se pronuncia [vaitsen]), donde as cervejas de trigo se chamam Weizenbier. De Weissenbier para Weizenbier, convenhamos, a diferença de grafia é mínima, mas entre o branco e o trigo, vai já uma distância semântica razoável.

Ajuda na confusão o fato de que (me corrijam as freiras cervejistas) as cervejas brancas são feitas de trigo. Mas hoje mesmo tomei uma Weizenbock da Erdinger, uma cerveja de trigo escura, o que elimina de cara a hipótese de igualar os dois termos.

No mais, Pacaembu, 16h.

segunda-feira, abril 27, 2009

Fé em Deus e pé na bola!

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quarta-feira, abril 22, 2009

A cachaça na gênese da diversidade

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Lendo uma reportagem sobre umbanda, candomblé e suas entidades espirituais, me deparei com uma interessante descrição:

OXALÁ - Chamado de Grande Orixá, é o criador do homem, senhor do princípio da vida, da respiração e do ar. Castigado por Exu por não lhe oferecer uma oferenda [sic], bebeu muito e, bêbado, não pôde criar o mundo. Restou a ele criar os humanos. Ainda embriagado, modelou seres distintos, dando origem à diversidade.

quinta-feira, março 19, 2009

Em busca do marafo perdido - Capítulo 6

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MARCÃO PALHARES

Os quatro manguaças combinaram de fazer o esquenta na padaria, antes do jogo decisivo que todos assistiriam na república de um deles. Maria mole, rabo de galo, meia de seda, bombeirinho – cada qual com sua preferência etílica. Já turbinados, passaram no supermercado e compraram seis caixas de cerveja, cerca de 72 latinhas. Talvez fosse o suficiente para os 90 minutos de futebol. Mas levaram um litro de vodka, afinal, uma batida de maracujá com leite condensado nunca é demais. Para comer, amendoim.

No apartamento, ligaram a velha e surrada televisão e tentaram diminuir a interferência na imagem e a chiadeira com um bombril nas antenas. Em vão, mas ninguém se importou. A porta da geladeira só fechava com uma fita adesiva. Latas de cerveja eram consumidas em minutos, a vodka mal deu pro gasto. E ainda encontraram um resto de vinho vagabundo, que não durou dez minutos. Quando o jogo começou, os quatro estavam devidamente manguaçados até a tampa. Ninguém se importava mais com o futebol.

Aos brados, os bêbados aumentavam o tom de voz a cada gole sorvido. Num prédio de três andares, com apartamentos pequenos e acústica potente, uma reunião de pinguços, à noite, era uma temeridade. A vizinhança já ameaçava chamar a polícia quando, para piorar, saiu um gol. Sem se importar ou sequer notar qual time tinha aberto o placar, os quatro explodiram num grito uníssono. Cantaram, pularam, berraram e xingaram – nem eles sabiam o quê ou por quê. Para a síndica, que morava no andar de cima, foi a gota d’água.

- Parem com isso! Desliguem essa televisão! Vão beber no bar!, ordenou, pela janela.

Os quatro manguaças ouviram e, por um instante, fizeram silêncio. Depois, como se tivessem combinado, começaram a cantar:

- Ih, fodeu, Camanducaia aparaceu! Ih, fodeu, Camanducaia apareceu!

A mulher ficou possessa. Não fossem os seus 60 anos, desceria até a república com um pau de macarrão para tirar satisfações.

- Seus bebuns! Isso não vai ficar assim! Vou acionar a imobiliária!

Nisso, um dos quatro manguaças saiu na janela e vociferou, raivoso:

- Pode ir! Mas eu vou chamar meu adevogado! (e frisou a sílaba "de", de advogado)

A mulher bateu a janela, assustada, e os bêbados decidiram que era hora de desligar a televisão e rumar para a sinuca mais próxima. Afinal de contas, não restava nenhuma das 72 latas de cerveja e a vodka e o vinho também tinham ido para o espaço. Na rua, encontraram uma garrafa de plástico vazia que, imediatamente, foi convertida em bola de futebol. Trocaram passes por quadras e quadras, gritando, de forma insana, uma paródia da canção religiosa do Roberto Carlos:

- Jesus Carlos! Jesus Carlos! Jesus Carlos, não estou aqui!

Desembarcaram aos tropeções na sinuca e, depois de algumas partidas, cada um tomou o rumo de sua casa, para desmaiar de bebedeira. No dia seguinte, dois dos manguaças, que trabalhavam juntos, estavam discutindo qualquer besteira quando o telefone tocou. O pingaiada que habitava a fatídica república atendeu. O outro só escutou:

- Alô? Sim, é ele mesmo. Pois não.
- (...)
- O que? A síndica? Mas o que houve?
- (...)
- Advogado? Mas que história é essa de advogado?
- (...)
- Sim, eu recebi uns amigos para assistir futebol. Só isso...
- (...)
- Não, ninguém tava fazendo barulho. Deve ter sido a televisão.
- (...)
- Olha, quem abriu a janela pra gritar primeiro foi ela!
- (...)
- O que? Jesus Cristo? Hã?!? Jesus Carlos??? Mas que diabo é isso?
- (...)
- Ela disse que a gente ia chamar o advogado? E que gritamos Jesus Carlos?
- (...)
- Escuta, meu senhor, não aconteceu nada disso.
- (...)
- Não, não vou pagar nada! Essa mulher é biruta!

O manguaça bateu o telefone, revoltado, e ficou resmungando:

- Ah, o que é isso? Pô! Parece que bebe!

Ainda bêbado, o outro perguntou o que estava acontecendo. Ele tergiversou:

- Nada, nada. Vamos lá na esquina tomar mais uma, que tá na hora!

E saíram abraçados, entoando o côro nonsense:

- Jesus Carlos! Jesus Carlos! Jesus Carlos, não estou aqui!

(Continua quando o autor estiver sóbrio o suficiente para escrever...)