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Em 1984, o Papa polonês realizou seu maior feito: uniu, em Roma, os sãopaulinos - e desafetos - Marco Aurélio Cunha e Juvenal Juvêncio (à direita). MILAGRE!!!
Em 1984, o Papa polonês realizou seu maior feito: uniu, em Roma, os sãopaulinos - e desafetos - Marco Aurélio Cunha e Juvenal Juvêncio (à direita). MILAGRE!!!
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Na TV, Tarcísio Meira atuou como o Capitão |
"- Capitão...
Rodrigo voltou os olhos para o padre.
- Vosmecê é um soldado, não é?
- E vosmecê é um padre...
- Espere, estou falando sério. Como militar vosmecê sabe que num batalhão tem de haver disciplina, o soldado tem de obedecer ao seu superior.
- Naturalmente.
- Desde que o mundo é mundo sempre houve os que mandam e os que obedecem, um servo e um senhor. O mais moço obedece ao mais velho...
- Isso depende...
- Deixe-me terminar. O filho obedece ao pai, a mulher obedece ao marido. Se as coisas não fossem assim o mundo seria uma desordem...
- Mas quem foi que lhe disse que o mundo não é uma desordem?
(...)
- Capitão, vosmecê não é religioso?
- Não. Religião nunca me fez falta.
- Há pessoas que só se lembram da Virgem quando troveja.
- Quando troveja me lembro do meu poncho.
(...)
- Vosmecê já pensou no que lhe pode acontecer depois da morte?
- Não.
- Não tem medo de ir para o inferno?
Rodrigo cruzou as pernas, atirou o busto para trás e recostou-se contra a porta da capela.
- Padre, ouvi dizer que no céu não tem jogo nem bebida nem carreiras nem baile nem mulher. Se é assim, prefiro ir pro inferno. Além disso, as tais pessoas que todo mundo diz que vão pro céu por serem direitas e sem pecado são a gente mais aborrecida que tenho encontrado em toda a minha vida. Tenho conhecido muito patife simpático, muito pecador bom companheiro. Se eles vão para o inferno, é para lá mesmo que eu quero ir.
(...)
- Mas vosmecê nunca pensa em Deus?
- Uma vez que outra.
- Não reconhece que Ele fez o mundo e todas as pessoas que há no mundo?
- Se Deus fez o mundo e as pessoas, Ele já nos largou, arrependido.
- Não diga tamanho absurdo! Se Ele tivesse largado, tudo andava de pernas para o ar.
- E não anda?
(...)
- Nunca aprendi nenhuma reza nem me habituei a ir à igreja.
- Mas ainda tem tempo. Nunca é tarde, meu filho.
- Qual! Há certas coisas que a gente ou aprende quando é menino ou nunca mais. Mas, pra lê ser franco, não tenho sentido falta de igreja nem de reza nem de santo.
- Nem na hora do perigo?
- Pois na hora do perigo mesmo é que não penso nessas coisas.
- Paciência. Pode ser que um dia vosmecê mude. Deus é grande.
- E o mato é maior, padre. É o que esses caboclos aprendem na luta dura desde pequeninos. Não podem confiar em Deus e ficar parados. Quem fizer isso acaba degolado ou furado de bala. Às vezes o melhor recurso é ganhar o mato. A gente não pode estranhar que essa gente pense assim. Foi a vida que ensinou...
- Deus escreve direito por linhas tortas.
Rodrigo abriu a boca num bocejo cantado e depois disse:
- Mas o diabo é que ninguém sabe ler o que Ele escreve.
(...)
Rodrigo apanhou um seixo, fez pontaria numa árvore e arremessou-o, errando o alvo.
- Se eu fosse dono do mundo, fazia algumas mudanças...
- Por exemplo... - pediu o padre.
- Acabava com essa história de trabalhar...
- Sim, e depois?
- Fazia os filhos virem ao mundo de outro jeito. Eu vi o que a Bibiana sofreu. É medonho.
O vigário sorria. Aquelas palavras, partidas dum egoísta, não deixavam de ter seu valor.
- E depois?
- Dividia essas grandes sesmarias de homens como o coronel Amaral.
- Dividia? Como? Pra quê?
- Dividia e dava um pedaço pra cada peão, pra cada índio, pra cada negro.
- Não vá me dizer que ia libertar os escravos...
- E por que não? Acabava com a escravatura imediatamente.
(...)
- Ah! Eu ia m'esquecendo. Pra principiar, fazia o mundo mais pequeno, pra gente poder atravessar todo ele a cavalo, sem levar muito tempo.
- E como é que vosmecê ia se arranjar, indo dum país pra outro sem conhecer outra língua senão a sua?
- Eu acabava com esse negócio de línguas diferentes... Rodrigo fez uma pausa e ficou pensativo.
- Que mais?
- Acabava também com a velhice.
- Acabava?
- Quero dizer, ninguém envelhecia mais...
- Nem morria?
- Morrer... morria. Mas se morria era de desastre, nos duelos, nas guerras.
(...)
Rodrigo desabotoou a camisa e puxou-a para fora das bombachas. Sentia calor. Não havia a menor viração na noite cálida.
- Conheci muitos padres por esse mundo velho que tenho corrido. Eles nunca estão contra o governo.
- A Igreja não é revolucionária - exclamou o vigário. - A Igreja não é lugar de conspirações. Ela representa o poder espiritual, que está acima, muito acima do temporal.
- Não me venha com essas palavras difíceis, padre, que eu não entendo. Fale claro. Temporal pra mim é mau tempo. Mas, falando sério, amigo Lara, cá pra nós, no maior segredo, vosmecês nunca se arriscam a ir contra o governo, não é mesmo?
O padre rosnou alguma coisa ininteligível. Depois sua voz se fez clara e ele murmurou:
- Não é a Igreja que está com o governo. É o governo que está com a Igreja.
- Aha! - e a gargalhada de Rodrigo encheu aquele pedaço da noite que parecia envolver a casa. - Quando nós brigamos com os castelhanos, nossas bandeiras e nossas espadas eram benzidas aqui pelos padres católicos. E os padres católicos lá da Banda Oriental faziam o mesmo com as bandeiras e as espadas dos castelhanos. Como é que se explica isso?
- Isso prova que a Igreja Católica é universal. Está acima das paixões e dos interesses dos homens, que são todos iguais perante Deus.
- Iguais? Até os negros?
O padre teve um levíssimo instante de hesitação - não porque considerasse os negros animais, mas porque lhe passou pela cabeça uma dúvida quanto à maneira como o outro podia usar sua resposta.
- Até os negros, claro.
- Então por que é que vosmecê nunca protestou contra a escravatura?
O padre mexeu-se, tomado de mal-estar. Nessas ocasiões ele sentia mais agudamente que nunca aquele fogo no peito.
- Os escravos nesta província são muito mais bem tratados que em qualquer outra parte do Brasil! Eu queria que vosmecê visse como os senhores de engenho tratam os negros lá no Norte.
- Eu sei, mas vosmecê não respondeu à minha pergunta... Será que Deus não fez os homens iguais?
- Mas tem de haver categorias para haver ordem e respeito. - Usou uma palavra grande para esmagar o outro. - Tem de haver hierarquia. No fim de contas esse foi o mundo que nós encontramos ao nascer, capitão. Não podemos mudar tudo de repente.
Ia acrescentar: 'Um dia essas mudanças hão de fazer-se'. Mas achou melhor calar-se. As paredes tinham ouvidos."
O Estatuto do Nascituro é uma aberração. Muitos textos por aí já provaram isso por A+B, então não vou discorrer sobre os detalhes do projeto em si É tão descabido que, se aprovado, deverá ter muitos e muitos artigos considerados inconstitucionais. Não que algo que eventualmente restar não seja prejudicial à sociedade, claro que será, mas não acredito que impedir o tratamento de uma mulher com câncer seja constitucional.
Alguns textos. São só alguns exemplos, certamente há outros excelentes por aí.
"Bolsa-estupro: o crime patrocinado", de Letícia F., do blog Cem Homens
"Estatuto do Nascituro: a mulher que se foda", de Clara Averbuck
"Estatuto do Nascituro: mulheres são apenas um vaso de planta", do Leonardo Sakamoto
"O Estatuto do Nascituro e o terror", da antropóloga Debora Diniz
O que quero nesse meu pitaco é tentar chegar à essência da ideia de obrigar uma mulher a carregar um filho que não deseja, seja porque ele morrerá ao nascer, seja porque ela foi estuprada, seja porque a continuação da gravidez irá matá-la (e, curiosamente, matar o bebê, já mais desenvolvido e capaz de sofrer, junto).
Essa essência certamente não é pro-vida. Não é a favor da vida da mãe, nem à vida dessa criança depois que ela nasce. É claro que não. Eles intitulam-se "pró-vida" mas não é esse o cerne de sua ideologia.
Na verdade, um dos pilares que sustentam o PL 478/2007 é a ideia de que Deus deve decidir quem vive e quem morre. Oras, para isso a resposta é fácil: deixe de usar antibióticos, não vá para o hospital em caso de AVC nem realize exames de check up. Assim Deus estará decidindo sobre a vida de todos.
Faz mais de dez dias que São Paulo elegeu
Fernando Haddad (PT) prefeito e, para muitos, antecipou a aposentadoria
política de José Serra, nome maior do PSDB. Fatos nada
corriqueiros, que merecem visita mais demorada – ainda que atrasada
– destes ébrios escribas. Este manguaça em particular teve uma
pequena mas muito cansativa participação na campanha de Haddad, que
ainda precisa de uma melhor elaboração. Assim, após algumas noites
de sono, soltarei alguns textos sobre o processo eleitoral aqui e no
país.
"Os evangélicos têm um papel importante, no Brasil, na leitura porque todos os seus fiéis leem a Bíblia. É uma atividade editorial muito intensa, Isso fomenta a leitura, aumenta a cultura e o preparo da população. Esse é um aspecto em geral pouco citado, mas eu valorizo bastante"
(José Serra, via @ALuizCosta, extraído de artigo de Raymundo Costa para o Valor)
É dia 21 de maio de 2011. Dois eventos da maior importância estão agendados e mudam muita coisa.
De um lado, começa o Campeonato Brasileiro de Futebol. Vencida no ano passado pelo Fluminense, a competição repete a fórmula em que 20 clubes na série A brigam pela taça. Papada pelo Coritiba, o implacável, a disputa dá um bis com outros 20 times na série B almejando a ascensão. Na primeirona, batalha-se por três ou quatro vagas na Libertadores, a depender de quem for bem na Copa Sul-Americana, e foge-se de quatro postos de queda. Na segundona, ambicionam-se quatro cadeiras no ascensor. É a competição mais longa da temporada para todos os times envolvidos. O ano não será o mesmo para os apreciadores do ludopédio.
Foto: ChristReturns2011/Wikipedia
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Do lateral-direito Cicinho, no Lance!, relembrando os tempos de sua transferência do Botafogo-SP para o Atlético-MG, em 2001:
- Eu morava em Ribeirão Preto, terra do Pinguim (choperia), mas não conseguia ir porque não ganhava nada, né, parceiro?! Quando vi que tinha Pinguim em Belo Horizonte, não tinha como não frequentar.
Mas as tentações da capital mineira levaram o jogador a passar dos limites:
- Vi que beber daquele jeito, até tarde, não fazia bem a mim. Jogava três quilos acima do peso, mal conseguia treinar. Então o Lúcio Flávio (meia do Botafogo-RJ) me levou para a igreja. Comecei a orar mais.
Ps.: Cicinho estreou pelo Atlético-MG num clássico contra o Cruzeiro, em março de 2001, jogando de meia e marcando o gol do empate por 1 a 1.
Comemorando o Natal no buteco, o amigo Alexandre "Cherno" Silva me saiu com essa:
- As três melhores coisas da religião católica são o pecado, o feriado e o vinho!
Ventos conservadores balançam o estandarte brasileiro. "Puta-Puta-Puta", ouviu a estudante Geisy Villa Nova Arruda. Pouco tempo depois, assistíamos a sua expulsão pela gloriosa cátedra Uniban, também carinhosamente apelidada de "UniTaleban", pelos blogueiros, internautas e tuiteros, que por sua vez estão infernizando a vida da instituição.
O resultado: na tarde desta segunda-feira, 9, a instituição recuou e revogou a expulsão de Geisy. O assunto é tão surreal que vale a pena ver as cenas do quase linchamento da estudante de turismo e ler a justificativa pitoresca da Uniban, para expulsar a aluna.
Sinceramente, neste caso, pouco me importa se a Uniban é uma fábrica de diploma ou se agora a estudante vai posar nua. O fato é que chegamos ao ponto da sociedade (uma parte, óbvio!) agredir e ser conivente com a barbárie pelo simples motivo do uso de uma minisaia!
É o retrato do cotidiano do país que exclui, criminaliza, marginaliza e agride a diversidade, seja ela qual for. Sem falar do machismo e da intolerância, cultivados com ardor... Enfim, um episódio que dá a dimensão do retrocesso de nossa realidade, e que dá nojo só de imaginar onde podemos chegar...
Mas voltando para o caso Uniban, outro ponto que me chocou é o histórico do “adevogado” da dita instituição, Décio Lencioni Machado, que atribuiu à postura da estudante Geisy Villa Nova Arruda a razão de sua expulsão da universidade. Ele que preside a Comissão de Legislação e Normas do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e é conselheiro da Câmara de Educação Superior.
Criado em 1963, o Conselho tem como objetivo traçar normas para organização do sistema de ensino de todo o estado, incluindo autorização para instalação de universidades públicas estaduais e municipais e são "escolhidos entre pessoas de notório saber e experiência em matéria de educação, observada a devida representação dos diversos graus de ensino e a participação de representantes do ensino público e privado". Para exercer o cargo, o conselheiro é remunerado: recebe gratificação por sessão plenária e de câmaras ou comissões permanentes.
Medo! Só rindo mesmo do ataque de fúria de Hitler sobre a comparação dos nazistas da Uniban e sua gente iluminada... Ou apostar na cobrança do MEC e da ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire.
E piora
E, como se não bastasse a demonstração de preconceito, fúria e machismo dos estudantes da Uniban (e a atitude da própria instituição), a psicóloga evangélica Rozangela Justino, conhecida por oferecer tratamento para curar os homossexuais – e receber censura pública do Conselho Federal de Psicologia (CFP) –, agora dedica seu blogue auxiliar seus irmãos a votarem “NÃO” na enquete que o Senado Federal criou sobre a aprovação do PLC 122/06, que criminaliza a homofobia no Brasil.
Rozangela alega no texto que “infelizmente, não podemos apoiar qualquer Projeto de Lei e nem lei pró-homossexualismo porque tais projetos de leis e leis têm finalidades políticas e econômicas, e na verdade não são para proteger e nem ajudar qualquer pessoa na condição homossexual, muito pelo contrário, é para impedir que sejam ajudadas, inclusive”. Ela ainda propõe criar a "CPI das Passeatas Gays”, “A CPI do Movimento Gay”. Segundo a "psicóloga", "assim, estaremos verificando o porquê do investimento do poder público neste movimento desconstrutor social e dos princípios cristãos, em detrimento de necessidades básicas do povo brasileiro".
E se engana quem acredita que uma manifestação como da "psicóloga" ou dos estudantes e membros da gloriosa academia unibanense não reflete ou são frutos da postura conservadora de nossa política. Na recente pesquisa "Como Parlamentares Pensam os Direitos das Mulheres?", realizada pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), que entrevistou 321 parlamentares, entre deputados e senadores foi constatado que a influência da crença religiosa nas decisões dos parlamentares está cada vez maior.
A maioria (60%) dos parlamentares considerar errado legislar a partir de pontos de vista de crenças pessoais, mas 38% dos legisladores admitem tomar decisões de acordo com os princípios de suas religiões. Mas, nossos parlamentares de tudo não são tão maus... A pesquisa também constatou que o Congresso está mais aberto a reivindicações femininas, especialmente em relação a direitos das mulheres no mercado de trabalho.
Obrigado por nos deixarem trabalhar, apesar do Brasil continuar sendo o país latinoamericano com menos mulheres no Parlamento - 8%.
Brincadeiras a parte, a pesquisa também trouxe um dado interessante sobre o aborto: 57% dos parlamentares defendem, por exemplo, que a legislação permaneça como está, permitindo a prática somente em caso de estupro ou de risco de vida para a mãe. Os demais se dividem em dois grupos: 18% defendem a descriminalização total e 15% são contra a interrupção da gravidez em qualquer caso. Apenas 8% não se posicionaram e 1% admite ampliar a legislação em alguns casos. Resumindo, o árduo trabalho de chamar para a discussão o tema para lá de polêmico não anda sendo em vão.
Mas a vida anda difícil...
A terra vai tremer no dia 5 de novembro. Pela primeira vez (salvo engano) na história, a fechada Coreia do Norte receberá uma equipe brasileira de futebol em seu território. Será a chance dos brasileiros encantarem os norte-coreanos com o futebol pentacampeão do mundo e, de quebra, ajudar a seleção local a se preparar para a Copa de 2010, para a qual está classificada.
O time em questão é o Atlético Sorocaba, da segunda divisão paulista, que enfrentará a seleção da Coreia do Norte. Isso mesmo, caros amigos: no mês que vem, teremos o duelo Coreia do Norte x Atlético Sorocaba.
A notícia foi dada hoje pela Trivela, que repercutiu informação da agência sul-coreana Yonhap. Segundo o texto, a novidade foi dada à agência na segunda-feira por um "homem de negócios que ajudou a organizar a partida". A fonte, informa a Yonhap, é presidente da companhia automobilística Pyeonghwa. Tanto Pyeonghwa quanto Atlético Sorocaba têm o mesmo proprietário - Sun Myung Moon (foto), mais conhecido como "Reverendo Moon", o criador-líder-máximo da Igreja da Unificação.
A única ressalva ainda em relação à existência do confronto vem do próprio Atlético Sorocaba. O site do clube não menciona a partida - diz que a equipe faz uma excursão para a Ásia e enfrentará FC Tokyo, em duelo a ser travado no mítico Ajinomoto Stadium (é sério), "uma equipe da China" e o Il Hwa Chunma, da Coreia (o texto não especifica qual das duas). Há uma menção a um quarto jogo "que será definido durante a viagem", mas não se cita a possível partida contra o selecionado norte-coreano.
A torcida do Futepoca e dos amantes do futebol nacional é que o choque entre Coreia do Norte e Atlético Sorocaba se faça real. Será um duelo único entre ocidente e oriente, transformador tal qual, na ficção, foram as disputas entre Ivan Drago e Rocky Balboa e Forrest Gump e os meso-tenistas chineses. E, caso queiramos encarar de outra maneira, podemos ver a peleja como um "jogo da paz", aos moldes que fizeram Irã e EUA na Copa de 1998.
Nas transmissões futebolísticas de competições internacionais, volta e meia os narradores despejam frases como "o Grêmio (por exemplo) é o Brasil na Libertadores!". A sentença é rejeitada por quase que a integridade dos brasileiros. Mas agora, acho que dá pra afirmar sem erro: o Atlético Sorocaba é o Brasil na Coreia do Norte! Vai, Atlético!
Os judeus ortodoxos acharam uma alternativa para acessar a internet e não ferir seus princípios religiosos. Acaba de ser criado o Koogle, uma ferramenta de busca kosher ("pura") idealizada para permitir o acesso à internet, algo não visto com bons olhos por alguns rabinos.
O site tem uma série de restrições para atender aos critérios ortodoxos. Segundo o administrador Yossi Altman, a página eletrônica omite "conteúdo religiosamente questionável" como fotografias de mulheres tidas como indecentes. É bom lembrar que as moças dessa vertente do judaísmo vestem-se com saias e vestidos e nunca usam roupas tidas como masculinas, como calças ou ternos. As casadas cobrem os cabelos com um lenço ou uma peruca. Ou seja, a "indecência" é um conceito bastante abrangente neste caso.
Também são disponibilizados no Koogle links direcionando para sites de notícias israelenses e de compras. No entanto, aí também há restrição. Não é possível fazer compras online durante o sábado judaico, que tem ínicio no pôr-do-sol da sexta-feira e termina depois do pôr-do-sol do sábado. Itens que a maior parte dos israelenses ultra-ortodoxos não pode possuir em suas casas, como aparelhos de televisão, têm seu acesso bloqueado.
Pra quem estranha todas as proibições, saiba que há quem não aceite sequer a existência de computadores. Há dois anos, os "gerrer", seita hassídica (corrente religiosa judaica) lançou uma campanha para proibir o uso de computadores. A justificativa era de que os pobre PCs seriam “o mal disfarçado” e o autêntico “Satã”.
Em Jerusalém, no bairro de Mea Shearim, o ortodoxo Yoel Kreus contava em reportagem receber relatórios de uso ilícito de tecnologia pelos membros da sua comunidade, e confessava: “se nos descobrimos alguém tem um computador em casa, retiramos imediatamente as suas crianças da escola”.
Diante disso, pode-se considerar o Koogle um avanço... Será que o senador Eduardo Azeredo vai tomar a página como inspiração para modular seu AI-5 digital?
Depois de uma infindável sequência de finais de semana trabalhando, inclusive o feriado do Dia do Trabalho, e perfeitamente convencido de que esse período em nada me dignificou, finalmente tirei um momento para almoçar com a família num restaurante alemão. Resolvi então praticar um pequeno luxo, tomar aquela cervejinha importada de uma vez na vida. Primeiro, uma Erdinger escura, sensacional. Depois, uma cerveja que já tinha visto em alguns lugares, mas que ainda não tinha provado: Weihenstephaner, produzida na cervejaria mais antiga do mundo. É de um daqueles mosteiros da Baviera, onde, por falta do que fazer e desejo de elevar-se a Deus, os frades e freiras medievais aprimoravam-se na arte de servir ao Senhor pela fermentação do cereal. No rótulo diz "Desde 1040" – quase mil anos de tradição cervejeira. O paladar comprova que freira velha é que faz cerveja boa.
Aproveito o mote pra pôr na roda um debate que outro dia tive com o Frédi a respeito das tais cervejas de trigo, identificadas por ele com as cervejas brancas. Eu não consegui checar isso com um alemão confiável, mas acho que há aí uma confusão de ordem linguística. Acontece que branco em alemão é Weiß (pronuncia-se [vais]), donde as cervejas brancas se chamam Weißbier ou Weissenbier (que me corrijam os germanistas); já trigo é Weizen (que se pronuncia [vaitsen]), donde as cervejas de trigo se chamam Weizenbier. De Weissenbier para Weizenbier, convenhamos, a diferença de grafia é mínima, mas entre o branco e o trigo, vai já uma distância semântica razoável.
Ajuda na confusão o fato de que (me corrijam as freiras cervejistas) as cervejas brancas são feitas de trigo. Mas hoje mesmo tomei uma Weizenbock da Erdinger, uma cerveja de trigo escura, o que elimina de cara a hipótese de igualar os dois termos.
No mais, Pacaembu, 16h.
Lendo uma reportagem sobre umbanda, candomblé e suas entidades espirituais, me deparei com uma interessante descrição:
OXALÁ - Chamado de Grande Orixá, é o criador do homem, senhor do princípio da vida, da respiração e do ar. Castigado por Exu por não lhe oferecer uma oferenda [sic], bebeu muito e, bêbado, não pôde criar o mundo. Restou a ele criar os humanos. Ainda embriagado, modelou seres distintos, dando origem à diversidade.
MARCÃO PALHARES
Os quatro manguaças combinaram de fazer o esquenta na padaria, antes do jogo decisivo que todos assistiriam na república de um deles. Maria mole, rabo de galo, meia de seda, bombeirinho – cada qual com sua preferência etílica. Já turbinados, passaram no supermercado e compraram seis caixas de cerveja, cerca de 72 latinhas. Talvez fosse o suficiente para os 90 minutos de futebol. Mas levaram um litro de vodka, afinal, uma batida de maracujá com leite condensado nunca é demais. Para comer, amendoim.
No apartamento, ligaram a velha e surrada televisão e tentaram diminuir a interferência na imagem e a chiadeira com um bombril nas antenas. Em vão, mas ninguém se importou. A porta da geladeira só fechava com uma fita adesiva. Latas de cerveja eram consumidas em minutos, a vodka mal deu pro gasto. E ainda encontraram um resto de vinho vagabundo, que não durou dez minutos. Quando o jogo começou, os quatro estavam devidamente manguaçados até a tampa. Ninguém se importava mais com o futebol.
Aos brados, os bêbados aumentavam o tom de voz a cada gole sorvido. Num prédio de três andares, com apartamentos pequenos e acústica potente, uma reunião de pinguços, à noite, era uma temeridade. A vizinhança já ameaçava chamar a polícia quando, para piorar, saiu um gol. Sem se importar ou sequer notar qual time tinha aberto o placar, os quatro explodiram num grito uníssono. Cantaram, pularam, berraram e xingaram – nem eles sabiam o quê ou por quê. Para a síndica, que morava no andar de cima, foi a gota d’água.
- Parem com isso! Desliguem essa televisão! Vão beber no bar!, ordenou, pela janela.
Os quatro manguaças ouviram e, por um instante, fizeram silêncio. Depois, como se tivessem combinado, começaram a cantar:
- Ih, fodeu, Camanducaia aparaceu! Ih, fodeu, Camanducaia apareceu!
A mulher ficou possessa. Não fossem os seus 60 anos, desceria até a república com um pau de macarrão para tirar satisfações.
- Seus bebuns! Isso não vai ficar assim! Vou acionar a imobiliária!
Nisso, um dos quatro manguaças saiu na janela e vociferou, raivoso:
- Pode ir! Mas eu vou chamar meu adevogado! (e frisou a sílaba "de", de advogado)
A mulher bateu a janela, assustada, e os bêbados decidiram que era hora de desligar a televisão e rumar para a sinuca mais próxima. Afinal de contas, não restava nenhuma das 72 latas de cerveja e a vodka e o vinho também tinham ido para o espaço. Na rua, encontraram uma garrafa de plástico vazia que, imediatamente, foi convertida em bola de futebol. Trocaram passes por quadras e quadras, gritando, de forma insana, uma paródia da canção religiosa do Roberto Carlos:
- Jesus Carlos! Jesus Carlos! Jesus Carlos, não estou aqui!
Desembarcaram aos tropeções na sinuca e, depois de algumas partidas, cada um tomou o rumo de sua casa, para desmaiar de bebedeira. No dia seguinte, dois dos manguaças, que trabalhavam juntos, estavam discutindo qualquer besteira quando o telefone tocou. O pingaiada que habitava a fatídica república atendeu. O outro só escutou:
- Alô? Sim, é ele mesmo. Pois não.
- (...)
- O que? A síndica? Mas o que houve?
- (...)
- Advogado? Mas que história é essa de advogado?
- (...)
- Sim, eu recebi uns amigos para assistir futebol. Só isso...
- (...)
- Não, ninguém tava fazendo barulho. Deve ter sido a televisão.
- (...)
- Olha, quem abriu a janela pra gritar primeiro foi ela!
- (...)
- O que? Jesus Cristo? Hã?!? Jesus Carlos??? Mas que diabo é isso?
- (...)
- Ela disse que a gente ia chamar o advogado? E que gritamos Jesus Carlos?
- (...)
- Escuta, meu senhor, não aconteceu nada disso.
- (...)
- Não, não vou pagar nada! Essa mulher é biruta!
O manguaça bateu o telefone, revoltado, e ficou resmungando:
- Ah, o que é isso? Pô! Parece que bebe!
Ainda bêbado, o outro perguntou o que estava acontecendo. Ele tergiversou:
- Nada, nada. Vamos lá na esquina tomar mais uma, que tá na hora!
E saíram abraçados, entoando o côro nonsense:
- Jesus Carlos! Jesus Carlos! Jesus Carlos, não estou aqui!
(Continua quando o autor estiver sóbrio o suficiente para escrever...)