Decidido a encerrar a carreira em dezembro (segundo reafirmou em abril), o goleiro Rogério Ceni jamais imaginou que esta seria a pior temporada enfrentada em 20 anos como profissional. Se pelo menos conseguiu chegar à semifinal do Paulistão e às oitavas-de-final da Libertadores no primeiro semestre, o São Paulo "desandou a maionese" completamente a partir de junho e, atualmente, vive talvez a pior fase de toda a sua história, ameaçado seriamente de rebaixamento no Brasileirão. No olho do furacão está exatamente Rogério Ceni, o capitão, o maior ídolo. Pagando todos os pecados de sua carreira, com uma sequência inédita de quatro pênaltis perdidos (inclusive o que daria uma crucial vitória sobre o rival Corinthians), criando caso com o ex-técnico Ney Franco, brigando inutilmente com juízes. Ceni pena, principalmente, por sua empáfia.
Em 2008, no famoso "jogo do gás", semifinal do Paulistão entre Palmeiras e São Paulo, no Parque Antarctica, Léo Lima arriscou um chute do meio da rua e Rogério Ceni tomou um gol esquisito, perfeitamente defensável. E, pra (não) variar, disse que não falhou: "Fiz o que pude, mas não deu. A bola balançou demais, eu caí para um lado e ela foi para o outro." Bom, existem muitas outras ocasiões em que o capitão sãopaulino não assumiu seus erros. E talvez a mais emblemática delas, em 1999, tenha sido o estopim da fama de arrogante e prepotente - não só entre corintianos, palmeirenses e santistas, mas entre a maioria dos torcedores de todo o país. Porque, naquela ocasião, o goleiro defendia a seleção brasileira. E, num amistoso disputado contra o Barcelona, na Espanha, falhou "clamorosamente" (como diriam os antigos locutores) nos dois gols que tiraram nossa vitória, praticamente garantida:
Careca, em 97, com Roberto Carlos e Rivaldo
Questionado sobre as falhas, Rogério Ceni reclamou, sem qualquer modéstia: "Nao aceito ser chamado de culpado pelo resultado. Se os dois erros não tivessem originado os gols, teria sido umas das melhores atuações de um goleiro na seleção brasileira." No primeiro gol, quando soltou a bola no pé do espanhol Luís Enrique, Ceni afirmou impassível que a culpa foi da chuva e do vento. No segundo, quando "bateu roupa", "justificou": "Se a bola tivesse caído nos pés de um brasileiro estaria tudo bem." A falta de humildade pegou mal. O treinador do Brasil, Vanderlei Luxemburgo, já estava dando uma chance ao sãopaulino depois de ele ficar afastado da seleção por quase dois anos, sem clima com o técnico anterior, Zagallo, que não gostou de sua postura no episódio das cabeças raspadas na Copa das Confederações de 1997.
Foi ali, naquelas "justificativas" dispensáveis após as falhas contra o Barcelona, que Rogério Ceni começou a atrair o ódio generalizado que sofre atualmente. Tanta gente secando e torcendo contra deve contribuir, de alguma forma, com a energia negativa que vem pressionando o goleiro e favorecendo seus erros nessa crise do São Paulo - o que prejudica, por extensão, o time e seus companheiros. Nem assim, no entanto, o jogador desce de seu pedestal (imaginário). Parece que o universo conspira para novas falhas, como se elas fossem oportunidades de Rogério Ceni se redimir e demostrar um pouco de humildade publicamente, antes de fechar a cortina de sua carreira. Mas não. Cada falha acaba puxando nova postura infeliz do goleiro e, talvez por isso mesmo, novas falhas. Como diria Muricy Ramalho, "a bola pune"...
Eu ia fazer esse post na linha da "diferença que um meia faz" (ou a falta dele), analisando o desempenho do São Paulo sem Lucas, mas, já que o Anselmo aproveitou o mote para falar do bom retorno de Lincoln no Palmeiras, vou comentar a derrota por 3 a 2 para o Paulista, em Jundiaí, por outro ângulo. Até porque penso que Lucas nem fez tanta falta assim, pois o time criou dezenas de boas jogadas de ataque durante todos os 90 minutos, até mais do que nos jogos anteriores. O problema foi exatamente a impressionante capacidade de perder gols. Fernandinho foi o pior nesse quesito. E, para completar o desastre, teve falhas sucessivas da defesa.
Tomar um gol com menos de dois minutos de jogo acontece. Mas quando esse gol é produto de uma lambança generalizada, preocupa - e prenuncia uma derrota certa. Se prestarmos atenção no lance, o lateral Weldinho pega a bola livre, num buraco da defesa, sofre um combate tardio e inútil do (perdido) volante Casemiro, avança frente a um bolo com três zagueiros sãopaulinos batendo cabeça, chuta forte, Rogério Ceni espalma errado, para o meio da área, e Fabiano mergulha desengonçado para fazer o gol tranquilamente, embolado com um Alex Silva que (mais uma vez) ameaçava fazer pênalti. Sim, o goleiro errou. Mas a falha foi geral.
Ok. O São Paulo assimilou bem o golpe e partiu logo para a pressão no ataque. Perdeu vários gols feitos, dois deles com Fernandinho, inacreditáveis. Dava pra ter virado a partida fácil, fácil. Daí, como "quem não faz, leva", o ataque do Paulista puxa uma bola para a esquerda e toda a defesa do São Paulo acompanha, ingenuamente. A bola é rolada para a direita, onde o destaque Weldinho surge livre para fazer 2 a 0. Nem sinal do lateral-esquerdo Juan, que não marca e nem apoia. Não por acaso, seria substituído por Carpegiani, dando lugar a mais um atacante - mas aí a vaca já tinha ido para o brejo...
O São Paulo iniciou a segunda etapa com o mesmo ritmo, pressionando, criando jogadas, chegando na frente - e, pra variar, perdendo gols incríveis. Ilsinho, que entrou no lugar do (péssimo) Casemiro, era o melhor em campo, chamando a responsabilidade pra si, tabelando, driblando e partindo pra cima, no mesmo estilo de Lucas. Foi assim que cavou um pênalti, cobrado por Rogério Ceni. Do jeito que o time estava jogando, dava para acreditar no empate e até na virada. Mas a defesa bateu cabeça de novo e Vanderlei surgiu completamente livre para encaixar uma bola entre as pernas do goleiro sãopaulino. O Paulista ganhou o jogo nesse lance. E, dois minutos depois, Fabiano ainda perderia um gol feito, na cara de Rogério Ceni.
Fernandinho bem que tentou se redimir, com uma jogada de linha de fundo e uma assistência para o gol de Dagoberto, que fechou o placar. Porém, já era tarde. O time cansou de tanto correr e pressionar, e o Paulista administrou o resultado. Para domingo, no clássico contra o Corinthians, desejo só duas coisas: que o time jogue tão bem quanto jogou contra o Paulista, mas que a defesa não cometa 1% das falhas bisonhas de ontem e que o ataque melhore 100% as finalizações. Caso contrário, o tabu do adversário, de mais de quatro anos sem derrota para nós, tende a aumentar mais ainda...
Ontem à noite, durante o último debate entre a maioria dos candidatos à governador de São Paulo, transmitido ao vivo pela TV Globo, o petista Aloizio Mercadante, 2º colocado nas pesquisas, reforçou várias vezes que o tucano Geraldo Alckmin, 1º colocado, estava evitando confronto direto com ele e só fazia perguntas para os outros concorrentes. No último bloco, o apresentador Chico Pinheiro passou a palavra para Alckmin, que ensaiou uma resposta a Mercadante, mas o microfone falhou e o som sumiu. Depois de alguns segundos constrangedores, a transmissão saiu do ar, surgiu uma tela preta e, na emergência, entraram comerciais. Curiosamente, a primeira propaganda veiculada foi a de um DVD que destacava, em letras garrafais, a música TRISTEZA DO JECA...