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quarta-feira, junho 17, 2009

Duas holandesas e uma francesa

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Quem dera fossem loiras de carne e osso, mas o post refere-se, mais uma vez, às cervejas que venho bebendo aqui pela Irlanda. Num sábado chuvoso, preparei um macarrão com sardinha (a mussarela daqui é bem diferente) e abasteci a geladeira com duas latas de 500ml da holandesa Amstel, meia dúzia da compatriota Dutch Gold (fotos à direita) com a mesma medida e mais uma caixa com oito garrafinhas de 250ml de uma cerveja "genérica", francesa, intitulada apenas como Bière Especiale. As duas holandesas quase não tinham muita diferença, apenas a Amstel tem uma cor dourada um pouco mais escura. São boas, um bom investimento por um custo variável de 1,75 a 1,90 euro a lata. Ambas tem 4,2% de teor alcoólico.

Já a Bière Especiale, que estou bebendo na foto ao lado, é uma curiosa seleção do supermercado popular Tesco, que salva a vida dos brasileiros aqui. Essa rede tem bilhões de produtos como marca própria, de comida a vestuário, produtos de limpeza, cosméticos, enfim, todo tipo de coisa - inclusive cerveja. O rótulo da simpática garrafinha (parece um guaraná caçulinha brasileiro) nada diz além da procedencia francesa. Mas a cerveja tem um amarguinho interessante e um gosto muito bom, realmente compensa os 5,49 euros pagos pela caixa com 8 unidades. O teor alcoólico é maior do que o das holandesas: 4,8%. Virei fã de carteirinha...

Voltei a beber a Bière Especiale na despedida do hostel (albergue) Isaac's, quando conheci a tal velhinha Margareth (a direita). Entre as quase três dezenas de músicas de bar que ela cantou, consegui recuperar a letra de uma delas, talvez a mais tradicional, "The wild rover" ("O vagabundo selvagem"): "I've been a wild rover for many a year/ And I spent all my money on whiskey and beer/ And now I'm returning with gold in great store/ And I never will play the wild rover no more/ And it's no, nay, never (4 claps)/ No nay never no more/ Will I play the wild rover/ No never no more" - o que significa, numa tradução aproximada: "Eu fui um vagabundo selvagem por mais de um ano/ E eu gastei todo o meu dinheiro com uísque e cerveja/ E agora estou voltando com ouro em uma grande loja/ E eu nunca vou bancar o vagabundo selvagem de novo/ E não, nem, nunca (4 palmas)/ Nao nem nunca não mais/ Vou bancar o vagabundo selvagem/ Não nunca jamais".

segunda-feira, abril 13, 2009

Pé redondo na cozinha - Nêgo Rato, o batera

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MARCOS XINEF*

Tudo começa em Amsterdan (na Holanda) e com um rato apelidado de Osbourne (na boca de alguém). Reza a lenda que Ozzy Osbourne, o roqueiro, comia morcegos no palco, mas eles eram de plástico. Um dia, um fã atirou um de verdade, o cantor mastigou e se transformou no todo poderoso rock star. Já não se pode dizer o mesmo do nosso personagem, batera de uma banda brasuca que foi tentar a sorte em Amsterdan. O local escolhido para morar, ou seja, a residência da banda, era tão "bom" que um dia nosso querido Nêgo estava dormindo e um rato entrou em sua boca, ficando só o rabo para fora. Ele acordou e, esbaforido, foi correndo lavar a boca - mas é logico que não foi com água, pois, segundo o mesmo, isso enferruja. Ele desinfetou a boca com uísque. No outro dia, ao acordar, morrendo de fome, ele abriu a geladeira e observou que a única coisa que tinha para comer era um macarrão com carne de três dias atrás. Nêgo se lembrou do rato e imaginou o macarrão com a carne do bicho. Botou pra fora até as tripas. Foi daí que nasceu nossa receita. Tome coragem, tome nota e pode tomar uma dose de uísque também (hehehe):

CACHAÇARRÃO À NÊGO RATO
(macarrão no uísque com iscas de carne)

Ingredientes:
1 litro de uísque vagabundo
1 litro de água
1 colher de sopa de sal
1 pacote de macarrão
1/2 cebola picada
2 tomates picados
300 gramas de isca de contra filé
azeite extra virgem
1 colher de chá de pimenta calabresa moida
sal a gosto

Preparo:
Misture em uma panela a água, o uísque e a colher de sal e ferva. Depois, adicione o macarrão e deixe ferver por 7 minutos. Enquanto a massa fica pronta, pegue uma frigideira e refogue a cebola, a carne, os tomates e a pimenta, até dourar as iscas de filé. Escorra o macarrão, misture o molho colocando as pitadas de sal e sirva.


Quem quiser substituir o filé por carne de rato, fique à vontade. Abraços!

*Marcos Xinef é chef internacional de cozinha, gaúcho, torcedor fanático do Inter de Porto Alegre e socialista convicto. Regularmente, publica no Futepoca receitas que tenham bebidas alcóolicas entre seus ingredientes.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Em busca do marafo perdido – Capítulo 2

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MARCÃO PALHARES

Domingo era dia de bebedeira naquele prédio. Do primeiro ao 18º andar, homens e mulheres preparavam alimentos e corriam ao supermercado para garantir o combustível da esbórnia. Ninguém sabia ao certo o motivo de tanta sede e necessidade de entupir as células com álcool até a embriaguez sepulcral. Mas era assim naquele condomínio. E naquele dia não foi diferente. Estava marcado um primeiro "esquenta" no segundo andar, onde cinco paraguaios dividiam uma quitinete. Eles fritaram manjubas e a pinga correu solta na forma de caipirinha, batida de maracujá ou mesmo pura. Alguém chegou com salame e calabresa. De algum lugar, brotou uma garrafa de San Raphael. Misturaram aquilo com guaraná e limão e o clima esquentou. A próxima parada seria no 15º andar.

Lá, no apartamento de duas enfermeiras e uma estudante de odontologia, um frango assado com arroz de forno aguardava os mais famélicos. Mas a preocupação geral era beber, então havia três dúzias de latas de cerveja, dois garrafões de vinho vagabundo, uma vodka pela metade e mais pinga que os paraguaios rebocaram de seu muquifo. A turba já chegava a 28 pessoas. Entre brindes e dentadas no frango, comido com as mãos, alguns transitavam entre o apartamento, as escadas e o 11º andar, onde a miséria se estenderia no cafofo de dois irmãos cachaceiros. Eles estavam assando carne de terceira num grill elétrico e aguardavam a chegada de outro pinguço, que ficou de fazer macarrão.

Eram 14 horas e o contingente ultrapassava cinco dezenas de bêbados (e bêbadas). O condomínio era habitado, preferencialmente, por estudantes, proletários e vagabundos que se amontoavam em três dezenas de repúblicas. Todo mundo bebia - e bastante. Nisso, chegou o tal que havia se responsabilizado pelo macarrão. Visivelmente embriagado, ele trouxe o alimento - ou a tentativa dele - dentro de uma vasilha plástica de sorvete. Quando uma menina meio careca tentou ver o estado da coisa, notou que o macarrão tinha passado do ponto e estava todo grudado. Inaproveitável, repugnante. O manguaça, muito provavelmente, havia esquecido a massa no fogo enquanto mamava seu mé ou cochilava na mesa da cozinha. Nem com molho aquela porcaria poderia ser aproveitada.

Por isso, a vasilha foi esquecida num canto, entre dezenas de garrafas vazias. A maratona tinha que continuar e, do 11º andar, todos se dirigiram ao sétimo, onde duas secretárias bilingues e feiosas tinham cozido siris. A quantidade de cerveja consumida até o momento era industrial, mas não parava de chegar mais. Os convidados, bicões e amigos e amigas dos amigos das amigas chegavam em bandos carregando sacolas e caixas de bebidas de vários níveis e qualidades. Tinha gente virando conhaque no bico, outros misturando pinga com Cinzano, outros ainda batendo vodka com rapadura e gelo no liquidificador.

O final da tarde se aproximava e mais de 90 pessoas circulavam entre os vários apartamentos e andares. Nunca se viu tantas garrafas, latas e restos de comida. Os banheiros se entupiam de gente passando mal - ou simplesmente dormindo. Quando o relógio bateu oito da noite, metade dos bárbaros já tinha se retirado. A outra metade estava desmaiada. No apartamento dos irmãos cachaceiros, repousava o temível macarrão embolotado. O que fazer com aquilo? Zonzo, um dos irmãos não teve coragem de jogar fora. Deixou o negócio ali, morto, e foi dormir. No outro dia pensaria no que fazer. E foi assim que a vasilha plástica ficou atrás do filtro de cerâmica, abandonada, a semana inteira.

Só se lembraram do macarrão no domingo seguinte, quando uma nova esbórnia estava para começar. Algum desavisado olhou e pensou que era comida do dia. Abriu a tampa. Uma coisa verde, com vida própria, o cumprimentou. Ainda hoje, os relatos são contraditórios sobre o que aconteceu em seguida. Sabe-se apenas que os moradores desapareceram sem explicação aparente e o prédio, abandonado, acabou lacrado pela prefeitura. Muitos falam em abdução ou fenômeno paranormal. O manguaça que cozinhou o macarrão nunca foi encontrado para esclarecer.

(Continua quando o autor estiver sóbrio o suficiente para escrever...)