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terça-feira, dezembro 22, 2015

'Tudo ficará positivamente mórbido...'

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Júpiter Maçã nos tempos de 'A Sétima Efervescência Intergaláctica'
Quase nos acréscimos, "fomos surpreendidos novamente" pelo ano de 2015: depois de levar José Rico, em março, agora nos levou Flávio Basso, o Júpiter Maçã, já citado neste blogue (aqui e aqui). Segundo familiares, ele teria caído no banheiro e sofrido lesões na cabeça, mas isso não está confirmado. Sim, um acidente tão estúpido e estranho quanto o que sofreu em julho de 2012, quando quebrou o pulso e uma costela ao despencar dois andares. Pelo o que parece, infelizmente, álcool e drogas já estavam cobrando o preço dessa lenda viva do rock gaúcho, que tinha apenas 47 anos. Como ele cantava em "Miss Lexotan 6 mg", um de seus maiores hits (regravado, entre outros, pelo Ira): "E quando o sol finalmente raiar/ E ela então ferrar/ E quando o sol finalmente raiar/ E ela desmaiar/ Tudo ficará positivamente mórbido..."

Uma de suas últimas aparições, no festival 'Psicodália 2015', em Rio Negrinho (SC)

Júpiter Maçã, quando ainda era Flávio Basso, apareceu com a banda Cascavelettes, por volta de 1987. Naquele mesmo ano, participaram da coletânea "Rio Grande do Rock", ainda em vinil, lançada pela gravadora holandesa SBK. Mas foi no segundo disco solo da banda, o "Rock'a'ula" (EMI Odeon, 1989), que os gaúchos ganharam projeção nacional ao ter incluída a música "Nega bombom" na trilha da novela "Top Model", da Rede Globo. Foi então que, "para a nossa alegria", protagonizaram um dos maiores constrangimentos da história de nossa televisão, ao apresentarem a música "Eu quis comer você" no programa "Clube da Criança", da Angélica (!): "Quando eu volto pra casa/ E a minha garota está dormindo/ Eu tomo uma latinha de cerveja/ Que fome eu estava sentindo! Uhn.. eu quis comer você!" (Chupa, Huck!) Os Cascavelettes acabaram em 1992 e, quatro anos depois, Flávio, já "reencarnado" em carreira solo como Júpiter Maçã, lançou uma obra-prima do pop nacional, o álbum "A Sétima Efervescência Intergaláctiva", todo calcado nas bandas de garagem e na psicodelia da década de 1960. Sempre vale - e valerá - a pena ouvi-lo inteiro:


O disco abre com "Um lugar do caralho", espécie de "hino-manifesto" regravado por gente como Wander Wildner: "Eu preciso encontrar/ Um lugar legal 'pra mim' dançar/ E me escabelar/ Tem que ter um som legal/ Tem que ter gente legal/ E ter/ Cerveja barata/ Um lugar onde as pessoa sejam mesmo 'afudê'/ Um lugar onde as pessoas sejam loucas/ E super chapadas/ Um lugar do caralho!" É o som de uma época (pelo menos para mim). Quem me apresentou esse disco foi o colega Fabião (Fabio Butinholi), em 1997, quando eu ainda fazia faculdade e vivia exatamente a "vida zonza" descrita nessa letra nas "repúblicas" (podres) lá em Campinas. Em 2000, quando morava no bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza, enchia a cara e berrava o refrão de "Eu e minha ex" com o camarada Paulo Coting, para desespero dos vizinhos. Tempo bão. Uma mobilete velha, um garrafão de vinho vagabundo, cigarro "estoura-peito", planejamento zero e Júpiter Maçã rolando na fita cassete. "Querida Superhist", "As tortas e as cucas", "As outras que me querem", "Pictures and paintings"... Hoje é dia de (re)ouvi-las, "bebendo o morto". Muito grato, Flávio Basso. Esteja bem.



quinta-feira, dezembro 10, 2015

Que desperdício (de vinho)!

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Pensei que a notícia de que um dirigente do São Paulo F.C. deu um soco na cara do outro fosse imbatível para faturar o prêmio "Vale-Tudo do Poder" de 2015, mas eis que abro a inFernet e leio a sensacional, inacreditável e maravilhosa manchete:


Pois é - ou melhor, pois ZÉ (Serra). Segundo Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, durante jantar na casa do Eunício Oliveira, seu colega de Senado José Serra "simplesmente chegou numa roda em que não tinha sido chamado, sem mais nem menos" e falou para a ministra da agricultura: "Kátia, dizem por aí que você é muito namoradeira". Kátia - que, aliás, é apelido para cachaça ("kátiaça") - descascou na hora: "Você é um homem deselegante, descortês, arrogante, prepotente. É por isso que você nunca chegará à Presidência da República. Nunca lhe dei esse direito nem essa ousadia. Por favor, saia dessa roda, saia daqui imediatamente". E tascou-lhe o vinho no meio da fuça (leia detalhes aqui).

Taça da discórdia: Kátia Abreu bota o desengraçadinho José Serra em seu devido lugar

O mais divertido é que, apesar de ser do mesmo partido do nefasto senador (ambos fincam trincheiras no nefasto PSDB), Kátia Abreu ainda fez questão de salgar a terra, gritando pra quem quisesse ouvir: "De mais a mais, nunca traí ninguém na minha vida". Pô, aí já é vandalismo! Geraldo Alckmin deve estar rindo sozinho até agora. E isso me lembrou uma célebre máxima do - falecido e também tucano - Mário Covas: "Em banco que José Serra se senta, todo mundo se levanta". Se levanta ou joga na cara dele o que tiver à mão! Afinal, José Serra é conhecido há décadas por ter um senso de "humor" nada invejável. Diante de tanta baixaria, só me resta lamentar o vinho derramado. Será que não tinha uma Skol pra jogar na cara dele? No mais, Deus me livre de festa que junta tucanos...




"Kátia, afasta de mim esse cálice..."


 

quinta-feira, novembro 12, 2015

Alex, na Copa de 2002, esteve 'bêbado ou dormindo'

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Alex não ganhou a amarelinha de Felipão
Assim como Ciro Gomes, ao romper com o PSDB, passou um tempo nos Estados Unidos em que apenas "enchia a cara de saquê, ouvindo Marisa Monte", o ex-meiocampista Alex, hoje comentarista de futebol na TV, revela em sua recém-lançada biografia, escrita por Marcos Eduardo Neves, que descambou para a bebedeira ao não ser convocado para a Copa de 2002:

- Nunca fui de beber, mas comecei a tomar cerveja e vinho. Passei uns 40 ou 50 dias de loucura. A imprensa falando de Copa do Mundo e eu nem sabendo o que estava rolando. De acordo com o fuso horário da Coreia do Sul e do Japão, os jogos aconteciam de madrugada. Naqueles horários, eu estive bêbado ou dormindo. Eu era um f....

Segundo Alex, que também milita no movimento de atletas e ex-atletas "Bom Senso", uma briga em 2000 com um chefe de delegação da seleção olímpica pode ter influenciado para não ter sido chamado (o fracasso naquela Olimpíada, em Sidney, encerrou a passagem de Vanderlei Luxemburgo pela CBF). Mas a bronca é mesmo com Luiz Felipe Scolari, que Alex ajudou a ser multi-vitorioso no Palmeiras no fim dos anos 1990, o que credenciou o treinador a chegar a seleção. Por isso, o ex-jogador diz que perdoa "o técnico Felipão", mas não "a pessoa Felipão". Alex deixou isso claro em entrevista a "O Estado de Minas":

- Ele levou jogadores que até aquele momento tinham histórias bem menores do que a minha na Seleção. No corte do [volante] Emerson, além de eliminar o sonho do capitão da Seleção, ele levou o Ricardinho, que não tinha cinco jogos pela Seleção. O golpe foi de assimilação complicada.

Naquele mesmo ano de 2002, a maior polêmica foi a não convocação de Romário, que já havia disputado duas Copas e ganho uma delas. Depois da bebedeira, Alex teve breve passagem pela Itália e retornou ao Brasil, em 2003, para comandar o Cruzeiro na conquista da "tríplice coroa": Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Brasileirão (quando foi o craque da competição). Depois, virou ídolo no Fenerbahçe, da Turquia, onde conquistou títulos, voltou a ser convocado pela seleção brasileira, em 2005, e ganhou até estátua na porta do estádio. Porém, Carlos Alberto Parreira também não o levou para a Copa de 2006, na Alemanha. Mas, na mesma entrevista a "O Estado de Minas", o ex-meiocampista alivia:

- Em 2006, Parreira foi honesto demais comigo e minhas expectativas eram pequenas.

Da mesma forma, mesmo com Alex "voando baixo" no Fenerbahçe, Dunga não o levaria à África do Sul, em 2010. E, no ano passado, quando Felipão levou o eterno 7 x 1 na Copa disputada no Brasil, Alex se despediu do futebol profissional ainda em grande forma. Eu mesmo, em 2013, quando ele decidiu voltar ao Brasil, lamentei que o São Paulo não o tivesse procurado. Prova disso foi que meu time sofreu nas suas mãos (ou melhor, nos seus pés) ao ser derrotado no Brasileirão daquele ano, assim como já havia sofrido, no Torneio Rio-São Paulo de 2002, às vésperas da (fatídica) Copa, um antológico golaço de Alex.

Mas foi isso: Anderson Polga (lembram?!?) foi campeão mundial como titular na seleção do Felipão. O craque Alex, não. Os deuses do futebol são mesmo muito estranhos...



quarta-feira, novembro 11, 2015

Manguaça medicinal

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(Da parede de um buteco na região da Praça da Sé, no Centro de São Paulo)


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Som na caixa, manguaça! (Volume 14) - "Boteco do Arlindo"



terça-feira, agosto 25, 2015

Contrato de professora exigia: 'Não beber cerveja, vinho ou uísque'

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Circula na inFernet um "Contrato de Professores" de 1923, mas direcionado exclusivamente às "senhoritas". Um verdadeiro show de machismo (institucionalizado): determina que a tal "senhorita" que assinasse o acordo para dar aulas num período de oito meses comprometia-se a, entre outras barbaridades, "não se casar" (!), "não andar em companhia de homens" (!!), "ficar em casa entre às [sic] 8h da noite e às [sic] 6h da manhã" (!!!), "não passear pelas sorveterias" (!!!!) e "não abandonar a cidade (...) sem permissão do presidente do Conselho de Delegados" (!!!!!). Mas não apenas isso. Também há cláusulas castradoras em relação ao fumo e à manguaça. Confiram:


Se a imagem dificulta a leitura, reforço os itens 6 e 7: "Não fumar cigarros. Este contrato ficará automaticamente anulado e sem efeito se a professora for encontrada fumando" e "Não beber cerveja, vinho ou uísque. Este contrato ficará automaticamente anulado e sem efeito se a professora for encontrada bebendo cerveja, vinho ou uísque". O contrato ainda arrematava: "Não viajar em carruagem ou automóvel com qualquer homem, exceto seu irmão ou seu pai". Se considerarmos que, de qualquer forma, uma professora já era, naquele tempo, mais independente e autônoma que as outras mulheres, fico imaginando as proibições "não escritas" às esposas e donas-de-casa da época. Impressionante.

Ps.: Segundo o leitor Renato, "este contrato é verdadeiro. Esta no livro “Trabalho docente e textos” (edição de 1995 da editora Artes Médicas, na página 68) de Michael Apple, sociólogo estudioso da área de currículo".

quinta-feira, janeiro 08, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 81

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Totalmente em prantos

(Evandro Mesquita/Ricardo Barreto)

BLITZ

Baby, andei bebendo por aí
E sei que não devia ter voltado
Mas é que eu tenho
Outra vez o coração atropelado
Me desculpe se eu te amolo
Baby, please me dê colo

Todo vestido bonitinho
E não tenho onde cair
Todo vestido bonitinho
E sem nenhum lugar pra ir

Eu tenho um fusca meia nove que fala
Tem headfone, toca-fitas no porta-mala
Eu tenho um quarto de gasolina no tanque
Várias gatas do ranking
Baby, eu tenho quase tudo que quero
Só não tenho você

Quando dei por mim
Estava perto do fim
À beira do abismo
Chorava pelos cantos
Quando dei por mim
Eu estava totalmente em prantos

Eu vi sua foto numa revista para homens
Proibida pra menores de vinte e um
Na folhinha de janeiro
Na parede do borracheiro

Eu chorei quando vi

Baby andei bebendo por aí...

Eu trouxe um vinho tinto barato
Barato mas bom me disseram
Eu tenho um pouco fumo
Que uns amigos me deram
Baby, eu tenho quase tudo que quero...

Só não tenho você

(Do LP "As aventuras da Blitz", EMI, 1982)


quinta-feira, outubro 23, 2014

Aceita uma taça?

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Cientistas querem abrir garrafa de vinho radicalmente envelhecida: acredita-se que tenha 1650 anos de idade. Ela foi encontrada numa cova romana perto da cidade alemâ de Speyer e está hoje num museu histórico localizado no mesmo local.

E aí, alguém se habilita a um brinde?



sábado, março 01, 2014

Vinho de lei

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Já vi muita gente fazer promessa usando uma longa fase sóbria, sem beber, em retribuição à ajuda metafísica ou transcedental na busca por causas impossíveis. Só de um caso tive notícia de quem tivesse prometido passar uma temporada sem comer uvas.

E a tentação veio aos cachos, quando lhe ofereceram uma taça de vinho.

– Vinho é uva? – perguntava-se angustiado o incauto fiel. – Poderei tomar sem quebrar a promessa?

Fosse hoje, pela lei dos homens, a resposta seria sim.

Relativamente 

Deu no Diário Oficial da União de segunda-feira, 24. Foi publicado decreto nº 8.198/2014, que regulamenta a lei do vinho, a nº 7.678/1988. E vinho não é uva.

Vinho é a bebida feita a partir de um fermentado de mosto de uva sã, fresca e madura. Mosto é sinônimo de um preparado para fermentação. Pode ser simples, concentrado, sulfitado ou cozido. No caso, sumo de uva com casca macerada ou "corrigido", repleto de açúcares naturais (ou adicionados, no caso dos exemplares menos nobres), pronta para a ação de micro-organismos anaeróbios. Ao crescerem e se multiplicarem, essas bactérias do bem convertem os açúcares em álcool.

Dias antes da publicação, a presidenta Dilma Rousseff havia antecipado a medida em Caxias do Sul (RS), na festa da uva de um dos polos produtores no país (há concentrações assim em 10 estados). Ela disse ser "uma parceira do setor" – quase igual à afinidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com temas afetos.

Vinho e derivados

O Brasil consome 1,26 litro de vinho por ano. O Vaticano, 74Franceses tomam 57. Apesar da diferença proporcional, o crescimento do interesse dos brasileiros vem aumentando fortemente, e dobrou em 10 anos.

Foram 25 anos de espera para delimitar o que pode receber a alcunha da bebida que remonta à antiguidade e até aos tempos e textos bíblicos. Quem está envolvido com a produção envase e comercialização do produto terá 180 dias para se adequar. A legislação define quem compõe a cadeia produtiva da bebida, o papel do Ministério da Agricultura e Pecuária e as divisões do estabelecimento, com finalidade de traçar regras sanitárias e de padronização.

Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no vale do São Francisco, são polos produtores de uva e de vinho. No país, o Ministério da Agricultura reconhece que há esse tipo de concentração em 10 estados

Derivados como jeropiga, conhaque, bagaceira e grappa estão também no texto do decreto. Vinagre de vinho e espumantes (e seus tipos sec, demi-sec, brut e extra-brut) figuram pelas páginas do texto.

Mesmo as regras de fiscalização aduaneira e de testes de amostragem sobre produtos que desembarcam no país foram redefinidos. Vinhos de "excepcional qualidade", por exemplo, podem não precisar ser submetidos a verificações laboratoriais, a exemplo dos exemplares destinados a concursos e degustações.

Lei sóbria

A cachaça, a cerveja e destilados em geral também têm leis ou regulamentações específicas.

Isso facilita a organização de empresas que desejam produzir, distribuir e vender esse tipo de produto, porque regra clara facilita o bom andamento do jogo.

Ao prever que adulteração do vinho ou das etapas de produção são infrações que ensejam responsabilização e punição, o ministério cria instrumentos para fiscalização. A rigor, a redação de um decreto assim é importante e atende a interesses dos produtores, embora terminologias como "reserva" e "gran reserva" ainda dependam de instruções normativas específicas. Não chega a compor uma política pública, apenas o regramento.

Fica longe do Manguaça Cidadão. Mas pode ser um passo.

quarta-feira, julho 24, 2013

Djalma Santos: taça de vinho, seleção da Fifa e o adeus

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Nunca tínhamos sido tão felizes! Djalma Santos, Pelé e Garrincha na Copa da Suécia, quando, pela primeira vez, "o brasileiro, lá no estrangeiro, mostrou o futebol como é que é!"

Na Lusa: bicampeão do Rio-São Paulo
Morreu Djalma Santos, considerado o maior lateral-direito do mundo em todos os tempos, bicampeão pelo Brasil nas Copas da Suécia e do Chile. Revelação da Portuguesa, onde jogou de 1949 a 1958, brilhou na fase áurea do clube, com Pinga, Julinho Botelho e Brandãozinho. Esse time conquistou o Torneio Rio-São Paulo em 1952 e 1955 e a Fita Azul em 1951 e 1953 (premiação do jornal "A Gazeta Esportiva" aos clubes brasileiros que ficassem, pelo menos, dez jogos invictos em excursões internacionais). Djalma Santos ainda é o segundo maior recordista de jogos da Lusa: 434. Suas atuações pela Portuguesa renderam a primeira convocação para uma Copa do Mundo, a da Suiça, em 1954. Djalma foi titular nas três partidas disputadas e, na famosa "Batalha de Berna", jogo em que o Brasil foi goleado por 4 a 2 pela Hungria de Puskás e eliminado da competição, fez  um dos gols da nossa seleção - o outro foi marcado pelo seu companheiro de clube Julinho Botelho.

Brasil campeão, em 1958: Djalma Santos, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar (em pé); Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo e o massagista Mário Américo (agachados)

Sete títulos ganhos no Palmeiras
Mas a glória de Djalma Santos viria quatro anos depois, na Suécia. Ainda jogador da Portuguesa, ficou no banco de reservas até a decisão, quando o titular De Sordi, lateral-direito do São Paulo, se contundiu. Djalma teve uma atuação tão brilhante no jogo que deu ao Brasil sua primeira Copa do Mundo que, mesmo tendo disputado apenas uma partida, foi eleito o melhor jogador da posição de todo o mundial. Tal prestígio garantiu sua contratação pelo Palmeiras, onde viveu a melhor fase de sua carreira. Em nove anos (498 jogos), conquistou o Campeonato Paulista em 1959, 1963 e 1966, o Torneio Rio-São Paulo em 1965, a Taça Brasil em 1960 e 1967 e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967 - os três últimos reconhecidos posteriormente como Campeonatos Brasileiros pela CBF. A boa fase fez com que fosse à Copa de 1962 como titular, onde conquistou o bicampeonato mundial para o Brasil. Mas, lá no Chile, houve um episódio que quase o complicou.

Bicampeão pelo Brasil em 58 e 62
No livro "As melhores seleções brasileiras de todos os tempos" (Editora Contexto, 2010), do narrador Milton Leite, o veterano Djalma Santos relembrou: "Num dia de folga, eu e o Vavá [atacante] saímos e resolvemos tomar uma taça de vinho. Sabe como é, vinho chileno é bom e lá é baratinho. Nós estávamos lá e os jornalistas passando, olhando. Foram falar com o Carlos Nascimento, supervisor, que tinham visto a gente e tudo mais". Porém, a intriga da imprensa não colou. "Como eles tinham confiança nos jogadores, o Aymoré [técnico] me chamou e perguntou se eu tinha bebido, eu disse que sim, uma taça. Ele assumiu e disse para os repórteres que não tinha problema nenhum, que todo mundo ali era responsável. Provavelmente, se não houvesse essa confiança, nós teríamos sido punidos ou teria saído uma manchete 'Djalma bêbado' ou algo assim", contou o ex-lateral-direito. Nada disso, como se sabe, prejudicou sua imagem. Tanto que, no ano seguinte, viveria o auge de seu prestígio.

Seleção da Fifa, em 1963: Puskás é o primeiro em pé, ao lado de Djalma Santos; os outros são Yashin, Schnellinger, Pluskal, Popluhar, Masopust, Kopa, Law, Di Stéfano, Eusébio e Gento

Djalma na primeira Seleção da Fifa
Em outubro de 1963, a Fifa, entidade máxima do futebol, convocou pela primeira vez em sua história uma seleção dos melhores jogadores do mundo, para disputar um amistoso com a seleção da Inglaterra, no lendário estádio de Wembley, em comemoração aos 100 anos da publicação das “Regras do Jogo”, convencionada como data de criação do futebol. E da seleção brasileira, simplesmente bicampeã do mundo, apenas um jogador teve a honra de ser convocado para a equipe internacional: Djalma Santos. Começou jogando e foi titular durante todo o primeiro tempo, ao lado de mitos como o goleiro Yashin e os atacantes Kopa, Di Stéfano, Eusébio e Gento (Uwe Seeler e Puskás entraram depois). Enquanto jogou, Djalma anulou Bobby Charlton - que seria campeão na Copa da Inglaterra três anos depois - e o placar manteve-se zerado. No segundo tempo, a Inglaterra venceu por 2 a 1. A torcida só veria outros brasileiros na Seleção da Fifa 16 anos depois, num amistoso contra a Argentina em que jogaram o goleiro Leão, o lateral Toninho e Zico. Mais tarde, Sócrates, Falcão, Júnior, Taffarel, Aldair, Ronaldo, Cafu, Rivaldo e Kaká também seriam convocados pela Seleção da Fifa, a partir do caminho aberto por Djalma Santos.

Com Bellini, no Atlético: campeão em 70
Depois de participar da fracassada campanha na Copa de 1966, Djalma se despediu da seleção brasileira dois anos mais tarde, em um amistoso, quando foi substituído simbolicamente por Carlos Alberto Torres - que seria o lateral-direito e capitão do tricampeonato no México. Aos 39 anos, rumou para o Atlético-PR junto com o colega Bellini. Lá em Curitiba, venceu o Campeonato Paranaense de 1970 e encerrou a carreira em 1972, aos 43 anos. Em vida, recebeu o reconhecimento que merecia: foi eleito por especialistas no mundo todo como o maior lateral-direito da história do futebol, incluindo as eleições da Revista Placar (em 1981), Revista Venerdì Magnifici (1997), A Tarde Newspaper (2004) e novamente a Placar, em sua última pesquisa. Hospitalizado desde 1º de julho no município mineiro de Uberaba, onde morava há duas décadas, Djalma Santos faleceu ontem, dia 23, após uma parada cardiorrespiratória decorrente do agravamento de uma pneumonia. E o futebol ficou mais triste.

São Paulo, 1960: Djalma Santos, Poy, Fernando Sátiro, Riberto, Gildésio e Vítor (em pé); Julinho Botelho, Almir Pernambuquinho, Gino, Gonçalo e Canhoteiro (agachados)

Ps.: Termino o post recordando um fato pouco conhecido pelos não-sãopaulinos: o dia em que Djalma Santos vestiu a camisa do clube, em um amistoso contra o Nacional do Uruguai, a segunda partida da história do Morumbi. Para esse amistoso, vencido por 3 a 0, o São Paulo recebeu reforços dos clubes "co-irmãos" (bons tempos aqueles da convivência pacífica!): Djalma e Julinho Botelho, do Palmeiras, e Almir Pernambuquinho, do Corinthians. Para infelicidade da Nação Tricolor, uma distensão de última hora tirou da partida Pelé, cedido pelo Santos.

Adeus e muito obrigado! Foram 111 jogos, 79 vitórias e três gols pela seleção brasileira

sexta-feira, maio 31, 2013

Procura-se voluntário para beber cerveja e evitar doenças do coração

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Deu no Estadão desta sexta-feira, 31.
O Hospital do Coração, de São Paulo, promete repetir estudos sobre vinhos para medir o papel do consumo moderado de cervejas na prevenção de doenças do coração.
A inovação: avaliar a cerveja em seu mais nobre papel, o de alimento.
Como já ensinava Noel Rosa e tantos outros ébrios de menor reputação boêmia, o fermentado de malte com água e lúpulo é pão líquido. E, que se sólido fosse, Jânio Quadros e todo manguaça comê-lo-ia.
Segundo consta, faltam detalhes a serem definidos no estudo, mas serão formados dois grupos para comparações, um de abstêmios e outro de consumidores regulares de breja.
O álcool tem papel de prevenir entupimentos de artérias e de preservar vasos sanguíneos. As vitaminas do complexo B também ajudam.
O problema é que, certamente, a pesquisa vai concluir que moderação é pré-requisito para que o bem cresça no médio prazo. Tudo porque também se sabe dos efeitos nocivos do etanol  para outros órgãos, como o fígado (aka Figueiredo), pâncreas, estômago, e mesmo para favorecer diabetes, hipertensão e por aí vai.
Quem sabe o estudo desvenda de vez a quantidade equivalente à moderação?
Isso quer dizer que haverá voluntário comedido, atlético, bêbado contumaz, de perfil mais do boteco e mais doméstico, além de outros espécimes. Então, admito, o título do post fica meio inadequado, otimista -- como um copo meio cheio na mesa do bar.
Até lá, a gente só sabe que pode usar cerveja no lugar de isotônico, para hidratação depois de praticar esportes. Só precisa começar alguma atividade esportiva antes de pensar nesse uso...
Foto: VulcanOfWalden/WikiCommons

terça-feira, abril 09, 2013

"Adeus pintura, olá cerveja"

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Cachaça não é água. Cerveja não é água. Nem é vinho, nem tinta spray, nem é cola branca, nem manteiga de amendoim...

E tem dias em que um gole parece seguir, goela abaixo, como água... Em outros, embrulha o estômago como cola.

As metáforas podem seguir por rumos variados.

O artista plástico Peter Cuba, que vive em Chicago, montou uma série de peças transformando cada um desses itens em... Budweiser... As imagens, exibidas no perfil do moço no Flickr, sob a alcunha de Two Horse Town, são divertidas, quase nonsense.


 
   

A obra foi publicada em 2010, dois anos depois da compra da americana Anheuser-Busch pela belgo-brasileira InBev. E muito tempo antes da referida marca voltar às prateleiras dos supermercados brasileiros, agora disputando espaço no segmento premium.

Com a explicação da proposta da instalação, tudo fica muito mais claro: "Minha nova arte é pôr rótulos de Budweiser em outras coisas. Adeus pintura, olá bebida". 

Como ironiza Randy Ludacer, do Box Vox, "diluir a marca, nunca a cerveja".

quinta-feira, janeiro 17, 2013

A volta do boêmio

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"Boemia, aqui me tens de regresso
E suplicante te peço a minha nova inscrição..."

Voltei!

E (re)começo com o título e alguns trechos do maior clássico de Adelino Moreira, na voz de Nelson Gonçalves, como fundo musical. Por quê?

Buenas, no post anterior que escrevi para o Futepoca, há (quase) um ano e meio, terminei dizendo que ia "beber um vinhozinho" para espantar o frio, a chuva, a deprê pré-segunda-feira e, principalmente, a dor de cabeça pelos 5 a 0 que o Corinthians aplicou impiedosamente sobre o meu time, naquele 26 de junho de 2011. Pois é, a ressaca do tal "vinhozinho" custou a passar... Mas "o bom filho à casa torna" - ou seria "o bom bebum ao bar entorna"? - e aqui me reapresento, disposto ao (bom) combate.

"Boemia, sabendo que andei distante,
Sei que essa gente falante vai agora ironizar:
- Ele voltou! O boêmio voltou novamente.
Partiu daqui tão contente. Por que razão quer voltar?"

Acontece que o Futepoca, tanto quanto suas próprias "razões sociais" (futebol, política e cachaça), é um vício. Mais do que isso: é uma família. E em família a gente bebe, discute, briga, bebe de novo, se afasta, se reconcilia, discute mais um pouco, bebe, chora, dá risada, faz drama, bebe a saideira, conversa, se abraça e, muitas vezes, chega num acordo. Ou não (rs). No meu caso, não teve discussão nem briga nem drama. Só um afastamento, digamos, necessário. Mas, felizmente, temporário.

Porque, como diz o Gilberto Gil, na letra de outro clássico, "Back in Bahia":

"Por algum tempo, que afinal passou depressa, como tudo tem de passar
Hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo de vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá"

E porque um filho teu não foge à luta!

Voltei pra família Futepoca, cerrando fileiras novamente com Anselmo, Brunna, Fredi, Glauco, Maurício, Nicolau e Thalita. Agora me aguentem! (rs)

Beijos e abraços,
Marcão

Ps.1: A foto acima foi tirada pela - paciente, compreensiva e companheira - Patricia, no primeiro dia do ano, enquanto eu cantava e batucava na mesa da sala ao som de Benito di Paula, bebendo um Bicho Verde (Martini 40 ervas) misturado com caldo de pêssego. Sobrevivemos.

Ps.2: SOM NA CAIXA, MANGUAÇA:




quinta-feira, novembro 01, 2012

Uma imagem sobre os instintos mais primitivos

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segunda-feira, dezembro 12, 2011

Cachaça orgânica e vinho no armazém da agricultura familiar

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Uma loja virtual para negociar no atacado e no varejo com cooperativas de agricultura familiar. É a promessa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com a Rede Brasil Rural. A plataforma vai ser lançada nesta terça-feira, 13, em Porto Alegre, terra do ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho (que pouco tem de fazendeiro, mas atende à representação do agronegócio na Esplanada).

A estrutura parece bem pensada, com ferramentas para facilitar o acesso de produtores a editais de licitação para compra de alimentos para merenda escolar. Acontece que Lei da Alimentação Escolar prevê que, no mínimo, 30% dos recursos para a merenda escolar sejam destinados diretamente a agricultores familiares.

 Produtores orgânicos no Paraná são 5 mil

Pode parecer muito, mas agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos consumidos pela população brasileira, segundo o Censo agropecuário de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso, a atividade ocupa 24,3% da área total dedicada a lavouras e 38% do valor bruto da produção.

Pode parecer, então, pouco, já que em média é dessas propriedades que vem o arroz e feijão nossos de cada xepa. Talvez. O dado objetivo é que muitas prefeituras não conseguem encontrar fornecedores aptos e tem de rebolar para cumprir a legislação.

Mas o ponto alto da história é a possibilidade de comprar insumos e vender alimentos e produtos diretamente ao consumidor final. Com os Correios organizando a logística (toda descentralizada) de retirada e entrega de encomendas e pagamentos seguros pela internet, é possível passear virtualmente pelo Armazém Virtual da Agricultura Familiar.

O primeiro item de interesse comunitário: cachaça orgânica.

Embora o destilado de cana seja, no que tange à maioria dos produtores artesanais, cultivado a partir de plantas sem agrotóxicos nem insumos químicos, são relativamente poucos os rótulos com certificação. E mais difícil ainda é achar a danada feita fora dos principais polos – leia-se as grandes de Minas Gerais e uma ou outra renomada de fora desse circuito.

Outro item que pode ser incluído na cesta de compras do ébrio navegante – mas com consciência social para buscar produtos de qualidade, em uma perspectiva que se aproxima do comércio justo – é o vinho. A explicação para o fenômeno, nesse caso, envolve o fato de que boa parte das 1,6 mil cooperativas pré-inscritas têm sede na região Sul, especialmente no Rio Grande.

A primazia dada aos alcoólicos pelo recorte aplicado neste texto ainda não foi incorporada pelo MDA. Um dia, quando o Manguaça Cidadão for estruturado, isso muda. Considere-se que é Dilma Rousseff quem vai participar do lançamento do programa, e não Luiz Inácio Lula da Silva, cuja posição sobre o universo etílico era sabidamente mais alinhada à do Futepoca.

No Armazém, há ainda queijos finos, sucos, artesanato e cosméticos produzidos a base de matérias-primas brasileiras. Detalhes, detalhes.

Atualização às 13h10 de 15/12/2011:

O Rede Brasil Rural fica em www.redebrasilrural.mda.gov.br

sábado, julho 30, 2011

Bebia-se no Rio de Janeiro de 1900

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O título do post faz referência ao capítulo 17 de Antologia da Alimentação no Brasil, livro de Câmara Cascudo que trata dos hábitos, rituais, receitas, pratos e quetais que ajudaram a constituir a identidade brasileira. Como já comentou o Anselmo aqui, o trabalho do historiador e antropólogo, resgatava aspectos da cultura brasileira que nem sempre eram destacados por estudiosos das Ciências Humanas à época, e mesmo hoje. Aliás, Cascudo morreu há exatos 25 anos...

Voltando ao capítulo da obra, trata-se de uma excerto publicado originalmente em O Rio de Janeiro do meu tempo, de autoria do também historiador Luís Edmundo, um apaixonado pela terra de Estácio de Sá, nascido em 1878 e falecido em 1961. Ele descreve de forma saudosista o início do século XX na cidade, em especial da vida noturna daquele já longínquo 1900:

Só os ricos podiam criar, para viver, ambientes agradáveis em matéria de conforto, a grande massa da população vivia mal, sobretudo durante o estio, quando a casa de residência se transformava numa verdadeira estufa, sem os naturais recursos de defesa que em outras partes do mundo já então se empregavam para suavizar os rigores da estação.

Assim, segundo Edmundo, as mulheres e crianças ficavam em casa, enquanto os homens saíam para “espairecer” e diminuir os efeitos deletérios do calor carioca.

Somente, por essas noites de espairecimento e alívio, em qualquer desses lugares, diga-se de passagem, bebia-se muito, bebia-se demais, bebia-se como talvez não haja ideia de se haver bebido no Brasil. Bebia-se pelas compoteiras!

Segundo ele, à época dava-se preferência às bebidas trazidas pelos portugueses, os vinhos vindos do Porto e da Madeira, e a aguardente de cana. Embora o calor exigisse bebidas mais frescas e menos pesadas, “o que se procurava beber, quase sempre, era o corrosivo de 14 graus, ou mais, que malbaratava o fígado, causticava o estômago, pondo em perigo de miséria todo o sistema vascular, os rins e o coração”. Conforme Edmundo, “mais que a febre amarela, endêmica, matava o abuso do álcool. A displicência dos poderes públicos, em questões de saúde, corria, então, parelha com a ignorância do povo”.

Mas por que a população não tinha desenvolvido ainda o hábito de tomar uma cervejinha? Um dos motivos era o boicote e a campanha difamatória dirigida por negociantes de vinho, que também atuavam contra produtores nacionais de vinho no Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Essa explicação, na verdade, não consta do trecho do livro de Cascudo, mas do original de Edmundo.

Se não era cerveja a bebida mais consumida, o vinho, principalmente o português, era quem dominava o cenário etílico do Rio. Também se fazia campanha contra a bebida de outros países como França, Espanha, Alemanha, Itália e Áustria, tanto que se criou a expressão “de dar azia em caixa de bicarbonato” para esses vinhos, exaltando-se a qualidade supostamente superior do exemplar lusitano.

As estatísticas oficiais de 1900 dão uma mostra do quanto se bebia no país (e no Rio) naquela época. Com 22 milhões de habitantes, importávamos de Portugal 43,4 milhões litros de vinho só de Portugal. Isso é mais do que o Brasil importou, levando-se em conta vinhos e espumantes, em 2005.

Bebida gelada

Havia outra dificuldade para a popularização da cerveja como bebida nacional no Brasil do século XIX e início do XX. O gelo industrializado só chegou ao Rio em 1835 (e a primeira geladeira doméstica veio apenas em 1913), como lembra Câmara Cascudo no capítulo Esfriando Bebidas e havia um preconceito contra as bebidas geladas. Ainda vigorava entre as pessoas a noção difundida pelo médico judeu Isaac Cardoso, que em Madri publicou, em 1637, contra-indicando a ingestão de líquidos frios. Aliás, tal noção de que isso “faz mal” ainda é bastante popular nos dias que correm...

Para “esfriar” (não se falava em “gelar”) as bebidas, as técnicas eram várias, de acordo com o lugar. A garrafa de vinho era metida numa meia grossa ou pano úmido e borrifava-se de novo quando secava, ficando ao relento da noite e depois coberta com areia molhada ou serragem. Outra estratégia era deitar em grandes bacias de alumínio ou enterrá-la na beira de córregos e rios (com certeza em áreas montanhosas isso funciona). Já em locais onde ocorrem geadas e chuvas de granizo, a solução era armazenar e usar sal de cozinha para conservar por mais tempo a garrafa em baixas temperaturas.

Quando for tomar uma gelada, agradeça – e muito – pela geladeira existir...

quarta-feira, maio 25, 2011

Singela homenagem

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Três anos depois da camisa roxa, com versões ainda mais fúnebres, o Corinthians lança outro terceiro uniforme: cor de vinho (!). E por que cor de vinho? Tão dizendo aí que é pra homenagear o italiano Torino. Quase isso. Trata-se de um outro time cujo uniforme é cor de vinho e o nome também começa pela sílaba "To". Mas é colombiano e enfrentou recentemente o Corinthians, na fase pré-classificatória da Copa Libertadores. Que bonita essa homenagem! Isso é que é fair play...

Camisa do Tolima (à esquerda) e a nova do Corinthians (à direita): a cor é coincidência?

segunda-feira, abril 25, 2011

A cura para a insônia de Stalin

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No livro "Um Stalin desconhecido - Novas revelações dos arquivos soviéticos", dos irmãos Zhores e Roy Medvedev (Editora Record, 2006), um capítulo discorre sobre a saúde do mandatário russo na década de 1940. Na época, ele vivia e trabalhava em uma propriedade ("dacha") próxima a Moscou, num bosque do distrito de Kuntsevo. E, para os apreciadores do fermentado de uva que passarinho não bebe, há um detalhe curioso da rotina de Iosif Stalin:

Dormia sempre em Kuntsevo, onde frequentemente recebia amigos e camaradas do Partido para "jantar", como costumava dizer. Importantes questões de governo eram decididas com frequência nessas reuniões. Grande quantidade de álcool era consumida, embora, segundo muitas testemunhas, Stalin bebesse apenas vinho georgiano, remédio por ele mesmo receitado para a insônia que o atormentava. Certos médicos, com efeito, recomendam o álcool como sedativo.

De fato, não só o vinho como também a cerveja tem feito muito marmanjo dormir em mesas de buteco por aí...

quarta-feira, abril 20, 2011

Lei Seca é prejudicial à saúde!

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A esdrúxula e incongruente imposição de Lei Seca pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, durante a Virada Cultural, no fim de semana, teve como efeito colateral um problema de saúde muito pior do que possíveis ressacas. Segundo o portal IG, em materinha intitulada "Vinho químico é o crack das bebidas", a proibição da venda de bebidas pelos estabelecimentos comerciais legalizados durante o festival de eventos públicos que atravessou todo o sábado e domingo fez com que milhares de ambulantes clandestinos oferecessem ao público "uma perigosa mistura artesanal de etanol (o mesmo vendido em postos de gasolina), pigmento e doçura similar à groselha e corante". De acordo com a reportagem, "com 96% de álcool, bebida apreendida em São Paulo é altamente tóxica e compromete fígado e cérebro".

Mais de 17 mil litros (!!!) do chamado "vinho químico" foram apreendidos. A bebida era oferecida em garrafinhas (foto acima) com valores entre R$ 1,5 e R$ 10 - um convite tentador aos milhares de manguaças que se viram privados de beber enquanto se divertiam. Segue o texto do IG: "O que assusta é a quantidade elevada de etanol, que representa 96% da mistura. Esse índice supera o teor alcoólico de bebidas fortes como a cachaça, que tem de 38% a 54% de álcool no Brasil. A graduação máxima permitida por lei, de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é de 54%. (...) Se comparada a outras bebidas, a discrepância é ainda maior. Vodca e uísque variam o teor alcoólico entre 40% e 50%. Um vinho de verdade apresenta em torno de 12%, enquanto uma cerveja pilsen, o tipo mais consumido no país, contem entre 4,5% e 5% de álcool". Uma médica ouvida pela reportagem classificou a mistura como "uma bomba".

Pois é, moralistas de plantão (ou pior que isso: políticos moralistas de plantão). Proibir não resolve, quando as pessoas querem consumir, sempre vai ter alguém querendo ganhar dinheiro em cima. O problema não é proibir, é controlar, fiscalizar, acompanhar, punir excessos e prestar assistência. Moralistóides como Gilberto Kassab só conseguem regredir o Brasil ao início do século passado, quando a Lei Seca foi adotada nos Estados Unidos e, como consequência, criou uma das quadrilhas mafiosas mais notórias de todos os tempos, além de matar milhares de pessoas com bebidas da pior qualidade e procedência desconhecida - porque, óbvio, ninguém deixou de beber! É o que acontece agora, com o tal "vinho químico". Essa é a política de saúde (moralista e irresponsável) da maior cidade da América Latina.

sábado, março 05, 2011

Fui ao Chile beber... cerveja

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O décimo maior produtor de vinhos do planeta é um país com o formato de uma salsicha. Extenso latitudinalmente e estreito de longetude, o Chile produz 9,9 milhões hectolitros – perto de 1 milhão de piscinas de mil litros – mas exporta dois terços disso. Ainda que os 16 milhões de habitantes deem conta de seus 18 litros anuais per capita, é preciso mais. Afinal, muita gente quer se embriagar.

Foi por isso que, nos intervalos entre uma degustação e outra dos vinhos no país, eu resolvi fazer uma incursão pelo universo das fermentadas de malte de cevada – e eventualmente milho e arroz – do país de Pablo Neruda. Até porque, falta-me conhecimento para expor meus achados enólogos, além de capacidade para perceber nuances, taninos, terroirs e outras peculiaridades desse lado dos fermentados.

Alguém pode cobrar informações sobre o pisco, a aguardente do mosto da uva que leva o nome de uma cidade portuária peruana mas é produzido também nas regiões três e quatro do Chile. O motivo de uma guerra etílica pelo controle da nomenclatura (e da paternidade do pisco sour) não entrou na prova dos sete dias com barreiras para meu fígado. Uma pena.

Outro motivo para justificar o apelo da cerveja foi a informação inusitada de que uma das maiores colônias de imigrantes no país dos 22 mineiros outrora soterrados é a de... alemães. Bom, os espanhóis e bascos superam os germânicos, mas é um dado inusitado para quem cabulou as aulas de geografia. Embora não tenha visto um sequer, consta que vivem todos mais ou menos contidos no estado de Valdívia, batizado sob o herói nacional e não de parente algum do camisa 10 palmeirense.

E não fui o único a fazer isso neste mundo.

Todas as descritas aqui, com exceção da primeira, são produzidas por plantas da Compañía de Cervecerías Unidas, uma multinacional que também está na Argentina. A empresa é dona também da bodega Gato Negro, a marca mais popular (leia-se barata) de vinho chileno.

Às geladas

La Casa en el Arte - Ambar Ale

fabricada pela Cerveza Oberg, de Santiago, para um bar

Parei, com sede, no La Casa en el Aire, um bar e restaurante no bairro Bellavista, em Santiago, perto do zoológico e da La Chascona, casa de Neruda na capital. Confesso que quase pedi um suco qualquer, mas fui compelido a honrar meu dever manguaça e experimentar a cerveja da casa. Ela é produzida pela Oberg, uma empresa que tem sua produção, mas a vende garrafas com rótulo de quem comprar o lote – como bares e restaurantes. Algumas cervejarias brasileiras fazem esse tipo de terceirização. A ambar ale da Oberg é frutada em excesso para mim, quase uma vitamina. Para quem cogitava um suquinho, a pedida veio a calhar.

Kunstmann Pale Ale
www.cerveza-kunstmann.cl/ 
Torobayo, Valdívia
Uma cerveja também frutada, mas bem mais equilibrada e suavemente. Cor de âmbar, não tão escura. Ela ficou bem com um congrio que almocei, mas provavelmente teria ido melhor com comidas mais fortes. Quer dizer, eu beberia em vários contextos, só inclui essa informação para fazer de conta que foi uma escolha pensada. O copo era da Cristal, o que deixa a foto meio estranha, mas o conteúdo, até pela cor, não deixa dúvidas.


Kunstmann Lager Sin Filtrar
www.cerveza-kunstmann.cl/
Torobayo, Valdívia
Quando vi que era uma cerveja não filtrada, me acometeu a ideia de que seria algo parecido com um chopp. Engano de bêbado, já que o líquido amarelado consumido nos barzinhos por aí (tratado como "águinha", por alguns inveterados) é, sim, límpido; só não é pasteurizado. Assim, essa pale lager é turva e saborosa, amarga de um jeito bem interessante. Fica refrescante e, segundo a ideia do fabricante, remete ao tempo em que o fermentado de malte não era purificado de nenhum jeito. A foto ficou bem desfocada, mas o jeitão turvo é da cerveja mesmo.


Austral
www.cervezaaustral.cl/
Punta Arena, Patagonia chilena
Uma English pale ale avermelhada. Começa bem, mas termina menor, mais suave do que eu esperaria. Claro que é muito melhor do que cervejas industriais e que vale a pena ser provada. Mas a equivalente desta da Kunstmann foi melhor.


Cristal
www.cristal.cl/
Industrial, com várias fábricas
Para ninguém ter dúvida de que a aventura era para valer, provei também a Cristal, que patrocina o campeonato chileno de futebol. É uma cerveja que tenta disputar com a gigante belgo-brasileira Inbev, que espalha o chopp Brahma Extra pelos bares e restaurantes. É bem o estilo das pielsen brasileiras vendidas em botecos, leve, clara e sem muita graça. A não ser em dias quentes em que tudo o que você quer é ficar sentado na mesa de bar conversando sobre o Sebastián Piñera, o Colo Colo e a herança autoritária no cotidiano da ditadura de Augusto Pinochet. Ela "compete" com a Escudo, cuja garrafa de um litro tem tampa de plástico rosqueada, igual à de garrafas pet de refrigerante ou água. Esta não tive tempo de tentar.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Bebendo e aprendendo

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Uma amiga jornalista (só podia ser...) posta no Facebook:

"A última sexta-feira me ensinou muitas coisas. Por exemplo, aprendi que a mistura de Citrus com vodca resulta numa versão improvisada de Smirnoff Ice. Que vinho tinto com guaraná se transforma em algo bem próximo de Keep Cooler."

Meu comentário eu deixo em linguagem internética: medo.com