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Colega de Paulo Cesar Araújo, o escritor Paulo Coelho partiu para o ataque na coluna Tendências e Debates, na Folha de S.Paulo desta quarta-feira. Como faço parte do time dos que não leram e não gostam do best seller brasileiro, sou obrigado a atribuir a dica de leitura ao Glauco.
Coelho manifesta-se publicamente pedindo que a editora Planeta, que publica atualmente seus livros – a mesma que soltou Roberto Carlos em detalhes, recém-censurada em acordo na 20ª Vara Criminal da Barra Funda –, explicite qual é o "contexto desfavorável" que levou a empresa a acatar a exigência do biografado (o Rei, não o jogador, como obrigatoriamente observado antes no Futepoca).
O esclarecimento público solicitado por meio do jornalão paulista foi feito, segundo o autor, também diretamente à editora. E, a não ser por motivo de calúnia, Coelho diz considerar a decisão da Planeta perigosa para sua profissão.
Critica o Rei, de quem diz ser fã, por ignorar que sua vida pública não tem dono, na medida em que é alvo de críticas, fotos inconvenientes e jornalistas malas (redundância pleonástica?). Cita como exemplo de sua, digamos, tolerância, um trecho da análise Jerônimo Texeira da revista Veja, de seu livro A Bruxa de Portobello. O trecho destacado, atribuído a "um jornalista da mais importante revista brasileira", considera o escritor nocivo a ponto de ser imperdoável apesar do sucesso. Houve quem dizesse que a crítica tinha fundo político, pela proximidade do escritor com o ex-ministro-todo-poderoso e atual blogueiro José Dirceu. Pessoalmente, minha oposição a Veja não é tão forte.
Planeta
O recuo na biografia não-autorizada de Roberto Carlos ocorre praticamente um ano e dois meses depois de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor da mesma Planeta, envolvendo Na toca dos leões, de Fernando Morais. O autor best seller de biografias e livros-reportagem conta, na obra, a trajetória da agência de publicidade W/Brasil, incluindo um episódio em que o candidato à Presidência em 1989 Antonio Caiado – então o mais jovem na disputa – teria externado uma de suas "propostas" para resolver o problema do Brasil. A reunião tinha como motivação o interesse do ruralista, até hoje no Congresso, de contar com os préstimos dos marqueteiros. Caiado acusava o autor e a editora de pôr em sua boca idéias de extermínio de nordestinos. O STF arquivou o pedido, por considerar que, apesar de não haver provas de que o candidato teria dito, a idéia de extermínio de nordestinos não estava colocada no trecho.
No processo relatado por Eros Grau, o trecho problemático estava na página 301:
– Só não dá para fazer para o Ronaldo Caiado, porque a vulcabrás não fabrica botinas. Era uma provocação ao candidato do PSD, também presidente da UDR - União Democrata Ruralista, organização que arregimentava fazendeiros de todo o Brasil contra defensores da reforma agrária.Isso tem alguma coisa de "contexto desfavorável"?
Se a W/Brasil não se interessava por Caiado, no entanto, a recíproca não era verdadeira. Logo depois de Maluf, foi ele quem apareceu na agência em busca de ajuda. Chegou acompanhado de uma dúzia de agroboys, como eram chamados seus seguidores, e foi recebido por Gabriel (Zellmeister) e Washington (Olivetto). Mas a conversa durou pouco, segundo Gabriel:
– O cara era muito louco. Contou que era médico e tinha a solução para o maior problema do país, "a superpopulação dos estratos sociais inferiores, os nordestinos".
Segundo seu plano, esse problema desapareceria com a adição à água potável de um remédio que esterelizava as mulheres. Fiuuu! O papo acabou aí.