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segunda-feira, novembro 03, 2008

F-Mais Umas - Santo Deus!

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CHICO SILVA*

Timo Glock (foto) é um piloto alemão nascido em 18/03/1982, na pequena cidade de Lindenfels, no estado de Hesse, no Oeste do país de Goethe e Rainer Werner Fassbinder. Segundo dados do último censo, de dezembro de 2006, o município abriga 5.220 habitantes. Algumas avenidas de São Paulo certamente têm população maior do que a dessa tranqüila cidade alemã. Como todo companheiro de profissão, Glock se apaixonou cedo por carros e corridas. Mas, ao contrário de Lewis Hamilton e Felipe Massa, começou tarde na profissão. Inspirado pelas conquistas do compatriota Michael Schumacher, fez sua primeira temporada de kart apenas aos 15 anos, em 1998. Dois anos depois, veio seu primeiro título, na ADAC Fórmula BMW Júnior. Nos seguintes faturou mais uma temporada na ADAC, dessa vez na categoria principal, foi terceiro na F-3 alemã e quinto na F-3 Euroséries. Em 2004 teve o seu primeiro contato com um F-1. Foi contratado para ser piloto de testes da extinta equipe Jordan. Ainda teve a oportunidade de disputar algumas corridas pela escuderia do irlandês Eddie Jordan, substituindo o italiano Giorgio Pantano, então titular do time.

Em 2005, Glock foi se aventurar na América profunda, onde disputou um campeonato na finada Champ Car, categoria genérica da F-Indy. Conseguiu a proeza de terminar a temporada em oitavo. Mesmo assim, lhe deram o título de "estreante do ano". De volta à Europa, tentou a sorte na GP2, categoria que se transformou na divisão de acesso para a Fórmula-1. Se deu bem e conquistou o título de 2007. O título foi seu passaporte de regresso para a principal categoria do automobilismo mundial. Foi escolhido para ser um dos pilotos da Toyota. Nem quando está sem luvas e capacete Glock consegue se desligar das pistas. Nas folgas, gosta de tirar "rachas" de kart com os amigos. Solteiro, o alemão tem a Austrália como destino preferido de férias. No quesito preferências pessoais, ele gosta de massas, é fã dos Red Hot Chilli Peppers e Guns'n'Roses e tem como vício jogar poker. Seu grande ídolo é o pai. Em linhas gerais, esse é o perfil do homem que, involuntariamente, definiu o título da temporada 2008 da F-1.

Ao ceder o quinto lugar para Lewis Hamilton a 500 metros da linha de chegada do enlouquecido GP de Interlagos, Glock se transformou no mais novo vilão dos brasileiros. Tudo porque insistiu em se manter na pista com pneus para pista seca quando um dilúvio desabava na pista nas voltas finais da corrida. É óbvio que Glock não teve nenhuma responsabilidade pelo motor estourado de Massa na Hungria, na estratégia equivocada da Ferrari no encharcado GP da Inglaterra, nos erros de Massa nas primeiras provas da temporada e na incrível trapalhada ferrarista no pit-stop do brasileiro no GP de Cingapura (acima, à esquerda). Falhas que tiraram pontos vitais na batalha de Massa contra Hamilton. Mas, de toda a forma, Glock acabou pagando a conta. Ainda nos molhados pit-lanes de Interlagos, torcedores insinuavam que ele e a Toyota haviam levado um troco para entregar o campeonato para Hamilton e a McLaren. E só para botar um pouco mais de pimenta nesse vatapá, Glock e Hamilton são grandes amigos desde os tempos da GP2.

O novo e também mais novo campeão mundial tentou encaixar o amigo na vaga aberta por Fernando Alonso quando este saiu brigado da McLaren no fim do ano passado. Mas Ron Dennis, o chefe da equipe, preferiu trazer o chocho finlandês Heikki Kovalainen. É claro que uma coisa pode não ter a ver com a outra. Mas fica a informação.

Interlagos, 02/11/2008 - Acompanho a Fórmula-1 desde 1980. E nesses anos todos posso afirmar com segurança que nunca vi uma decisão como essa de Interlagos. Houve grandes finais como Adelaide 1986, quando Alain Prost (foto à direita), Nigel Mansell e Nelson Piquet chegaram à última prova brigando pelo título da temporada. Prost acabou levando a melhor, depois de uma batalha que teve Mansell estourando pneu a 290 quilômetros por hora e Piquet rodando quando era líder e rumava para o tricampeonato. Ou então nessa mesma Adelaide em 1994, ocasião em que Schumacher e Damon Hill protagonizaram um duelo suicida pelas retas e curvas do circuito de rua australiano. E quem não se lembra de Jerez 1997, em que num ato desesperado esse mesmo Schumacher jogou sua Ferrari contra a Williams do rival Jaques Villeneuve?

Mas, para usar uma frase que caiu na boca do povo, nunca antes na história deste esporte se viu um piloto cruzando a linha de chegada como campeão do mundo para 38,9 segundos depois ver o título escorrer como água da chuva pelo S do Senna. Foi realmente eletrizante! Quem esteve em Interlagos pode, daqui a anos ou décadas, contar para filhos e netos que assistiu a um dos maiores capítulos da história da F-1. Voltando um pouco no tempo, algumas colunas atrás eu disse que não enxergava em Massa um campeão mundial. E uma das razões era justamente a falta de sorte do brasileiro. E ela apareceu de novo. Na hora errada, no lugar errado e na circunstância errada. Claro que a perda do título não pode ser apenas creditada na conta do piloto. O erro da Ferrari em Cingapura, quando tirou uma vitória certa de Felipe ao autorizá-lo a sair do boxe antes do final do abastecimento, foi crucial para a perda do campeonato.

Mas a sorte é um ingrediente fundamental na receita de um campeão do mundo. Lewis Hamilton não me deixa mentir. A Fórmula-1 viu, pela primeira vez em sua história, um negro conquistar um título mundial. Tomara que ele inspire os eleitores americanos a eleger o primeiro presidente negro de sua história. O mundo agradecerá.


*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

20 comentários:

Saulo disse...

O que aconteceu com o Massa foi impressionante. Eu considero o Massa um campeão e ele vai seguir mais forte pela frente.

Jogo Aberto disse...

A FERRARI VACULOU MUITO COM O MASSA.

André Casotti Louzada disse...

Boa análise.
Mas deve ser levado em consideração o fato de que, se o Glock tivesse parado para trocar pneus, o Hamilton assumiria a quinta posição. Então, a decisão da Toyota de manter seus dois carros na pista com pneu para pista seca não influenciou tanto o resultado do campeonato.

Glauco disse...

Glock fez 1 minuto e 44 segundos na última volta, mesmo tempo de seu companheiro de Toyota, Jarno Trulli. Ou seja, nada de anormal.

A informação do Chico Silva é importante, como sempre, mas dá margem para muita gente desenvolver teorias conspiratórias, esporte predileto da nação quando o Brasil perde. Brasileiro tem que parar de ficar arranjando desculpas quando perde. Massa foi prejudicado pela equipe? OK, mas e o Hamilton também não foi prejudicado mais de uma vez no "tapetão" com decisões controversas que favoreceram Massa e foram criticadas até pela imprensa italiana (leia-se ferrarista)?

Parabéns ao campeão, que foi vaiado depois do título em mais um ato de falta de educação do público aburguesado do GP Brasil.

Anônimo disse...

Amigos, na verdade o grande culpado disso foi São Pedro. Se chove só um pouco menos naquele final o Glock iria se segurar na pista e o Hamilton terminaria em sexto. Agora acho que deu uma pane mental do inglês. Ele simplesmente abriu no mergulho para o Vettel passar. E numa situação dessas ele só pode ter feito isso com autorização do rádio. Não consigo imaginar que o Hamilton, há duas voltas do final, iria jogar seu campeonato fora daquele jeito. Acho que o Ron Dennis deu a ordem imaginando que o Glock teria que parar de qualquer forma ou então que iria se arrastar pela pista sem tração como fez. De toda a forma foi um negócio inacreditável! Acho que a F-1 termina o ano maior do que começou. Fazia tempo que esse negócio que muitos chamam de esporte não valia tanto a pena. E claro que eu concordo com o Glauco. Parabéns ao campeão do mundo. Que não o foi por acaso. Isso será assunto para próxima coluna, mas o Massa, apesar do bom campeonato que fez, entrará em 2009 muito pressionado. Será o seu quarto ano de Ferrari. E o título será uma questão de sobrevivência para ele. Só que duvido que o Raikkonen, por exemplo, fará uma temporada tão apagada como essa. Fernando Alonso, ao que tudo indica, virá muito forte. A BMW do polonês narigudo Kubika parou o desenvolvimento do carro deste ano no meio do campeonato para trabalhar no modelo 2009. Esse Vettel vem para brigar por coisa grande. Sem falar no Hamilton. O ano vai ser duro, muito duro para o Massa. Posso até estar errado, mas acho que o cavalo selado do Massa passou esse ano. E ele não montou no bicho.

Nicolau disse...

Eu gostei da vitória do Hamilton, parabéns ao campeão! Não muda nada na realidade dos negros no mundo, mas acho que os símbolos têm sua força.

Thalita disse...

Foi animal! Assisti aqui de londres, sem a patacoada nacionalista do Galvao Bueno, o que e otimo. E o que vi foi uma corrida muito emocionante.
E todos os comentaristas disseram que o Massa foi otimo, que ele merecia o titulo tto qto o Hamilton... parece que aqui rola um pouco mais de espirito esportivo, mas sei la como seria se o Massa tivesse ganho...

Anselmo disse...

Deixa o Hamilton comemorar.

As vaias no esporte são bem lamentáveis mesmo.

Eu não tava assistindo a corrida, tava almoçando. Do nada, a vizinhança começou a gritar, corneta pra um lado, vibração para o outro. Foi mais forte do que no dia da final do mundial de Futsal. "É a pátria de macacão, capacete e volante nas mãos", pensei.

Fui ligar a TV e o Hamilton tinha caído pra sexto. Fiquei assistindo o final e só ouvindo o Galvão Bueno. Enquanto isso, a vizinhança gritando: "Vai, Massa" e coisas do gênero. Nada na linha do "chupa, Hamilton", como aconteceria se o esporte fosse futebol, porque a rivalidade não parece estar tão acirrada quanto já foi com Proust e Mansell.

Quando Massa recebeu a bandeirada, o Galvão era um desespero só, mas empolgado. Cadê o Hamilton? Ele tava louco pra gritar que o Massa era campeão, claro. É natural, o cara tbem é torcedor (e dos mais chatos, segundo a unanimidade de seus críticos).

Quando o inglês aparece em quinto, ou quando o locutor global percebe a ultrapassagem (não sei o que aconteceu primeiro, porque sou um leigo completo em F1), o cabra deu uma murchada incrível.

Fiquei meio triste pelo silêncio da vizinhança, a turma tava comemorando e tal. mas confesso que não contive o riso diante da desanimada do Galvão. E na sequência, um comentarista que eu não identifiquei pela voz explicou que não daria pro Glock se segurar mesmo, que ele tinha feito muito até ali e tal. Aí eu desliguei pra não ouvir impropérios contra os alemães, ingleses e italianos.

Enfim, tenho dificuldades de considerar como representantes brasileiros os pilotos de automobilismo. No começo, tinha o mesmo problema com o Guga. Mas é uma dificuldade que só discuto no fórum adequado.

Fabricio disse...

Na boa, sei que o Hamilton manda muito bem e tal, é abusado, com essa idade já é campeão, mas pra mim um cara que só precisa de um quinto lugar e quase perde o título, que já perdeu um título praticamente ganho no ano anterior ao apertar um botão errado, merece uma vaia, sim.

Mas tirando isso, fiquei com dó da família do Massa pulando e comemorando e depois olhando pra TV sem saber o que se passava.

Massa campeão moral, por mais que isso não valha nada.

Marcão disse...

Segunda, 3 de novembro de 2008, 12h32

Título de Hamilton em Interlagos choca Schumacher

Dono de sete títulos mundiais, o alemão Michael Schumacher se disse impressionado com o triunfo do britânico Lewis Hamilton em Interlagos, no último domingo.

"Que grande final! Ainda estou em choque pela corrida de ontem (domingo)", afirmou o alemão em sua página na Internet. "Nunca vivi uma coisa assim nem como piloto nem como espectador", declarou.

Depois de Felipe Massa vencer a prova, Hamilton ultrapassou Timo Glock na última curva e foi campeão ao garantir o quinto lugar. "Tudo que posso dizer é que foi o destino", acrescentou Schumacher.

Apesar de ver Massa ficar sem o título, o consultor da Ferrari não deixou de parabenizar o campeão. "Cumprimento o Lewis Hamilton", escreveu o alemão, que também felicitou o brasileiro.

"O Felipe pode terminar essa corrida com a cabeça bem no alto, porque com sua atuação convenceu aos últimos céticos. Com certeza, no ano que vem ele voltará a atacar", declarou Schumacher.

(Redação Terra)

Nicolau disse...

Fabrício, nada contra o Massa e muito pouco a favor do Hamilton, mas pq o cara tem que ser vaiado? Pra mim, vaias podem ser consideradas aos que jogam sujo, são desleais ou algo assim, não aos que "quase perdem" ou nem mesmo aos que perdem mesmo. E o espírito esportivo?

Marcelo Marchezini disse...

Fabrício,

concordo em gênero, número e grau com vc.

Fabricio disse...

Não é uma vaia pela pessoa em si, mas sim pelo resultado. Na minha opinião, Massa merecia mais.

Num jogo de futebol, quando alguém do seu time faz um erro bizonho você não vaia? Não é falta de espírio esportivo algum vaiar, pelo contrário.

Nicolau disse...

Eu vaiar alguém do meu time porque ele está jogando mal é uma coisa. Vaiar o adversário é outra bem diferente. A gente torce pro adversário jogar mal, e se vaia, é pra pressionar o cara durante o jogo, o que já não é muito olímpico de nossa parte. Mas entendi que você acha que, pela última corrida, o Hamilton não merecia o campeonato.

Glauco disse...

Engraçado que o Hamilton foi criticado no GP Brasil de 2007 por ser "afobado", partir pra cima do Alonso, disputar posições quando podia ficar ali na zona intermediária e ser campeão. Agora, quando faz o contrário, é taxado de covarde. Realmente, o rapaz faz tudo errado, quando ganha e quando perde. Bom mesmo é o Massa, baita ás do volante... As rodadas dele no início do campeonato e em anos anteriores que o digam!

Em tempo: a corrida foi monótona e só ganhou emoção no final por causa da chuva e das trocas de pneus. Se Massa fosse campeão, poderia dividir o troféu com São Pedro. Mas foi um pouco de chuva a mais do que ele (e o Glock) precisavam...

Fabricio disse...

Tanto no ano passado como este ano o Hamilton fez bobagens. Vale lembrar que a cagada do ano passado não foi partir pra cima, ser afobado. Foi apertar ridicularmente o botão errado da tração ou sei lá o quê. Esse ano ele não ficou lá de boa, administrando corretamente pra ser quinto. Ele ficou lá e conseguiu ser ultrapassado por um cara com carro 5x pior que o seu. E pior, nem conseguiu ameaçar o cara pra retomar a posição.

Não acho nenhum dos dois os melhores pilotos da história. Só acho, que, se teve alguém que merecia ganhar o campeonato dentre os dois, esse alguém é o Massa. Não esqueça que ele precisava ganhar a corrida e o fez.

Se o Massa já fez muitas cagadas nos anos anteriores, concordo. Mas que as do Hamilton são recordes mundiais de cagadas, isso são.

Glauco disse...

Não falei que Massa errou nos anteriores. Errou nesse também. E muito. Hamilton, até o GP da China do ano passado, era o cara que não errava. É só buscar no Google pra refrescar a memória. A equipe ferrou ele em Xangai, no ano passado, como confessou Norbert Haug, diretor da Mercedes, fornecedora de motores da McLaren:

- A corrida do ano passado foi, sem dúvidas, uma das piores para toda a equipe. Lewis dominou os treinos e o início da corrida, mas o chamamos na hora errada para trocar os pneus . Era uma prova que deveríamos ter vencido, mas não aconteceu por causa de nossos erros , não de Lewis. Mas isso é história.

Assim, o brasileiro só vê quando a Ferrari erra. Quando é a McLaren, é "bem feito" pro Hamilton.

Curiosamente, a punição recebida por Hamilton no GP da Bélgica, absurda, foi criticada até mesmo pela fanática imprensa italiana, que encontrou alguma sobriedade em meio à febre ferrarista. É só ver aqui . No entanto, como por cá quem pauta público e parte da imprensa esportiva é o Galvão Bueno, ninguém lembra que a vitória de Massa foi herdada, sem nenhum merecimento, e que, se não fosse isso, Hamilton já chegaria ao Brasil campeão. E essa vitória ainda desempataria a favor do brasileiro no domingo. Memória bastante seletiva dos "massistas"...

Fabricio disse...

Deixe-me ver:

Em Monaco a Ferrari errou ao colocar pneus intermediários no Massa muito antes. Entregou a corrida pro Hamilton.

No Canadá o garoto prodígio não viu o farol vermelho e topou a traseira do Raikkonen no pit lane. Esse é meu garoto!

Na Bélgica eu te pergunto. Hamilton venceria se não tivesse feito a "ultrapassagem do vídeo-game"?

Em Cingapura a Ferrari fez a cagada do box. Lá se foi a vitória certa do Massa.

No Brasil, bom, no Brasil nem tem mais nada pra falar. Só ler acima.

É, Hamilton merece. Com certeza iria se dar bem no Super Monaco GP do Mega Drive.

Glauco disse...

Nem os ferraristas condenaram a "ultrapassagem video-game", mas tudo bem, Galvão Bueno já decretou: é o novo ídolo do esporte nacional. Curtam bastante o ás do volante.

Fabricio disse...

Massa está longe de ser ás. Assim como o Hamilton. Assim como o Galvão está longe de ser alguma coisa também.