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sexta-feira, janeiro 23, 2009

Mais um texto técnico

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Rodrigo Ponce Santos*


Nunca assisti ao treinamento de um time de futebol profissional. Ou melhor, até que assisti alguns treinos do Londrina na infância. Mas tinha lá meus 12 anos e aparecia no Estádio do Café muito mais pela graça de matar aula do que por qualquer interesse no treinamento em si. Além do mais, não entendia patavinas sobre esquema de jogo. Pra mim era nós contra eles. Acabou.

Ando pensando bastante nesta carência da minha formação, especialmente quando tento montar um time na cabeça. Você pode dizer que isto é problema do técnico de futebol, como meu computador é problema do técnico em computação e minha bicicleta é problema do bicicleteiro. Mas é sempre bom entender e conhecer um pouco melhor essas coisas todas com as quais a gente tem uma ligação tão íntima e diária, ainda que no caso do futebol o conhecimento signifique pouco poder efetivo. Sendo menos do que um cronista esportivo de relativa audiência, o máximo que a gente vai conseguir é assunto pro boteco. Mas já está valendo.

Acompanhando um programa esportivo algumas semanas atrás, ouvi que o Geninho (à direita, em foto de Giuliano Gomes) pretendia montar um time no 4-4-2. Ainda estava no ar a novela sobre a transferência do Netinho para Grécia. Ora, caso o negócio fosse concretizado estaríamos com os cofres cheios e com um buraco na ala esquerda. Mesmo com a permanência do guri, nossa fragilidade canhota é evidente num esquema de dois zagueiros e dois laterais. Neste esquema, o Netinho voltaria a jogar no meio (o que seria uma boa), mas a lateral ficaria entre Márcio Azevedo e Alex Sandro. O primeiro chegou a disputar boas partidas ano passado, mas caiu de rendimento vertiginosamente e sem explicações. O segundo é ainda uma promessa das divisões de base. Isto significa que sair do 3-5-2 agora seria fazer uma aposta na recuperação de um atleta ou na revelação de outro.

Felizmente ficou mais claro depois que o técnico estava falando em treinar algumas possibilidades, não em mudar o esquema de jogo. Tudo bem que o Paranaense é o campeonato de menos expressão a ser disputado neste ano, mas não se trata de desconsiderar a briga e tomar o certame como pré-temporada, de jeito nenhum! O Paranaense é pra ganhar. O Geninho sabe disso, a diretoria sabe, a torcida, os jogadores, todo mundo sabe que tem que entrar rasgando. Mesmo que a primeira fase classifique 8 de 15 times, o campeonato começa dia 25 e o único amistoso foi contra o Batel de Guarapuava. Agora é valendo ponto.

Mas já que falamos em promessa, não dá pra deixar de lado o fio de esperança que a Copa São Paulo trouxe para a torcida rubro-negra. Aliás, um fio não, trouxe logo um novelo ou já uma trama muito bem costurada. Porque o time-base do Furacão está muito bem organizado, além de ter jogadores que se destacam individualmente. E o assunto da Copinha cabe aqui muito bem, porque esse time também está no 3-5-2. Se o Manoel jogar durante o ano o que ele fez contra o Cruzeiro, quem sabe a gente possa ver o Chico ao lado do Valência. Ali pelo meio ainda tem o Willian, que parece ser um guri bom: quieto, com personalidade, toque de bola e muito raçudo. Pela direita tem o Raul, que é um baita jogador e deve ser uma sombra atrás do Nei e do Alberto, um se recuperando de lesão e outro que infelizmente foi habitué do Departamento Médico no ano passado. Lá na frente, Patrick e Eduardo Salles são bons centroavantes, mas a briga já está quente...

Posso queimar a língua, mas acho que o Lima vai ser opção de segundo tempo e que a briga pela vaga ao lado do He-Man fica entre Júlio César e Preá. No meio, Geninho está apostando suas fichas no Julio dos Santos, o que cria outra “briga” entre Ferreira e Marcinho. Puta merda... essa é boa! Deixar um no banco com certeza vai ser uma pressão violenta para quem entrar jogar tudo o que sabe e o que não sabe. Mas outra opção pode ser o Ferreira no meio e o Marcinho no ataque, como ele mesmo disse que gosta de jogar.

Enfim, me perdoem o absurdo da comparação, mas acho que montar um time deve ser mais ou menos como escrever. Primeiro você tem alguma formação e experiência nisso. Entende alguma coisa técnica, manja umas jogadas, estuda umas regras. Depois tem algumas idéias e vai ensaiando na sua cabeça aquilo que quer fazer dentro das quatro linhas. Então começa. Coloca uma peça aqui, outra ali. Elas se movimentam. Algumas do jeito que você esperava, outras não. Então você apaga, substitui, joga de novo. Nada estava pronto antes de começar a partida e no final você tem um resultado impossível de ser alterado. Definitivo. Para o bem ou para o mal. Uma diferença óbvia e com vantagens para quem escreve é que seu resultado pode continuar sendo debatido com argumentos contra ou a favor de suas escolhas. O técnico não. Seu resultado aparece em um placar. O escritor lida com palavras. O técnico de futebol, apesar de toda a magia do jogo, com a frieza dos números.

*Rodrigo Ponce Santos é torcedor do Atlético-PR, escreve sobre o futebol do Paraná para o Futepoca e é autor do blogue Pretexto.

11 comentários:

Anselmo disse...

opa!

eu nem acho que o treinador de futebol lida só com a friza dos números. pelo que entendi, vc se refere aos resultados. Mas minha crítica é só em relação ao fato de que nem sempre os números representam a gravidade de uma derrota ou a importância de uma vitória. Ganhar de 1 a 0 um clássico pode ter mais valor do que uma goleada sobre um time pequeno. Isso não necessariamente vai ser expresso na frieza dos números. Mas concordo que o técnico lida ali com o que acontece realmente, ainda que alguns tentem, em alguns casos, convencer a todos de que o jogo foi diferente do que todo mundo viu.

agora, a comparação com escrever um técnico é interessante. mas acho que os técnicos sabem menos do que estão fazendo do que eles tentam parecer na hora de explicar.

Marcão disse...

O grande problema é que treinador, seja amador ou profissional, não pode perder nem jogo-treino. Aí fica difícil, pois, se eu tivesse que treinar algum time na vida, botava logo uma linha de ataque com cinco atacantes, na base do 3-3-5. Sonhar não custa nada...

Marcão disse...

Aliás, seja benvindo, Rodrigo. Salve o futebol paranaense!

Glauco disse...

Acho que a frieza dos números a que o Rodrigo se refere é justamente a questão do resultado, Anselmo, e não que não haja diferença ou relatividade nos números. A questão é: ganhou, jogando mal, que belo técnico; perdeu, que lixo... Um exemplo disso (mais um) foi a demissão absurda de Estevam Soares da Lusa, só porque perdeu para o Guarani, por 1 a 0, fora de casa. E a Portuguesa não jogou mal não. No entanto, isso não salvou o treinador...

Anônimo disse...

Que bom alguém falando do futebol paranaense.

Sugestão: numa próxima oportunidade, comente por favor a sacanagem que estão fazendo com os times paranaenses na divisão da verba da TV aberta e do PPV:

http://melhordoparana.blogspot.com/2009/01/aos-paranaenses-as-migalhas.html

e

http://melhordoparana.blogspot.com/2009/01/as-migalhas-ii.html

Assim, fica difícil competir...

Saudações!

Anselmo disse...

Glauco, vc tem razão. tentei fazer essa diferenciação, mas ficou esquisito. agora que eu me toquei que eu deixei só a interjeição "opa", a mais eclética, sem completar as boas-vindas ao colunista. escrevi o "opa" depois do resto do comentário, fui fazer outra coisa, quando voltei, nem lembrei que faltou completar e mandei publicar. no fim, parece que eu tô disconcordando muito, mas nem é tanto. ressaca é fogo.

Marcão disse...

Beba com moderação, Anselmo...

Nicolau disse...

Acho que a comparação ficou meio imcompleta, porque trata de dois momentos: o antes e durante a escrita/treinamento-partida, e o depois das duas coisas. A diferença é que o escritor lida com palavras o tempo todo, seja para imaginar, escrever ou justificar o que escreveu. O técnico lida com pessoas durante o processo e com a frieza dos números depois. Mas enfim, esse comentário foi de uma punhetação ímpar, até porque eu gostei da imagem, do texto e da estréia do novo colaborador. Seja bem vindo, Rodrigo, e viva o futebol paranaense! Que, aliás, pode vir a ser a casa de um novo Corinthians, hehe!

Anônimo disse...

Nossa, como é bom ver comentários sobre o futebol paranaense. Sempre acompanhei este blog e quando vejo o meu time sendo comentado é um deleite. Parabéns e continuem fazendo um trabalho excelente, tanto no futebol, na cachaça e na política!

Unknown disse...

Muito obrigado a todos pelos comentários e pela ótima recepção. Estou começando a experimentar os blogs e a discussão que isto gera me deixa muito empolgado! Espero não perder o pique e conseguir escrever com alguma frequência.

Anselmo, acho que entendi o que você disse e concordo. 1x0 contra o rival não é o mesmo 1x0 contra um time pequeno. Mas eu não queria dizer que o técnico lida SÓ com a frieza dos números. Como o disse o Nicolau, durante todo o processo ele lida com pessoas.

Com certeza a relação que ele tem com essas pessoas (jogadores, diretoria, torcida, etc.) faz diferença na forma como se olha pra ele. Mas no fim das contas... tem uma conta mesmo. Futebol é um jogo de perder ou ganhar. Ninguém gosta de perder e no futebol brasileiro, a gente sabe, todo o trabalho de um treinador é jogado fora por causa de uma derrota. Foi o que aconteceu com o Ney Franco no Atlético, por exemplo, depois de perder o Paranaense para o Coritiba.

Felizmente parece que isto está mudando um pouco...

Sobre a comparação com o escritor, talvez existam três momentos diferentes. Primeiro os dois lidam com seus próprios pensamentos e vão desenhando e esboçando o texto ou o esquema de jogo. Depois o escritor vai colocando as palavras nas quatro linhas do papel ou da tela e vendo como funciona. Lê, apaga, escreve de novo, até ter um resultado definitivo. O técnico também vai colocando os jogadores e vendo como funciona. Passa as instruções, observa, substitui, até ter um resultado definitivo. Daí o terceiro momento. Diante dos resultados, o jogo continua para quem escreve através dos argumentos (como estamos fazendo aqui), mas para o técnico o jogo já terminou quando começam os argumentos.

Po, escrevi quase outro texto! hehauhahaha. Aliás, no próximo eu pretendo falar sobre essa história do Corinthians Paranaense e da verba da tv.

Aquele abraço!

Edna Moda disse...

Parabéns pelo blog de vcs que foi mencionado no blog que indica blogs http://ednamoda.blogspot.com/