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segunda-feira, maio 14, 2007

Só empresário e baba-ovo

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Segunda-feira, 19h, uma fila se forma diante de uma mesa de vidro, sob as escadas da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na avenida Paulista. Engravatados grisálios se postam risonhos. Não tem copos com cerveja nem vinho nas mãos, nada de choppinho na noite fria e de garoa de São Paulo. Estão todos com exemplares de um mesmo livro nas mãos.

Uma sequência de aglomerados se forma e se desfaz em torno de uma dupla que cruza o Conjunto. O mais votado deputado do estado, Paulo Maluf, chega acompanhado de um assessor. Vai direto ao caixa, e paga em dinheiro dois exemplares de Sobre formigas e cigarras, do também deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. O "colega de casa" prestigiava o lançamento paulistano da obra, publicada pela editora Objetiva, nas lojas há dois meses.

Problemas de agenda parlamentar atrasaram o evento. Atrasaram também a chegada do autor, em meia hora. E antecipariam sua saída para outro compromisso, às 22h.

Logo que conseguiu sua dedicatória, Maluf saiu a dar explicações para uma repórter da coluna da Mônica Bergamo sobre a adequação de um vinho ao tempo e à companhia. "Para uma reunião rápida, um vinho de 8 ou 9 dólares, você pode tomar até no McDonalds. Agora, se você vai pra uma reunião com políticos que também gostam de um bom vinho, e vai ter umas quatro horas de conversa, aí o vinho é outro... Sim, é caríssimo", admitia (os nomes ficam para quem quiser descobrir na quarta-feira).

Além de Maluf, que não teve privilégios na fila a não ser por gentileza de algum dos postados empresário, o ex-ministro da Fazenda, consultor econômico e desafeto do MST, Maílson da Nóbrega, deputados estaduais, o senador Eduardo Suplicy, o colunista social Amaury Jr. entre outras figuras prestigiavam o evento.

Também estava lá o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, indicação de Palocci em março de 2005 para ocupar, com defasagem de quatro meses, a pasta deixada em novembro de 2004 por Guido Mantega, que ia para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Aliás, esse episódio não está no livro, assim como nenhum outro em que indicações ou disputas políticas tenham se dado.

Na narrativa bem construída de Palocci, nem mesmo com José Dirceu, chegou a haver briga dentro do governo. E Lula, bem, o presidente concordava geral e aceitava as sugestões da Fazenda. Quando podia, ainda as reforçava. Como jornalismo e história são versão, quem quiser que conte outra...

Diferente dos integrantes de equipes econômicas de governos anteriores, Palocci, figura eminentemente política, não foi atrás de um emprego no mercado ou na iniciativa privada. Segundo alguns, foi atrás da imunidade parlamentar. Segundo outros, foi ser absolvido pelas urnas. É deputado, e garantiu o seu lado das histórias.

Mas um militante veterano que compareceu porque a esposa está viajando e não tinha "mais nada pra fazer", depois de 20 minutos, de saudar e ser saudado, saiu de fininho. Embora amigo do autor e conhecedor de parte dos causos inscritos no livro palocciano, por causa de sua passagem pelo Planalto, já não tinha motivos para ficar por ali. "Não é meu lugar... Só tem empresário e baba-ovo do Palocci."

1 comentários:

Marcão disse...

O triste de ver a ascenção e queda de um cara como o Palocci é ver não só os que ainda se degradam no puxa-saquismo, mas também os que já puxaram e que hoje, aproveitando que o homem está no chão, chutam sem dó. São os "ossos do orifício"...