Destaques

quinta-feira, maio 17, 2007

Som na caixa, manguaça! (Volume 14)

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Boteco do Arlindo

João Nogueira
(Composição: Maria do Zeca - Nei Lopes)

Gripe cura com limão, jurubeba é pra azia
Do jeito que a coisa vai
O boteco do Arlindo vira drogaria

O médico tava com medo que o meu figueiredo não andasse bem
Então receitou jurubeba, alcachofra e de quebra carqueja também
Embora fosse homeopatia a grana que eu tinha era só dois barão
Mas o Arlindo é pai d'égua, foi passando a régua, eu fiquei logo bão

Tem vinho pra conjuntivite, licor pra bronquite, cerveja pros rins
Assados e rabos-de-galo pra todos os males e todos os fins
O Juca chegou lá no Arlindo se desmilingüindo, querendo apagar
Tomou batida de jambo, recebeu o rango e botou pra quebrar

Batida de erva-cidreira se der tremedeira ou palpitação
Pra quem tá doente do peito faz um grande efeito licor de agrião
E toda velhice se acaba se der catuaba prum velho tomar
Meu tio bebeu lá no Arlindo e saiu tinindo pra ir furunfá

(Do LP “João Nogueira”, RCA Victor, 1986)

12 comentários:

Glauco disse...

Com o surgimento do Viagra e similares, diminuiu a freqüência do bar daqueles que buscavam um estímulo para "furunfar"?

fredi disse...

Marcão, o João era uma pessoa ímpar. Foi uma das minhas primeiras e melhores entrevistas para a extinta Revista dos Bancários. Recebeu-me no seu apartamento no Recreio dos Bandeirantes com uma taça de vinho na mesa às 10h da manhã, depois de já ter sofrido 2 AVCs (o terceiro foi fatal).

Das lembranças a revelação de ser compositor sem saber música, não lia nem tocava nenhum instrumento, embora fosse genial cantor. As primeiras composições foram feitas batucando numa máquina de que não me lembro o nome trabalhando na Caixa Federal.

Sobre a morte da Clara Nunes, disse que ficou sem entender nada: jantaram juntos na noite anterior, ele a esposa, Paulo César Pinheiro (então marido da Clara), saí à noite e acordou com telefonema que ela estava em coma depois de uma simples cirurgia de varizes. Não se recuperaria e viri a falecer logo em seguida uma das melhores cantoras que já tivemos.

Tem muito mais, um dia acho essa fita e reedito a entrevista de maneira decente (rarará, mais uma das promessas que não serão cumpridas)...

fredi disse...

Ah, faltou comentário da genial foto dele com um tal de Agenor de Oliveira (um pouquinho mais conhecido como Cartola)...

Marcão disse...

E ele tá com a camisa do Flamengo na foto.

Eu adoro João Nogueira, tenho um CD ao vivo dele com o Paulo César Pinheiro, de 94, em que só interpretam composições da dupla. Mas, infelizmente, nem toda a sua obra está disponível em CD, como é o caso, por exemplo, o disco que contém Boteco do Arlindo. Uma pena.

Comprei esses dias uma coletânea da Clara muito interessante, que mescla, além dos hits característicos (Conto de areia, Na linha do mar, Canto das três raças etc), tem gravações legais do começo de carreira, como Desencontro (do Chico), Alvorada (Cartola) e uma versão maravilhosa de Sabiá (Luiz Gonzaga). São dois CDs viciantes.

fredi disse...

Marcão eu tenho essa coletânea da Clara, realmente é muito boa.

Acho que esse LP do João foi relançado em CD na série Essencial da RCA, se bobear eu tenho. Vou dar uma conferida, se tiver gravo para vc...

Marcão disse...

Buenas!

Marcão disse...

Aliás, nesse mercado clandestino de pirateamento de CDs (rsrs), poderíamos estudar a criação da Manguaça Records. O primeiro lançamento poderia ser uma coletânea com as 14 músicas já postadas no "Som na caixa, Manguaça!".

Anselmo disse...

depois da apologia à manguaça, o Futepoca agora defende a pirataria publicamente? não pode, gente...

Marcão disse...

Subversão seria uma versão de má qualidade?

Fernando Augusto disse...

Alguém já ouviu aquela música do João que fala assim? "Mas eu de sambista tive que ser jornalista, pra me valorizar/passei no tal vestibular..."

sensacional!

Marcão disse...

Muito bem lembrado - e oportuno - esse samba, Fernando. Ele está no excelente LP "Espelho" do João Nogueira, de 1977. Foi composta por Nei Lopes. Segue a letra inteira:

MALANDRO JB
(Nei Lopes)

Eu de chinelo charlote
meu chapéu copa norte
meu blusão de vual
(não tinha ainda de tergal)
cordão bem fininho
na medalha um bom santinho
trabalhado em metal
(era São Jorge maioral)
cristão e umbandista
eu tinha o meu ponto de vista
meu padrinho era Ogum
(não tinha santo mais nenhum)
só dava eu com a Judite
aos domingos no Elite
e às quintas no Mil e Um
(era traçado em vez de rum)

E enquanto a nêga não vinha
era uma boa cervejinha
com a rapaziada
(salta uma loura bem suada)
depois do basquete
era bater na bola sete
e caprichar na tacada
(olha a morena encaçapada)

Mas eu de sambista
tive que ser jornalista
pra me valorizar
(passei no tal vestibular)
e agora veja só você:
trabalho no Caderno B
critico samba popular
(seu Tinhorão vem devagar)

Um dia então fui chamado
convidado pra jurado
de julgar samba-enredo
(confesso até que tive medo)
no meio da quadra
apareceu um camarada
com jeitão de Ipanema
(era um artista de cinema)
virou-se pra mim
foi dizendo logo assim:
"sou diretor de carnaval"
(até aí nada de mal...)
esse é o samba dos cartolas
vai dar grana pra escola
de direito autoral
(toca na Rádio Mundial)

Se é coisa que eu não adoto
é nêgo cabalando voto
na maior cara de pau
e o samba de sobra
era um tremendo boi com abóbora
rimava açúcar com sal
antes de eu virar a mesa
pra acabar com a safadeza
foi armada um trelelê
(era judô e karatê)
e o tal do branco cabeludo
me deu tanto do cascudo
que eu nem sei mais escrever
(tá pensando que eu sou telha?)

Dona Condessa aborrecida
me expulsou do JB
(veja você...)

Fernando Augusto disse...

Legal, não sabia que era composição do Nei Lopes.