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segunda-feira, julho 09, 2007

"O Somália é foda, velho..."

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Num posto de gasolina em Barueri (SP), uma televisão 29 polegadas posicionada sobre a porta de entrada do lado externo da loja de conveniência. Sintoniza a partida entre Santos e Cruzeiro, pelo Brasileiro, na Globo.

Abaixo dela, com garrafas de cerveja de 350 ml, estão quatro manguaças. Um é um bloco, grande e gordo, de bone pirata Diesel, outro alto de cabelo militar e dois que se revezam em risadas altas.

— Trabalhava na Bauducco, ganhava 4,80 por hora — explica o de cabelo militar — O Zé também tinha trampado lá, tá ligado, e eu fui indicado dele.

O Zé não está presente. O Zé, parece ter moral. O de boné da Diesel ignora, volta a tirar sarro. Por seu porte, puxa as risadas dos outros dois, ironizando como burrice a posição do interlocutor.

Na TV, Jonas tenta mais uma tabela de efeito para o time da Baixada, erra o passe e arma contra-ataque do Cruzeiro, que pára no meio de campo. Jonas acha que joga mais bola do que joga.

A discussão entre os manguaças no posto chegou naquele pé, como desdobramento do assunto anterior. Seguranças de uma boate de garotas de programa, os quatro calculavam se pagariam ou não o preço cobrado pela que parecia ser a musa da casa. A reminiscência salarial era decorrência de uma diferença nos rendimentos do ex-Bauducco, que ganhava menos por hora do que os colegas com mais tempo de casa e que dizia não poder incoroporar um gasto daqueles. Dizia isso antes mesmo de discutir se valeria ou não à pena o preço, se era ou não justo sobre parâmetros que os outros não apresentavam.

Os outros discordavam. Tinham passado alguns minutos apresentando "lances" de quanto pagariam num leilão sem sentido onde, entre interjeições e valores, nada estava exatamente à venda (pelo menos para aquele público), nem havia capital para pleiteá-lo.

— Ela faz dois sites — lançou um dos risonhos, em referência a páginas de internet que exibem fotografias de garotas de programa com fotos e comentários de clientes.

— A mina sai só de carrão — concordou o outro sobre o público da tal garota que, àquela altura, parecia nem existir.

A disputa de preços entre risadas parou quando o de cabelo militar, que não dava seus preços, começou a se justificar.

Aos 26 minutos da primeira etapa, "tem gol no Pacaembu", avisa o locutor. Somália havia aberto o marcador na partida contra o Corinthians. Acossado, o de cabelo militar, que terminava de justificar seu salário, ainda constrangido, encontra a deixa.

— O Somália é foda, velho...

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