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sexta-feira, setembro 28, 2007

Sobre demissões de técnicos

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Oficialmente, Cuca (foto) não é mais o técnico do Botafogo. As informações davam conta que o técnico havia pedido o boné imediatamente após o vexame de ontem, no que fora demovido pela diretoria alvinegra; mas, após insistir e muito, Cuca finalmente teve sua demissão aceita e agora ingressa a lista dos desempregados do país.

Sem entrar na questão da culpa do técnico ou não pela eliminação do Botafogo, proponho um debate sobre a demissão dos técnicos - porque acho que, no Brasil, esse assunto é discutido de maneira muito precipitada.

Sabemos que por aqui não há técnicos com emprego "fixo" como os europeus, que passam, via de regra, no mínimo dois anos no cargo. Aqui, o cara que vira uma temporada no comando do mesmo clube já pode ser considerado um herói.

E essa postura imediatista na demissão dos técnicos é atacada de maneira feroz pela imprensa. "Tem que dar tempo pro cara trabalhar!", é o que mais se diz. O ruim é que a frase, que não é errada, virou um mantra infalível. De uma hora pra outra a imprensa se tornou uma opositora incorruptível de toda e qualquer demissão de técnico; trocar treinador é errado. "Tem que dar tempo pro cara trabalhar".

Eu contesto essa "verdade absoluta". E até apresento dados para embasar minha opinião. Os dois clubes brasileiros que faturaram o duo Libertadores-Mundial, o Inter/06 e o São Paulo/07, não tinham técnicos "de longo prazo" quando obtiveram a conquista. Abel Braga havia assumido o Colorado a cerca de seis meses e, no caso do Tricolor, a mudança foi ainda maior, com a troca de Émerson Leão por Paulo Autuori.

(E não venham, pelo amor de deus, me falar que o time do São Paulo foi fruto de um "planejamento a longo prazo, que teve início com o Cuca". Mentira. Se fosse isso, o Cuca não teria pedido pra sair após a eliminação para o Once Caldas, nem o São Paulo teria mudado significativamente seu time, com as contratações das peças-chave Mineiro, Josué, Luizão e Amoroso.)

Na contramão, temos os exemplos de Santos e Grêmio, que têm o mesmo técnico há quase dois anos e o máximo que conseguiram foram títulos estaduais - tá, OK, o Grêmio foi vice da Libertadores, mas a chegada à decisão foi mais circunstancial do que resultado de um projeto a longo prazo, e os próprios gremistas sabem disso.

É claro que não defendo a demissão prematura de técnicos. Acho que o Palmeiras, por exemplo, foi muito infeliz ao criar as condições para que Tite pedisse o boné no ano passado. Assim como o Flamengo não lucrou rigorosamente nada ao dispensar Ney Franco para trazer o eterno Joel Santana.

Mas minha receita para avaliar esse tipo de situação é muito mais simples: "cada caso é um caso". E pronto. Sem fórmulas prontas, nem pra um lado, nem pro outro.

7 comentários:

Anônimo disse...

Não, Olavo, os gremistas não sabem disso. Se o vice na Libertadores tivesse sido circunstancial, não estaríamos disputando vaga de novo. O Grêmio tem como principal objetivo chegar à Libertadores e o planejamento do time é para isso.

Edu Maretti disse...

Vou a um chavão: cada caso é um caso. O mote do post é Cuca, cujo trabalho no Botafogo me pareceu bom, acima do esperado. Não se podia esprerar tanto do Botafogo, e a revolta dos torcedores do time é justificada pelos longos anos de espera por algo decente. Mas, de certa maneira, acho que o Cuca levantou um pouco a auto-estima do Botafogo.

Acho um bode essa cantilena que virou "mantra", que técnico tem que ter tempo para trabalhar e blablablá. Tem que ter tempo se mostrar que pode chegar a algum lugar. Se for incompetente, demissão nele, e pronto.

O Luxemburgo vive dizendo que é profissional e como tal tem todo o direito de mudar de emprego. Se a recíproca não for verdadeira, é ridículo.

E há casos exemplares de equívocos. Exemplo: o Santos mandou o Gallo -- que fazia um bom trabalho em 2005 (até hoje por motivos não esclarecidos), quando o time estava em terceiro lugar na tabela, e o resultado qual foi? Nelsinho Baptista e os 7 a 1 do Corinthians.

Mas os resultados de Grêmio e São Paulo mostram que, se o cara sabe trabalhar, os resultados de um planejamento a longo prazo com um mesmo treinador compensam e muito. Quando ao Santos, me parece que o período Luxemburgo está no fim. Acho que está na hora de mudar.

Edu Maretti disse...

PS: quanto ao São Paulo, discordo de você. O Leão deu continuidade ao bom trabalho do Cuca, Autuori mandou bem, mas com um time preparado pelo Leão, que foi bem substituído pelo Muricy, cujo estilo eu não gosto, mas é competente.

O treinador entra no São Paulo para trabalhar com uma comissão técnica, estrutura e diretoria do clube, e responde a ela. Os resultados dessa estrutura estão aí. O Vanderlei, no Santos, levou quem quis, manda e desmanda como "manager" e não sei se o custo benefício desse poder, que parece acima do clube, compensa.

Anônimo disse...

Soares, é claro que a máxima de manter o técnico por longo prazo nem sempre é verdadeira. A passagem recente do Leão no Corinthians é prova disso. A cada dia no clube, tudo o que o Leão conseguia era tornar o ambiente mais insuportável, mais bagunçado e com menos bons atletas. Foi tarde.
Porém, na maior parte dos casos, e o Palmeiras de hj é prova cabal disso, manter o técnico é bom negócio. O time é bem fraco. Mas, com manutenção de elenco e de técnico, somado a quatro excelentesm jogadores, o Palmeiras está disputando vaga na Libertadores.
Para encerrar, não entendo qual é a vantagem de mandarem um técnico embora se não há ninguém realmente bom para colocar no lugar dele.

Anônimo disse...

Isso é uma grande palhaçada da imprensa. Sei lá por que defendem essa tese.

Como o principal argumento, sempre pegam os líderes do campeonato e dizem que são clubes que não mudaram de técnico.

Ora bolas. O que isso prova? Por que diabos alguém trocaria um técnico que está na liderança do campeonato?

****

Mas o caso do Cuca foi diferente. Ele quem pediu para sair. Montenegro inclusive queria que ele ficasse, e busca maneiras legais de punir os jogadores.

Eu mesmo ouvi a entrevista do Cuca ontem na Rádio Globo, e ele afirmou que faltou vergonha na cara dos jogadores, citando alguns nominalmente.

Esse jogo lembra quando o Botafogo perdeu de 7x1 no Fluminense em 1994. Naquela vez a diretoria afastou uma penca de jogadores, a começar por Eduardo Cachaça. Decisão que culminou na montagem do time que conseguiu o título do Brasileiro de 1995 com Donizete, Túlio e Marcio Rezende no ataque.

Anônimo disse...

E falando em planejamento...
http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?newsID=a1633510.htm&uf=1&local=1&template=3834.dwt§ion=Plant%E3o

Marcão disse...

Olavo, só uma correção: o Cuca não pediu para sair do São Paulo, e muito menos após a eliminação para o Once Caldas na Libertadores 2004. Agüentou no cargo mais dois meses, até perder por 3 a 2 para o Coritiba em pleno Morumbi. Não me lembro se pediu demissão ou foi demitido. Mas foi o último que saiu pela porta dos fundos.

Sobre continuidade do trabalho de Cuca no São Paulo, não saberia afirmar com certeza. É fato que, quando ele veio do Goiás, trouxe a espinha dorsal Fabão - Danilo - Grafite (ia trazer Josué também, mas só ocorreu um ano depois). E estabeleceu o 3-5-2 com Fabão, Lugano e Rodrigo na zaga e Alê e César Sampaio no meio.

Leão tentou o 4-4-2 e voltou ao "esquema Cuca". Mas foi crucial ao indicar as contratações de Cicinho e Mineiro e ressucitar Diego Tardelli. Aí o time de 2005 se cristalizou.

Autuori veio e deixou tudo como estava, com Amoroso no lugar de Grafite e Luizão no de Tardelli (depois, Christian e Aloísio). Venceu tudo o que interessava.

Já o Muricy, em minha humilde opinião, mudou muita coisa. Apesar de também alternar o 3-5-2 e o 4-4-2, passou a usar mais Souza e Richarlyson, avançou Mineiro e trouxe gente que joga "diferente" dos antecessores, como Leandro e Dagoberto.

Acho que deixou o time mais veloz e mais "polivalente", com diversas alternâncias de posições durante as partidas.

Do time inicial de Cuca, sobrou só o Rogério Ceni (Júnior chegou quase junto com Leão - e hoje é reserva). Por isso, não saberia opinar com certeza sobre "continuidade". Pode ser, mas...