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segunda-feira, julho 07, 2008

A torcida imaginária da Globo

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O assunto não é novo, mas como continua a acontecer, merece menção. Ontem, após secar Roger Federer e assistir a um jogo épico na final de Wimbledon, vi o restinho da partida entre Atlético (MG) e e Palmeiras. Parecia até que o confronto era no Palestra Itália. Só se escutava a torcida do Verdão, de forma tão nítida que chegava a rivalizar com a narração e os comentários. Em franca minoria entre os 35 mil pagantes no Mineirão, a Globo fez com que chegassem aos nosso ouvidos a adaptação da torcida verde de Asa Branca, praticamente uma segunda morte de Luiz Gonzaga, e outra “versão”, do Dale Boca, pra mim prova do complexo de vira-latas eterno que volta e meia se manifesta nesse pais, além de brutal falta de criatividade (antes que digam, não é exclusividade da torcida palestrina).

Na final a Copa do Brasil, os corintianos, que representavam pouco mais de 5% da torcida na Ilha do Retiro, tinham seus gritos transmitidos para todo Brasil, enquanto o correto Cléber Machado narrava quase com lamentação os gols do Sport. O assunto foi pauta no Extracampo e no De Primeira, onde o colunista Julio Moreira explicou o recurso: “O áudio foi captado e divido em 3 canais - o do narrador, o da torcida do Corinthians e o geral do estádio. Então, o diretor técnico aumenta o volume do canal da torcida do Corinthians e diminui o volume geral do estádio.”

Fiquei impressionado com esse tipo de recurso quando, na partida entre Cruzeiro e Santos, mesmo com o time paulista perdendo por 1 a 0, só se ouviam os santistas cantarem em pleno Mineirão. Mesmo com a goleada, de novo o “fora Leão” que se gritava superava uma maioria feliz no estádio. O mesmo se repetiu no domingo retrasado, no jogo entre Cruzeiro e São Paulo.

A lógica, pra variar, é comercial. Como a partida não é transmitida para a praça em que ela acontece (exceção à final da Copa do Brasil), busca-se privilegiar o mandante, ainda mais sendo de São Paulo, foco principal dos anunciantes. Mas existe uma clara distorção da realidade, ainda mais quando o locutor corrobora a farsa dizendo: “e olha como canta a torcida do [time paulista].”

Transmissões esportivas têm um caráter de espetáculo, de entretenimento, e os recursos eletrônicos e palpiteiros de cabine estão aí pra isso. Mas também merecem um tratamento jornalístico, e isso a Globo faz bem, com repórteres de campo competentes e outros profissionais que dão uma bela retaguarda ao que acontece na rodada. Entretanto, quando falseia o som ambiente de forma tão grotesca, acaba jogando por água abaixo qualquer esforço de todos ali envolvidos, reforçando bairrismos e ludibriando o espectador comum.

Se for pra abandonar o critério jornalístico, talvez seja melhor contratar os humoristas do Pânico para fazer reportagens de jogo e, quem sabe, a Lucia Hippolito para comentar da cabine, para ouvirmos mais análises e ilações de nível como a descrita aqui. Já que é circo...

13 comentários:

Olavo Soares disse...

Vale ressaltar que aconteceu a mesma coisa no São Paulo x Flu no Morumbi pela Libertadores. Foi estranho, parecia que a peleja era nas Laranjeiras.

Fabricio disse...

Fizeram o mesmo na semifinal do Paulista no Palestra. Vi o vídeo da globo na globo.com e parece que o microfone tá colocado no meio da torcida do São Paulo.

Anselmo disse...

outro dia eu tava pensando em elaborar uma proposta pras emissoras de manter aberto um canal de áudio pra quando apertarem a tecla sap (some a voz do locutor e dos comentaristas e fica só o som ambiente). diante dessa coisa bizarra que é a edição do que se ouve vindo das arquibancadas, a idéia fica sem sentido.

me lembro de um padrão que todos os telejornais esportivos adotavam (nem sem se ainda usam) que era colocar ao fundo o som de torcida na hora de mostrar os gols da rodada. Mesmo que o time visitante marcasse e calasse o estádio, ouvia-se o barulhinho da multidão-playback.

Conseguiram se superar.

Thalita disse...

não acho q é de todo mal colocar microfone no meio da torcida menor. Já vi isso em jogos da Libertadores. Mas o narrador deixava claro que aquele era o áudio capturado no meio da torcida, não o geral do estádio. Se bem que acho que isso foi no rádio...
Mas enfim, avisa, pô! diz que aquele é o microfone da torcida menor. Mostra eles cantando, e tal. Depois pára. Não é tão difícil assim.

fredi disse...

Isso também me incomoda, porque dá uma dimen´~ao que a torcida adversária não tem, até pensei em escrever, mas iam dizer que estou muito reclamão

fredi disse...

Thalita, me incomoda porque parece que a torcida adversária, mesmo com menos de 10% do estádio está fazendo mais barulho, torcendo mais. A realidade é alterada com um "photoshop" sonoro.

O pior é que o mesmo som "ambiente" vai para o pay per view. Dá para mudar do Arnaldo e do Kléber Machado, mas é impossível livrar-se da torcida superfaturada.

Anônimo disse...

Pior é quando deixam escapar a vinheta chamando para o jogo só de SP para todo Brasil. Já vi algumas vezes, por exemplo, coisa do tipo: "Cruzeiro e Palmeiras. É o Verdão indo pra Minas atrás de mais três pontos para ser líder do campeonato", essas coisas. Quando o time adversário não tem muita tradição, então, a soberba é ainda maior...

Maurício Ayer disse...

na final da copa do brasil, notei uma grande diferença entre as transmissões da globo e da bandeirantes. estava vendo na bandeirantes, e só se ouvia uma imensa e constante vaia durante boa parte do jogo, pelo menos quando o corinthians dominava a bola. passando pra globo, a sensação é de que haviam cortado o áudio da torcida. pra sentir o clima do jogo, preferi ver pela bandeirantes, então não testemunhei momentos em que a torcida corintiana "superava" a da casa.

Anônimo disse...

Tenho para mim que a transmissão de futebol pode ser mais para o lado do espetáculo que do jornalismo.

Mas dá forma que é feito, não é nem um nem outro. Aí fica complicado mesmo.

Não veria nada demais, ter uma "engenharia" no som. Bem feita para emoldurar o jogo.
Explico:
Quando um time faz uma jogada bonita, de ataque em sua maioria, e que levanta a torcida, colocar o áudio nesse lado. Isto deveria ser mais um elemento para o espectador de futebol (e não necessariamente um torcedor do time em questão) entrar no clima do jogo.
Depois normaliza o áudio misturando ou deixando proporcionais à realidade, sei lá.

Sei lá, mas no meu entender, ouvir o adversário, sentir o bom momento do adversário faz parte. Até mesmo para me deixar nervoso e apreensivo.

Acho que da forma como tem sido feito, além da farsa, ainda diminui o espetáculo.

Anselmo disse...

ter captação de áudio de todo lado é legal sim. mas o critério pra essa engenharia sonora do Victor é difícil de ser encontrado. e a maioria dos torcedores reagiriam a isso como uma provocação dos rivais, isto é, com irritação. acho que despertaria o mesmo tipo de reação que as atuais distorções pela opção de posicionamento do equipamento... será que não?

r_evangelista disse...

glauco, fosse a torcida do santos cantando asa branca vc classificaria como segunda morte do gonzaga?

sobre o audio parcial: não gosto qdo é para o corinthians, não gosto qdo é para o palmeiras.

sobre o circo: pô, pânico? pq não paulo bonfá e marco bianchi?

Glauco disse...

Respondendo, acharia sim, Rafael. E ressaltei que a falta de criatividade não era exclusividade da torcida palestrina. Mas já que você tocou nesse ponto, nem mesmo a adaptação de Asa Branca é algo original, já que a torcida do Flamengo havia feito isso em janeiro . E você, gostou da versão do Dale Boca pro Palmeiras?

Em tempo: o Bonfá e o Bianchi certamente elevariam o nível dos comentários nas transmissões de futebol.

Anônimo disse...

se bem que isso é de praxe! principalmente em se tratando de corinthians que a globo até "legendou" os hinos de sua torcida!