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sexta-feira, março 18, 2011

Metáforas de Dilma

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A presidente do Brasil, Dilma Rousseff teve publicada, na quinta-feira, 17, sua primeira entrevista como mandatária do país em um jornal da terra. As respostas ao Valor Econômico marcaram também as duas primeiras metáforas oficiais de Dilma em português depois da posse. Antes, ela havia sido entrevistada pelo Washington Post, mas as metáforas traduzidas do inglês não poderiam ser contabilizadas.

O exercício dessa figura de linguagem tão profícua quando bem usada era uma das marcas registradas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com preferência em alusões ao futebol, ao bar, à cachaça e ao estilo de vida dos bêbados – eventualmente da mulher dos embriagados, que sofrem as mazelas do álcool – Lula tem no recurso uma das melhores armas para se comunicar tão bem com virtualmente qualquer público. O recurso é tão exímiamente empregado que José Serra (PSDB) tentou mudar de estilo para usá-las mais.

Fotos: Ricardo Stuckert/Pr 27/04/2007 e Roberto Stuckert Filho/Pr 17/03/2011


Dilma não é Lula. Estilos diferentes, tudo bem. Só deu saudade. Nas fotos, Lula de guitarra em punho em pose rock'n'roll com os mexicanos do RBD em 2007 e Dilma quiçá ensaiando uma versão banquinho e violão do sucesso da Copa do Mundo da África do Sul, o Waka waka, com Shakira. 

Dilma falou sobre inflação, crescimento econômic salário mínimo, preservação de direitos dos trabalhadores, aeroportos, entre outros temas. Mas foi sobre corte de gastos públicos que teve origem a primeira metáfora presidencial da Era Dilma. Às palavras:
É como cortar as unhas. Vamos ter que fazer sempre a consolidação fiscal. Na verdade, temos que fazer isso todos os anos, pois se você não olhar alguns gastos, eles explodem. Se libera os gastos de custeio, um dia você acorda e ele está imenso. Então, você tem que cortar as unhas, sempre. Nós estamos cortando as unhas do custeio, vamos cortar mais e vamos fazer uma política de gerenciar esse governo. Estamos passando em revista tudo o que pode ser cortado e isso tem que ser feito todos os anos.
Fosse o Lula, provavelmente a metáfora seria com um time de futebol que não pode só atacar, mas tem de defender. Ou com um trabalhador que, de tanto tomar cervejinha depois do expediente, passa a criar barriga e precisa cuidar de moderá-la para não ter problema de saúde. Ou algo assim. Mas valeu a tentativa.

A segunda metáfora oficial vem do momento em que Dilma rechaça a hipótese de prescindir do controle da inflação. Ela deixa claro que não tergiversa com alta de preços, lançando mão do seguinte:
É aquela velha imagem da pequena gravidez. Não tem uma pequena gravidez. Ou tem gravidez ou não tem.
Alguém pode até questionar se a estratégia não poderia levar o interlocutor a estender a brincadeira. É que inflação ainda tem meta – com centro e margem de dois pontos para mais ou para menos. Gestação pode até terminar prematuramente, mas fica complicado levar tão pormenorizadamente a figura de linguagem.

Contra-metáfora

Por fim, Dilma mostrou um lado que Lula não tinha, o de destruidora de imagens. E saiu-se melhor assim.

A repórter Claudia Safatle mencionou a pecha de "dovish" que paira sobre Alexandre Tombini, presidente do Banco Central. O termo anglófono remete a frouxidão de um pombo, que se contrapõe ao rigor de um "hawkish", em alusão a um falcão.

À pergunta se Tombini é um pombinho, Dilma respondeu: "E eu sou arara (risos)". Depois ainda falou que o mercado reclama do Banco Central porque não tem diretor oriundo do mercado por lá. Quem sabe ela está ainda achando seu estilo?

terça-feira, março 01, 2011

O vazio da cachaça OU A falta que Lula faz

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O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza mostrou que não são só os ébrios autores do Futepoca que sentem saudades das metáforas e alusões à marvada em discursos oficiais do Executivo. A presidenta da República, Dilma Rousseff, anunciou, nesta terça-feira, 1º, em Irecê-BA, reajuste médio do Bolsa Família em 19%, em um discurso cujo ponto alto foi um erro na pronúncia do nome de uma cidade bahiana.
Vaccarezza mandou um recado aos críticos:


É um dinheiro que não tem intermediação política, o cidadão vai ao banco e pega seu dinheiro, compra pão para sua família, compra os gêneros de primeira necessidade. Eles (a oposição) brincavam antigamente dizendo que o chefe de família ia lá e comprava cachaça. Nós não vamos incentivar isso, mas mesmo que uma família compre uma cachaça por mês, são 11 milhões ou 12 milhões de garrafas de cachaça. Isso ajuda toda a economia.
Dados do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha ou Cachaça (PBDAC) indicam que o país produz 1,3 bilhão de litros por ano. Apenas 2,5 milhões de litros são exportados, o resto é consumido internamente.

Se fosse ainda em 2010, quem teria feito a comparação seria o Lula. E teria sido chamado de cachaceiro pela oposição (ao governo e ao bar).

terça-feira, abril 20, 2010

Parágrafo a parágrafo, a matéria de capa de Veja

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A matéria de capa de Veja traz José Serra com a mão no queixo, exibindo um sorriso de dentes clareados e prontos para a corrida eleitoral. Segundo alguns, uma cópia da Times com Barack Obama. Mas há diferenças sérias na chamada de capa. Um aponta quem vai ganhar, outro sugere quem deve ganhar – ambos os casos na opinião do respectivo veículo, frise-se.

Mas melhor criticar lendo do que sem ler. Então, bora ler e comentar, parágrafo-a-parágrafo, a matéria de capa da semanal da editora Abril. Eu até queria ler o artigo de Dilma Rousseff anunciado sobre o cabeçalho, mas é restrito a assinantes.


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quinta-feira, abril 08, 2010

Por candidatura, Ciro Gomes apela ao futebol e às metáforas

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Preocupado com a movimentação de lideranças do PSB para por freio sua pré-candidatura à Presidência da República, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) lançou mão do futebol para convencer seus pares. Em artigo publicado em seu site, na quarta-feira, 7, ele defende seu plano de concorrer ao Planalto, contrariando as intenções do PT e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Lula, aliás, Ciro é só elogios. Tanto que aderiu às metáforas com a vida e com o ludopédio. "É o grande momento também para o PSB pensar grande e disputar um lugar entre os quatro principais partidos do país", avisa.

Ciro Gomes/Flickr
 Ciro nos bastidores do programa "Falando Francamente", produzido
pela representação do governador do Paraná em Brasília

Às comparações.

Com as fases da vida:
Como um adolescente que está se tornando adulto, é a hora de decidir se quer ser gente grande ou continuar pequeno, dependente de outros partidos, que, por mais aliados que sejam, não são o PSB.

É a hora em que se separam os homens dos meninos, as mocinhas das moças feitas. E o melhor é essa percepção de que o diferente não é igual.

Com uma multidão:
[É hora de] decidir se nos mostramos ao Brasil como uma força nova, coesa, com discurso afinado e gente decente disposta a melhorar o Brasil, ou se seremos apenas mais um dos partidos que se acotovelam em alianças pautadas pela mera distribuição de cargos e favores.

A afirmação vai ao encontro das críticas à aliança com "frouxidão moral" entre PT e PMDB e a estratégia de dois candidatos da base governista. Nada de novo no conteúdo, só na forma.

Com futebol:
A tese que defendo é que time que não joga não forma torcida. Mesmo que tome de goleada. Está aí o exemplo no futebol. Equipes hoje grandes tiveram inícios medonhos. Times hoje consagrados tiveram fases terríveis, como Corinthians e Botafogo, que levaram 21 anos sem títulos, mas vendo a torcida crescer apaixonadamente. Já pensaram se o Corinthians em vez de insistir tivesse resolvido virar o time B do Palmeiras?
Já pensou? Nem pensar. Em tempo: o jejum de títulos do Corinthians durou de 1954 a 1977, 23 anos, portanto. O do Botafogo foi de 1968 a 1989, de Zagallo a Zagallo. E o Palmeiras B só foi criado em 2000. Sobre os inícios medonhos de times hoje grandes, é curioso que não haja exemplo. Ciro correria sérios riscos de danos eleitorais se apontasse os casos. O país assistiria ao surgimento de uma corrente de torcedores contra Ciro.

Com o PSDB:
Para quem acha isso [o crescimento do PSB] impossível, basta comparar o que era o PSDB quando elegeu Fernando Henrique Cardoso, em 1994, o que era o PT quando elegeu Lula em 2002 e o que é o PSB hoje. Vocês podem não acreditar, mas a experiência administrativa do PSB hoje é maior ou equivalente do que era a do PSDB em 1994 e do que a do PT em 2002. Hoje, o PSB tem quatro governadores de estado, 333 prefeitos - sendo dois de capitais importantes como Belo Horizonte e Curitiba, e dois ministros de Estado. O PT, em 2002, tinha quatro governadores, 187 prefeitos e nenhum ministro. O PSDB em 1994 tinha apenas um governador de estado, que por coincidência era eu, e 998 prefeitos.

Detalhe: Ciro Gomes renunciou ao cargo de governador em 1994 para substituir Rubes Ricupero, depois do episódio do "que é bom a gente mostra". Então, nem isso os tucanos tinham.

Com Lula:
Não acho que seja correto com o povo brasileiro reduzir o debate eleitoral a uma disputa entre a turma do Lula - na qual me incluo - e a turma do FHC. Os problemas do Brasil são muito maiores e mais profundos do que um simples duelo entre PT e PSDB. Se eles não quiserem debater o Brasil, o PSB o fará, apresentando um projeto de desenvolvimento para o pais. Acredito nos que insistem e isso me aproxima muito do Presidente Lula, um exemplo vivo e atual de que a persistência no final vence.

Ah, os exemplos vivos.

Com o Lula de novo:
Na minha opinião, mesmo que o Presidente Lula apoie abertamente essa grande brasileira que é a Dilma Rousseff, ninguém, nem mesmo ele do alto de sua justa popularidade, pode substituir o poder de escolha, que pertence ao povo brasileiro. E para que nosso povo possa escolher bem, é preciso que haja opções. Até porque, assim, o eleitor poderá até descobrir que existe alguém mais parecido com o próprio Lula do que a candidata que o Lula diz que é.

A referência é, modestamente, estendida também a Marina Silva (PV-AC), além do próprio Ciro. No caso da neoverde, é com a história de vida. Na do socialista, à persistência e a felicidade trazida "a meus conterrâneos" quando foi prefeito de Fortaleza e governador do Ceará.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

'Bebida amarga' não era metáfora em 'Cálice'

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Aliando meus vícios em música e livros, uma das coisas que mais gosto é fuçar o processo de criação das canções e os "causos" por trás disso. Um exemplo: o músico e compositor Leoni (ex-Kid Abelha e Heróis da Resistência) entrevistou certa vez o líder da Legião Urbana, Renato Russo, e este revelou que, quando a banda de Brasília foi gravar seu primeiro disco, a EMI Odeon tentou meter o bedelho e mudar tudo o que eles queriam fazer. Daí, Renato compôs uma canção diretamente para a gravadora: "Tire suas mãos de mim/ Eu não pertenço a você/ Não é me dominando assim/ Que você vai me entender". Quem imaginaria isso?

Pois então, no livro "Gil - Todas as letras", organizado por Carlos Rennó em 1996 (Companhia das Letras), descubro uma história fantástica sobre "Cálice", parceria de Gilberto Gil com Chico Buarque (foto). A polêmica letra, que cutuca a ditadura militar e faz trocadilho com "Cale-se!", fez com que a música fosse censurada e o microfone de Chico cortado no festival Phono 73. Aliás, foi esse show que motivou a criação da música. "A Polygram queria fazer um grande evento com todos os seus artistas no formato de encontros, e foi dada a mim e ao Chico a tarefa de compor e cantar uma música em dupla", conta Gil.

"Era Semana Santa e nós marcamos um encontro no sábado no apartamento dele, na Rodrigo de Freitas (a lagoa referida, aliás, por ele na letra)", prossegue o baiano. E está lá, no final da segunda estrofe: "Na arquibancada pra a qualquer momento/ Ver emergir o monstro da lagoa". Gil observa que, como era Sexta-Feira da Paixão, foi seduzido pela ideia do calvário e do cálice de Cristo, de onde saiu o emblemático refrão: "Pai, afasta de mim esse cálice". E como Páscoa é sinônimo de vinho, tomou umas e completou: "De vinho tinto de sangue". Mas o melhor foi o surgimento da primeira estrofe, outra daquelas inspirações que ninguém conseguiria supor.

"Comecei lembrando de uma bebida amarga chamada Fernet, italiana, de que o Chico gostava e que ele me oferecia sempre que eu ia à sua casa. No sábado não foi diferente: ele me trouxe um pouco da bebida". É plausível imaginar que Gil, ainda ressaqueado pelo vinho da véspera, tenha escrito de uma só canetada as frases da primeira estrofe: "Como beber dessa bebida amarga/ Tragar a dor, engolir a labuta". E essa sensação etílica permeou a terceira estrofe, também escrita pelo baiano, que diz: "Esse pileque homérico no mundo/ De que adianta ter boa vontade/ Mesmo calado o peito, resta a cuca/ Dos bêbados do centro da cidade".

Engraçado é que, desde que foi lançada, "Cálice" ficou marcada pela conotação política dada por Chico Buarque - como a citação da morte de Stuart Angel Jones, filho de sua amiga Zuzu Angel, torturado pelos militares com a boca enfiada no escapamento de um automóvel que acelarava: "Quero cheirar fumaça de óleo diesel/ Me embriagar até que alguém me esqueça". Esse final com "me embriagar" sugere o teor alcoólico inspirador da clássica parceria, que acabou evaporando junto com a ressaca de Gilberto Gil.


quarta-feira, dezembro 23, 2009

Metáforas futebolísticas prometem animar ano eleitoral

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Foto: Reprodução

Bola pra frente que 2009 já era, pelo menos em termos esportivos. Etílicos jamais, afinal, sempre é hora de tomar umazinha, mas quanto ao cenário político ainda tem muita gente enrrolada, esperando os segundos para a virada do ano.

Aliás, 2010 será um ano eleitoral que promete regar de emoções nossos dias. Não faltarão denúncias, alfinetadas, a imprensa repercutindo cada detalhezinho estúpido das campanhas, pesquisas de intenção de voto, políticos tentando salvar seus empregos e, claro, não vai faltar a tradicional prefêrencia pela metáfora futebolística que nosso presidente Lula tanto gosta utiliza. Em 2009, a quantidade de metáforas foi fantástica, mas no final do ano o presidente caprichou.

Em uma fala só, Lula propagou vários conceitos do esporte sagrado da terra brasilis. Em entrevista a uma rádio carioca nesta terça-feira, 22, o presidente explicou a importância de pensar coletivamente. "Às vezes você tem um cara extraordinariamente bom de bola, mas na hora de escalar, você escala um que, taticamente, vai cumprir uma função melhor para o time. Ou seja, não basta o cara ser bom de bola. O cara tem que, primeiro, saber trabalhar em equipe, saber que jogo não se ganha sozinho, e saber que dos 11 em campo, cada um tem uma tarefa e cada um tem que participar da vitória", afirmou o presidente. Em seguida o radialista perguntou se Serra poderia ser um bom técnico. Lula respondeu "Ah, não. Eu acho que não seria mesmo".

Em um café da manhã com jornalistas na última segunda, Lula afirmou que "dois Tostões" não teriam necessariamente resultados positivos - em referência a uma eventual chapa tucana formada pelos governadores de SP e de MG, José Serra e Aécio Neves. Como resposta, o presidente do PPS, Roberto Freire, afirmou que os tucanos tem "dois craques, já eles (os petistas) uma perna de pau". Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, agradeceu Lula por reconhecer os craques tucanos. "Tenho que agradecer ao presidente Lula porque reconhece os raques da nossa seleção. Agora não vejo problema em escalar dois craques, como Tostão e Pelé na Copa de 70", respondeu o senador tucano. Teve também a contestação do governador José Serra, que afirmou que dois bons jogadores podem sim atuar no mesmo time. "Acho que, quando o jogador é muito bom, dá para duplicar. Dá-se um jeito de colocar os dois em campo. "Mas, quando questionado se a mesma teoria pode ser aplicada à política, Serra disse: "Vamos pensar a respeito."

Ano de Copa e de eleição, 2010 promete.

Em tempo
O promotor de Justiça Militar Mauro Faria de Lima apresentou nesta segunda-feira, 21, denúncia no TJ-DF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal) contra os coronéis da Polícia Militar do Distrito Federal Luis Henrique Fonseca e Silva Filho, por lesão corporal. Os dois foram os responsáveis pela coordenação da operação que acompanhou uma manifestação contra a série de denúncias do governo Arruda (ex-DEM) e que acabou em pancadaria e truculência da polícia. Caso a denúncia seja aceita pela Justiça Militar e os coronéis sejam condenados em um eventual julgamento, a pena para lesão corporal leve é de três meses a um ano de detenção.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Esquema 4-4-2 resolve impasse na Confecom

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Por Anselmo Massad, de Brasília

Na cobertura do Futepoca da primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), o discurso de abertura feita pelo presidente Lula prejudicou os planos. Ocorre que o mandatário da nação, que costuma produzir metáforas em profusão sobre futebol e cachaça, não fez nenhuma menção ao ludopédio. Menos ainda à aguardente da cana-de-açúcar.

Em um trecho, até acho que constava no discurso lido no teleprompter de cristal líquido a expressão "bola pra frente". Mas o fato é que o presidente, ao ler o trecho, disse: "bora pra frente".

Fiquei sem post até a tarde desta terça-feira, 15.

Um impasse travava a Confecom. Na segunda à tarde, a Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra) entrou com um recurso junto à comissão nacional organizadora para garantir um recurso conhecido como "questão sensível" nos grupos de trabalho. A fórmula foi estabelecida em maio para a comissão organizadora, depois estendida à plenária final e, por fim, até com ameaça de abandono da conferência, a cada um dos 15 grupos de trabalho.

Em caso de temas intocáveis para um setor, pode-se alegar que o tema é questão sensível, o que demanda um quórum qualificado para aprovação. Escrevendo de outro jeito: em vez de maioria simples, se um setor resolvesse que não topava uma proposta de jeito nenhum, seria necessário 60% de apoio, incluindo pelo menos um voto de cada setor. Nenhuma outra das mais de 50 conferências nacionais promovidas pelo governo Lula, nem as anteriores, tiveram nada parecido.

Há quem diga que os movimentos sociais agiram por interferência do Palácio do Planalto. Outros asseguram que não foi o caso, que trata-se de uma opção de garantir uma conferência pra lá de contestada pela mídia.

O fato é que na hora de votar o regimento na plenária, as críticas dos movimentos sociais eram pesadas. Então, um grupo de delegados se mobilizou para formular a proposta salva-lavoura: o 4-4-2.

Ninguém fez comparação com o futebol diante dos microfones, mas nem precisava.

Para acabar com o voto sensível, cada setor teria um número de propostas sagradas por grupo de trabalho proporcionais a sua representação. Empresários e movimentos sociais teriam quatro propostas cada e o governo, duas. As outras, seriam votadas sob os padrões normais.

Também não discutiram quem ficaria com qual posição. Se as propostas do governo estariam no ataque do esquema tático dos grupos de trabalho, faltou só discutir quem joga na defesa e quem vai para o meio de campo. Provavelmente os empresários ficariam na zaga, favoráveis a uma retranca para manter quase tudo como está. Talvez os movimentos sociais precisassem ter mais poder ofensivo... Mas isso já são divagações para a mesa do bar.

Também faltou escolher que pega no gol.

terça-feira, novembro 11, 2008

O filho eterno e o futebol

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Em meio aos preparativos para minha viagem, enfiei na cabeça que não poderia abandonar as leituras em língua portuguesa sem me dedicar a O filho eterno, obra de Cristovão Tezza, altamente elogiado pela crítica e favoritíssimo aos prêmios que disputa. Até agora, levou o Jabuti e o Portugal Telecom.

É um baita livro. Não tenho a pretensão de apontá-lo como o melhor romance brasileiro do século até agora, como tenho lido por aí, mas surpreende pela crueza com que o personagem se expõe e pela ausência de julgamentos moralóides que parecem inerentes à situação descrita. O protagonista é um escritor fracassado - a inspiração é autobiográfica - e sustentado pela esposa que se vê às voltas com um filho com Síndrome de Down, Felipe. Mais que isso não vou escrever, deixo links para outros textos aqui e aqui.

O que me faz comentar o livro aqui é a relação do menino, já na idade adulta, com o futebol. Uma criança com Síndrome de Down não tem noção de temporalidade, e é com o futebol que Felipe aprende que o mundo não é previsível e que o tempo passa. Citando Idelber Avelar:

A imprevisibilidade do futebol vai dando a Felipe uma idéia de “futuro” e através do conceito de campeonato ele entende o de calendário. O encadeamento de jogos funciona como metáfora inteligível do devir, da passagem do tempo, mesmo que continue uma tremenda confusão sobre o que é Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores ou Campeonato Paranaense.

O livro é muito mais que isso e vale muito a leitura. Pra quem é apaixonado por futebol, essa é só uma razão a mais para o livro emocionar.

domingo, março 02, 2008

A cachaça como metáfora

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A coisa está feia para o ex-deputado estadual Gilberto Gonçalves, do PTN de Alagoas. Matéria da Folha cita que gravações telefônicas - que estão sendo investigadas pela Polícia Federal - dizem que o político pediu, com todas as letras, "dinheiro de roubo, de corrupção", a um funcionário da Assembléia Legislativa do estado.

A explicação precisa sobre a origem do dinheiro apareceu como resposta a uma alegação de um interlocutor de Gonçalves, que dizia que teria que haver descontos de INSS e outros impostos no tutu que o ex-parlamentar aguardava. "Eu quero meu dinheiro. E não venha com desconto do INSS, não, porque isso é dinheiro roubado", diz a gravação, citada pela Folha.

Após a repercussão da denúncia, Gonçalves se diz desiludido com a política e a compara com a água que passarinho não bebe: "a política foi uma cachaça que tomei".

Tal declaração me fez lembrar de uma entrevista que realizei no ano passado com Sandro Zunino, dirigente do Avaí-SC que estava rumando para Rondônia para assumir a diretoria de futebol do Genus, clube local. Ao falar sobre as dificuldades do projeto, que somava o trabalho num clube pequeno e a mudança para um estado com hábitos culturais bem distintos do seu, Zunino dizia que encarava o desafio motivado pela paixão que nutria pelo futebol. E disse: "posso dizer que futebol é a minha cachaça!".

Em dois exemplos, a cachaça é utilizada como metáfora para o futebol e a política, fechando assim a trinca que norteia os trabalhos desse blog.