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quinta-feira, maio 08, 2008

A lição que vem da periferia

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O texto é do companheiro Airton Góes, jornalista e integrante do Fórum Social da Cidade Ademar e Pedreira, sobre um bonito momento de mobilização popular na Zona Sul da capital paulista.

Por Aitrton Goes

No último 1º de maio presenciei uma das maiores demonstrações de cidadania e de afirmação de auto-estima dos moradores da periferia que São Paulo já viu. O fato se deu no Hospital do M’ Boi Mirim, lá nas quebradas do Jardim Ângela, nos confins da Zona Sul.

Na verdade, não fui lá para escrever essa matéria. Era apenas um dos convidados para a inauguração (organizada pelo povo) do equipamento de saúde, que o prefeito e o governador tinham “entregue” à população 23 dias antes (em 8 de abril).

Mas para azar do prefeito, que “nunca sabe” o que quer e o que pensa a periferia, o povão não gostou de ser convidado apenas para bater palmas para políticos que não tinham nenhuma ligação com a luta de 20 anos pela construção do hospital. E resolveu fazer uma nova inauguração no Dia do Trabalhador, onde os moradores da região, os verdadeiros responsáveis pela conquista, fossem protagonistas e não figurantes, como ocorreu no evento oficial.

Logo na entrada vi o padre Jaime – como é conhecido o irlandês de coração brasileiro James Crowe – cumprimentando as pessoas que chegavam para a cerimônia... e eram muitas. Um abraço no amigo e fui para o pátio, que fica nos fundos, onde centenas de pessoas estavam reunidas para reverência sua própria história, sua luta que redundou em uma conquista. Ali percebi que aquele fato não poderia deixar de ser registrado. Era um exemplo para toda a periferia.

A grande imprensa, tal qual um rebanho, já tinha feito o marketing do prefeito na inauguração oficial e, agora, não estava lá para cobrir a verdadeira, a do povo. Decidi que tinha que contar essa lição de cidadania para outras pessoas que não tiveram o privilégio de estar presentes.

Braços levantados – No início da cerimônia, foi relembrada a história da luta pelo hospital: os abaixo-assinados, as mobilizações, os abraços ao terreno vazio... Em determinado momento o padre Jaime provocou: “Quem abraçou o terreno levanta a mão”. Centenas de braços se ergueram em direção ao céu.

Na seqüência houve um ato ecumênico, mas, propositalmente, não anotei os nomes dos representantes das igrejas presentes. A personalidade mais importante ali era o povo, o coletivo indivisível.

Os moradores abençoaram o Hospital e cantaram diversas músicas. Uma delas dizia assim: “O hospital é uma conquista nossa/ Ele é de todos nós/ E o hospital-escola é um sonho nosso/ Ele é de todos nós.../ E a diferença principal quem faz?/ Somos todos nós.”

O hospital-escola, da letra da música, é o próximo desafio do movimento. Como a prefeitura diz ter dificuldade para contratar médicos e enfermeiros para trabalhar na periferia, a reivindicação é que seja construído o novo equipamento, no terreno ao lado do Hospital do M’Boi Mirim, para formar os profissionais que cuidarão da saúde dos habitantes da região.

Após presenciar o que ocorreu no dia 1º de maio, não tenho dúvida: é melhor o poder público começar a construir logo o hospital-escola, pois aquele povo não vai desistir.

5 comentários:

Anselmo disse...

excelente. graaaande padre James Crowe. Grande Hospital do M’ Boi Mirim. O pessoal fez alguma menção à estrutura de administração, incluindo o Hospital albert einstein e uma organização social de saúde filantrópica?

Anônimo disse...

Essa é a verdadeira democracia: as comunidades decidindo seus rumos, sem intermediários. Parabéns pelo post!

Marcão disse...

Copa São Paulo?

Nicolau disse...

Era só "São Paulo", em referência à cidade...

Anônimo disse...

Me alegro ao notar que nunca foram, nem serão ncessários holofortes para ecoar nossa voz rumo a uma terra sem males, sem fronteiras. Que de mãos dadas trilharemos o mesmo caminho, com quedas, mas sendo erguidos por quem caminha junto/ ao lado!
E agradeço pela riqueza desta partilha ... e que os anjos digam Amém!!!