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quarta-feira, maio 21, 2008

O velório e o trânsito

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Texto do companheiro Airton Goes, jornalista e integrante do Fórum Social da Cidade Ademar e Pedreira, sobre o protesto citado aqui contra as 493 mortes ocorridas em maio de 2006. Absurdos que não mereceram cobertura da grande mídia (a alternativa, como a revista Fórum, foi atrás) nem repúdio das vestais e "cansados" de plantão.

O velório e o trânsito

Airton Goes

Jesus, João, Marcos, Lucas, Mateus... Ao todo, 493 nomes colados em pequenos “caixões” de cartolina preta. Velas acesas e um pequeno grupo de pessoas. Assim poderia ser resumido o velório realizado na última sexta-feira, dia 16, em frente à prefeitura municipal de São Paulo.

O velório foi a forma encontrada pela Comunidade Cidadã, do Grajaú, e por diversas outras entidades da sociedade civil para protestar contra a morte de jovens na periferia e, principalmente, pela falta de políticas públicas por parte da atual administração municipal para esse segmento da população. “Nossa juventude precisa ter alternativas de cultura, educação, lazer... para não se transformar em mão-de-obra barata para o crime organizado”, denunciou Flávio Munhoz, um dos organizadores do evento.

Os 493 “caixões” lembravam as mortes ocorridas nas duas semanas de maio de 2006, quando a cidade foi vítima dos ataques realizados por uma facção criminosa e da vingança indiscriminada, que se seguiu, por parte de maus policiais. Do total de mortos, 475 eram jovens, segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

O início do protesto estava marcado para as 19 horas, mas bastou o ônibus que traria os jovens e os “caixões” sair do Grajaú (distrito da periferia da Zona Sul) um pouco depois do horário previsto, para que a coisa se complicasse. Em função do trânsito caótico, os manifestantes e os materiais necessários ao velório chegaram quase duas horas depois, quando o Centro de São Paulo estava bem menos movimentado.

Em função do atraso, apenas um grupo reduzido de populares, entre os quais alguns familiares de jovens assassinados e desaparecidos naqueles trágicos dias de maio de 2006, acompanhou o II Ato em Defesa da Vida.

Sinal dos tempos e da incompetência do poder público. Há poucos anos, os protestos e as manifestações eram acusados de prejudicar o trânsito na capital paulista. Agora, é o trânsito que atrapalha a realização dos atos públicos.

O velório, além de lembrar as vítimas da violência, também simbolizou a “morte” da atual administração municipal de São Paulo, que se encontra totalmente inerte frente às necessidades e aos reclamos dos jovens da periferia.

1 comentários:

Glauco disse...

493... E só se fala em Isabella.