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quinta-feira, junho 05, 2008

O Fluminense sempre fez história

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Pouco antes do início da partida semifinal entre Fluminense e Boca Juniors, o locutor da Sportv, Luis Carlos Junior, perguntou ao ex-atleta e comentarista Junior se aquela era a maior partida da história do Fluminense. Fugindo totalmente do que seria o lugar comum, o rubro-negro respondeu que não sabia, pois o Tricolor era um clube centenário e para afirmar isso era preciso conhecer a fundo a história do Flu.

Nada mais correto. Alguns torcedores acham que não existia futebol antes da Libertadores, que começou a ser disputada em 1960, ou antes do Campeonato Brasileiro, iniciado em 1971. Mas havia. E muitos times faziam história já naquela época, com grandes exibições e dando craques fabulosos para o esporte mais popular do mundo. O Fluminense era uma dessas equipes.

Confesso que, depois das atuações apenas regulares nas oitavas-de-final e do primeiro jogo contra o São Paulo, achei que o Tricolor carioca não tinha a tal “cara de Libertadores” que tanto se fala das equipes que vencem o torneio sul-americano. Mas depois mostrou que possuía não só a feição vencedora, como também tinha aquilo que mais fascina no futebol: talento. Talento para continuar escrevendo sua bela história.

A vitória contra o São Paulo, com um gol no final, já havia sido um feito dramático. O empate com o Boca na Argentina, um belo resultado. Mas pairava a dúvida. Será que o Flu conseguiria repetir a façanha de superar o time argentino na Libertadores, algo só realizado pelo Santos de Pelé em 1963?

O primeiro tempo correu com o Tricolor segurando o jogo, tocando a bola e esperando o Boca. Os argentinos atacavam, mas não com tanto ímpeto, embora tivessem a iniciativa das ações. Riquelme aparecia pouco, e as jogadas portenhas aconteciam pelo lado direito, aproveitando a deficiência de marcação de Ygor e os avanços do ala Gabriel, que ataca bem mas marca mal. Uma chance do Flu, duas do Boca. E 0 a 0 no final da primeira etapa.

As emoções estavam reservadas para o segundo tempo. O Boca marca aos 12, em uma jogada típica. Datolo ginga no lado esquerdo do ataque. Enquanto ele baila, Palermo vai e volta duas vezes e se livra do marcador. E quem marcava o artilheiro era Thiago Neves, mostrando o quão ruim é quando o time recua pra só se defender. A volta de atacantes ou meias para a intermediária desarruma toda a marcação, a não ser que a retranca seja a tônica da equipe, o que não é o caso do Fluminense. A bola vem açucarada e o atacante faz aquilo que sabe fazer.

A partir daí, pensei “mas que time encardido.” Um ensaio de catimba, espaços se abrem para o contra-ataque, o toque consciente dos argentinos... Parecia tudo perdido. Mas Renato Gaúcho colocou Dodô no lugar de Ygor. E ele sofreu uma falta próxima à área. Washington cobrou magistralmente aos 17 minutos. Não deu tempo para o Boca dominar de forma completa a partida.

O visitante encurrala, ataca, mas aos 25 o argentino e torcedor do River Dario Conca domina pela esquerda. Olha pra área e cruza. A bola desvia em Ybarra e pega o goleiro Migliore no contrapé. Um tento salvador. Entre os 27 e os 35, só dá Boca. Uma pressão incrível, um ritmo eletrizante, com grandes intervenções do pouco confiável e rebatedor Fernando Henrique, tão vaiado em outras ocasiões pela torcida tricolor. Com justiça, diga-se. Mas era também a noite dele.

Então, pela primeira vez, vi um lance nada usual nas partidas da equipe de coração do ex-craque Maradona. Ao invés de sair jogando, o goleiro deu um chutão pra frente. O Boca, sempre inabalável, parecia tenso. Nervoso. Com medo. O Fluminense estocava, criava chances no contra-ataque, era dono da situação, mesmo acuado. E foi em uma saída errada de Palácio que Dodô, aos 47, acabou com a pose portenha. Festa no Maracanã. Eu, que não torcia nem para um, nem para outro, comemorei o gol carioca. Desta vez, o Maracanazo foi deles.

Nas arquibancadas, um Chico Buarque rindo como criança festejava com a filha Sílvia. Junto deles, os torcedores, quase 85 mil, cantavam e se emocionavam. Lá de cima, Castilho, Telê Santana, Preguinho, Didi e tantos outros que fizeram do Tricolor o que ele é, sorriram junto com Nelson Rodrigues, que caçoava dos "idiotas da objetividade". E quem sempre fez história, continuou fazendo.

Mais Fluminense:

E o Tricolor tá na final.
Cala-te, Boca!!!

10 comentários:

fredi disse...

Ia escrever que o Flu está com pinta de campeão, sorte de campeão e tem time para isso, o que mostrou eliminando os dois concorrentes mais fortes até agora...

Como não creio em brujas, pero que las hay, las hay, é bom pôr as barbas de molho.

O LDU pode parecer mais fracos que os times já vencidos, mas nenhum "bobo" chega ao final da Libertadores por sorte...

Nicolau disse...

Primeiro, excelente texto, Glauco! Time não é chamado de grande a toa, tem história, tradição, camisa, ídolos. Importante lembrar que muita coisa aconteceu antes da televisão nascer.
Sobre o Flu, é questão de não ter salto alto. É a melhor campanha da Libertadores, despachou os pretensos bichos-papões e tem uma galera ali que joga bola. O Washington é o cara. Mas nunca se pode deixar de respeitar o adversário e o Sobrenatural de Almeida, em homenagem ao tricolor Nelson Rodrigues. Mas, de qualquer forma, não vi a LDU jogar, mas aposto no Fluminense.

Anônimo disse...

Finalmente Tricolor

Se a Taça Libertadores tivesse que escolher um bairro para dormir nesta temporada,
seria La Boca,
nunca as Laranjeiras.

Na Caixa de Bombons ela já esteve por seis oportunidades.
E é sempre tratada como hóspede bem vinda.
Só Ibarra veio convidá-la por três vezes em terras brasilis,
duas na Terra da Garoa, uma nas serras sulistas.

Mas a Taça neste ano vai dormir em casa nova:
quem sabe nas Laranjeiras.
Porque a hinchada de Buenos Aires viu seus heróis
Martín Palermo, Rodrigo Palacio e Roman Riquelme
pararem em nomes que talvez a Taça nunca ouvira falar:
Fernando Henrique, Thiago Silva, Thiago Neves.
E o que dizer de Washington, que, de acabado para o balípodo
fizera o gol mais importante da história do amor de Rodrigues ou Buarque?
Ou de Conca, que, diante do gigante que veste azul e amarelo,
marcou o gol argentino mais comemorado da noite de inverno?
E como lembrarão de Dodô, o artilheiro dos tentos bonitos,
que cavou falta, alavancou contra-ataques e marcou o terceiro?

Nessa história faltava cobiçá-la. Faltava ficar próxima dela.
A Taça Libertadores está a três semanas de dormir no calor fluminense,
é claro, primeiro passa em Quito,
mas faltam apenas cento e oitenta minutos.
Nada.
Comparados aos 106 anos que a nação pó-de-arroz
espera que o Fluminense deixe de ser um time de três cores.
E se torne finalmente O Tricolor.

Anônimo disse...

Glauco, belo post. Valeu! O Flu só não conquista a Libertadores se achar que já conquistou. E vou ser cabotino aqui... venho falando bem dos times do Rio desde o Estadual-RJ. Aposto e torço para o Flu ser campeão. O time merece, a torcida merece, o treinador merece e vai ser uma conquista importante para o futebol brasileiro e, principalmente, o carioca.

Marcão disse...

Mais do mesmo: fui beber num bar sem TV e não vi nada dos jogos, soube dos resultados por aqui. Isso está se tornando uma coisa irritante, mas descobri qual é o motivo: o jornal onde trabalho tem fechamento na quarta-feira. Daí, depois de ralar como um condenado o dia inteiro...

Anônimo disse...

Glauco,
uma das melhores coisas do futebol do Rio de Janeiro é ter o Junior como comentarista. O cara manda muito bem. O cara é totalmente identificado com o Flamengo e mesmo assim todo mundo o respeita.

****

Ontem estive no Maracanã com um amigo que é vascaíno. Na saída ele me perguntou se era o maior jogo da história do Fluminense (ou o mais importante, não lembro). Respondi sem pensar muito que não. Eu disse que foi o do Gol de Barriga.
Acho meio forte esse negócio de se institucionalizar a importância de um jogo. Cada um tem seus motivos e seus momentos.
E é isso mesmo que o Junior disse. Cada época é uma. Pelo que sei, teve épocas em que os times davam mais importância aos títulos estaduais que os nacionais (pelo menos é o que dizem). Concordo contigo e com o Junior.

****

Agora não tem jeito. O Fluminense vai ter de saber conviver com o favoritismo que a ele vai ser colocado.
Pelos seguintes motivos:
- Pelo seu time
- Pela sua campanha
- Por quem eliminou
- Por como eliminou
- Por fazer o 2º jogo em casa
- Pelo Maracanã
- Pelo futebool do Brasil ser muito superior ao do Equador
- Pelo Monstro

Nicolau disse...

Marcão, em que arranjar um bar com TV lá em SBC, rapaz. O Olavo, orgulhoso habitante da cidade, deve ter alguns pra indicar.

Anônimo disse...

Brilhante texto, Glauco. Tenho visto um "Libertadorismo" exagerado em muitas análises do futebol atualmente, como se a Libertadores fosse a única razão dos times de futebol existirem. Porra, o Flu é o maior campeão do Rio (ao lado do Fla) em todos os tempos, e isso é muitíssima coisa. Não é o fato de não ter uma Libertadores que tira a importância do clube. Isso se aplica também ao Corinthians, aliás.

Glauco disse...

Hoje se dá muito valor à Libertadores. Culpa inclusive da própria organização do futebol brasileiro, que fez da Copa do Brasil um torneio que só vale por dar uma vaga à competição sulamericana, já que exclui quem participa da Libertadores. Vira uma obsessão que prejudica os times nos estaduais e no Brasileiro.

Está mais do que na hora da CBF adaptar o seu calendário e colocar a copa do Brasil no segundo semestre, permitindo que todos os grandes possam participar.

Pedrinho, vascaíno e professor disse...

Este seu texto tem muito a ver com o da minha namorada, carla.
O texto está neste blog aqui

http://www.canalfluminense.com.br/index2.php?page=blogdaequipe/index.php

valeu!