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segunda-feira, agosto 25, 2008

F-Mais Umas - Nuzman, um profissional sem metas

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CHICO SILVA*



Fui convidado para escrever sobre Fórmula-1 neste site. Mas peço licença a vocês e ao Felipe Massa, que venceu sem contestação o GP da Europa (prova chatíssima disputada no belo circuito de rua de Valência), para falar um pouco sobre a campanha olímpica do Brasil em Pequim. Como alguns de vocês sabem, no último ano, por questões profissionais, mergulhei nas entranhas da estrutura que administra o esporte olímpico brasileiro. E dessa imersão tirei algumas conclusões que talvez ajudem a explicar o nosso desempenho apenas razoável na China (aliás, em todos os jogos anteriores), como bem definiu o presidente Lula (acima) no "Café com o presidente" de hoje.

Vamos a elas: nunca o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) recebeu tantos recursos e investimentos, sejam eles privados ou estatais, num ciclo olímpico. No total, passaram pelas mãos de Carlos Arthur Nuzman (à direita), presidente do COB, & companhia (leia-se: presidentes de confederações), cerca de R$ 1,2 bilhão. A maior parte desse dinheiro veio da Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias para COB, para as confederações de cada modalidade esportiva e para o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) - se bem que este último leva apenas 15% do bolo.

Como se nota, o problema deixou de ser a falta crônica de recursos e passou a ser a gestão deles. O COB, que tem como fonte própria apenas as verbas dos seus patrocinadores, administra esse dinheiro alheio como bem entende. O resultado disso é que esportes sem muita expressão e visibilidade acabam recebendo migalhas. São modalidades como tiro esportivo (à esquerda), lutas, levantamento de peso e tênis de mesa, só para citar algumas, que, para outros países, são verdadeiras usinas de medalhas. Por isso, se quiser ser uma potência olímpica, o Brasil terá que olhar mais para os esportes nanicos.

Apesar da autonomia quase irrestrita para administrar o dinheiro alheio, o COB treme quando ouve falar em metas. Nuzman se gaba de dirigir uma instituição que, segundo ele, é qualificada e profissionalizada. Então, qual é o problema de se estabelecer metas de desempenho por modalidade? E se as metas não forem atingidas, é preciso investigar as causas do insucesso e não simplesmente pedir mais dinheiro, como o presidente do COB fez na coletiva do balanço do desempenho brasileiro na China. Essas Olimpíadas revelaram um descompasso entre investimento e resultado. Isso precisa ser corrigido.

Como maior financiador do esporte de alto rendimento no país, o governo federal não pode se omitir da tarefa de fiscalizar e acompanhar o uso dos seus recursos, sejam eles diretos ou indiretos. Mas peralá: longe de mim defender uma intervenção federal na atividade. O que sugiro é a participação de todos os segmentos envolvidos, governo, COB, confederações e atletas, na decisão de como e onde aplicar esse dinheiro. O que não dá para aceitar é alguém administrando os bônus e repassando os ônus. Aí a vara quebra, o cavalo refuga, o uniforme encolhe e o país anda para trás na conquista de medalhas olímpicas (acima, à direita).

Para terminar, vou chover no molhado ao falar na necessidade premente de investimento no esporte de base e educacional. Mas, para isso, o governo precisa tirar recursos do alto rendimento e destiná-los para a criação e melhoria de equipamentos esportivos e formação de professores e especialistas. Aí é que entra, ou deveria entrar, a iniciativa privada no papel da grande patrocinadora das Daianes, Scheidts, Jades e Maurrens do Brasil. Porém, os empresários também têm que mudar sua visão. Hoje, a grande maioria só investe no esporte em momentos de grande exposição, como nos anos de Pan e Olimpíada. Contam-se nos dedos aqueles que desenvolvem trabalhos longos e sem a contrapartida imediata do resultado. Para o bem do esporte brasileiro isso precisa mudar.

Até a próxima, quando volto a falar do que me trouxe a esse espaço: a F-1.




*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

3 comentários:

Gil.son disse...

Opa, passei só pra deixar um recado pra torcida da Portuguesa. Dia 28/08 vai rolar o lançamento do uniforme número 3 da Lusa. Para mais informações, visite meu Blog. Obrigado! Gil.son
http://tudorama.blogspot.com/

Glauco disse...

A gestão do COB é um problema, mas a de muitas federações também é, e aí a culpa não pode ser jogada nas costas do Nuzman. Exemplos como o do Grego, presidente eterno do basquete brasileiro e que acabou com o esporte no Brasil existem às pencas. Hoje há federações e confedereações sem presidente, com interventores e praticamente falidas por má gestão. Não dá pro COB colocá-las no colo, nem o Estado e muito menos a iniciativa privada, que quer lucro fácil e distância desse pessoal.

O Brasil poderia aproveitar esse momento pra fazer uma discussão ampla sobre aquilo que quer. O quadro de medalhas de Pequim mostra, entre os nove primeiros, seis membros do G-8 (mais dinheiro, mais medalhas) e um que daqui a pouco vai estar lá (China). Mas a inclusão de Austrália e Coréia do Sul nesse bolo mostra a importância do legado olímpico para um país. Se o Brasil quiser mesmo sediar uma Olimpíada, que se faça uma conferência nacional o mais rápido possível, aproveitando que outras modalidades (e não só futebol) estão com visibilidade.

Marcão disse...

Buenas, o Lance desta quarta (27/08) traz uma matéria com o título "Estagnação esportiva", dizendo, basicamente, que, mesmo com mais verbas do governo, o esporte brasileiro não consegue evoluir. Diz certo trecho:

"O fator de preocupação é que há 12 anos o COB não recebia as verbas da lei Agnelo Piva, qe com a lei de incentivo e os patrocinadores, contribuíram com cerca de R$ 1,4 bilhões (sic) que deveriam ser repassados para o esporte brasileiro durante o ciclo olímpico. O problemas é a forma como o dinheiro chega às federações. Modalidades como boxe, esgrima, luta e taekwondo vivem às migalhas, enquanto entidades auto-suficientes como a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) recebem mais de R$ 2 mi por ano".

Ou seja: mais ou menos o que nosso colega Chico diz em sua coluna.

Mais adiante, no Lance, o colunista Marcelo Damato afirma que o dinheiro não devia ir para o COB, mas diretamente para as federações das modalidades "nanicas". Damato criticou, ainda, o presidente do COB:

"O Nuzman não é a pessoa que pode liderar o Brasil nisso. Ele está há 12 anos no comando do COB e só gastou dinheiro. Alguns esportes progrediram, mas custou caríssimo. Na Jamaica, o investimento é muito menor e os resultados obtidos na Olimpíada são iguais aos do Brasil".