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segunda-feira, agosto 04, 2008

F-Mais Umas - Fantasmas de Hungaroring quase derrubam a estréia do colunista

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CHICO SILVA*

Tinha tudo preparado para minha estréia neste novo e nobre espaço. Não que eu seja um entusiasta admirador do são-paulino Felipe Massa. Até pelo contrário. Quem leu meu perfil sabe de quem sou fã, mesmo! Mas infelizmente já se vão 17 anos que Nelson Piquet Souto Mayor descalçou as sapatilhas e guardou a balaclava. De qualquer maneira, seria um bom começo no site, com um brasileiro vencendo pela sétima vez no travado e enfadonho circuito de Hungaroring. Até já me preparava para chamá-lo de Brasilring. Mas quando tudo parecia resolvido, eis que os fantasmas da pista magyar resolveram aprontar mais uma. A três voltas do fim, o até então confiável propulsor de Massa foi pelos ares, produzindo fumaça e lágrimas no rosto do piloto que estava prestes a colocar as mãos na liderança do championship (acima). Aliás, sou de um tempo em que piloto não chorava. Nem quando ficava preso entre as frágeis ferragens de outrora. Mas deixemos isso para lá. Em matéria de lágrimas, prefiro as de Jade Barbosa.

Voltando aos virabrequins, não é de hoje que o autódromo húngaro prega peças em pilotos que já se imaginavam ouvindo o hino no pódio. A primeira vítima foi Nigel Mansell. O arrojado e estabanado inglês passeava pelo circuito contando os minutos para mais uma vitória na temporada de 87. Até que, em um trecho intermediário, o Williams 5 começou a sambar feito bêbado em final de desfile de carnaval. No pit-stop, um mecânico descuidado não apertou a porca de uma das rodas do carro do bigodudo como o manual manda. Para desespero do inglês, o rival e desafeto Nelson Piquet (à direita) conquistou a segunda vitória consecutiva no autódromo húngaro, o primeiro de um país da extinta cortina de ferro a receber o milionário e capitalista circo da F-1. Na época, houve quem desconfiasse que Piquet havia dado uns trocados para o mecânico desastrado. Como isso nunca se provou, a história entrou para o folclore da categoria. A vitória na Hungria foi a plataforma do tricampeonato do maior piloto brasileiro de todos os tempos.

Exatos dez anos depois, um compatriota de Mansell também foi derrotado pelo sinistro traçado húngaro. O então campeão mundial Damon Hill estava a poucos quilômetros de uma façanha. Iria conquistar o primeiro triunfo da história da Arrows, uma equipe que encerrou suas atividades com o "invejável" histórico de 368 GPs sem uma vitoriazinha sequer. Pilotando uma carroça equipada com o fraco e instável motor Yamaha, Hill liderava com folga quando, na última volta, seu câmbio começou a emperrar. O canadense Jacques Villeneuave, à época ao volante de uma Williams, se aproveitou da situação e estourou o champagne no alto do pódio. Como Piquet, Villeneauve conquistou o título daquele ano, após uma dura e nem sempre leal batalha com Michael Schumacher.

Em 2006, outro ilustre competidor passou por mico semelhante ao de Mansell. Então lutando pelo seu segundo título mundial, o marrento espanhol Fernando Alonso viu seu campeonato se complicar após um simples pit-stop. Contrariando a célebre máxima de Karl Marx, dessa vez "a história não se repetiu como farsa". Outro mecânico desatento não apertou como deveria uma das porcas da roda do Renault do asturiano. Com o carro descontrolado, Alonso abraçou a barreira de pneus. A prova, disputada sob chuva e coalhada de acidentes, dessa vez foi vencida por um inglês. Jenson Button (à esquerda) redimiu seus conterrâneos e faturou aquela que é até hoje sua única vitória na F-1. Se isso serve de consolo para o chorão Massa, Hungaroring não conseguiu impedir que Hill, Mansell e Alonso entrassem para o fechado clube dos campeões mundiais de F-1. Massa tem boas chances de conseguir sua carteirinha. Sorte dele que Hungaroring só tem uma vez por ano...
Todos iguais/todos iguais
Uns mais iguais que os outros
Antes que alguém me enxovalhe, explico que não gosto dos Engenheiros do Hawaii, a banda dos Pampas que nos atazanou com os versos acima. Aliás, por falar neles, juro que gostaria que alguém me explicasse por que diabos esse Hawaii deles tem dois i. Deve ter alguma coisa a ver com numerologia ou quem sabe eles se inspiraram num desses ideogramas chineses que estão na moda por causa das Olimpíadas. Sei lá. Mas esses versos me vieram à cabeça com as imagens da premiação do Grande Prêmio da Hungria. Lá estavam o vencedor, Heikki Kovalainen, que debutava no lugar mais alto do pódio, e Kimi Raikkonen, que terminou em terceiro. Dizem que japonês é tudo igual. Pois finlandês também. Repare bem. Kovalainen é a cara de Raikkonen, que, por sua vez, parece sósia do ex- piloto e bicampeão mundial Mika Hakkinen.

A exceção talvez seja o campeão mundial de 1982, Keke Rosberg (à direita). O ex-piloto da Fittipaldi e da Williams ostentava um belo e hoje fora de moda bigodão. Além da fisionomia, aparência e talento, os finlandeses têm outro gosto comum. Aliás, uma qualidade muito apreciada por este blogue: a manguaça. Raikkonen e Hakkinen já se meteram em confusões embalados por generosas doses de vodka finlandesa, que, ao lado da russa e da polonesa, integra a santíssima (ou sataníssima) trindade do destilado. Então, para encerrar esse artigo, nada mais justo que oferecer um brinde a Kovalainen. O piloto da McLaren fez aquilo que se convencionou chamar de corrida sem erros. É claro que se aproveitou da quebra de Massa e do azar do companheiro Lewis Hamilton, que teve um pneu furado no meio da corrida. Então, uma dose trincando de vodka da boa, direto da Finlândia, para o 100º piloto a vencer uma corrida de F-1. Um brinde e até a próxima semana!

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, mezzo santista/ mezzo pontepretano. Curte um bom goró e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

7 comentários:

Glauco disse...

Bela estréia, Chico, parabéns! Já vi que temos duas coisas em comum: Piquet como ídolo e desprezo pela tal banda gaúcha. Mas quanto aos versos que você destacou, pode ficar tranquilos porque são originais da Revolução dos Bichos. Difícil imaginar Gessinger criando algo de fato...

Tem outra coisa a se comentar também a respeito dos finlandeses. Até surgir o Kovalainen, achei que existia alguma regra que só os fizesse ter nomes com quatro letras como Keke Rosberg, Mika Salo, Mika Hakkinen e Kimi Raikkonen. Fiquei aliviado ao saber que os pais escandinavos têm mais liberdade do que supunha a imaginação etílica...

Nicolau disse...

Bem vindo, Chico!

Fernando Bueno disse...

Eu usei exatamente essa frase da música do Engenheiros apra falar mal do meu time na Série B...coincidência total!!!
PArabéns pelo post...

Anselmo disse...

curioso que o Nicolau não falou nada sobre os engenheiros do hawaii.

curiosa mente manguaça.

pô, eu não assisto fórmula 1. e quero ver apurada a denúncia: finlandês é igual a japonês. Ou será que eu li errado?

Marcão disse...

Nelson Piquet eterno!

Anônimo disse...

Caro Anselmo. Deixa eu explicar melhor a analogia. Obviamente nas pistas os dois países não são e nunca foram iguais. A Finlândia tem quatro títulos mundiais. O Japão teve Satoru Nakajima, Aguri Suzuku e Takuma Sato. Quis dizer é que como os japoneses os pilotos filandeses são fisionicamente, ih, isso existe?, parecidos. Ainda mais depois de umas vódcas. Todos são absolutamente loiros e donos de bochechas rosadas. Agora é para o Glauco. Sempre desconfiei que esses versos estavam além das capacidades do bardo dos Pampas. Mas como do Orwell só li 1984, acabei me traindo. E olha que tenho a Revolução dos Bichos aqui na minha estante. E pelo tamanho não deve consumir mais do que três horas de leitura. Vou dar um rasante nele nesses dias. Abraço a todos e obrigado pelas críticas e elogios.

Chico Silva

Anselmo disse...

Chico, sua paciência com comentários manguaças é exemplar!

eu tava evidentemente embriagado quando escrevi que japonês era igual a finlandês, era uma piada pra reforçar a primeira parte do comentário que dizia que "eu não assisto fórmula 1".

Foi mal o tumulto, mas pelo menos valeu pra lembrar os nomes dos pilotos japoneses.