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quarta-feira, março 04, 2009

A arte de ser moleque e beber qualquer coisa

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Numa dessas mesas de bar no fim da tarde, eu divagava com o colega de trabalho Marcelo sobre a capacidade que todo moleque tem de beber qualquer coisa. Mas qualquer coisa mesmo: de vinho vagabundo a álcool Zulu com maracujá. Ele exemplificava com a última viagem que fez ao litoral, no fim do ano passado, quando seus primos compraram cinco garrafas de "vodka" Leonoff, a R$ 4,85 o litro. É óbvio que ele passou longe - e assistiu de arquibancada a ressaca abominável da molecada. Mas quem é que nunca foi moleque e bebeu essas coisas? Quem nunca tomou uma dessas Askov (foto) da vida, que atire a primeira pedra! Todo mundo tem história pra contar sobre bebidas vagabundas. É assim que aprendemos a diferenciar as coisas boas - e priorizá-las.

De minha parte, me lembro de duas tosqueiras que marcaram para sempre, de forma negativa, meu paladar, meu estômago e meu fígado. Moleque (lógico!), me juntei com mais dois bebuns, todos com 14 ou 15 anos, e catamos todas as moedas possíveis e imagináveis. O saldo foi tão irrisório que não dava para comprar uma garrafa de 51. Rodamos os mercadinhos da cidade e, no mais obscuro, trombamos com um litro de "uísque" Chanceler (foto), que na época era envasado em garrafa de cerveja - e com tampinha! Era tão barato que as moedas somaram o valor exato. Fomos para uma praça e tomamos o troço no bico. Nunca vou me esquecer da dor de cabeça e da vontade de morrer no dia seguinte...

Outra besteira que fiz, bem mais tarde, aconteceu em Paracuru, no Ceará (cidade de praia citada numa música de Armandinho e Fausto Nilo). Eu tinha levado um garrafão de vinho para acampar três dias mas, no último, já havia acabado. Saí pela cidadezinha procurando uma bodega que me vendesse mais um litro. Talvez encontrasse um Góes, Canção ou mesmo um Chapinha. Mas foi pior: o único "vinho" disponível na cidade era um tal de São Francisco (foto), da Paraíba (!). Quando abri, tinha cheiro daquelas ceras Grand Prix, de passar em carro. O negócio queimou minha boca e despelou meus lábios. Pensei em jogar fora, mas ofereci a um mendigo, na rodoviária. Fui ao banheiro e, quando voltei, o mendigo tinha ido embora...e deixado a garrafa intacta no chão!

A última recaída, nesse quesito, foi com a temível "vodka" Zvonka, de triste memória. Mas tem muitas outras porcarias soltas por aí: Ninnoff, Moscowita, Askov, Balalaika, Komaroff, Bowoyka, Kriskof, Roskoff, Perestroika (foto), Romanoff, Baikal, Popokelvis, Stolin, Leonoff Ice, Polovtz, Natasha, Novaya, Rajska, Kovak, Snovik, Eristoff. "Isso não é vodka. Não usaria nem para limpar vidro. O 'sabor' dessas marcas obscuras e baratas revela altos índices de impurezas. Provavelmente são feitas com água da torneira, álcool de cana-de-açúcar, e filtradas em carvão de churrasco", esculhamba (com toda razão) Daniel Poeira, do blogue Drink Drinker. Pois é: porre de vodka vagabunda é uma coisa que todo bêbado profissional se lembra com pânico e temor. Como diz Luís Fernando Veríssimo, na crônica "Ressaca", "até hoje, quando vejo uma garrafa, os dedos do meu pé encolhem". Os meus também...

19 comentários:

Anônimo disse...

Mais um post primoroso.

Dos meus tempos de moleque, uma das lembranças mais célebres é a "batida" pronta Carga Rápida, que somava amendoim e um componente alcoólico que não consegui identificar.

Pior é que eu cheguei a achar aquilo gostoso.

Marcão disse...

Carga Rápida? - hahahahaha

Só pode ser coisa de São Bernardo! Quando eu trabalhava lá, a moda entre a molecada era uma batida pronta chamada Duelo, com vários sabores (inclusive amendoim). Um verdadeiro duelo contra o fígado...

Glauco disse...

Tenho calafrios só de pensar num porre de Dreher (toc toc toc)de quando tinha uns 17 anos. Foi a única vez (graças a Deus) que escutei uma voz de dentro da minha cabeça em uma ressaca.

Marcão disse...

Um outro trecho da crônica do Veríssimo confirma a sensação do Glauco:

"Ressaca de conhaque. Você acordava lúcido. Tinha, de repente, resposta para todos os enigmas do universo. A chave de tudo estava no seu cérebro. Devia ser por isso que aqueles homenzinhos estavam tentando arrombar a sua caixa craniana. Você sabia que era alucinação, mas por via das dúvidas, quando ouvia falar em dinamite, saltava da cama ligeiro."

Credo.

Nicolau disse...

Duelo ainda pega bastante em Mauá. Mas não é do meu tempo, nunca tomei essa parada. Tenho dois traumas graves, um episódico e outro recorrente. A doença crônica - já superada - foi tomar maria mole (Dreher com Contini, para os leigos). Eu e uns amigos tomavamos essa tranqueira religiosamente por um bom período e eu realmente cheguei a achar gostoso. A ressaca é algo realmente absurdo, não sei cmo aguentava. A imagem que me vem à cabeça é de uma ou duas chaves de fenda enfiadas na base do crânio. O outro pecado foi cometido um dia só: caipirinha de vinho. É, isso mesmo, vinho tinto barato, limão e açucar. No dia, me pareceu a melhor invenção do universo. Nunca mais.

Fabricio disse...

Quando eu estava na 8.a série em São Bernardo do Campo, com meus 14 anos, rolou uma excursão para a Estação Ciência.

Busão de escola? Indo pra São Paulo? não tinha motivo melhor praquele bando de pirralhos se acharem os alcoólatras. Compramos umas latinhas de breja na lanchonete ao lado da escola e um colega apareceu com uma garrafa térmica contendo batida de maracujá. Era só esperar a saída para tomar tudo escondido lá no fundo do busão.

Mas acontece que o ônibus não saia. Passa o tempo, e as bebidas vão perdendo o gelo. Duas horas depois, o ônibus sai e abrimos as cervejas. Cada uma estava a uns 35 graus. A batida que ficou na garrafa térmica estava, "felizmente" em apenas 28 graus.
Todo mundo tomando aquele chá e fazendo cara de "bom pra caralho, somos foda".

Na Estação Ciência no final do dia eram cinco no banheiro.

Marcão disse...

Falando nesse processo misterioso que, em alguns momentos da vida, faz a gente beber porcaria e "achar gostoso", como dizem o Olavo e o Nicolau, lembrei de um tempo em que eu bebia vinho vagabundo com gelo e achava uma delícia.

Eu cursava espanhol na Uece (Universidade Estadual do Ceará), em Fortaleza, e, depois da aula, estacionava minha mobilete no Bar do Abílio, um índio. Tinha que ficar esperando minha namorada, que cursava Letras, e ela demorava duas horas pra aparecer. Se eu fosse beber cerveja, o dinheiro só dava para 4 ou 5 - ou seja, 50 minutos de bar. Daí eu entrei de cabeça no vinho doce, de garrafão, com pedra de gelo, no copinho plástico. Acho que bebia umas 20 doses até a mulher aparecer. Depois tomava mais 20. E saía de mobilete, torto, com a namorada na garupa.

Depois dizem que Deus não protege os bêbados...

Thalita disse...

Balalaika, um clássico dos meus primeiros JUCAs. Acho que nunca tomei um porre de uma bebida só, era sempre uma mistura de cerveja e destilados porcaria. Mas as minhas ressacas nunca tiveram dor de cabeça muito forte. O que pegava era (e continua sendo) o estômago. Enjôos federais, pelo menos no dia seguinte inteiro.

Anselmo disse...

eu me lembro de ouvir conversa alheia no onibus de um pessoal de primeiro ano de faculdade em que uma moça dizia que tinha superado a fase de "beber qualquer coisa", que agora ela só "tomava vinho de pelos menos cinco reais".

eu nunca curti vodca. nao me arrisquei com dreher. só q filei uma vez uma garrafa de white horse de alguém que tinha comprado... a parte chique para por aí, pq eu degustei como se aprecia uma Perestroika ou uma Svonka. fiquei uns cinco anos sem poder ver uísque por perto.

Fabiano disse...

hauhuhauhu, me fez lembrar o meu primeiro porre, com uns 17 anos de idade, eu e mais 3 amigos tomamos um garrafão de vinho de 5 litros inteiro. A procedência disso é de se duvidar, porém o bixo era doce, e com o tudo que é doce e alcoólico é perigoso, o resultado do dia, ou melhor, das horas posteriores à bebedeira nem preciso comentar...

Fiquei tão traumatizado com esse primeiro porre/ressaca que não cheguei mais perto de vinho por um bom tempo, porque somente o cheiro me deixava com o estômago embrulhado... somente anos depois que consegui voltar a bebericar um pouco de vinho... mas agora dos bons.

Maurício Ayer disse...

e falam que bebida afeta a memória, a única coisa que eu me lembro de todo um período da minha vida foram as tranqueiras que eu bebi. meu primeiro porre forte, mas forte mesmo, foi com Dreher, e passei meses sem poder sentir o cheiro daquela merda nem de longe.
Depois engatei uma fase de tomar 51, até realmente apagar completamente a memória e só acordar no chuveiro, com meu pai olhando lá de cima pra ver se eu ia viver.
quando eu comecei a viajar, com meus 16, 17 anos, entrei em contato com bizarrices locais, menos comuns em são paulo. em são tomé das letras, onde todo moleque metido a hippie ou roqueiro, como eu, se metia, uma vez tomei um porre de um vinho chamado Maravilha de São Roque. naquela noite tomei também aquelas cachaças que os negos misturam com mel e mais qualquer outra erva.
nessa mesma época eu saía da escola (não precisava fugir, porque na escola eles tinham a política de portões abertos), e ia com os projetos de manguaça encher a cara de um vinho chamado Quinta dos Frades, o mais barato que existia no supermercado perto.
das ressacas, lembro muito pouco. lembro sim de passar muito mal, vomitar na sarjeta até esvaziar, mas lembro também que quando vomitava quase não tinha ressaca, e chegava em casa em condições de conversar com meus pais.
ô, bons tempos...

Anônimo disse...

O mais engraçado qdo lembramos os porres de adolescencia é a famosa frase no outro dia: "Nunca mais bebo assim...". Rs! Depois de 2 dias estamos lá, bebendo novamente! E o que seria dessa vida sem uma boa história pra contar?!
Bjo

Digão Garcia® disse...

FALTOU UMA VODKA CHAMADA NATASHA E UMA RUN QUE NEM EXISTE MAIS CHAMADA JAMAICA...

Unknown disse...

inigualável Popokelvis!

garrafa de plástico
ingredientes: essência de vodka e alcool

PQP

Alan D Avila disse...

Não posso atirar pedra alguma pois, como no post, uma Askov da vida já fez parte da minha, então ...

Marcão disse...

No final, além do espírito de porco da adolescência, tudo é uma questão de poder econômico. Vejam o comentário do site Mentes Ociosas, que linkei no nome da Leonoff Ice:

"Fora o cheiro de Merthiolate que emana da garrafinha aberta, a bebidinha não é hedionda. O sabor é de vodka barata de garrafa plástica, misturada com suco Tang de limão. Além disso, o custo x benefício (R$ 1,40, no Extra Brigadeiro) acaba salvando o dia da Leonoff."

Felipe (do Corinthians) nos defenda!

Anônimo disse...

hauHAUuaHUHU , Natasha pqp, fiquem longe disso.

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Jelly Gamat Qnc disse...

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