Destaques

sexta-feira, novembro 14, 2008

F-Mais Umas - Ecos de uma temporada

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

CHICO SILVA*

O mais equilibrado e acirrado campeonato de F-1 das últimas duas décadas terminou. O choque de adrenalina das três voltas finais do GP do Brasil ainda é sentido pelos fãs da categoria. Timo Glock, o alemão que tomou a ultrapassagem que decidiu a temporada em favor de Lewis Hamilton, teria ou não facilitado as coisas para o primeiro campeão negro da história? Essa e outras discussões aos poucos vão se dissipando, assim como as nuvens negras que cobriram Interlagos naquele primeiro domingo de novembro. Mas uma coisa é certa: a Fórmula-1 fechou o ano maior do que começou. E tudo indica que 2009 será ainda melhor. Mas, antes da próxima corrida, o GP da Austrália, marcado para 29 de março de 2009, a coluna F-Mais Umas encerra 2008 com uma avaliação e as notas dos pilotos que participaram daquele que já pode ser considerado um dos mais emocionantes campeonatos da história da F-1. Semana que vem vou falar das equipes.

Lewis Hamilton (9,0) - O Barack Obama das pistas só não leva 10 porque cometeu alguns deslizes incompatíveis com a sua condição de campeão do mundo. O maior deles foi a batida besta na traseira de Kimi Raikkonen na saída de um pit-stop no GP do Canadá. Por pouco, também, não perde o Mundial ao abrir demasiadamente a porta para a ultrapassagem de Sebastian Vettel, a três voltas do final do ensandecido GP do Brasil. Mas, na soma final dos resultados, Hamilton, com méritos, se tornou o primeiro negro a conquistar um título mundial de Fórmula-1.

Felipe Massa (8.0) - Analisando friamente, a Ferrari tirou o título de Felipe Massa. A quebra de motor no GP da Hungria, quando liderava com folga a três voltas do final, e a incrível lambança com o "pirulito/ árvore de natal" no GP de Cingapura tiraram duas vitórias certas do piloto. Mas isso não exime Massa dos erros nas primeiras provas da temporada e da falta de combatividade em momentos chaves do campeonato, como nos GPs da Bélgica e da China. Mas, de toda a forma, o são-paulino fez uma temporada que o credencia como um dos favoritos ao título de 2009.

Robert Kubica (9,0) - Eis aqui o melhor piloto do ano. O conterrâneo do Papa João Paulo II fez milagres ao volante de um BMW notadamente inferior às rivais McLaren e Ferrari. Kubica só não foi mais adiante porque, no meio da temporada, sua equipe abriu mão do desenvolvimento do carro atual para começar a trabalhar no modelo 2009. Mesmo com a perda da motivação, Kubica se manteve vivo na disputa até o GP da China, o penúltimo da temporada. Em 2009, ele vem mais forte e louco para se tornar o primeiro polaco a conquistar um título mundial.

Kimi Raikkönen (6,5) - A nota baixa é pelo fraco desempenho na pista. Mas, fora dela, Raikkönen será sempre o piloto nota 10 desta coluna. Pelo jeito, o finlandês andou acelerando em outras pistas que não as de corrida. Teve até um bom início de temporada, o que levou à falsa impressão de que poderia chegar ao bicampeonato. Mas, do meio do ano em diante, foi disperso e, em algumas corridas, irreconhecível. Parece que sofria os efeitos da ressaca do título de 2007. Mas não se enganem. O iceman com vodca ainda tem muito biocombustível para queimar. Quem beber, viverá!

Fernando Alonso (7,0) - A sorte dos rivais é que a Renault só se acertou no final da temporada. Caso contrário, o destino do campeonato poderia ter sido outro. Quando teve um carro à altura, o espanhol marrento e mal humorado provou porque é o melhor piloto em atividade na categoria. Com duas vitórias, um 2º e um 4º lugares, foi o que mais pontuou nas quatro últimas corridas do ano. Como já acertou sua permanência na Renault, do amigo Flavio Briatore, Alonso vai ser osso duro em 2009. Não estranhem se faturar seu terceiro título mundial, feito que o poria ao lado de lendas como Ayrton Senna, Nick Lauda e o gênio Nelson Piquet.

Nick Heidfeld (6,5) - Todo início de temporada se ouve alguém dizer: "- Esse ano o Nick Heidfeld vai!". O problema é que nem ele sabe para onde. Heidfeld é até bom piloto. Não é qualquer um que marca 60 pontos em uma temporada de F-1. Em outras épocas, teve campeão do mundo com pontuação menor. Mas Heidfeld é aquele tipo que toda a sogra adora. É bonzinho e não faz mal para ninguém. Para complicar, ainda teve o azar de dividir a equipe com o ótimo e inspirado Robert Kubica. Heidfeld é mais um daqueles pilotos que vai se aposentar sem que ninguém se dê conta.

Heikki Kovalainen (5,5) - Com um companheiro de equipe desses, Hamilton não precisava de inimigos. O finlandês da McLaren não serviu nem para ajudar o campeão do mundo na sua batalha contra Massa e Kubica. Ao que tudo indica, Flávio Briatore tinha razão ao dispensá-lo da Renault no ano passado. E não me venham com a conversa de que a McLaren trabalhou inteiramente para Hamilton. Kovalainen é o "picolé de chuchu" da Fórmula-1. Será que o PSDB vai convidá-lo para dividir com Alckmin uma chapa nas eleições de deputado estadual/ federal em 2010? Mais insosso, impossível!

Sebastian Vettel (8,5) - Olho nesse cara! De toda essa geração alemã que veio no vácuo do fenômeno Schumacher, Sebastian Vettel é, disparado, o melhor. O alemãozinho com cara de moleque barbarizou ao volante da débil Toro Rosso. Aos 21 anos, entrou para a história como o mais jovem vencedor de uma corrida de Fórmula-1, o Grande Prêmio da Itália. Suas atuações lhe garantiram uma vaga na equipe principal da casa, a Red Bull, e determinaram a aposentadoria do principal piloto da RBR, o playboy escocês David Coulthard. Para completar o ano, por pouco não vira herói nacional ao tirar de Lewis Hamilton o quinto lugar em Interlagos e, com isso, dar a Massa o título mundial. Mas aí o compatriota Timo Glock estragou a brincadeira.

Jarno Trulli (6,5) - O italiano fez uma temporada mediana, compatível com o que a instável Toyota poderia lhe oferecer. Alternou bons resultados, como o pódio no GP da França, com abandonos e chegadas distantes da zona dos pontos. Apontado como potencial campeão do mundo quando chegou à Renault, na metade da década passada, Trulli vê o fim da linha se aproximar sem ter realizado grandes feitos na categoria. Tem lugar garantido para o ano que vem. Mas não deve chegar no primeiro ano da próxima década.

Timo Glock (5,0) - Esse alemão vinha realizando uma temporada apagada, tímida, quando a três voltas do final do GP do Brasil o destino lhe deu o papel de protagonista na decisão do título entre Felipe Massa e Lewis Hamilton. Ao ser ultrapassado pelo inglês a três curvas do final da prova frustrou a expectativa de 80 mil torcedores no autódromo e de milhões de brasileiros que acompanhavam a corrida pela tevê. A partir de então, mesmo sem querer e sem poder fazer nada, entrou para a galeria dos anti-heróis brasileiros da Fórmula-1. Era o cara errado, na hora errada e, sobretudo, no país errado.

Mark Webber (5,0) - Se pilotasse o que fala e reclama, esse australiano já teria sido campeão do mundo há tempos. O problema é que, de Fernando Alonso, ele só tem a marra. O talento está quase à mesma distância do país de onde veio. Tudo bem que o carro também não ajudou muito. Mas Webber fez muito pouco para melhorá-lo. Fez uma temporada apropriada ao seu melhor resultado no ano, o 5º lugar no GP da Austrália. Foi tudo que conseguiu.

Nelson Ângelo Piquet (5,5) - Antes de mais nada, por favor, parem de chamá-lo de Nelson Piquet. Isso é quase uma heresia com o maior piloto brasileiro de todos os tempos - além de botar uma pressão brutal na cabeça do moleque. Galvão, faça o favor de chamá-lo de Nelson Ângelo, Piquet Jr, Piquezinho ou qualquer coisa do tipo. Dito isso, Nelson, como é chamado por seu engenheiro de pista, fez uma temporada típica de estreante. Alternou erros primários, como a rodada na Bélgica e a barbeiragem em Cingapura, com um inesperado pódio na Alemanha e um consistente 4º lugar na China. Tem tudo para evoluir em 2009. Mas sabe que, se não mostrar serviço, vai rodar.

Nico Rosberg (5,5) - Vamos dar um desconto, pois o filho do campeão Keke Rosberg teve nas mãos uma das piores Williams de todos os tempos. Algo incompatível com o passado de uma das equipes mais vitoriosas e tradicionais da história da categoria. Nico até se esforçou. Conquistou dois pódios, um 3º lugar na Austrália e um 2º em Cingapura, mas colecionou uma infinidade de quebras e abandonos. A Williams jogou água na gasolina da Petrobras, que, em 2008, comemora uma década de fornecimento de combustível para a equipe que deu a Piquet seu terceiro título mundial.

Rubens Barrichello (5,0) - Rubens Barrichello certamente será assunto desta coluna daqui a algum tempo. Ao que tudo indica, e por mais que relute, seu ciclo acabou. Final melancólico para um piloto que, durante alguns anos, carregou no cockpit a esperança de milhões de brasileiros ávidos por mais títulos mundiais. E esse peso parece ter vergado sua carreira. Para piorar de vez sua situação, a Honda lhe entregou uma verdadeira cadeira elétrica. De bom, mesmo, só o 3º lugar no GP da Inglaterra, quando o mundo despencou em Silverstone. Temporada para ser esquecida. Ao contrário do piloto, que, para o bem e para o mal, tem o seu nome gravado na história do automobilismo brasileiro.

Kazuki Nakajima (5,0) - Este é um sobrenome que está na memória dos fãs brasileiros mais velhos da F-1. Filho do lendário bração Satoru Nakajima, Kazuki, pelo menos, tem se mostrado menos trapalhão que o pai. Em sua segunda temporada na F-1, o Nakajima son não se envolveu em grandes acidentes e barbeiragens. Assim como Nico Rosberg, foi vítima da debilidade da Williams. Fechou o ano com 9 pontos na carteira. Parece pouco. Mas o carro também não permitiu muito mais do que isso.

David Coulthard (8,0) - Você pode estar estranhando a alta nota para esse playboy escocês que, na maioria das vezes, brincou de ser piloto de Fórmula-1. Mas é justamente por isso que ele a recebeu. Coulthard parece ter sido o último piloto à moda antiga da categoria. Era do tipo "perco a corrida, mas não a farra" - e o que viesse junto com ela. Mulherengo, biriteiro, bon vivant e querido por todos, o escocês vai fazer falta ao circo. Com ele se vai o que restava de romantismo, picardia e leveza em um negócio cada vez mais profissional e politicamente correto. E, conseqüentemente, cada vez mais chato.

Sebastien Bourdais (4,0) - Há quem diga que esse francês nascido numa cidade referência do automobilismo mundial, Le Mans, palco das míticas 24 horas, não é tão ruim quanto os seus resultados na temporada sugerem. Mas uma coisa é inegável: ele foi atropelado e engolido pelo companheiro de equipe, seu xará Sebastian Vettel. A superiodade do alemão foi tamanha que não há argumentos para defendê-lo. Fechou o ano com míseros quatro pontos, contra 35 de Vettel. Não é preciso dizer mais nada.

Jenson Button (1,0) - Ok, a Honda era uma desgraça. Tudo bem, ninguém contesta. Mas Jenson Button fez jus ao carro que guiou. Poucas vezes se viu um piloto tão desinteressado e apático quanto ele. E pensar que a imprensa inglesa um dia imaginou vê-lo campeão do mundo. Sorte deles que surgiu Lewis Hamilton para devolver a coroa da F-1 aos súditos da rainha. Pois, se fossem depender de Button, estariam mais perdidos do que o goleiro inglês Seaman naquele chute do Ronaldinho Gaúcho no Brasil e Inglaterra da Copa de 2002. Prova de sua fraqueza foi a superioridade imposta por Rubens Barrichello sobre ele, tanto em treinos como nas corridas. Um legítimo fracasso.

Giancarlo Fisichella (3,0) - O que dizer de um piloto que participou das 18 provas do campeonato e não marcou um mísero pontinho sequer? Pois esse foi o desempenho do italiano Giancarlo Fisichella na temporada 2008. Está certo que ele prestou serviço à pior equipe da temporada, a Force India, do milionário indiano Vijay Mallia, que, por não ter onde gastar seus bilhões de dólares (por que não manda um pouco pro Futepoca?!??!?), resolveu tirar onda na F-1, sob pretexto de divulgar sua imensa e miserável nação. Ao menos, quando teve chance, Fisichella mostrou que continua sendo o bom e velho piloto ruim de ultrapassar. Quando, por alguma razão, Massa, Hamilton, Kubica e Raikkonen disputavam posições com ele, a diversão era garantida.

Adrian Sutil (2,0) - Acho que nunca um nome foi tão adequado a perfomace de um piloto. Com o perdão do infame trocadilho, Adrian foi tão Sutil que poucos perceberam sua passagem pela temporada. Pudera. Das 18 provas do ano, este alemão conseguiu a proeza de abandonar, nada mais nada menos, do que 11. Das que conseguiu terminar, seu melhor resultado foi um 13º lugar no GP da Bélgica. E foi mais por abandonos dos adversários no dilúvio de SPA-Francorchamps do que propriamente por habilidade e méritos próprios. Só não fica com o título de marcha lenta da temporada porque Button conseguiu ser pior com um carro um pouquinho melhor.

Takuma Sato/ Anthony Davidson (sem notas) - Pois é. Alguém pode estar se perguntando: "- Quem são esses caras e o que estão fazendo aí?". Acredite: a dupla participou da temporada 2008. O inglês e o japonês disputaram as quatro primeiras provas do ano pela Super Aguri, equipe do nipônico e braço duro Aguri Suzuki, que, de 1988 a 1995, atemorizou seus adversários na F-1 - entre eles Nelson Piquet, Ayrton Senna, Alain Prost e até mesmo o destrambelhado Nigel Mansell. Mas problemas de patrocínio e a saída de um parceiro tiraram a equipe das pistas. Sua última corrida foi o GP da Espanha, disputado em abril, em Barcelona. Mas, das quatro corridas que participaram, nenhuma merece registro. O melhor resultado foi o 13º lugar de Sato no GP da Espanha, o que marcou o fim do sonho japonês da F-1.

Os troféus da temporada
Nelson Piquet (melhor piloto) – Robert Kubica
Ayrton Senna (revelação) – Sebastian Vettel
Satoru Nakajima (bração) – Jenson Button
Michael Schumacher (campeão) – Lewis Hamilton

*Chico Silva é jornalista, wilderista (fanático por Billy Wilder) e nelson-piquetista. Em futebol, 60% santista, 40% timbu pernambucano. Bebe bem e escreve semanalmente a coluna F-Mais Umas para o Futepoca.

6 comentários:

Glauco disse...

Boa, Chico! Só observo que se a Ferrari "tirou" o título de Massa, o Tapetão não conseguiu fazer o mesmo com Hamilton. Se não fosse a tal "Justiça", o inglês teria chegado ao Brasil já como campeão do mundo. E o Timo Glock merecia uma notinha melhor também.

Saulo disse...

Realmente foi um campeonato emocionante, muito equilibrado como o Campeonato Brasileiro.

Thalita disse...

olha, alguém já deve ter feito as contas. Eu não fiz. Mas pelo que lembro, comparando os tropeços da Ferrari e os tapetões tenho quase certeza que a conta pende pro lado do Massa.

Fabricio disse...

Quer saber, já debati por um dia inteiro com o Glauco sobre tapetão e cagadas ferraristas mas o fato é que depois de muito tempo pudemos discutir F-1 de novo.
Campeonato que vai deixar baos lembranças e fazer os brasileiros voltarem a acompanhar as corridas como antes.

Anselmo disse...

antológico o post. e olha q eu naoentendo nada de F1.

Nicolau disse...

Muito bom o post. O ponto alto está no seguinte trecho: "(...)do milionário indiano Vijay Mallia, que, por não ter onde gastar seus bilhões de dólares (por que não manda um pouco pro Futepoca?!??!?)"
Eu repito a pergunta: por que não?!?!?