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quarta-feira, dezembro 23, 2015

Bicuda na canela

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Mas com toda a elegância. Quando Chico Buarque foi importunado por filhinhos-de-papai num restaurante do Leblon, no Rio de Janeiro (entre eles, Alvarinho, filho do empresário Álvaro Garnero), que se sentiram no direito de criticar seu apoio ao PT, o artista rebateu: "Acho que o PSDB é bandido, e agora? Procure se informar mais, porque com base na revista ‘Veja’ você não vai chegar muito longe". E depois, passado o bate-boca, Chico faz, sutil e magistralmente, a seguinte postagem numa rede social:


Afinal, o partido é dos trabalhadores. E, falando nisso (trabalho), voltemos ao Chico, num vídeo em que conta o seu despertar político (e que, por isso mesmo, explica totalmente suas escolhas políticas): "Pra mim, o lixeiro era o sujeito que mais trabalhava, era a pior profissão do mundo. E uma das melhores profissões do mundo, que eu achava muito folgada, era a profissão do meu pai, que ficava lá no escritório batendo a máquina, clec-clec-clec-clec. Isso é moleza. Duro é ser lixeiro. Como é que meu pai, que ficava sentado, [fazendo] clec-clec-clec-clec, pôde se casar, e ter sete filhos, e o lixeiro, que trabalha muito mais, carregando aquelas latas e se sujando todo, não tem dinheiro para constituir família? Aí, foi a primeira revolta, assim. [Pensei:] Esse mundo é injusto". Confira:


LEIA TAMBÉM:


segunda-feira, novembro 30, 2015

Costelas, Adão e Eva, castigo, trabalho e o ócio sagrado

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Tom Zé: 'Estão comprando o Brasil de volta'
Há uns 15 anos, ao entrevistar por telefone o Tom Zé, para o jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza, ele me perguntou sobre o que acontecia de mais relevante no Ceará, naquela época. Como eu era repórter do caderno de economia (e estava apenas fazendo um bico para o de cultura), comentei:

- Acho que uma coisa que o pessoal não tem ideia nas outras regiões do país é que grupos portugueses estão comprando várias extensões na costa cearense, construindo hotéis na beira do mar e cercando as praias, impedindo o acesso da população. É uma verdadeira privatização do espaço público.

Tom Zé soltou uma gargalhada no telefone e gritou para a esposa dele:

- Neusa! Vem aqui ouvir o que o repórter tá me contando: os portugueses venderam caro nossa independência e agora tão comprando o Brasil de novo, aos poucos!

Exatamente. O fino humor do músico, intérprete, compositor e performer baiano resumiu, em uma frase, o que dez comentaristas ou colunistas econômicos não conseguiriam (ou não ousariam) concluir. Mas me lembrei disso porque, hoje, ao ler uma notícia na inFernet, fiquei pensando o que o Tom Zé - que  há dez anos lançou o CD "Estudando o Pagode - Na opereta Segrega Mulher e Amor", sobre machismo, papel da mulher e suas relações com o homem (ouça aqui) - comentaria sobre isso:


Sim: uma modelo sueca arrancou seis costelas por questão estética (leia aqui). Imagino o que o Tom Zé observaria sobre isso, se as costelas dariam origem a um novo ser, como Eva, que Deus criou a partir de uma costela que retirou de Adão, segundo a Bíblia. Vai daí, uma ideia (de jerico) puxa outra e me lembrei de um texto que li recentemente, da filósofa Marilena Chauí, como introdução ao trabalho clássico "O direito à preguiça", de Paul Lafargue. Ela observa que "ao ócio feliz do Paraíso segue-se o sofrimento do trabalho como pena imposta pela justiça divina e por isso os filhos de Adão e Eva, isto é, a humanidade inteira, pecarão novamente se não se submeterem à obrigação de trabalhar".

Chauí: condenação da preguiça faz com que desempregado se sinta humilhado, um pária

A filósofa observa ainda que "o laço que ata preguiça e pecado é um nó invisível que prende imagens sociais de escárnio, condenação e medo" e que isso gerou "as figuras do índio preguiçoso e do negro indolente", do "nordestino preguiçoso, a criança de rua vadia (vadiagem, aliás, o termo empregado para referir-se às prostitutas), o mendigo - 'jovem, forte, saudável, que devia estar trabalhando em vez de vadiar'; é ela, enfim, que força o trabalhador desempregado a sentir-se humilhado, culpado e um pária social". O que me faz pensar no taxista Juraci, o Pai Velho, como um subversivo...

'Vai trabalhar, vagabundo!/ Vai trabalhar, Criatura! DEUS permite a todo mundo/ Uma loucura...'

Prova maior de que o trabalho é um castigo divino é a ira de Deus ao expulsar o casal do Jardim do Éden, descrita no Gênesis. Ele diz a Adão: "Com sofrimentos te nutrirás todos os dias de tua vida (...). Com o suor de teu rosto comerás teu pão, até que retornes ao solo, pois dele foste tirado". E é ainda mais cruel com Eva: "Multiplicarei as dores de tua gravidez, na dor darás à luz filhos. Teu desejo te levará ao homem e ele te dominará" (será que isso inclui arrancar seis costelas para atrair a atenção?). Sobre essa pesada pena para a mulher, Marilena Chauí comenta: "Não é significativo que em muitas línguas modernas recuperem a maldição divina contra Eva usando a expressão 'trabalho de parto'?". Aliás, falando em maternidade, vejamos esse cartum do argentino Quino:

 
Só que, após a reforma protestante e a revolução industrial, o ócio passou a ser condenado pelo ideal religioso, com a preguiça tornando-se um dos "sete pecados capitais", e econômico, com a valorização máxima do dito "tempo é dinheiro". Nisso aí, minha mente (preguiçosa) desanda a trabalhar (pela causa) e faz o link, agora, com um post que fiz, aqui no Futepoca, observando que a palavra trabalho vem do latim tripalium, um instrumento romano de tortura por empalamento, e que a palavra negócio vem de "negação do ócio". Marilena Chauí complementa: o latim labor, que origina a palavra trabalho em inglês e lavoura em português, significa "esforço penoso, dobrar-se sob o peso de uma carga, dor, sofrimento, pena e fadiga". Por outro lado, ócio, em grego, se diz scholé, de onde vem nossa palavra escola. Coisa que o Geraldo Alckmin (PSDB) costuma reorganizar, digo, fechar.

Tripalium (três paus): instrumento de tortura é origem da palavra trabalho

Então, num esforço para amarrar - ou não - tudo isso (costela, Adão e Eva, castigo, trabalho e valorização do ócio), puxo um samba do Adoniran Barbosa, "Conselho de mulher", em parceria com Oswaldo Moles e João Belarmino dos Santos, que eu citava no tal post:

Trecho falado:
"Quando Deus fez o homem, quis fazer um vagulino que nunca tinha fome
E que tinha no destino nunca pegar no batente e viver forgadamente
O homem era filiz enquanto Deus anssim quis
Mas depois pegou Adão, tirou uma costela e fez a mulé
Deis di intão, o homem trabalha p'rela

Vai daí, o homem reza todo dia uma oração:
'-Se quiser tirar de mim arguma coisa de bão, que me tire o trabaio; a muié não!'"

Pogréssio, pogréssio
Eu sempre iscuitei falar
Que o pogréssio vem do trabaio
Então amanhã cedo nóis vai trabaiá

Quanto tempo nóis perdeu na boemia
Sambando noite e dia, cortando uma rama sem parar
Agora iscuitando o conselho da muié
Amanhã vou trabaiá, se Deus quisé
(Mas Deus não qué!)



Taí: se a mulher agora também está arrancando costela, o homem podia entregá-la pra Deus como "quitação de débito", acabar com a obrigação do trabalho e voltar ao ócio sagrado - uma vez que, como lembra Adoniran, no Paraíso "Deus não quer" que peguemos no batente! Outra coisa: trabalho é opressão. Naquele mesmo post que fiz sobre a falaciosa "dignificação do homem", alguém lembrou muito apropriadamente, nos comentários, que - não por acaso - os nazistas punham placas nos portões de entrada dos campos de concentração com a frase "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta").

Frase nos campos de concentração 'ensinava': 'O trabalho liberta'
 
 Ou, como acrescentou o já citado Tom Zé, em "Esquerda, Grana e Direita" (ouça aqui):

"Quando o trabalhador cresce na sociedade
 E tem a oportunidade de ser protagonista da história
Ele pratica o método do opressor
Porque foi o único método que aprendeu
Então, ele só sabe agir como o opressor
Arrastão de Paulo Freire"

E, falando no "Elogio ao ócio" (outro texto clássico, dessa vez de Bertrand Russell - acesse clicando aqui), me cai na mão exatamente neste momento um exemplar da revista "Cidade", publicação do Shopping Center Cidade Jardim, com um texto de Adriana Nazarian intitulado "O que fazer? NADA", que afirma: "Ter horas livres - em uma época em que nada parece ser tão livre assim - pode ser mal visto. Para dar conta da demanda, que também exige vida pessoal bem equilibrada, eliminamos da rotina algo fundamental: o ócio".

Ilustração da matéria da revista 'Cidade' (feita por Catarina Bessell)

A revista ouve três especialistas que reforçam que "praticar o nada é essencial":

"É fácil achar que o mundo vai se afastar de nós caso a gente dê uma pausa na produção, mas se permitir esses momentos faz com que a parte inconsciente do cérebro organize todas as ideias às quais estivemos expostos. Aprender a desconectar é perceber que nós não podemos - nem devemos - participar de absolutamente tudo. Nossa cultura prega a ilusão de que podemos ter tudo, mas isso acaba colocando o foco apenas no que não temos." - David Baker, fundador e editor da revista "Wired', escritor e professor

"Praticar o fazer nada é crucial para equilibrar a fisiologia e a cognição. (...) O descanso e, sobretudo, o sono são essenciais para limpar o cérebro de toxinas, repor metabólitos despendidos na vigília e processar memórias. (...) Ao contrário do que muitos pensam, o sono não é um simples descanso, mas tem papel ativo na saúde mental e física. O ócio é parte fundamental da experiência humana e precisa ser preservado." - Sidarta Ribeiro, neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

"Silêncio significa fazer perguntas, e nós  criamos barulho e bagunça justamente para evitar as grandes questões e propósitos da vida. Não abrir espaço para esses momentos é como viver sem dormir, sem deixar o motor esfriar antes de mais uma corrida. Hoje, a maioria das pessoas atribui a felicidade ao alcance de metas. Com isso, vivem infelizes (...)." - Yonatan Shani, diretora do Kabbalah Centre do Brasil

Ignácio de Loyola Brandão: 'A melhor coisa de não fazer nada é, em seguida, repousar'

Ah, tem outro texto que me vem à mente agora, uma crônica do Ignácio de Loyola Brandão publicada no jornal "O Estado de S.Paulo" no ano passado (leia aqui), que proclama:

"Não que eu não faça nada somente no sábado ou domingo de manhã, nos feriados ou nas férias convencionais. Não faço nada quando decido: agora, não vou fazer nada. Isto significa liberdade. Quantos de vocês tomam estas decisões? Não fazer nada, contudo, não significa que em seguida você vai se esfalfar para tirar o atraso. Nem pensar. A melhor coisa de não fazer nada é, em seguida, repousar do nada fazer. Perceber que está feliz por não ter feito nada. Não sentir culpa por não fazer nada."

Sobre isso, aproveito para citar uma frase de outro escritor, Charles Bukowski:

"Gosto de olhar os meus gatos, eles me acalmam (...). Você sabia que os gatos dormem 20 das 24 horas do dia? Não se admira que tenham melhor aparência do que eu."


E arremato com mais literatura, indo direto ao ponto com uma frase de Marguerite Duras:

“É preciso ser muito forte pra não fazer nada.”

 
Buenas, depois de tanto "trabalho" pra pular da modelo que tirou as costelas pro Tom Zé e a privatização de praias brasileiras pelos portugueses, de Adão e Eva e Marilena Chauí para um instrumento de tortura romano e um samba de Adoniran Barbosa, passando pelos campos de concentração nazistas e voltando ao Tom Zé para desembocar nos especialistas e escritores que corroboram a valorização do ócio, vou conceder à minha ociosa inteligência o direito à preguiça. E verei se amanhã "vou trabaiá, se Deus quisé"... "Mas Deus não qué!"


quarta-feira, outubro 14, 2015

'Nenhum trabalhador pode baixar a guarda'

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Armínio queria mínimo ainda mais mínimo
Há exatamente um ano e meio, no início da campanha para eleição presidencial, fiz um post aqui no Futepoca intitulado "Projeto principal da oposição: contra os trabalhadores". Na época, o (nefasto) Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central nos tempos bicudos de FHC e escolhido pelo candidato tucano à presidente Aécio Neves como seu provável ministro da Fazenda, escancarava: "O salário mínimo está muito alto" (relembre clicando aqui). Emir Sader denunciaria, mais tarde (leia aqui), que esse era apenas um dos pontos de um "plano terrorista" que teria como objetivo, também, "implementar uma forte política de corte de salários, tanto do setor público, como pressionando as negociações no setor privado" e "promover o desemprego para favorecer as condições de negociações dos empresários com os trabalhadores e os sindicatos".

Campos não via como aumentar empregos
"O único projeto nítido, coeso e concreto da oposição brasileira: desmerecer, desacreditar e destruir toda e qualquer política voltada para os trabalhadores", eu escrevia, em abril de 2014, ao citar, junto com a declaração de Armínio Fraga sobre o salário mínimo, a afirmação de Eduardo Campos, durante um evento em São Paulo (leia aqui), de que "não tem mais como crescer pela quantidade [de empregos] no mercado de trabalho". E relembrava, ainda, um post do camarada Glauco (leia aqui) sobre um comentário do Merval Pereira durante as manifestações de 2013 (o grifo é meu): "As reivindicações eram coisas muito específicas da classe trabalhadora". "Ou seja", concluiu o Glauco, "como o trabalhador, pelo silogismo mervaliano, não é 'povo', suas bandeiras não interessam ao resto da sociedade".

Joaquim Levy, 'arauto' do temível ajuste fiscal
Por tudo isso, eu encerrava meu post alertando: "Se você é trabalhador, já entendeu o que está em jogo". Pois bem: Dilma Rousseff se reelegeu e enfrenta uma das piores tempestades políticas da História de nossa República, com forte ameaça de ser apeada do cargo. É óbvio que, além dos opositores, muitos de seus próprios eleitores não estão contentes com o governo e nem com disposição alguma para defendê-lo. Afinal, diante das intempéries econômicas e da pressão dos adversários, Dilma deu passos para trás nomeando Joaquim Levy ministro da Fazenda e dando "carta branca" ao temível "ajuste fiscal". Por isso mesmo, não é à toa que o 12º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (Concut), realizado este mês em São Paulo, tem como lema "Educação, Trabalho e Democracia. Direito não se reduz, se amplia". 

Dilma, no Concut, falando pra quem interessa
Mas foi justamente na abertura desse evento que a presidenta Dilma fez um de seus discursos mais agressivos. E observou que, para além das falhas e omissões de seu governo, sua queda seria um desastre para os verdadeiros "inimigos" da oposição (os grifos são meus): "O desejo de retrocesso, eu tenho consciência, não é contra mim. É contra este novo país que construímos juntos, nas lutas das forças progressistas, dos trabalhadores, na força da CUT, dos sem-terra, dos sem-teto, dos estudantes, dos movimentos sociais, de toda sociedade, organizada ou não. (...) Eu represento as conquistas históricas do governo Lula. (...) Que fizeram com que o Brasil se tornasse um país que hoje olha para os seus trabalhadores e trabalhadoras. (...) Faço um apelo a todos vocês: ninguém deve se iludir. Nenhum trabalhador pode baixar a guarda".

Trabalhador é o inimigo da oposição e seria principal vítima do golpe
Dilma arrematou: "Sei que também a CUT continuará lutando as lutas que nós todos defendemos ao longo da nossa história. (...) Acerta a CUT quando diz, no lema deste 12º Concut: direito não se reduz, se amplia. Permito-me, vou me permitir, vocês me desculpem, também acrescentar: democracia não se reduz, se amplia" (leia a íntegra aqui). Agora ouvi conversa! Sim, sim: concordo que ela demorou muito para chamar para a luta quem realmente interessa (ou antes, quem seria a principal vítima do golpe). E concordo, também, que seu governo tem muito de indefensável. Mas, como o discurso de ontem insinua, o mais importante, agora, não é criticar Dilma como pessoa ou "linchá-la" como governante. Esse acerto de contas faremos depois. Mas faremos nós, não o adversário! É preciso, primeiro, "manter a posse de bola", não entregá-la (pois dificilmente a retomaremos!). Não é defesa de Dilma, do governo Dilma, do PT ou do que seja. É muito mais do que isso: é defesa dos trabalhadores, de nossas conquistas, dos programas sociais, da liberdade, do futuro. Por tudo isso, à luta!


segunda-feira, outubro 05, 2015

Qualquer semelhança é mera reincidência

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"A escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do trabalho livremente assalariado." - George Bernard Shaw


terça-feira, agosto 25, 2015

Contrato de professora exigia: 'Não beber cerveja, vinho ou uísque'

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Circula na inFernet um "Contrato de Professores" de 1923, mas direcionado exclusivamente às "senhoritas". Um verdadeiro show de machismo (institucionalizado): determina que a tal "senhorita" que assinasse o acordo para dar aulas num período de oito meses comprometia-se a, entre outras barbaridades, "não se casar" (!), "não andar em companhia de homens" (!!), "ficar em casa entre às [sic] 8h da noite e às [sic] 6h da manhã" (!!!), "não passear pelas sorveterias" (!!!!) e "não abandonar a cidade (...) sem permissão do presidente do Conselho de Delegados" (!!!!!). Mas não apenas isso. Também há cláusulas castradoras em relação ao fumo e à manguaça. Confiram:


Se a imagem dificulta a leitura, reforço os itens 6 e 7: "Não fumar cigarros. Este contrato ficará automaticamente anulado e sem efeito se a professora for encontrada fumando" e "Não beber cerveja, vinho ou uísque. Este contrato ficará automaticamente anulado e sem efeito se a professora for encontrada bebendo cerveja, vinho ou uísque". O contrato ainda arrematava: "Não viajar em carruagem ou automóvel com qualquer homem, exceto seu irmão ou seu pai". Se considerarmos que, de qualquer forma, uma professora já era, naquele tempo, mais independente e autônoma que as outras mulheres, fico imaginando as proibições "não escritas" às esposas e donas-de-casa da época. Impressionante.

Ps.: Segundo o leitor Renato, "este contrato é verdadeiro. Esta no livro “Trabalho docente e textos” (edição de 1995 da editora Artes Médicas, na página 68) de Michael Apple, sociólogo estudioso da área de currículo".

terça-feira, julho 28, 2015

Pra fazer a economia (ou a cabeça) girar

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quarta-feira, abril 29, 2015

Antônio Abujamra (1932-2015), aquele que não se acostumou

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"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas em redor. E porque não tem vista, a gente logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado, porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado, sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir, no telefone, '- Hoje eu não posso ir'. A sorrir paras as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar e a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro. Para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. A gente se acostuma a coisas demais. Pra não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber. Vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se a praia está  contaminada, a gente molha só os pés. E sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo. E ainda fica satisfeito, porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma pra não se ralar na aspereza. Para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos. Para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta. Que se gasta de tanto se acostumar. E se perde de si mesma."

Antônio Abujamra recitando - magistral e perturbadoramente - o texto "Eu sei, mas não devia", de Marina Colasanti, no programa "Provocações", da TV Cultura. Assista: 



Em TEMPO:

Sobre a desvalorização do tempo e da vida: "Trato a depressão como um sintoma social, e o principal fator contemporâneo que produz o aumento da depressão é o aumento da velocidade com que a gente vive nosso tempo. Eu mesma estou aqui contando os minutos (daqui a pouco tenho de atender). É como se a gente tivesse uma urgência temporal que faz com que a vida perca completamente o valor. O tempo da experiência, da reflexão, todo o tempo da chamada vida subjetiva está sendo atropelado pelo tempo do capitalismo. Esse é o primeiro fator da depressão, essa desvalorização do tempo como tempo de vida. Como diz o professor Antonio Candido: 'O capitalismo se considera o senhor do tempo. Essa idéia do ‘tempo é dinheiro’ que rege a nossa vida é uma brutalidade. O tempo é o tecido da nossa vida'. Então, se você negocia a matéria-prima da sua vida, valendo dinheiro, a vida se desvaloriza. Se a vida se desvaloriza, para que viver? A depressão tem um pouco a ver com isso." - Maria Rita Kehl, psicanalista (leia íntegra clicando aqui).



quarta-feira, outubro 23, 2013

Leituras de cabeceira Futepoca (2)

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Voltando a visitar alguns sebos e livrarias, me peguei matutando sobre aquela frase do Adoniran Barbosa: "se quiser tirar de mim arguma coisa de bão, que me tire o trabaio, a muié não!" O pedido, declamado no início da gravação de "Conselho de mulher", é um daqueles dilemas recorrentes nas preocupações do manguaças trabalhadores (leia-se: empregados assalariados) na mesa do bar. Como parar de trabalhar? Qual o segredo para a aposentadoria, a liberdade e o ócio tão desejados? Vai daí, encontrei algumas "soluções"...

Profissionalize sua casa (com planilha para mesadas): 






Funde uma igreja e passe a sacola. Afinal, você não tem...



A melhor dica: crie um partido conservador/neoliberal



quarta-feira, outubro 09, 2013

Indireta

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"Esqueceram" um frasco de álcool na minha mesa de trabalho. Com um copo...


sexta-feira, março 22, 2013

Estudo acaciano, mas nem por isso desnecessário

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A entidade beneficente inglesa Mind, dedicada a questões ligadas à saúde mental, ouviu 2 mil pessoas e concluiu em um estudo que a tensão provocada pelo trabalho pode levar ao abuso no consumo de álcool e de outras drogas. Sim, claro, não há qualquer novidade nisso. Mas sempre é bom reforçar uma obviedade dessas com a chancela de um estudo sério, para que os patrões não condenem, maltratem ou demitam aqueles supostos "vagabundos", "bêbados" e "irresponsáveis" que não conseguem suportar o "pau alado" sóbrios - afinal, já avisava Chico Buarque, na letra de "Meu caro amigo": "Porque senão, sem a cachaça/ Ninguém segura esse rojão".

E, apesar dos diversos males causados pelo álcool, a manguacice, muitas vezes, serve como válvula de escape para coisa pior. O estudo alerta, por exemplo, que o ambiente de trabalho seria responsável por 7% dos pensamentos ligados ao suicídio, subindo para 10% nas pessoas com idades entre 18 e 24 anos. Mais de um terço dos adultos ouvidos apontam o trabalho como o aspecto mais estressante, mais do que preocupações com o dinheiro e saúde. Por isso, 57% desses pesquisados não dispensam um ou mais drinques após o expediente e 14% afirmaram beber mesmo durante a jornada de trabalho ("Opa! Traz mais meia dúzia!").

Cigarro e remédios para dormir também são consumidos como maneiras de lidar com o problema, segundo o estudo - embora nós, futepoquenses, continuemos priorizando o buteco (onde fumar geralmente é proibido). Tanta pressão e vício levam muitos a desistir: 9% dos pesquisados já pediram demissão de algum trabalho alegando estresse e 25% admitiram ter vontade de fazer o mesmo. "Um entre seis trabalhadores vive quadro de depressão, estresse e ansiedade. A maioria dos administradores não se sentem capacitados para dar apoio", diz Paul Farmer, diretor da Mind.

quinta-feira, outubro 06, 2011

Escravos alegres?

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No papel de bandeja do McDonalds: “No Egito antigo, o pão era utilizado como pagamento de salário. Um dia de trabalho valia três pães e dois jarros de cerveja”.

Se as pirâmides foram construídas por escravos, que não tinham salários, eles só ganhavam os jarros de cerveja? Quantos litros foram na construção? Dá pra comparar com este estádio?

terça-feira, junho 21, 2011

Patrões continuam escravocratas - e a mídia apoia

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Relacionando o post que a Thalita fez sobre o tratamento humilhante dado às trabalhadoras domésticas no Brasil e outro post em que questionei os interesses mal dissimulados de nossa imprensa, recupero aqui uma inacreditável materinha da Folha de S.Paulo (aaarrgghhh...), publicada na última sexta-feira: "Empregadas domésticas já têm direitos demais, dizem patrões". Pois é. Parece que ainda vivemos nos tempos em que empregados eram tratados como animais (foto ao lado). Não sei o que é mais absurdo e agressivo: se a coragem da classe patronal de assumir essa postura escravocrata publicamente, em pleno século XXI, ou do jornal, ao abrir espaço, dar voz e amplificar a "reclamação". Mais um exemplo de quem são os "senhores" da subserviente "grande" imprensa.

"As empregadas têm mais direitos que as outras categorias: já comem, bebem e dormem nas casas dos patrões", disse à Folha Margareth Galvão Carbinato, presidente do Sindicato dos Empregadores Domésticos do Estado de São Paulo (Sedesp). Além do fato de que receber alimentação é um direito do trabalhador, faltou observar que, na imensa maioria das vezes, as empregadas que aceitam residir ou dormir na residência dos patrões fazem isso A PEDIDO DELES, para que tenham sempre alguém em casa, à disposição, e não precisem gastar com transporte delas. E é mais prático, pois eliminam a hipótese de a trabalhadora faltar ao serviço. Geralmente, por morarem ali, as empregadas acabam trabalhando muito mais, pois estão à mão todo momento. E não ganham NADA a mais por isso. Fora que, comendo a mesma comida preparada para a família, os patrões se isentam de dar vale alimentação, para ela escolher como, onde e quando comer, nem cesta básica. Ou seja: não é direito, É ABUSO!

E a tal "senhora de engenho" Margareth Cabinato ainda reclama que a aprovação na Organização Internacional do Trabalho (OIT) da convenção que amplia os direitos dos empregados domésticos vai causar desemprego porque tende a aumentar os salários! Para ela, também há problema em conceder horas extras para a categoria: "Você nunca sabe se a doméstica está trabalhando. Não existe controle do trabalho delas porque o patrão não fica fiscalizando. Não há como comprovar que elas trabalharam por um determinado período de tempo". Sim, há como comprovar: é só ver o tanto de serviço feito. Qualquer pessoa que não tem empregada doméstica sabe o quanto esse trabalho é volumoso e desgastante. Não por outro motivo, os patrões recorrem a elas, ora bolas! Quando morei na Irlanda, NINGUÉM tinha empregados em casa. Porque lá existem direitos trabalhistas e, se você quiser empregado, paga MUITO caro. Aqui, os patrões ainda pensam que podem resolver na base do chicote. Que são "superiores" e que têm o direito de se servir dos "inferiores". Basta!

quinta-feira, março 03, 2011

Bebendo em serviço

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Já que não dá demissão por justa causa, mesmo, o negócio é aproveitar - como vemos em mais uma (genial) propaganda de cerveja:

terça-feira, setembro 08, 2009

Troque seu futebol por um cachorro rico

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A maratona começou na madrugada de sexta para sábado, quando fui trabalhar catando lixo no Electric Picnic Festival (à direita), em Stradbally, a duas horas e meia de Dublin. Não é possível descrever em palavras do que se trata esse serviço. Mesmo os novatos, que ainda não tinham passado pela experiência, só foram entender a encrenca depois que chegaram no local (eu já tinha trabalhado no Oxegen Festival, em julho). Bom, chegamos em dois ônibus, 100 desesperados por qualquer euro e trabalho forçado, em uma cidadezinha minúscula onde, num fazendão, aconteceu um festival de 3 dias com atrações musicais 24 horas, milhares de pessoas acampadas, muita bebida, sexo, drogas, lama e lixo - principalmente lama e lixo. Você chega lá, te dão um par de luvas e sacos de lixo e dizem: ''-Catem tudo!''. Simples assim.

Não tem vassoura, nada. Você tem que se abaixar para pegar cada papel, lata, resto de comida, plástico, enfim, tudo. Depois de três ou quatro horas fazendo isso, sem parar um minuto, você não tem mais espinha dorsal, nem sente mais as pernas, os braços, nada. E começa, literalmente, a delirar. Ri sozinho, canta, tem vontade de chorar, esquece o próprio nome, o que está fazendo ali, que raio de lugar é aquele. Começa a catar lixo à meia-noite e, lá pelas sete da manhã, já está em alfa, robotizado, abestalhado. Foi por aí que entrei numa das diversas tendas onde o povo do festival curte música eletrônica, já vazia, e, além da tonelada de lixo me olhando convidativamente, vi um cartaz enorme do uísque Southern Comfort, o preferido da falecida Janis Joplin (que nunca recebeu um tostão por fazer propaganda). Comecei a viajar nessa idéia e, quando voltei ao planeta Terra, olhei para o chão e vi uma lata de cerveja fechada. Limpei o barro da tampa e mandei ver, quente mesmo. Santa Janis!

Bom, depois de todo esse martírio, que vai me render uns 40 euros (pouco mais de 100 reais), cheguei em casa às 10 da manhã, fui dormir às 11 e botei o despertador pras 3 da tarde, pois teria que trabalhar de garçom, ou melhor, de food runner, a partir das 5, no restaurante do estádio Shelbourne Park, que abriga corridas de cachorro (à esquerda). O lugar é enorme, maior que os campinhos da maioria dos times de futebol brasileiro. Além do restaurante, abriga dois fast foods e um café. Food runner é quem pega os pratos de comida na cozinha e, literalmente, sai correndo para levar paras as mesas (os garçons só atendem e comandam os pedidos). Eu estava sendo testado junto com um chileno e um colombiano. Só uma vaga. 100 mesas para atender. Três pratos quentes (pelando de quente) equilibrados em cada braço. 30 lances de escadas. 30 segundos para retornar até a cozinha e pegar mais pratos. E eu praticamente sem dormir, moído da catação insana de lixo...

O público, no restaurante, é basicamente de velhos ricos, muito ricos - que apostam pesado nos cachorros (vai daí o estádio ser um luxo só). Tinha até uma equipe de televisão fazendo uma chamada ao vivo do meio do restaurante, que é uma espécie de arquibancada coberta, acarpetada, com móveis finos e malucos como eu, de camisa social azul turquesa e gravata vermelha, correndo com pratos pra todo lado - várias vezes percebi que as crianças ricas preferiam nos observar do que os cachorros, que levavam os pais e avós a uma histeria e fanatismo piores que os das torcidas de futebol. Tanto que, ao mesmo tempo, quatro telões transmitiam um jogo da Irlanda pelas eliminatórias e, quando o time fez 2 a 1 sobre Chipre, poucos prestaram a atenção (só uma mesa comemorou). E comida vai, prato sujo vem, cachorro corre, velho aposta e, enfim, fui dispensado. O chileno ficou com a vaga.

Mas não fiquei chateado, não. Ou melhor, até um pouco aliviado por me ver longe daquele trabalho alucinante em meio a ricaiada esnobe. Peguei meus 50 euros de pagamento (quase 150 reais) e fui direto para o pub do Australiano, point da brasileirada, para comemorar o aniversário de uma amiga e um amigo e, de quebra, assistir Brasil x Argentina. O primeiro copaço de Foster's, australiana, caiu como se nunca tivesse sentido o prazer de uma cerveja gelada na vida. E por aí foi, até o terceiro gol(aço), de Luís Fabiano (à direita), quando a casa quase desabou com 200 brasileiros pulando e 100 argentinos tentando correr para algum abrigo seguro (inexistente). Com um telão de 3 por 5 metros, e a torcida canarinho cantando e gritando mais do que os torcedores do Boca em La Bombonera, os 90 minutos, a sensação era a de estar no estádio, mesmo. E o melhor: bebendo cerveja. Melhor ainda: o Brasil ganhando. E pra fechar com chave de ouro: tirando várias lasquinhas das argentinas e brasileiras embriagadas e sufocadas na multidão de bêbados.

A comemoração seguiu com festa em um apartamento. Cheguei em casa às 7 da manhã de domingo. Um dos habitantes tinha enchido a geladeira de cerveja (Carlsberg, Stela Artois, Tyskie, Heineken etc). E também tinha uma vodka, trazida da Alemanha. Fui dormir às 2 da tarde, quase um dia após a soneca de quatro horinhas antes de ir para o restaurante. Serviços malucos faço por obrigação. Mas cerveja e futebol, não tem hora! Cheers!

sábado, maio 02, 2009

Bebo enquanto espero

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Depois de uma infindável sequência de finais de semana trabalhando, inclusive o feriado do Dia do Trabalho, e perfeitamente convencido de que esse período em nada me dignificou, finalmente tirei um momento para almoçar com a família num restaurante alemão. Resolvi então praticar um pequeno luxo, tomar aquela cervejinha importada de uma vez na vida. Primeiro, uma Erdinger escura, sensacional. Depois, uma cerveja que já tinha visto em alguns lugares, mas que ainda não tinha provado: Weihenstephaner, produzida na cervejaria mais antiga do mundo. É de um daqueles mosteiros da Baviera, onde, por falta do que fazer e desejo de elevar-se a Deus, os frades e freiras medievais aprimoravam-se na arte de servir ao Senhor pela fermentação do cereal. No rótulo diz "Desde 1040" – quase mil anos de tradição cervejeira. O paladar comprova que freira velha é que faz cerveja boa.

Aproveito o mote pra pôr na roda um debate que outro dia tive com o Frédi a respeito das tais cervejas de trigo, identificadas por ele com as cervejas brancas. Eu não consegui checar isso com um alemão confiável, mas acho que há aí uma confusão de ordem linguística. Acontece que branco em alemão é Weiß (pronuncia-se [vais]), donde as cervejas brancas se chamam Weißbier ou Weissenbier (que me corrijam os germanistas); já trigo é Weizen (que se pronuncia [vaitsen]), donde as cervejas de trigo se chamam Weizenbier. De Weissenbier para Weizenbier, convenhamos, a diferença de grafia é mínima, mas entre o branco e o trigo, vai já uma distância semântica razoável.

Ajuda na confusão o fato de que (me corrijam as freiras cervejistas) as cervejas brancas são feitas de trigo. Mas hoje mesmo tomei uma Weizenbock da Erdinger, uma cerveja de trigo escura, o que elimina de cara a hipótese de igualar os dois termos.

No mais, Pacaembu, 16h.

sexta-feira, abril 10, 2009

Mas será que dignifica, mesmo?

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Na preguiça desse feriado, reflito sobre o que um colega me disse ontem:

- Sabe de onde vem a palavra trabalho? De tripalium, instrumento romano de tortura. (ilustração à direita)

De fato, fui pesquisar na internet e encontrei uma definição etimológica:

Tripalium (ou trepalium) era, a princípio, um instrumento utilizado na lavoura. Em fins do século VI, passou a ser um instrumento romano de tortura. A palavra é composta por "tri" (três) e "palus" (pau) - o que poderia ser traduzido por "três paus". Dessa raiz teriam saído os termos das línguas latinas de hoje em dia, como trabalho (em português), travail (francês), trebajo (catalão) e trabajo (espanhol). Mesmo antes de ser associada aos elementos de tortura medieval, trabalhar significava a perda da liberdade. Quem trabalhava em Roma era o escravo; o patrício estava incumbido das atividades políticas. Somente no século XVI, com o Renascimento, cria-se uma economia mundializada, onde o trabalho passa ao seu papel de importância máxima. E aí começa outra mudança: de tarefa árdua para os não livres, passa a ser um enobrecimento, uma atividade humana importantíssima.

Pois é, a expressão "pau alado" tem sua razão, em vista do tripalium. Para os defensores do trabalho, eu pergunto: "Ser empalado com três paus dignifica o homem?".

- Ah, por último: negócio significa "negação do ócio". Ou seja, também não é boa coisa - arrematou, ontem, o mesmo colega.

E nada melhor do que terminar esse "dignificante" post, em plena Sexta-feira Santa, com os animadores versos de Chico Buarque de Hollanda: "Vai trabalhar, vagabundo!/ Vai trabalhar, criatura!/ Deus permite a todo mundo/ Uma loucura/ Passa o domingo em familia/ Segunda-feira beleza/ Embarca com alegria/ Na correnteza".

Não sei quanto a vocês, mas vou agora regar esse ócio sagrado com vinho, pois afinal, sem a cachaça, ninguém resiste até o Domingo da Paixão...

quinta-feira, agosto 31, 2006

Alcoolismo não dá demissão por justa causa

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O alcoolismo, classificado como patologia pela OMS (Organização Mundial de Saúde), não pode servir de argumento para a demissão de um trabalhador por justa causa, segundo o TST (Tribunal Superior do Trabalho). A Segunda Turma do tribunal negou recurso da Eletropaulo, que considerou que há diferenças entre o alcoolismo e a chamada "embriaguez habitual", que está prevista na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) como uma das hipóteses para a demissão por justa causa.

Ao ser demitido por justa causa, um trabalhador recebe menos dinheiro pela rescisão do contrato, perdendo direito à multa de 40% do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), por exemplo. A decisão do TST teve como base o voto do ministro-relator e atual corregedor-geral da Justiça do Trabalho, Luciano de Castilho. "Acredito que, nos dias de hoje, não mais deve se falar em alcoolismo como motivo da ruptura do vínculo de emprego", afirmou ele Castilho. "O alcoolismo é doença catalogada no Código Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde sob o título de síndrome de dependência do álcool."

Em seu voto, Luciano de Castilho relembrou voto semelhante dado em processo anterior pelo ministro do TST João Oreste Dalazen, que afirmou que "a embriaguez habitual deve ser vista como aquela consciente, em que o empregado recorre ao álcool (ou outra substância tóxica) por livre vontade ou total responsabilidade, o que não ocorre no caso do alcoólatra, em que o consumo da substância é inconsciente, compulsivo, incontrolável". Eles defendem que uma "interpretação nesse sentido se faz necessária, inclusive, porque não seria razoável que o empregado fosse despedido imotivadamente em decorrência de atos causados pela sua doença e praticados inconscientemente, sem qualquer intenção".

No caso do funcionário da Eletropaulo, a Justiça de primeira instância já tinha determinado a anulação da demissão por justa causa e a reintegração do funcionário. Posteriormente, o Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo reverteu a decisão porque entendeu que a reintegração ao emprego era inviável. O TRT, no entanto, reconheceu o caráter injusto da dispensa, o que resultou na condenação da Eletropaulo ao pagamento das verbas rescisórias e FGTS acrescido da multa de 40% conforme pedido apresentado pelo próprio trabalhador como alternativa à reintegração.

O TST negou o recurso da Eletropaulo contra essa decisão e também recomendou que para casos de alcoolismo a empresa, "ao invés de optar pela resolução do contrato de emprego, afaste ou mantenha afastado do serviço o empregado portador dessa doença, a fim de que se submeta a tratamento médico visando recuperá-lo".