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domingo, fevereiro 10, 2008

A celebração egípcia

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A comparação é um pouco absurda, mas funciona "a nível de ilustração": imaginem que, aqui na América do Sul, o time com a soberania local fosse, por exemplo, o Paraguai - a despeito das glórias mundiais e jogadores consagrados de Brasil e Argentina.

Cito o exemplo para falar do título que o Egito conquistou, hoje, na Copa Africana de Nações, ao vencer Camarões por 1x0 na final. É o sexto do país - que assim se isola na lista dos campeões continentais, superando Camarões e Gana em duas conquistas.

O Egito não tem jogadores badalados, diferentemente da maioria de seus rivais na CAN. Tampouco se destacou em alguma Copa do Mundo. Só esteve no principal evento do futebol mundial duas vezes, em 1934 (quando se tornou a primeira nação africana a jogar uma Copa) e 1990 - quando obteve a façanha de emaptar com a Holanda da histórica trinca Van Basten, Gullit e Rikjaard.

Já seus oponentes se destacaram com boas campanhas em Copas do Mundo - notadamente, Camarões de 1990, Senegal de 2002 e Nigéria em 1994 - e ajudaram, involuntariamente, a construir o estereótipo do "futebol africano alegre, divertido, mas irresponsável e ingênuo".

Estereótipo esse que certamente será invocado para falar sobre um triunfo - o terceiro consecutivo - da "África branca" sobre a "África negra". Melhor falar sobre os méritos da equipe egípcia, depositados principalmente em seu comandante de ataque, o eficaz Aboutrika (foto).

Nas eliminatórias para a Copa do Mundo, o Egito disputará na primeira fase o Grupo 12, contra Malawi, Djubouti e a República Democrática do Congo (ex-Zaire). Não deverá ter muitas dificuldades para superar essa etapa; resta saber se terá fôlego para ficar entre os cinco africanos (mais a anfitriã África do Sul) que jogarão a Copa de 2010. Fica a torcida para isso - ao menos por parte desse colunista.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo comentário, que prova o fato deste Blog não ser “europeizado” quando se fala em futebol internacional, já que está em voga a irritante babação geral pseudopatriótica em Pato, Kaká e Cia., do “brasileiro” time do Milan.
O bicampeonato dos árabes traz uma curiosidade nessa partida final que, a meu ver, não é só curiosidade: Os camaroneses contaram com apenas um jogador que atua em seu país, enquanto a maioria esmagadora dos egípcios atua na terra natal.
Acho que isso explica muita coisa, e não deixa de ser um alerta para os malefícios do êxodo de jogadores, ainda que saibamos ser ingênuo simplesmente exigir/desejar que o grosso dos craques ficasse onde nasce, como se não imperasse também no futebol a nada democrática lei de mercado.

Anselmo disse...

Olavo, o esteriótipo de que as seleções africanas são "alegres, mas irresponsáveis" surgiu em relação a Camarões, â Nigéria, mas também à seleção sub-20 de Gana de 1993, derrotada pela brasileira na Austrália. Pode-se citar a seleção nigeriana da olimpíada de 1996, em Atlanta. Antes delas, MArrocos em 1986 fizeram aparições. Note-se que este é um país do norte, quer dizer, muçulmano.

Era isso que queria ressaltar. "África Branca" é a parte árabe do continente...

A de Senegal em 2002 era uma bela de uma retranca. Muito bem montada, com um meia habilidoso, Bouba Diop se não me engano, que perdeu para a Turquia. Não lembro da partida, mas acho que senegal não jogou, mas se defendeu. Por mais que muito comentarista (de bar) tenha embarcado no esteriótipo pra falar sobre a seleção senegalesa, ele não se aplicava nem foi reforçado pelo escrete.

Sobre aquela seleção, aliás, lembro de um episódio contado por um amigo que tava morando em Paris como estudante. No andar de cima da pensão onde morava, a colônica selegalesa se reunia pra ver os jogos. Quando a França foi desclassificada, a turma do andar de cima começou: "On est dans l'avion, On est dans l'avion". Era uma paródia do que foi cantado pelos franceses em 1998, quando os azuis de Zidane esmirilharam o Brasil do convulsionado Ronaldo Fenômeno: "On est champion, On est champion".

E viva o Egito! Inda mais pq o autor do gol, Aboutreika, fez homenagem aos palestinos (e parece que foi punido por ter ido vestido com uma camiseta pedindo apoio à Gaza).

Anônimo disse...

Anselmo, mas é isso mesmo. O time de Senegal tava longe de ser "alegre e irresponsável" e mesmo assim foi tachado dessa forma por muito comentarista - e, infelizmente, não só os de bar. Aliás, os times africanos, nas últimas Copas, bateram que não foi pouco.