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domingo, junho 15, 2008

Brasil, Garrincha e as partidas de desempate

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15 de junho de 1958. A terceira rodada da Copa do Mundo definiria os oito países classificados para as oitavas-de-final do torneio. O Brasil enfrentava a União Soviética e, em caso de vitória, asseguraria o primeiro lugar no grupo. O técnico Vicente Feola fazia, em relação à partida anterior contra a Inglaterra, três alterações: Vavá, que já havia entrado no jogo contra os ingleses no lugar o meia esquerda Dida, foi deslocado para o ataque, sua posição normal. Para a posição de Dida, Feola colocou o garoto Pelé. O ponta Joel também foi sacado para a entrada de Garrincha, enquanto Dino dava lugar a Zito.

A União Soviética, segundo a Gazeta Esportiva Ilustrada, tinha um esquema de jogo que se assemelhava mais ao sul-americano. O centro-médio soviético, ao contrário dos ingleses e da maioria dos europeus, apoiava o ataque, dando um caráter mais ofensivo ao time. Muito em função disso, o sistema vermelho “encaixou” com o jogo brasileiro, fazendo a seleção “levar de roldão” o adversário.

Os vinte primeiros minutos e os vinte finais foram de um domínio absoluto da seleção brasileira. Durante o resto do tempo, a União Soviética recuava a bola para Yashin (era permitido ao goleiro segurá-la com as mãos), tentando esfriar o ritmo da partida. As estocadas e dribles desconcertantes de Garrincha, que recebia passes longos e precisos de Didi, desnortearam a defesa soviética, como já dito aqui. Pelé e Vavá também protagonizaram lances vistosos, com tabelas curtas e rápidas como a que resultou no segundo gol brasileiro.

O final de 2 a 0, gols de Vavá, foi considerado injusto, dada a superioridade verde-e-amarela. Garrincha passou a ser chamado pelos suecos de “rei do dribbling” após a partida contra a União Soviética e o Gotemborg Handels estampou na capa: “Esse diabinho foi a alma danada dos russos”, referindo-se ao ponta. O primeiro lugar do grupo estava assegurado e o Brasil confirmava o favoritismo que muitos europeus atribuíam à seleção antes do início da Copa.

Partidas desempate

Na outra partida do grupo do Brasil, Áustria e Inglaterra empataram em 2 a 2. A regra dizia que, caso dois times empatassem em número de pontos, seria realizada uma partida desempate para ver quem avançaria à próxima fase. Foi o que aconteceu com Inglaterra (3 empates, 3 pontos) e União Soviética (1 vitória, que valia 2 pontos, um empate e uma derrota). Vitória dos soviéticos, 1 a 0 na peleja extra de 17 de junho.

No grupo I, a Alemanha Ocidental esteve duas vezes em desvantagem no placar, mas conseguiu empatar com a Irlanda do Norte, 2 a 2. Na outra partida, uma goleada daquelas da Tchecoslováquia sobre os hermanos argentinos: 6 a 1, a maior derrota portenha em Mundiais. Mesmo assim, os tchecos e os irlandeses terminaram empatados e tiveram que fazer mais um jogo: 1 a 1 no tempo normal e um solitário gol na prorrogação garantiu a surpreendente classificação da Irlanda do Norte como segunda colocada.

A Suécia, já classificada, jogou com cinco reservas para cumprir tabela contra o País de Gales no grupo II. O empate em 0 a 0 levou os galeses a disputarem o segundo lugar do grupo contra a Hungria, que vencera o México por 4 a 0. Na partida desempate, vitória de virada do time galês , 2 a 1. Pelo grupo III, a França derrotou a retrancada Escócia por 2 a 1, enquanto o Paraguai, em arbitragem tolerante com a violência da Iugoslávia, não passou de um empate em 3 a 3 com os europeus. A França terminou em primeiro e os iugoslavos em segundo.

1 comentários:

Marcão disse...

O Grandes Momentos do Esporte recuperou ontem entrevistas de várias épocas com campeões de 58. Sobre o jogo contra os russos, Mazola disse que só perdeu vaga no time porque tinha torcido o tornozelo no primeiro jogo, o que, no segundo, contra a Inglaterra, teria feito com que desperdiçasse várias chances de gol. O goleiro Gilmar o contradisse, afirmando que Mazola estava selando contrato com o Milan e com a cabeça fora da disputa. Acrescentou que Vavá era mais velho e não estava com medo de divididas - o que pode ser comprovado no segundo gol contra a URSS, em que levou uma solada e sofreu um corte profundo na canela (que o tirou da partida seguinte, contra o País de Gales).

Nilton Santos apareceu dizendo que eram os testes psicológicos do Dr. Carvalhaes que barravam Garrincha. E que só a contusão de Joel, contra a Inglaterra, foi que deixou a comissão técnica sem outra opção que não a escalação de Mané. Vavá discordou, dizendo que ninguém ficava sabendo dos resultados e que, como todo mundo fazia basicamente a mesma coisa, seria difícil julgar alguém por aquilo. Didi afirmou que chegou a prevenir Joel de que, se desse chance, Garrincha entraria e não sairia mais - o que de fato ocorreu.

O jornalista Armando Nogueira disse que houve um complô pró-Mané: Joel estava machucado mas poderia se recuperar a tempo de enfrentar a URSS, mas o Dr. Hilton Gosling, já partidário da substituição, teria tirado o ponta do Flamengo do repouso e o autorizado a treinar, o que provocou um grande inchaço em seu tornozelo. Nisso, o chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, teria consultado uns 10 atletas sobre a entrada de Garrincha no time, e depois sugerido isso na reunião da comissão técnica, observando que, apesar de não ter poder "nem de voto e nem de veto", gostaria de ver Mané jogar. Feola disse que Garrincha recuperava-se de uma distensão e de uma operação de amídalas, e que só aguardava a recuperação para escalá-lo.

Dino Sani observou que só foi sacado do time por contusão, mas elegiou Zito como sendo muito mais ofensivo que ele. Djalma Santos e De Sordi afirmaram que Zito também gritava muito mais em campo, comandando os mais novos, como Pelé. Este, por sua vez, frisou que estava mesmo machucado (após entrada assassina em seu joelho do zagueiro corintiano Ari Clemente no último amistoso no Brasil) e que chegou a pedir para o técnico Vicente Feola para voltar para o Brasil, recebendo como resposta: "-Que é isso, garoto? Você nem começou a carreira, ainda! Fica aí que você vai jogar". Feola confirmou que Pelé sempre foi seu titular, desde a primeira convocação.