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sábado, novembro 20, 2010

Pagão pediu para Chico incluir Canhoteiro

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No encarte de um CD do Chico Buarque de 1989, relançado esta semana por uma coleção já comentada aqui, há um comentário sobre a música "O futebol" (veja o vídeo abaixo), em que o compositor, fanático pelo esporte, homenageia seus jogadores mais admirados. E Paulo César de Araújo, o Pagão, célebre centroavante do Santos nos anos 1950, logo que Pelé chegou à Vila Belmiro, é chamado de "O ídolo do ídolo", ou seja, aquele que Chico gostaria de ter sido. A admiração é tanta que, quando o ex-jogador visitou a sede do Polytheama, time criado pelo cantor carioca (foto acima), este pediu uma camisa autografada e, recentemente, confessou que ainda vigia a empregada para que ela nunca lave o "troféu". Sempre que assina súmula jogando pelo Polytheama, Chico escreve "Pagão".

Antes de Mengálvio e Coutinho chegarem à Vila, a fantástica linha de ataque do Santos em 1958: Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe (143 gols em 38 jogos pelo Campeonato Paulista)

"Ele me contou que o principal jogador no seu time de futebol de botão tinha o meu nome. Isso me deixou muito emocionado", disse Pagão ao Jornal do Brasil, quando o disco com a homenagem foi lançado. Antes de gravar "O futebol" em estúdio, Chico enviou uma gravação caseira para o ex-craque. Até aquele momento, a letra citava apenas os nomes dos ex-botafoguenses Mané (Garrincha) e Didi, e dos ex-santistas Pagão e Pelé. Foi então que, para completar a linha de ataque imaginária, Pagão sugeriu que o compositor incluísse o ponta-esquerda Canhoteiro, que brilhou no São Paulo. "Esse ataque nunca jogou junto. Mas, se tivesse jogado, teria sido arrasador", arriscou Pagão, que faleceria dois anos depois, em 1991. Vai daí, os últimos versos da canção ficaram sendo:

Para Mané para Didi para Mané
Mané para Didi para Mané para Didi
Para Pagão para Pelé e Canhoteiro


Pagão foi um centroavante rápido, de dribles curtos, muito habilidoso e objetivo. Fez 159 gols em 345 jogos pelo Santos (foto à direita), entre 1955 e 1963. Depois transferiu-se para o São Paulo, onde marcou 14 vezes em 59 partidas, até 1966, quando encerrou a carreira, aos 32 anos. Curiosamente, esteve presente em um dos momentos mais folclóricos envolvendo os dois clubes, em 14 de agosto 1963, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista. Quando a partida estava empatada em 1 a 1, o juiz Armando Marques expulsou o santista Coutinho e, logo em seguida, Pelé, por reclamação. O São Paulo ampliou para 4 a 1 (o último gol foi justamente de Pagão) e, diante da possibilidade de um placar ainda mais elástico, três jogadores do Santos simularam contusão e deixaram o campo, obrigando Marques a encerrar a partida aos 11 minutos do segundo tempo. O jogo ficaria conhecido como "San-São do cai-cai".

"Eu me achava muito parecido com o Pagão. Eu limpava o lance. O Pagão era mestre, fácil. Saía com toque de bola rápido." - Washington Cardoso Salvador, o saudoso Vavá, em nosso Post 1000.

sábado, novembro 07, 2009

Didi, um brasileiro

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"Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!". Os versos de Carlos Drummond de Andrade são apropriados para descrever, hoje, a saudade que um conterrâneo sente a milhares de quilômetros da cidade mineira. Cleidimar Magalhães Silva, 27 anos, tem apelido e profissão bem brasileiros: Didi, jogador de futebol. Mais especificamente atacante, e ainda mais especificamente do CFR Cluj, time da Romênia já destacado aqui neste blog. Mas não se trata apenas de mais um brasileiro perdido nos confins do futebol. Didi é ídolo na cidade de Cluj-Napoca, na Transilvânia, por ter ajudado o clube a vencer o primeiro campeonato nacional de sua história. E disputou a Liga dos Campeões da Europa, contra times como o inglês Chelsea, que era treinado por Luiz Felipe Scolari, e o francês Bordeaux, obtendo a gloriosa façanha de vencer o Roma na Itália, em setembro do ano passado.

Nesta entrevista para o Futepoca, segue mais um pouco da vida desse itabirano simples, filho de um motorista aposentado e uma dona-de-casa (tem quatro irmãos), que deixou o Brasil há sete anos. Em busca de seu sonho.

Futepoca - Em que time você começou e se profissionalizou?
Didi -
No Valeriodoce Esporte Clube, de Itabira, onde comecei na categoria infantil, em 1997. Me profissonalizei em 2002, disputei a segunda divisão do Campeonato Mineiro e depois tive passagens por times da primeira divisão.

Futepoca - Quais times? Jogou sempre como atacante?
Didi -
Sim, sempre atacante. Pelo Uberlândia disputei o Brasileiro da Série C e, no mesmo ano, em 2003, joguei o Campeonato Mineiro pelo Social Futebol Clube, de Coronel Fabriciano. Fui a revelação e artilheiro do interior, voltei ao Valeriodoce e subimos para a primeira divisão. Daí fui emprestado ao Vila Nova de Nova Lima. Muitos times (risos). E depois disso disputei o Mineiro pelo Valeriodoce em 2004 e fui para o Santa Cruz, de Recife, disputar o Brasileiro da Série B.

Futepoca - Você se lembra de jogadores conhecidos com quem jogou nesses times? E técnicos?
Didi -
Joguei no Santa Cruz com o Iranildo, ex-Flamengo, e com o Carlinhos Bala. O treinador era o Péricles Chamusca, que tinha sido vice-campeão da Copa do Brasil com o Brasiliense.

Futepoca - Mas e depois, como é que você foi parar aí na Romênia?
Didi -
Em 2004, fui para Portugal, para um time da segunda divisão, e no ano seguinte fui contratado pelo Paços de Ferreira, time da primeira divisão. Fiquei três anos naquele país, até que surgiu essa aventura na minha vida, que era vir para um país de pouca expressão no futebol mundial, que eu só tinha ouvido falar na
Copa de 94. Mas as condições do contrato eram bem melhores que as de Portugal e resolvi arriscar. Acabou sendo o melhor momento de minha carreira. Cheguei em janeiro de 2007, tive oportunidade de ser campeão nacional e bi da taça romena.
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Campeão na Romênia (à direita), com o CFR Cluj

Futepoca - Você disputou a Liga dos Campeões, um sonho para qualquer jogador. Estava na histórica vitória contra o Roma?
Didi -
Sim, tive oportunidade de jogar a Liga, mas nesse jogo, infelizmente, fiquei no banco os 90 minutos. Mas foi bacana pelo grupo e por ser uma vitória histórica. Joguei contra o Chelsea e Bordeaux.

Futepoca - E como foi essa experiência?
Didi -
Foi sinceramente única, não imaginaria jogar uma Liga dos Campeões depois de sair de uma equipe mediana de Portugal. Assim como não imaginaria chegar na Romênia e fazer história, pois o time tinha 100 anos e nem um título.

Futepoca - Qual era a equipe da segunda divisão de Portugal que te contratou? Eles compraram teu passe do Valeriodoce? Como foi essa transferência?
Didi -
Foi o Futebol Clube do Marco. Fui de passe livre, depois de um empresário ter me visto num jogo do Campeonato Mineiro contra o Cruzeiro, no Mineirão, e gostado do meu futebol. Ele me propôs jogar no Santa Cruz e, de lá, me levou para Portugal. Fui para o Clube do Marco, que estava fazendo um time para subir para a primeira divisão, e consegui fazer 12 gols em 24 jogos. Daí apareceu o Paços de Ferreira.

Futepoca - Você se lembra de alguma grande partida que fez nessa época?
Didi -
Em Portugal minha melhor partida foi contra o Sporting, time do brasileiro naturalizado português Liédson. Ganhamos de 2 a 0, em casa. Foi um grande jogo, pessoal e coletivo. Já aqui na Romênia, o jogo que marcou mesmo foi um que ganhamos de 1 a 0 do Pandurii, gol meu. Faltando 12 minutos para o jogo terminar, tive que ir para o gol, pois nosso goleiro foi expulso e tinham acabado nossas substituições. Tive duas saídas do gol e fiz uma defesa num chute de fora da área, recebi até prêmio a mais (risos).

Futepoca - Você deve ser um grande ídolo deles...
Didi -
O presidente esse dia me tratou como um herói (risos). Aqui sou muito respeitado pelos torcedores, onde vou sou bem recebido. Quando ganhamos o campeonato nacional, a cidade parou. Tinha mais de 15 anos que o título só ficava na capital, Bucareste, com o Steua, o Dínamo e o Rapid. E depois de três dias fomos ser campeões de novo, da copa romena.

Futepoca - E como foi tua adaptação na Romênia? A língua, o clima, a comida? Levou familia?
Didi -
Hoje já domino o idioma muito bem, é uma lingua latina com muitas palavras semelhantes ao português e ao espanhol. Tive a ajuda da minha esposa, Sandra. Estamos juntos desde 2001, e, na Europa, desde 2004. Depois veio o nascimento de minha filha, Giovanna, que vai fazer dois anos. A família se adaptou muito bem aqui. É uma vida tranquila, o país ainda é pobre, tem uma diferença de classe social. A comida já me acustumei, eles comem muito frango, porco. Tem umas comidas típicas deles que também são boas. Bebida, que eu saiba, não tem nada de especial. Eu prefiro uma cervejinha, principalmente no verão deles, que é muito forte e abafado, chega a fazer 40 graus.

Churrasco regado à cerveja mexicana Corona

Futepoca - E a cerveja daí é boa?
Didi -
Tem algumas marcas de cerveja deles, mas não gosto muito, prefiro uma cervejinha importada, como a mexicana Corona e a italiana Peroni. Não se comparam a nossa Skol.

Futepoca - Você falou que a Romênia é um país socialmente atrasado. Você acompanha a política daí? Lê alguma coisa, tem opinião? E sobre o Brasil, acompanha? O que acha do governo Lula?
Didi -
Olha, acompanho sim, alguma coisa. Não tem muitos anos que acabou o comunismo, então o povo ainda está começando a ter a noção da coisas. Sinceramente, de política, não entendo muito não (risos). Mas acho que o presidente terá muito trabalho pra fazer dessa nação um grande país europeu. Sobre o Brasil, tenho visto melhoria com o Lula. É um dos poucos países que não foram muito afetados pela crise mundial.

Futepoca - Pra encerrar, quais são os seus planos para o futuro? Fica na Romênia até quando? Gostaria de voltar a jogar no Brasil? Por qual time?
Didi -
Tenho contrato até 2010 aqui, mas tudo na vida tem momentos. Sou agradecido por tudo que fizeram por mim, mas acho que posso sair nesse fim de ano. Minha vontade e dos meus representantes é dar um pulinho no Oriente ou na Ásia. Tenho imensa vontade de voltar ao Brasil pra jogar, mas sei da dificuldade que é arumar um grande clube aí, por estar jogando num país não muito forte no futebol. Como sou mineiro, gostaria de ir para um time de Belo Horizonte.

Futepoca - Vai entregar? Galo ou raposa?
Didi -
Hahahahaha. Posso não, uai!

Futepoca - Então só me diz se teu time está com grande chance de ser campeão brasileiro...
Didi -
Hehehe. Está entre os candidatos. Mas tomara que o título possa ir pra Minas Gerais, o que só enriquece mais o meu estado.

quinta-feira, agosto 20, 2009

A Ferroviária de Cluj-Napoca

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O uniforme cor de vinho lembra o da Ferroviária de Araraquara (SP). E o nome, CFR, é composto pelas iniciais de alguma coisa como ''Clube dos Ferroviários'', em romeno. No distintivo do clube, há até uma locomotiva, com a bola de futebol fazendo as vezes de chaminé. Vejam a flâmula:



O CFR é um clube de futebol de Cluj-Napoca, cidade de 300 mil habitantes da Transilvânia, mitológica região que já pertenceu ao Império Austro-Húngaro e que hoje é território da Romênia. Mas o mais bizarro de toda essa história é que encontrei, aqui na Irlanda, um brasileiro fanático pelo CFR. ''Conheci um colega no trabalho há 2 anos, o Janos (pronuncia-se Januchi), que é de Cluj-Napoca e torcedor fanático do CFR (ou tcheferê)'', conta Eduardo Witzel (foto), 30 anos. ''Eu o presenteei com uma camisa do São Paulo e ele disse que só torceria para o meu time se eu torcesse para o CFR. E me deu a camisa. De fato, parece com a da Ferroviária de Araraquara''.

Na época, 2007, o CFR ganhou o seu primeiro Campeonato Romeno, além da Copa do país. ''O Janos ficou maluco, encheu a cara de vodka. E o São Paulo foi campeão brasileiro novamente, daí completou a nossa festa'', conta Eduardo, que, perigosamente, trabalha como responsável pelo abastecimento dos 11 bares do hotel Russell Courts, na Zona Sul de Dublin. ''Eu brinco com o meu amigo romeno que o CFR só passou a ganhar depois que eu comecei a torcer pra ele. No início de 2010 eu vou conhecer Cluj-Napoca. Vamos descer em Budapeste, na Hungria, e pegar 4 horas de trem até lá''. E Eduardo promete ir ao Constantin Rădulescu Stadium, que tem capacidade para 25 mil pessoas, para torcer para a ''Ferroviária'' da terra do Conde Drácula.

Pra não fugir à regra, é claro que o tcheferê tem um brasileiro, o centroavante Didi - que não é aquele ex-corintiano que fez um gol contra o São Paulo na decisão do Paulista de 1998. Trata-se de um rapaz de 26 anos, que veio sei lá de onde. O ídolo do time é um argentino chamado Culio. ''O interessante é que o maior rival, o Universitatea, também da cidade de Cluj-Napoca, despencou para a segunda divisão justo no ano em que o CFR foi campeão. O Janos, que vai pra Romênia mais pra ver jogo do CFR do que pra ver a família, quase morreu de felicidade - e bebedeira'', arremata Eduardo Witzel.

Ps.: É bom reforçar que CFR se pronuncia tcheferê, pois os rivais costumam pronunciar pejorativamente como cuferê (esterco). Ou seja: uma provocação parecida com a que os torcedores do argentino River Plate usam para ofender os do Boca Juniors, bosteros - pelo fato de o estádio La Bombonera ter sido construído sobre o antigo aterro sanitário de Buenos Aires.

sexta-feira, julho 18, 2008

Didi e Garrincha no futebol paulista, em 1966

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Que Garrincha havia passado pelo Corinthians em 1966 eu já sabia, mas tinha dúvidas se, naquele mesmo ano, Didi havia jogado pelo São Paulo (na foto, os dois nos áureos tempos de Botafogo-RJ). Pois o mestre da folha-seca encerrou sua carreira, de fato, pelo Tricolor paulista. Didi havia pendurado as chuteiras pelo Botafogo em 1965, mas aceitou o convite para voltar, no ano seguinte, aos 38 anos. Estreou pelo São Paulo num amistoso em Araçatuba (SP), contra o Ferroviário local (vitória por 2 a 0), em 4 de outubro. Ele compunha o meio-campo com o histórico Roberto Dias. O técnico do Tricolor, na época, era Aimoré Moreira, que comandou Didi pela seleção brasileira no bicampeonato mundial, em 1962. E a zaga tinha Bellini, outro remanescente das Copas de 1958 e 1962, que havia disputado ainda a de 1966, junto com o também são-paulino Paraná.

O primeiro jogo oficial de Didi com a camisa do Tricolor, pelo Campeonato Paulista, foi uma derrota de 2 a 0 para a Portuguesa, no Pacaembu, em 12 de outubro. Na rodada seguinte, mais um tropeço: vitória do América de Rio Preto por 4 a 3, em pleno Morumbi. Didi foi sacado e só voltou contra a Portuguesa, em 24 de novembro: novamente no Pacaembu e outro resultado negativo, 1 a 0. Terminava ali, de forma melancólica (venceu só uma partida em quatro e não marcou um gol sequer), a carreira do "Príncipe Etíope", um dos meias mais clássicos e cerebrais que o Brasil já teve.

Curiosamente, naquele mesmo início de outubro de 1966 em que Didi estreava pelo São Paulo, Garrincha, então com 33 anos, se despedia do rival Corinthians. Foi no dia 9, numa derrota de 3 a 0 para o Santos, pelo Paulistão. Mané havia estreado em 2 de março, no Pacaembu, em outra derrota por 3 a 0, para o Vasco da Gama, pelo Torneio Rio-São Paulo. Os dois times, mais Santos e Botafogo, seriam os quatro campeões do torneio naquele ano, por falta de datas para as partidas de desempate. Garrincha marcou seu primeiro gol pelo alvinegro paulistano contra o Cruzeiro, em 13 de março, na vitória corintiana por 2 a 1.

No total, fez 10 jogos e 2 gols - o segundo, aliás, na vitória por 2 a 0 do Corinthians sobre o São Paulo, em 19 de março de 1966. Ao contrário de Didi, que era cinco anos mais velho, Garrincha ainda jogaria pelo Flamengo e o Olaria, até 1972. Despediu-se numa partida amistosa no ano seguinte, no Maracanã. Morreria em janeiro de 1983, e Didi, em maio de 2001.

domingo, junho 29, 2008

A Taça do Mundo é nossa!

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Brasil e Suécia tinham como primeiro uniforme a camisa amarela. No sorteio, os suecos ganham e têm a preferência de jogar com sua vestimenta tradicional. Em vista disso, o chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho, anuncia aos atletas a “escolha” pelo uniforme azul, alegando que dará sorte, porque é a cor do manto de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do país.

Essa é apenas uma das muitas histórias a respeito daquela final de 29 de junho de 1958, válida pelo sexto Mundial de futebol. A seleção tinha a chance de superar o trauma da copa de 1950 e mostrar ao planeta o valor que tinha no esporte mais popular da Terra.

Djalma Santos entrava no lugar de De Sordi, contundido. Seria a única partida na Copa do grande lateral-direito, mas o suficiente para ser escolhido o melhor em sua posição no torneio. "Antes da final o médico já tinha vetado o De Sordi. Eu ainda fui conversar com ele, que me desejou sorte. Nós tínhamos uma amizade e lealdade muito grande no grupo", contou ao Uol Esporte.

Mas a Suécia não estava disposta a deixar a seleção brasileira fazer a festa em sua própria casa. E fez o gol inaugural daquela final aos 4 minutos, em jogada de Liedholm. O pesadelo da derrota para o Uruguai voltava à cabeça dos brasileiros. Mas entre os nossos estava Didi, que pegou a bola no fundo da rede e andou com ela calmamente, como que a mostrando aos companheiros. Chegou ao centro do gramado e jogou a bola no círculo, vaticinando: “Não foi nada pessoal. Vamos encher estes gringos.”

Apenas quatro minutos após, o Brasil empata, com jogada de Garrincha pela direita e gol de Vavá. E o centroavante vascaíno, em jogada muito parecida com a do primeiro tento, fez 2 a 1, placar do final do primeiro tempo. Aos 10 minutos da segunda etapa, Garrincha cruza para Pelé fazer um dos gols antológicos da história da Copa do Mundo. Com um chapéu e um arremate forte, fez 3 a 1. Aos 23, o golpe de misericórdia vem com Zagallo, que marca após lance de Didi. Gol merecido, já que o ponta esquerda havia feito um gol legítimo não anotado na semifinal contra a França.

A Suécia ainda faria o segundo gol, mas no último minuto Pelé sacramentou a goleada verde-e-amarela, tornando-se artilheiro da equipe na competição: seis gols em quatro partidas. Just Fontaine foi o goleador máximo, 13 gols, recorde até hoje não igualado por ninguém em uma edição da Copa do Mundo. Sua seleção, a França, foi a terceira colocada, superando a Alemanha por 6 a 3. O Mundial terminou com 126 gols marcados em 35 partidas, uma ótima média de 3,6 gols por peleja. 

O capitão do escrete, Hideraldo Luís Bellini, criava o gesto que seria imortalizado e repetido durante as décadas seguintes. Recebe a taça e a ergue em direção ao céu. "Não pensei em erguer a taça, na verdade não sabia o que fazer com ela quando a recebi do Rei Gustavo, da Suécia. Na cerimônia de entrega da Jules Rimet, a confusão era grande, havia muitos fotógrafos procurando uma melhor posição. Foi então que alguns deles, os mais baixinhos, começaram a gritar: 'Bellini, levanta a taça, levanta Bellini!', já que não estavam conseguindo fotografar. Foi quando eu a ergui", contou o zagueiro à Gazeta Esportiva, Bellini, rindo.

Hoje, para quem nasceu depois da conquista que completa 50 anos, aquele título pode parecer apenas um fato histórico distante, que perdeu o significado pelos títulos obtidos posteriormente. Mas é inconcebível imaginar como seria hoje o futebol brasileiro se houvesse um novo fracasso no Mundial. Foi o ponto de ruptura em que os brasileiros se livraram do que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-latas”. Ali se firmou o respeito à camisa verde-amarela e também nascia o maior jogador de todos os tempos, que o mesmo Nelson chamou de “rei”, antes de ele ser celebrizado como tal na Suécia. Considerada por muitos a maior seleção de todos os tempos, todo brasileiro deve reverenciar e agradecer o legado deixado por cada um daqueles ídolos que estarão para sempre no panteão dos grandes do futebol mundial.


Just Fontaine, artilheiro da competição, afirmou, como muitos acreditam, que aquela seleção do Brasil foi a melhor equipe brasileira da história. “Foi o mais equilibrado, melhor do que o de 1962 e do que o de 1970”, declarou ao Globo Esporte. Na mesma conversa, ele afirmou; “Pelé foi o melhor de todos os tempos, depois dele vem Di Stéfano e, bem abaixo, os outros como Maradona e Cruiyff.” Palavra de quem conhece.  

domingo, junho 15, 2008

Brasil, Garrincha e as partidas de desempate

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15 de junho de 1958. A terceira rodada da Copa do Mundo definiria os oito países classificados para as oitavas-de-final do torneio. O Brasil enfrentava a União Soviética e, em caso de vitória, asseguraria o primeiro lugar no grupo. O técnico Vicente Feola fazia, em relação à partida anterior contra a Inglaterra, três alterações: Vavá, que já havia entrado no jogo contra os ingleses no lugar o meia esquerda Dida, foi deslocado para o ataque, sua posição normal. Para a posição de Dida, Feola colocou o garoto Pelé. O ponta Joel também foi sacado para a entrada de Garrincha, enquanto Dino dava lugar a Zito.

A União Soviética, segundo a Gazeta Esportiva Ilustrada, tinha um esquema de jogo que se assemelhava mais ao sul-americano. O centro-médio soviético, ao contrário dos ingleses e da maioria dos europeus, apoiava o ataque, dando um caráter mais ofensivo ao time. Muito em função disso, o sistema vermelho “encaixou” com o jogo brasileiro, fazendo a seleção “levar de roldão” o adversário.

Os vinte primeiros minutos e os vinte finais foram de um domínio absoluto da seleção brasileira. Durante o resto do tempo, a União Soviética recuava a bola para Yashin (era permitido ao goleiro segurá-la com as mãos), tentando esfriar o ritmo da partida. As estocadas e dribles desconcertantes de Garrincha, que recebia passes longos e precisos de Didi, desnortearam a defesa soviética, como já dito aqui. Pelé e Vavá também protagonizaram lances vistosos, com tabelas curtas e rápidas como a que resultou no segundo gol brasileiro.

O final de 2 a 0, gols de Vavá, foi considerado injusto, dada a superioridade verde-e-amarela. Garrincha passou a ser chamado pelos suecos de “rei do dribbling” após a partida contra a União Soviética e o Gotemborg Handels estampou na capa: “Esse diabinho foi a alma danada dos russos”, referindo-se ao ponta. O primeiro lugar do grupo estava assegurado e o Brasil confirmava o favoritismo que muitos europeus atribuíam à seleção antes do início da Copa.

Partidas desempate

Na outra partida do grupo do Brasil, Áustria e Inglaterra empataram em 2 a 2. A regra dizia que, caso dois times empatassem em número de pontos, seria realizada uma partida desempate para ver quem avançaria à próxima fase. Foi o que aconteceu com Inglaterra (3 empates, 3 pontos) e União Soviética (1 vitória, que valia 2 pontos, um empate e uma derrota). Vitória dos soviéticos, 1 a 0 na peleja extra de 17 de junho.

No grupo I, a Alemanha Ocidental esteve duas vezes em desvantagem no placar, mas conseguiu empatar com a Irlanda do Norte, 2 a 2. Na outra partida, uma goleada daquelas da Tchecoslováquia sobre os hermanos argentinos: 6 a 1, a maior derrota portenha em Mundiais. Mesmo assim, os tchecos e os irlandeses terminaram empatados e tiveram que fazer mais um jogo: 1 a 1 no tempo normal e um solitário gol na prorrogação garantiu a surpreendente classificação da Irlanda do Norte como segunda colocada.

A Suécia, já classificada, jogou com cinco reservas para cumprir tabela contra o País de Gales no grupo II. O empate em 0 a 0 levou os galeses a disputarem o segundo lugar do grupo contra a Hungria, que vencera o México por 4 a 0. Na partida desempate, vitória de virada do time galês , 2 a 1. Pelo grupo III, a França derrotou a retrancada Escócia por 2 a 1, enquanto o Paraguai, em arbitragem tolerante com a violência da Iugoslávia, não passou de um empate em 3 a 3 com os europeus. A França terminou em primeiro e os iugoslavos em segundo.

"Os companheiros de Garrincha puseram os russos na roda, ao ritmo de samba"

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Muito já foi escrito sobre o jogo entre Brasil e a então existente União Soviética, na Copa de 1958. Naquele dia, nossa seleção entrou em campo com três novidades: Zito, Pelé e Garrincha. O placar de 2 a 0 pode parecer pouco para as novas gerações, mas, na ocasião, soou como uma tremenda goleada em cima do "futebol científico" que havia faturado a medalha de ouro nas Olimpíadas de Melbourne, na Austrália, dois anos antes. Ruy Castro conta, no livro "Estrela Solitária: Um brasileiro chamado Garrincha" (Companhia das Letras, 1995), que, pouco antes de os times entrarem em campo, o técnico Vicente Feola olhou para o meia Didi e falou: "-Toque todas as bolas para o Garrincha". E, virando-se para o ponta-direita: "-Tente descadeirá-los logo de saída". Assim que o juiz apitou o início da partida, segundo texto da época, aconteceu simplesmente o seguinte:

Vavá toca para Didi, que lança Garrincha. O lateral Kuznetsov corre. Mané ginga o corpo para a esquerda, mas sai pela direita. Kuznetsov desaba de traseiro no chão. A educada torcida sueca não sabe se ri ou se aplaude. Na dúvida, deixa o queixo cair. Sete segundos depois, Garrincha tem de novo Kuznetsov à sua frente. De novo, balança o corpo para direita e passa como uma flecha para a esquerda. Repentinamente, pisa na bola e estanca. O lateral soviético volta à carga. Leva outro drible. E mais outro. A torcida fica de pé, atônita. Mané invade a área perseguido por Kuznetsov, Voinov e Krijevski. Dribla os três. Pelé está livre na pequena área. Mas Garrincha, mesmo sem ângulo, dispara a bomba. A bola explode na trave direita de Yashin e se perde pela linha de fundo. Um minuto de jogo. O estádio inteiro ri e aplaude com entusiasmo. Garrincha volta para o meio de campo com seu trote desengonçado. A defesa brasileira intercepta o tiro de meta soviético e a bola vai aos pés de Mané. Que passa para Didi. Para Pelé. Para Garrincha. Para Pelé. Outra bomba estoura contra as traves de Yashin. Dois minutos de jogo. Garrincha está de novo com a bola. Corre em ziguezague. Finge que vai, e não vai; finge que vai, e vai. Os soviéticos vão ficando estendidos no chão. Um a um. Didi lança Vavá. Gol do Brasil. O relógio marca três minutos.

"Foram os três minutos mais fantásticos da história do futebol e a mais assombrosa aparição na ponta-direita desde Stanley Mathews", escreveu, deslumbrado, o jornalista francês Gabriel Hannot. Só por esses três minutos, esse jogo já merece ser imortalizado como um dos mais espantosos da história do futebol. Ouça trechos da narração da Rádio Panamericana, de São Paulo, na época:

Ouça trechos do jogo


Se não abrir, clique aqui.

Ficha técnica

Data: 15/Junho/1958
Local: Estádio Nya Ullevi, Gotemburgo
Público: 50.928
Árbitro: Maurice Frederic Guigue (França)

Brasil: Gilmar; De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo; Técnico: Vicente Feola;

URSS: Yashin; Kesarev, Kuznetsov, Voinov e Krijevski; Tsarev, A. Ivanov e V. Ivanov; Simonjan, Iljin e Netto; Técnico: Gavril Katchaline;

Gols: Vavá (3) e Vavá (66).

domingo, junho 08, 2008

Há 50 anos, começava a se erguer um gigante

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Há 50 anos, em um dia 8 de junho, acontecia a primeira rodada da Copa do Mundo de 1958. Àquela época, diferentemente do que acontece hoje, todas as 16 equipes que participavam do torneio estrearam no mesmo dia. Antes, 53 países se inscreveram para chegar à Suécia, mas seis desistiram.

Já estavam classificadas a Suécia, sede da competição, e Alemanha, campeã em 1954. Além delas, nove seleções saíram da Europa, três da América do Sul, uma da América do Norte e Central e mais uma do grupo da Ásia e África.

Curiosa foi a classificação deste último grupo. Turquia, Indonésia, Sudão e Egito se recusaram a jogar em Tel-Aviv, contra Israel. Como não se permitia que uma seleção chegasse à Copa do Mundo sem ao menos ter vencido uma partida, houve um sorteio entre os nove segundos colocados da Europa. País de Gales teve sorte e superou os israelenses por 2 a 0 duas vezes, indo à Suécia.

Assim, estavam formados quatro grupos de quatro seleções cada. O I, com a campeão mundial Alemanha Ocidental, Argentina, a extinta Tchecoslováquia e Irlanda do Norte. Já o II era composto por França, Paraguai, a então unida Iugoslávia e Escócia. A dona da casa estava no no III, junto com México, Hungria e País de Gales. O Brasil estava no IV, sede em Gotemburgo, e tinha Áustria, União Soviética e Inglaterra.

A estréia do Brasil

O Brasil estreou contra a Áustria, em Udevalla (vídeo acima). O time titular naquela ocasião era Gilmar (, De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Dino e Didi; Joel, Mazzola, Dida e Zagallo. A seleção de Vicente Feola jogava no 4-2-4, embora variasse para o 4-3-3 com o recuo do ponta-esquerda Zagallo para fechar o meio.

A Áustria, que havia derrotado Holanda e Luxemburgo nas eliminatórias, ostentava o terceiro lugar conquistado na Copa de 1954. Os primeiros vinte minutos da partida foram de equilíbrio, mas a seleção verde-e-amarela começou a tomar conta da situação na segunda metade do primeiro tempo. Assim, Mazzola chegou ao primeiro tento aos 38 minutos. No segundo tempo, o domínio brasileiro prosseguiu, e Nilton Santos, aos 6, praticamente assegurou a vitória. Com 2 a 0, Didi, Joel e Zagallo passaram a atuar na intermediária, buscando os contra-ataques com Dida e Mazzola. E foi de novo este que marcou aos 44, dando números finais à partida.

Segundo a revista Gazeta Esportiva Ilustrada, base deste e de outros posts futuros sobre a Copa de 1958, o time teve boas atuações de todos, sobrando críticas somente a Dino Sani e Dida. Gilmar, de acordo com a publicação, foi "a figura de proa do conjunto. Fez algumas intervenções notáveis que arrancaram aplausos da assistência". Já Didi foi tido como o "melhor dos atacantes e mola de nossa vitória."

As outras partidas

Pelo grupo do Brasil, Inglaterra e União Soviética empataram por 2 a 2. Pelo grupo I, embora campeã do mundo, a Alemanha enfrentava a desconfiança geral, enquanto seu primeiro adversário, a Argentina, chegava como um dos favoritos ao título. Domínio portenho, mas sem envolver os germânicos: 3 a 1 para os europeus. Ainda pelo grupo I, a Irlanda do Norte derrotou a Tchecoslováquia por 1 a 0.

No grupo III, os donos da casa venceram com facilidade o México, à época um país risível em termos futebolísticos. Na outra peleja do grupo, a Hungria não demonstrava nada da "máquina de jogar futebol" de 1954, em função da aposentadoria de alguns atletas e de outros que haviam abandonado o país por conta da invasão soviética em 1956, caso de Ferenc Puskas. Resultado, um fraco 1 a 1 contra País de Gales.

Pelo grupo III, Iugoslávia e Escócia não passaram de 1 a 1, enquanto a França superou o Paraguai por 7 a 3, com o início da escalada de Just Fontaine, autor de três tentos.