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segunda-feira, março 08, 2010

Eu não gostaria de um Dia Internacional do Homem

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Corro o risco, aqui, de ser linchado virtualmente (ou quiçá até fisicamente) por discordar em público do Dia Internacional da Mulher. Exatamente por valorizar, respeitar e admirar as mulheres como alicerce fundamental e força motriz da humanidade, considero a data ofensiva. Tá, eu sei que tem um enorme valor simbólico, que serve para pontuar a luta feminina, chamar a atenção para o machismo, a violência contra as mulheres, o preconceito, bla, bla, bla. Eu sei. Mas sou contra por um ponto de vista particular e não arredo o pé: como resumiu muito bem um colega meu há 15 anos, Eli Fernandes, num artigo intitulado "A mulher vai acabar virando Papai Noel", essa efeméride, por mais justa e bem intencionada que tenha sido sua criação, virou puro comércio, banalidade e marco explícito de que os outros 364 dias são, de fato, dos homens. Banaliza a luta feminina no que tem de mais sério e funciona como uma espécie de "concessão cordial". E elas ainda tem que sorrir e agradecer as rosas e lembrancinhas que, burocraticamente, os homens compram e distribuem nessa data, como no Natal ou no Dia dos Namorados. No dia seguinte, os machos voltam normalmente a excluí-las e menosprezá-las. Mentira? Algum "sensível" aí gostaria de se ver obrigado a distribuir sorrisos e obrigados num Dia Internacional do Homem, criado em um mundo hipoteticamente dominado pelas mulheres? De ser desprezado e ter de agradecer pela migalha do "seu dia"? É fácil analisar do lado opressor.

Bom, se a maioria pensa o contrário e está muito feliz e satisfeita hoje, com um sorriso nos lábios, como diria o finado Gonzaguinha, também sei que muitas partilham no todo ou em parte com minha visão e que sabem, para além disso, que a valorização da mulher é no dia a dia, e não em um só dia. Que a mudança de atitude é mais importante que meia dúzia de rosas e discursos demagógicos. Por que tantos beijos e parabéns se, no Brasil, as mulheres tem mais escolaridade mas ganham 72,3% a menos que os homens? Se as que tem nível superior ganham ainda menos? Se são excluídas de profissões ditas "masculinas"? Ou bem pior que isso: se no Brasil a violência contra a mulher aumentou quase 50%, entre 2008 e 2009? Tem rosas e parabéns que amenizem essa situação? Sei lá, tudo me parece ainda mais hipócrita e agressivo do que nas datas manjadas (e impostas) do calendário comercial - Dia das Mães, dos Pais, das Bruxas etc. Às mulheres, meu modo pessoal de expressar toda a gratidão e reconhecimento é justamente dizer que vocês são trilhões de vezes maiores e mais importantes do que essa data burocrática e banalizada. Todos os dias são seus. Enquanto, como disse Gilberto Gil, os homens seguem vivendo a ilusão de que ser homem basta e que o mundo masculino tudo lhes dá. Reverências sinceras a todas vocês.

11 comentários:

Moriti disse...

Boa, Marcão, boa. Datas de calendário não garantem respeito e direitos a ninguém.

Comportamento digno, com respeito etc, comprova-se no cotidiano.

Nada contra, por exemplo, familiares e amigos se reunirem no natal e ano novo desde que se respeitem no dia a dia.

Mesma coisa em relação ao dia da mulher. Senão, a data vira comércio e mais nada.

Olavo Soares disse...

Ao lado do Aniversário de São Paulo, o Dia da Mulher é a data mais chata do calendário.

É um amontoado de clichês que não tem fim. Muito chato!

Leandrô/Lemão! disse...

Acabei escrevendo um texto sobre isso tambem. Concordo com voce!

Lívia Miziara disse...

Concordo com vc Marcos...
Infelizmente, ainda precisamos de datas insignificantes, que desencadeiam um consumo, para mascarar trocentos anos de preconceito... Não são "meia dúzias de rosas", que apagam um passado e a discriminação que ainda sofremos.

Lica disse...

Marcão, confesso que seus argumentos são válidos e consistentes. Em parte, até concordo. Datas comemorativas são mesmo comerciais e, dessa forma, perdem seu valor. Porém mesmo sendo um só no ano, acho importante de que haja esse dia em que todos são levados a falar sobre a luta da mulher, sobre o ainda existente preconceito, sobre as violências, etc etc. Se não houvesse esse 8 de março, quando seria? Quando uma mulher fosse assassinada em casa? Ou quando uma mulher fosse reclamar na TV que recebe menos que seu companheiro de trabalho? Ou por ter sofrido um assédio?

Até aqui, positivamente, você lançou as questões que outrora não sei se teriam virado um post. Percebe como vale?

E sobre ter que distribuir sorrisos, isso é o de menos. Mulheres praticamente nascem com esse dom :)

Saudades, querido.

Nicolau disse...

Então, primeiro, concordo com a Lica sobre a importância da data para botar o tema na pauta, o que de outra forma naõ aconteceria. Além disso, discordo do Marcão que seja uma "concessão cordial". O Dia Internacional da Mulher foi conqusitado pelo movimetno feminino e simboliza a luta por melhores direitos. A proposta, aliás, é da socialista Clara Zetkin, que sei que a Brunna conhece, rs. Não foi criada para os homens darem parabens, mas para a mulheres se mobilizarem e brigarem por espaço (e os homens conscientes tb). Se a data foi distorcida pelo capitalismo, bem, ainda não vi uma que escapasse desse efeito... Veja aí um artigo a respeito:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Internacional_da_Mulher

Mas concordo com o Marcão que as mulheres e sua luta cotidiana são maiores que qualquer data, banalizada ou não. Viva a luta (cotidiana) das mulheres de todo o mundo!

Anônimo disse...

Só acho que o título da postagem foi um pouco inadequado. Tem um viés um pouco machista. Quanto ao resto, concordo em gênero, número e grau. Acho que minorias, como os deficientes físicos ou os índios, "comemoram" suas datas enfatizando suas lutas. Até os negros, que não são exatamente uma minoria em nosso país, conseguem evitar que seu "feriado" seja apenas um dia de folga. Mas o dia internacional da mulher virou comércio e hipocrisia, apenas.
Ruy Garcia

Marcão disse...

Concordo com todas as críticas, especialmente com as da Lica, Ruy e Nicolau - e este último ainda resgatou a origem histórica da data, muito válida e importante. Mas quis fazer o desabafo, de qualquer forma, até porque conheço dezenas de mulheres que são ainda mais críticas do que eu, se sentem muito agredidas com esse oba-oba anual. De qualquer forma, me parece que todos concordamos aqui sobre a importância da mulher (na minha opinião pessoal, muito maior que a do homem), da luta feminina e do muito que tem que ser feito para acabar com o machismo, a violência, as desigualdades e o preconceito. Abraços e beijos.

rgregori disse...

Marcão,

Concordo plenamente contigo, e seus argumentos são exatamente os meus. Sempre usei esses mesmos argumentos, e acho uma bobagem essa história de hoje dar flores à mulher e amanhã tudo continua a mesma coisa ...

um amigo meu, que nem é brasileiro, por sinal, me contou o diálogo dele, que, pra mim, resume isso... ele ligou pra mãe:
- Mãe, liguei pra te desejar feliz dia das mulheres.
- Tá bom, filho, que você vai querer pra jantar hoje?

Marcio disse...

Vou fazer um copi/cola onde o dia da mulher eu vou trocar pelo "Dia da Consciência Negra".

E fica a pergunta, seus comentarios continuam validos? É apenas mais um dia? Não deve ser lembrado as conquistas? Não deve existir comemoração?

Abraços,
Marcio Dutra

Leandro disse...

O comentário do Marcio-SJP conseguiu antecipar-se ao meu.
Pelo que representam em termos de lutas e de conquistas que não existiriam sem os sacrifícios que acabaram dando causa a estas datas comemorativas, defendo que devem sim existir o Dia da Consciência Negra e também o Dia Internacional da Mulher.
Com ou sem eles, a verdade é que os outros 364 são dos brancos e dos homens (mesmo com a atual crise do macho), e se é assim, estes dias acabam servindo, no mínimo, para lembrar a todos destes problemas.