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sábado, abril 12, 2008

Atlético (PR), rádios e a experiência de Santa Catarina

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Ainda sobre a intenção do Atlético (PR) em cobrar das emissoras de rádio para utilizarem as cabines de transmissão da Arena da Baixada, é bom lembrar que em Santa Catarina já houve um precedente nesse sentido. Porém, com duas diferenças fundamentais: primeiro, os clubes estavam unidos na peleja, não era uma iniciativa individual; segundo, a exigência para o uso de cabines e acesso ao gramado era a inserção de 900 comerciais por clube nos intervalos. Esse termo, na prática uma permuta, facilitava a vida das menores que já têm como prática isso para vender seus espaços de valor reduzido. Já as grandes estariam pagando de forma direta.

Para explicar mais da experiência de Santa Catarina, o Futepoca conversou com o jornalista Marcos Castiel, do blog do Castiel, que faz a cobertura do futebol do estado. Confira abaixo:

Futepoca - Na sua opinião, o que motivou a Associação de Clubes de Futebol Profissional de Santa Catarina a tentar trocar espaços comerciais em troca do uso das cabines de rádio?

Marcos Castiel - Esta é uma questão comercial, por um lado; um jogo de poder, de outro. A Associação de Clubes antecipa, de forma abrupta, uma questão que será bastante polêmica num futuro próximo. A relação da mídia com os clubes é uma via de mão dupla, as rádios não vivem sem os clubes, os clubes precisam das rádios. Se houver radicalismo, ambos perdem. Em princípio, é uma atitude que prejudica, ou "amarra", as rádios de menor poder aquisitivo e que, num futuro, pode intensificar o monopólio da informação e concentrá-la em mãos de emissoras mais poderosas.

Todos sabemos que em uma Copa do Mundo, por exemplo, a cobertura, no caso da TV, só é feita por quem compra - e por muito dinheiro - a exclusividade no seu país. Ou, no caso das rádios e jornais, por quem já tem tradição na cobertura, que conquistou, no caso das rádios, sua cadeira cativa. No futuro, o acesso também será cobrado. No caso brasileiro, no entanto, o rádio tem um cunho social, já que a característica de nosso torcedor/consumidor é distintinta do europeu.

Portanto, o monopólio nesta área seria, na conjuntura brasileira, um perigo. Do ponto de vista comercial, o valor agregado de uma transmissão esportiva é muito maior que o simples aluguel de uma cabine. Ronaldinho Gaúcho tem o "gordo" de seus proventos na mídia e não no salário. Assim é o retorno para os clubes, com espaços diários nas rádios. Já imaginou se perdessem tal espaço?. Acho que esta medida, em grandes eventos, seria um filtro, por exemplo, na cobertura de uma final. No cotidiano, vai voltar-se contra o clube.

Futepoca - A questão acabou na Justiça. Houve tentativa de acordo entre as partes? Como está a situação hoje?

Castiel - Houve um acordo anterior à Justiça, em que cada grupo encontrou sua solução para o início da competição. Até hoje, é veiculado nas rádios da Capital pequenas inserções de mídia dos clubes. Não sei os detalhes, mas as emissoras menores aceitaram os termos, as de maior porte negociaram uma fórmula de inserção menos abrangente do que a inicialmente proposta. Preciso contatar o corpo jurídico de ambas as partes para saber detalhes da ação para fazer uma resposta mais fundamentada sobre como está a situação hoje. Até onde sei, há uma liminar favorável às emissoras até julgamento do mérito, mas fico devendo uma resposta mais consistente.

Futepoca - Em média, quantas emissoras fazem transmissão dos jogos do Campeonato Catarinense? Que tipo de prejuízo as emissoras menores poderiam ter com a exigência dos clubes?

Castiel - Na Capital, são três emissoras de rádio, duas AM e uma FM. Em Criciúma, três emissoras AM. Em Joinville, duas emissoras AM. Nas demais regiões, em geral, são duas emissoras (Tubarão, Lages, Chapecó, Itajaí). Nos municípios menores, geralmente uma rádio cobre (Ibirama, Jaraguá do Sul etc). O prejuízo não é formal, no momento. A troca é por mídia. No futuro, estas rádios menores, que não puderem pagar, ficariam alijadas da cobertura, assim como seus ouvintes perderiam o democrático poder de escolha.

Futepoca - Houve uma divisão entre as emissoras grandes e as menores?

Castiel - Houve divisão entre as emissoras. Se houvesse união e ninguém transmitisse os jogos, imagine o prejuízo para os clubes em termos de mídia. Mas imediatamente as rádios menores aceitaram as condições. Não sei as condições com precisão no interior, mas, na Capital, Guarujá e CBN/Diário não aceitaram a medida e, por pouco, não transmitiram os jogos da primeira rodada.

Futepoca - Baseado na experiência de Santa Catarina, você acha que a iniciativa do Atlético Paranaense vai ser exitosa?

Castiel - A iniciativa do Atlético é ousada. Nem certa, nem errada, mas radical. Será fruto, com certeza, de iniciativa judicial pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio. E, conforme, o que ficar definido, pode reverter contra o clube em forma de boicote, já que a iniciativa é individual e, não, coletiva, como em SC. Nesse caso, o clube sairia perdendo, e muito, sem sua exposição na mídia em nível nacional.

4 comentários:

Gerson Sicca disse...

Ainda que seja admissível a venda do direito de transmissão, acredito que a negociação individual pode ser péssima para times menores, com menor poder de negociação. Tem q haver alguma forma de preservação do interesse dos pequenos.
Bom, o modelo do Atlético não é inovador. Na Europa os times fazem isso direto, inclusive com a transmissão da TV. Contam que o Barça vendeu o direito de transmissão dos seus jogos por 1 bilhão de euros.

Marcão disse...

Dúvida: o Ministério das Comunicações, ou antes, o poder público federal, que faz as concessões de rádio e TV, não participa em nada nesses tipos de negociação? Nem regulamentando ou simplesmente orientando?

Anselmo disse...

a fórmula clube dos 13 não parece ser mto boa nem pros grandes, nem pros pequenos. pode não ser tão terrível para os pequenos...

criar cobrança pras rádios fica esquisito. 1o) dá pra fazer a transmissão do estúdio diante da tv nos jogos dos grandes. é tosco, mas possível. 2o) criar monopólio de rádios é um problema.

Boicote a jogos de um clube é uma coisa pouco provável qdo ele é grande. Uma rádio que não boicote, acaba com a brincadeira. se todas boicotarem, o site do atlético lança o serviço de mainstream. qqr torcedor fanático transmite em rádio comunitária sem pagar...

bora ver o que dá.

Anônimo disse...

Alô, amigos do Futepoca!
Sou a favor da cobrança e lembro que quando a TV foi obrigada a pagar a chiadeira foi a mesma: “atentado a liberdade de expressão”.
No meu blog, cito uma transmissão da Bandeirantes, em 1983, em que a torcida gritava “deixa, deixa” contra a “vilania” da Globo, que pagara os direitos de transmissão.
Acho alto os valores pedidos pelo Atlético e que o mais lógico seria a venda de pacotes por competição.
No entanto, mesmo que ontem a Transamérica tenha obtido uma medida judicial que desobriga as rádios a pagaram para o clube, acho que a idéia vai vingar. E não vai demorar muito.

Escrevi quatro textos sobre o assunto. Eis o primeiro:

http://www.bemparana.com.br/craques-e-caneladas/index.php/2008/04/10/seja-feita-a-vontade-de-saldanha/

Abraços

Ayrton Baptista Junior, de Curitiba